Fanfics Brasil - Capítulo 67 Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada)

Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy (Adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo 67

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Christopher


 


Ao sair da casa de Dulce, tive de abrir os dois primeiros botões da camisa.


Respirar estava difícil. Joguei a cabeça para trás, mirando o céu, tentando não pensar, apenas respirar. Não conseguia me obrigar a ir em frente, então fiquei ali, no portão da casa dela, vendo o sol de fim de tarde ser engolido por nuvens cinzentas. Do mesmo jeito que Dulce desaparecia da minha vida.


Esfreguei o peito, tentando me livrar da maldita ardência. Aquilo nunca iria embora, não é? A ausência sempre estaria ali, me lembrando de que a vida pode ser muito mais do que cruel.


Pensei em quais seriam as chances de meu irmão me levar para minha casa, onde eu poderia decidir o que preparar para o jantar: miojo ou Doritos? Doritos, claro. Cai melhor com tequila. E eu pretendia me encharcar disso até meu cérebro adquirir a consistência e a função de massinha de modelar, e não queria ninguém por perto para testemunhar o estrago.


Poncho me viu atravessar o portão, e bastou uma olhada em meu rosto para que ele soubesse.


Eu a perdi.


Fui idiota o bastante para perder a melhor coisa que já me aconteceu, porque... bom... eu tinha sido um grande e completo babaca.


Meu irmão balançou a cabeça, sofrendo também. Ele queria que desse certo tanto quanto eu.


Ele desceu do carro para me encontrar.


— Ela não quis te ouvir?


— Pior, Poncho. Ela me ouviu. — Soltei uma lufada de ar. — Mas eu fiz o que ela mais temia. Eu a abandonei. Ela nunca vai me perdoar.


Nunca é muito tempo — ele respondeu.


— Não nesse caso. A Dulce se afasta de tudo que pode colocá-la em risco, que a faça se sentir ameaçada. E eu sei que ela se sente assim comigo.


— Porque ela te ama, Christopher.


— Talvez. Mas eu apostaria a minha bola esquerda que ela vai dar um jeito de me esquecer.


— Nem sempre... — Ele se interrompeu, olhando para trás de mim. — Ela está vindo aí.


— O quê?


— Vou voltar para o carro. — Ele se inclinou um pouco, pousando a mão em minha nuca. — Escuta, Christopher... Implore, rasteje se for preciso.


Mas não a deixe escapar de novo!


Ele atravessou a rua enquanto eu me virava. Dulce corria de um jeito meio desengonçado, quase infantil, e por pouco não me fez sorrir. Mas se deteve a poucos passos e me encarou, o peito subindo e descendo, as bochechas coradas. Linda.


Ela era tão linda...


E ficou muda feito o poste logo atrás dela. Seus olhos estavam vermelhos. Ela havia chorado. Mas também vi neles algo que eu desejava mais que tudo nesta vida.


Por favor, Deus. Não brinque comigo agora.


Ela abriu a boca.


— Eu... — começou, mas se deteve, incerta de como continuar.


— Sim? — Apenas mais duas palavras. Diga, implorei em silêncio. Pelo amor de tudo o que é mais sagrado, apenas diga.


— Eu... desenvolvi uma estranha obsessão por velas — ela disse, por fim. Pisquei algumas vezes.


— Como?


— Toda vez que passo em frente a uma loja e vejo uma vela, acabo entrando e comprando. Cheguei até a roubar uma da Magda. Depois eu devolvi, mas mesmo assim. — Ela corou. — Acho que preciso de ajuda profissional.


— Humm... Eu...


— Também comecei a gostar de música antiga. — Ela abaixou o olhar para as mãos, entrelaçadas na altura da barriga. — De Marvin Gaye especialmente, o que é bem esquisito, porque a coisa mais antiga que eu gostava até então era Nirvana. E comecei a gostar de motos. Nunca vi muita graça, mas agora eu gosto. — Ela espiou por entre os cílios longos e escuros e sorriu com doçura. — Não vejo a hora de subir em uma outra vez. E eu nunca mais dormi de luz acesa. Ainda penso em fantasmas, um em específico, mas já não tenho medo. E eu vou me matricular num curso de natação em Munique. E... e... — Ela parou para tomar fôlego. — Você disse que queria ser o meu herói. E você é faz tempo, Christopher, só que não percebeu ainda. Não aquele tipo de herói de capa e cueca por cima da roupa, mas aquele que faz a gente se sentir protegida e querida e...


desejar viver a vida. Ser uma pessoa melhor. Aprender a lidar com os medos.


Ela estava dizendo o que eu achava que estava?


— O que... o que você está querendo me dizer? — perguntei, temendo estar entendendo tudo errado.


Ela revirou os olhos, bufando com nervosismo.


— Estou dizendo que eu amo você, seu cretino! Francamente, Christopher, você continua sendo a pessoa inteligente mais burra que eu conheço.


Algo em meu peito explodiu feito uma supernova, me tirando o fôlego, deixando todo o meu corpo dormente. Por anos eu esperei sentir aquilo. A sensação de estar completo outra vez. Mas não tinha percebido que não eram as partes do meu corpo que me trariam a felicidade plena, e sim aquela garota tímida, de olhar inocente, sob o qual se abrigava um vulcão voluptuoso. Eu havia depositado minhas esperanças no lugar errado.


Eu me aproximei dela sem hesitar, estendi a mão, enroscando os dedos em sua camiseta, e a puxei até ela estar em meu colo. Passei o braço por suas pernas, segurando-a onde eu queria.


— Eu acho que você tem razão, por isso vai ter que falar de novo para que eu possa entender. — Espalmei seu rosto, tão lindo e amado.


Seus olhos me encontraram e sorriram, como imaginei naquela tarde na piscina.


— Eu amo você, Christopher. — Ela virou o rosto para depositar um beijo em minha palma calejada.


Fechei os olhos, me sentindo grato a Deus, à vida, às plantas que cresciam, aos pássaros que piavam, às formigas que... faziam coisas de formigas. Aquele era o milagre pelo qual eu havia ansiado. Dulce retribuir o meu amor era o presente mais precioso com o qual eu poderia ter sido agraciado.


Deslizei a mão por sua bochecha suave, seguindo em direção aos cabelos bagunçados. Enrosquei os dedos ali, puxando-os levemente para trás, para que seu pescoço ficasse exposto.


— Repete — falei, beijando sua garganta.


— Eu amo você, Christopher. Mas vou te matar se mentir para mim outra vez.


— Às vezes é tão frustrante falar com você... — Ri em sua garganta. Ela estremeceu de leve, enroscando os dedos em meus cabelos. Eu amava quando ela fazia aquilo.


— Imagino que seja. — Ela puxou minha cabeça para trás, para que pudesse olhar em meus olhos. — Deixa eu facilitar as coisas pra você. Eu te amo, Christopher. Com suas limitações, cicatrizes, piadas ruins e essa teimosia de jumento. Por isso, nunca mais minta para mim. Eu posso lidar com a verdade, seja ela qual for, tá?


Meus olhos começaram a pinicar, o nó na garganta me fez pigarrear e eu precisei de duas tentativas para fazer minha voz sair direito.


— Jumento, é? — tentei brincar, ou acabaria... suando pelos olhos. — Mais alguma parte minha te lembra um jumento?


— As orelhas. São imensas e peludas. — Ela correu o dedo por minha orelha, me observando com todo o amor do mundo.


Afundei os dedos ainda mais naquela cabeleira castanha e trouxe sua boca para junto da minha. E me dei inteiro a ela. Eu me entreguei a Dulce e àquele beijo sem nenhum medo, sem nenhum mas, sem senão ou e se. Dulce havia sido minha tábua de salvação no meio do meu oceano de agonia. Ela era meu maior e melhor sonho. E a melhor parte? Ela também se entregava a mim sem nenhuma ressalva, medo ou insegurança.


Cacete. Se amasse mais aquela mulher, eu morreria.


Quando o beijo ameaçou sair de controle e se tornar impróprio para a via pública, o som da buzina sendo acionada repetidamente fez Dulce se sobressaltar e olhar em volta. Do outro lado da rua, Poncho sorria largamente enquanto esmagava a buzina feito um maluco.


— Finja que não o conhece — acabei rindo. Dulce também.


A porta do segundo andar do sobrado em frente ao de Dulce se abriu e Christian apareceu na sacada.


Ah, certo. Ainda tínhamos um problema.


— Eu acho que ele merece uma explicação — falei a ela.


— Ah, pode ter certeza que o Christian vai querer saber cada detalhe. Mas ele já deve ter entendido o básico. Estava torcendo para que isso acontecesse. — Ela enlaçou meu pescoço com as mãos. — Espero que ele tenha tanta sorte quanto eu e encontre um cara legal.


— Uma garota, você quer dizer.


— Não. Um cara.


O quê? — perguntei. Apenas para verificar que toda a felicidade de antes não tinha causado um curto-circuito em meu cérebro e eu estava acompanhando o que ela dizia.


As sobrancelhas de Dulce se ergueram, seu olhar escrutinando meu rosto, então algo fez sentido para ela. Que bom. Pelo menos um de nós estava entendendo alguma coisa.


— Christopher, o Christian é gay. Você sabia disso, não sabia? Obrigado, meu Deus!


— Não, eu não sabia. Ele deu a entender que existia algo entre vocês dois. — Olhei furioso para a sacada, mas o filho da mãe tinha sumido de vista.


— Ah, meu Deus. — Ela começou a rir. — Era por isso que sempre parecia que você queria quebrar o pescoço dele?


— Queria não. Eu vou quebrar o pescoço dele assim que estivermos no mesmo andar.


Um coro de violinos ecoou pela rua. Em seguida a voz potente de Frank Sinatra se juntou a ele:


 


 


It had to be you, it had to be you


I wandered around, and finally found the somebody who Could make me be true, and could make me be blue


And even be glad just to be sad — thinking of you.


 


Olhei para Dulce e sorri.


— Me concederia esta dança?


Ela assentiu, repousando as mãos em meus ombros. Passei o braço em sua cintura, colei meu rosto ao dela e então manuseei a roda para frente e para trás, girando devagar, numa dança meio sem ritmo, mas quem se importava? Eu estava dançando com a mulher dos meus sonhos.


Por entre as cortinas da sala do sobradinho verde, vi o rosto emocionado de Berenice sorrir para mim. Sorri de volta, porque naquele instante era tudo o que eu poderia fazer. Uma fina garoa começou a cair, mas Dulce não pareceu se importar, suspirando em meus braços enquanto balançávamos sem pressa. Um farol potente foi acionado, transformando as gotas de chuva que nos cercavam em minúsculas estrelas cadentes douradas. Dulce arfou, sorrindo, e ergueu o rosto para que as estrelas o tocassem. Nunca vi nada tão bonito em toda a minha vida.


Valeu, Poncho.


Também olhei para cima e avistei Christian debruçado na balaustrada da sacada, a fonte da música. Eu realmente ia matá-lo.


E depois abraçaria aquele filho da mãe.


— Obrigado — fiz com os lábios.


Ele piscou para mim, sorrindo largamente antes de entrar e deixar a porta aberta.


Uma gota de chuva escorreu pela bochecha de Dulce e se pendurou em seu queixo. Eu a apanhei com os lábios. Ela então olhou para baixo e sua boca buscou a minha. O beijo foi calmo, repleto de ternura, mas eu sentia que algo começava a fervilhar sob a superfície.


Afastando-a com delicadeza, admirei seu rosto afogueado, os lábios esticados no sorriso mais lindo que eu já tinha visto, os olhos... escondidos pelas lentes embaçadas.


Rindo baixinho, eu o tirei de seu rosto.


— Oi. — Acariciei sua bochecha. — Você é coisa mais linda deste mundo,


Dulce.


Ela inclinou a cabeça em direção ao meu toque.


— E você é o borrão mais bonito que eu já vi.


Dei risada.


— Obrigado. Ninguém nunca me disse isso.


— O que acontece agora, Christopher? — perguntou.


Acariciei seu queixo.


— Agora eu vou te levar para minha casa. Vou fazer amor com você até não existir um único pensamento coerente na minha cabeça. E depois acho que vou providenciar meu passaporte.


Seus olhos ficaram imensos, a boca formando um O mudo, como se não acreditasse no que estava ouvindo. Ela precisou de duas tentativas para conseguir perguntar:


— Você vai para Munique comigo?


— Você acha mesmo que eu vou correr o risco de te perder de vista? Eu já te perdi duas vezes. Não vou ser idiota de te perder pela terceira vez, Pin. É uma promessa. — Tomei sua mão e a deitei sobre meu coração, para que ela soubesse que eu não estava mentindo.


Ela sorriu, mas lágrimas se empoçaram em seus olhos, a menina abandonada dentro dela afundando em alívio. Ela escondeu o rosto em meu pescoço para que eu não a visse chorar, enredando os dedos na gola da minha camiseta. Eu a abracei com força, tentando com isso fazer seus medos ficarem todos no mesmo lugar onde eu deixara os meus: no passado.


Tá certo. A vida é uma grande merda às vezes, pensei, enquanto a segurava em meus braços. Mas em outras é quente e vibrante, e tão bonita que faz o peito doer. Não é o jeito como seu corpo se move, como você vê, ouve ou sente o mundo que importa, mas a maneira como você vive. E esta é a parte difícil: aprender a viver. Envolve ser adulto, aprender a lidar com as perdas e situações traumáticas. Também envolve se abrir para outro ser humano, aceitar a mão estendida, dar o melhor de si a quem se ama. Eu ainda estava aprendendo tudo isso. Quanto mais eu aprendia, mais bonita e preciosa a vida me parecia.


Dulce também estava aprendendo, e ainda se atrapalhava um pouco ao tentar externar o que sentia, dividir o que a preocupava, mas eu sabia que ela conseguiria chegar aonde queria. E eu estaria lá com ela, porque esse havia se tornado o meu maior sonho agora. Fazer da vida dela o conto de fadas cor-derosa que deveria ter sido desde o início.


— O que foi? — Ela tocou meu rosto. — Você está bem?


Enrosquei os dedos em seus cabelos embaraçados, trazendo seu rosto para mais perto, beijando-a com ternura.


— Eu estou bem. Estou muito mais que bem, Pin.



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Autor(a): dulcete.vondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 88



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  • eliiv Postado em 05/08/2020 - 01:20:08

    Adorei q vc continuou.... acabei de ler e estou apaixonada e um pouco triste pois nao tem mais capítulos ... adoraria q tivesse 2 temporada

  • anne_mx Postado em 22/12/2019 - 23:50:39

    Comecei a ler essa fanfic e me apaixonei logo de cara, obrigada por não ter permitido que a história ficasse inacabada, foi linda a sua continuidade e o final então, foi incrível, meu sonho que tivesse um epílogo ou segunda temporada, PARABÉNS!!!!

    • dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:39:21

      Muito feliz de saber que alguém voltou para ler, GRATIDÃOOOO ps.: Também adoraria que tivesse a continuação :/

  • Srta Vondy ♥ Postado em 18/12/2019 - 04:25:51

    Se eu disser que tinha pensado nessa fic hoje você acredita ? Muita coincidência cara Essa fic é perfeita e graças a Deus, tu finalizou ! Não sei se eu comentei antes mas entendo tua &quot;frustação&quot;, é muito chato tu fazer algo e não ter nada p te orientar, nem mesmo uma crítica construtiva. Amei o final, foi muito bom tu ter mantido o Chris paraplégico, mostra que para viver e ter um amor não é preciso ser &quot;perfeito&quot;, ficou muito. Queria muito q tivesse um epílogo contado como seria a vida deles casados e quem sabe com filhos... <3 Muito obrigada por todo o esforço que você teve p essa história ser adaptada e entregue p a gente se apaixonar, chorar, rir e muitas vezes tudo de uma só vez kkkk, muito obrigada mesmo e até a próxima história <3

    • dulcete.vondy Postado em 16/01/2020 - 23:40:12

      owwwwwwwwww, fiquei MUITO feliz com seu comentário, eu também gostaria que tivesse continuação :(((

  • eliiv Postado em 01/05/2019 - 17:58:45

    Continua... está muito bom! Tô adorando.

  • cliper_rafa Postado em 09/04/2019 - 20:16:06

    Aaaa, cadê você ? Desistiu ??????

  • cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:54:30

    Desanimando**

  • cliper_rafa Postado em 28/03/2019 - 23:53:57

    To desanimado de ler, poxa, gosto tanto dessa fic :(

  • carolcasti Postado em 23/03/2019 - 09:25:43

    Cadê vc? Desistiu da fic..... Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Plissssssssssssssssssssssssssssssss

  • capitania_12 Postado em 15/03/2019 - 20:20:27

    Aaaaaaah,continua logo por favooooooor

  • cliper_rafa Postado em 14/03/2019 - 19:09:41

    Naaaao, foi tão rápido, continua <3<3


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