Fanfics Brasil - Você amava os pássaros estranhos Strange birds

Fanfic: Strange birds | Tema: Originais | drama


Capítulo: Você amava os pássaros estranhos

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“Você sempre amou os pássaros estranhos.


Você sempre amou o estranho dentro de mim.”


 


Escrevi essas palavras em uma mensagem pra você no whatsapp e apertei em enviar. Então joguei o celular bem longe, sem nem me importar se ele poderia cair na cama e depois aterrissar no chão. Queria mesmo quebrar alguma coisa. Ver a coisa ficar em mil pedacinhos, estilhaçada. Seria uma imagem perfeita de como meu coração estava naquele momento. E nesse momento as lágrimas invadiam meus olhos a ponto de me cegarem. E com a visão turva, não via nada ao meu redor, nada. Bati a porta atrás de mim e foi como um gatilho para que me lançasse escada abaixo, pulando de três em três degraus, completamente louca para sair logo dali, antes de pegar o celular novamente e ver você ignorando a minha mensagem. Ah, que ótimo. Está chovendo aqui fora também.


Eu sempre fui louca. Sempre deixei de fazer coisas que pessoas normais sempre fizeram, e sempre fiz coisas que ninguém mais pensava em fazer. Mas isso foi totalmente fora dos meus limites. Tenho vontade de te segurar pelo rosto e te perguntar, olhando nos teus olhos, se você se lembra. Você se lembra da nossa história toda? Você se lembra de ter me acordado certa madrugada, só pra me dizer que amavaos pássaros estranhos? Que tudo bem eu ser essa louca que sou, que tudo bem, porque você realmente me amava? Lembra? Eu lembro, como vou esquecer disso, porra? Se você foi a primeira e única pessoa na minha vida inteira que me disse isso, que me fez sentir que tudo bem o mundo e a vida serem uma merda. Porque você amava o estranho que havia em mim. E agora, sabe o que eu to sentindo? O mundo e a vida continuam sendo uma merda, e eu não tenho mais a pessoa que dizia amar tudo em mim, até as minhas partes ruins.


Não foram poucas as vezes em que senti meu ar acabando e meu coração se esvaziando pouco a pouco até sentir um completo vazio preencher todo o meu interior, até não sentir mais nada. Porém, de todas as vezes em que me senti assim, essa vez, sem dúvidas, foi a pior.


Você parecia me conhecer tão bem, parecia entender meus gestos incompreensíveis e até meus gritos mudos. Eu não precisava dizer nada, você parecia me desvendar. Eu que sempre gostei de ser misteriosa, acabei sendo transparente com você. E esse, foi de longe, o meu pior erro. As gotas da chuva caem violentas contra meu corpo que já nem as sente. Sinto a tempestade chegando outra vez, só que agora, bem pior. “Você sempre amou os pássaros estranhos. Você sempre amou o estranho dentro de mim.” Como diz a música, lembra? Sinto a dor me corroer, aquela sensação de vazio inundando tudo. Quero chorar mais e mais, só que dói tanto que não consigo mais. As lágrimas cessaram, não consigo. Nem uma gota. E eu sinto o peso das lágrimas. Mas nesse momento eu já não sei dizer o que mais me dói. Se é o peso das lágrimas, o coração cheio de vazio, a alma ou a falta de ar que tomou conta de mim. É fácil machucar quando não é você quem sentirá a dor.


Você tentou me convencer de que é fácil me amar, e eu sempre me achei tão difícil de ser gostada. Mas sabe de uma coisa? Te amar é muito mais fácil, porque eu consegui me apaixonar por você. Mas você não conseguiu se apaixonar por mim. E merda, merda, merda. Parece que ainda assim, eu não vou conseguir parar de te amar. Acho que já estou no limite, não consigo mais chorar e não sinto mais nada. Nada. Vazio. Silêncio. Nada. Volto para casa, entro com o corpo todo pingando e subo até o meu quarto. Não me dou ao trabalho de me secar ou trocar de roupa, e me jogo na cama, ignorando o celular que eu havia jogado ali meia hora antes.


Eu estou em pedaços. Hoje eu só quero desabar.


Quando você não consegue mais chorar, as lágrimas pesam nos olhos já cansados, torturados de tanto segurar dor. Dor que arde como os respingos salgados da água do mar quando atingem os olhos. A explosão se aproxima destruidora, caótica. Eu sou uma granada, prestes a explodir e a destruir tudo ao meu redor. E eu achei que ia doer cada vez mais, mas não. Doeu cada vez menos, até o momento em que não senti mais nada.


Pego o celular que está bem perto da minha mão esquerda, abro nossa conversa e vejo que ela visualizou minha mensagem e não respondeu. Ela está online e já sinto as lágrimas tentando desesperadamente sair dos meus olhos, sem sucesso. Porra, como isso dói. Agora ela está digitando, e eu fico olhando pra tela do celular aberta na nossa conversa, porque não vou fugir como você fez. Ela então termina de digitar e a mensagem que aparece na tela do meu celular é a seguinte:


“É verdade, eu sempre amei os pássaros estranhos. Mas não posso lidar com isso. Não sou forte como você. Eu simplesmente não sei lidar. Eu ainda amo os pássaros estranhos, mas não sei o que fazer com isso, Alana. Mas ainda amo o estranho que há em você. Me desculpa.”


E agora, estou me sentindo como uma flor nas mãos de alguém. Cortada, arrancada, seca, sem vida. Largo o celular de volta na cama, e uma lágrima finalmente consegue sair de um dos meus olhos. Ela desce impetuosa pelo meu rosto, até parar no meu pescoço. E eu fico ali deitada, encharcada, com o estômago revirando de fome ou de dor. Fico ali, contemplando a dor, sentindo a dor. Deixando a dor sair da alma e percorrer todo o meu corpo.


Às vezes, só às vezes, é preciso despedaçar pra poder florir de novo.



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Autor(a): puenterocks

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