Fanfic: Incontrolável |+18+| | Tema: Vondy

Prólogo pt. 1

 Dulce

Lembranças embaçadas. É isso que meu passado representa; simples lembranças embaçadas, onde me lembro de rostos e vozes, mas sem ter a certeza de nada. Consigo me lembrar dela; Aquela que aprendi a chamar de mãe, ou como tia Paloma dizia que ela se chamava; Blanca.

Ela era linda, pelo menos era isso que me parecia a partir das memórias que carrego. Uma mulher de cabelos negros e cumpridos completados por olhos castanhos quase mel e um corpo de estatura pequena. Junto a essa lembrança trago a imagem de um garotinho pequeno e indefeso, não me recordo seu nome, mas sei que era lindo. Tão lindo quanto Blanca.

Novamente tia Paloma me dizia que esse garotinho era meu irmão, e de fato me lembro de amá-lo muito. De sentir um amor tão forte por ele a ponto de querer protege-lo. Do cara que deveria ser meu pai só consigo lembrar da voz grave e mansa. Sem fisionomias. Nada.

 Sempre que perguntei o por que não conseguir lembrar do rosto dele minha tia dizia que era devido ao fato de não termos convivido muito com ele. Toda lembrança minha com ele é turva. Só vem a voz dele, mas sempre sem rosto. Consigo lembrar do carinho que ele costumava me fazer, das brincadeiras que tínhamos e da forma amorosa com que ele tratava todos nós, contudo nada disso me faz lembrar do seu rosto.

Uma vez fui ao psicólogo com a tia Paloma e ao sair escutei ele dizer que minha falta de memória ou “embaçamento” delas nada mais era do que uma resposta do meu cérebro a um trauma. Como se meu cérebro tivesse escolhido “sumir” com lembranças que pudessem, de alguma forma, me causar mal. E de fato era certo que sim, afinal fugir pra se manter viva e ser abandonada pela mãe ainda pequena devia ter me causado um trauma, e da casa não era pra menos. Só de reviver tudo aquilo em pensamentos me sinto novamente naquele dia.

Rússia, alguns anos atrás.

Era mais um dia comum na casa dos Saviñon, pelo menos era nisso que acreditava a pequena Dulce. A menina de cabelos castanhos, de face rechonchuda adicionada a sardas, que se espalhavam por todo o rosto, e olhos claros, ficava ao lado da mãe sempre.

Todo dia que seu pai saía pra trabalhar a garota se povoava ao redor da mãe e do pequeno irmãozinho. Adorava escutar a mãe cantar enquanto cozinhava ou tomava conta do recém chegado a família. Como irmã mais velha, Dulce, sentia o dever de proteger aquele garotinho que ao ver a irmã parecia reconhecer aquela face.

Aquele era um belo dia. Tudo ocorria bem. Seu pai tinha saído e sua mãe mais uma vez cozinhava, ao mesmo tempo em que ela ficava na sala com seu irmão. Contudo, aquele não era mais um simples dia. Quase no fim do dia, a porta da casa foi atendida pela empregada da casa que logo chamou a patroa.

Pela sala passou um homem, que como Dulce bem lembrava, parecia um empresário, mas carregava consigo uma cara nada boa. Algo como medo, preocupação e receio. E foi com essa mesma mistura de sentimentos fixada no rosto que Blanca veio até os filhos.

Dulce não conseguia se lembrar de ver o homem  ir embora ou de ter visto a mãe alguma vez com uma cara tão em pânico, no entanto se recordava do sentimento de pavor. A pressa da mãe pra que ela e o pequeno garotinho guardassem todos os brinquedos e jamais se esqueceria dos gritos da mãe pra que a empregada arrumasse as malas de todos.

Não demorou muito pra que a pequena menina sabida do jeito que era ouvisse a conversa da mãe com a tia Paloma. Lágrimas escorriam sem parar daquele belo rosto maternal, que dizia simplesmente que Fernando havia morrido. Seu pai estava morto. E aquele dia que deveria ter sido somente mais um se transformou em um filme de terror.

Ouvir a mãe dizer que seu pai estava morto por que “eles” tinham mandado, e suplicar a tia que desse abrigo a eles fez com que a menina se sentisse mal. Uma sensação de angústia se apoderou dela.

Tudo ao seu redor parecia um caos; Os empregados da casa, normalmente calmos, estavam correndo de um lado a outro. A mãe chorava ao telefone cada vez que uma palavra ousava sair de sua boca, seu pequeno irmão assustado e como se a situação não fosse desesperadora, chegou vários homens em sua casa.

Não se lembrava de rostos, mas de vozes. Vozes fortes e profundas, que conversavam com sua mãe baixinho e pediam calma. Diziam que o melhor seria sumir e que “eles” viriam atrás de todos aqueles ligados a seu pai.

Na cabeça de Dulce a confusão era tremenda. Ela simplesmente não conseguia entender como aquele dia tinha se transformado naquilo a sua volta. Não fazia muito tempo que havia se acordado e visto o pai sorrir afetuosamente para mãe, e dizer que os amava antes de sair. Ou que ela estivesse brincando com seu irmão no tapete da sala enquanto a mãe se ocupava na cozinha. O que havia feito de errado? Será que tudo era só um sonho? Se fosse, precisava acordar logo.

Pensando nisso a madrugada chegou, e logo ela estava saindo da casa onde passara toda sua infância. Todas as noites em que seu pai contava histórias ou espantava os “monstros” debaixo de sua cama, foram deixadas para trás. Levava consigo somente a mãe, o irmão e aqueles homens que os “escoltavam” para longe dali.

Todas essas lembranças causava em Dulce enjoo, angústia e principalmente medo. Medo de novamente viver aquilo. Afinal de contas era uma criança, e nenhuma criança deveria passar por aquele pesadelo.

Gente, essa é a primeira parte do prólogo que contará somente com mais uma continuação. Espero que gostem, e não esqueçam de deixar seus comentários. Beijos e até a próxima!