Fanfics Brasil - Capítulo 10 Coração Envenenado

Fanfic: Coração Envenenado | Tema: Livro


Capítulo: Capítulo 10

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Já era hora do almoço quando tive a chance de confrontar Hannah e Nat. Eu me esgueirei até a mesa delas no refeitório, meus olhos ainda estavam vermelhos do dia anterior. Minha performance foi digna de um Oscar.


— Por favor, posso me explicar? — comecei, puxando a cadeira para sentar. As duas pareciam acanhadas, confusas e um pouco distantes. Minha voz falhou, o que não era fingimento, pois eu estava de fato nervosa. — Eu... deveria ter contado a vocês como as coisas andam ruins lá em casa. Não estou conseguindo lidar com a situação, e isso está me deixando... com um humor péssimo e meio


esquisita. A primeira lágrima escorreu pela minha bochecha e caiu na mesa de plástico feia. Muitas outras se seguiram, e sequei o rosto com as mãos.


A reação foi imediata. As duas se aproximaram e me abraçaram.


— Por que você não contou nada? — censurou Hannah. — Poderíamos ter ajudado em alguma coisa.


— Sabíamos que você estava estressada — acrescentou Nat. — Você tem suportado tanta coisa.


Era certo que um dia acabaria explodindo.


O abraço em grupo durou alguns minutos até eu me desvencilhar.


— Minha mãe vai procurar ajuda, conversar com determinadas pessoas e tentar algum tipo de aconselhamento.


Nat deu soquinhos no meu braço até doer.


— Isso é ótimo. Vou pedir um latte duplo com chocolate granulado para você, para comemorar.


— Eu não mereço vocês duas — funguei mais um pouco. — Obrigada por serem tão compreensivas.


— É para isso que servem as amigas — declarou Hannah, no mesmo instante em que Genevieve passara pela porta. Nossos olhares se encontraram, e o tempo parou. Ela tentou se recompor ao ver a imagem de nossas três carinhas felizes e contentes, mas fracassou totalmente. Vi a fúria e a descrença lutando dentro dela. Ela deu um passo à frente, tentando sorrir, mas parecia mais uma careta.


E, então, foi o momento da verdadeira roubada de cena. Levantei-me, sequei minhas lágrimas e fui até lá. Meus braços enlaçaram o seu corpo esbelto, e ela se encolheu na mesma hora, mas segurei firme, impiedosa, deliciando-me com o desconforto dela. Estávamos entrelaçadas em um estranho abraço simbiótico, e quase cheguei a acreditar que um pouco do seu sangue corria nas minhas veias naquele instante.


Falei mais alto de propósito para que todo mundo escutasse.


— Desculpe se fiz você se sentir mal. Essa atitude não tem nada a ver comigo. Estou passando por algumas dificuldades em casa.


— Tudo bem — resmungou de um jeito indelicado. — Não me incomodei.


— De jeito nenhum. Foi péssimo da minha parte. Você me perdoa?


— Sim. Claro — respondeu ela, dura.


— E podemos ser amigas?


Deixei que ela se soltasse e recuasse como se tivesse sido atingida. Nat dera as costas por um segundo, com a bolsa aberta, perguntando se Hannah tinha algum trocado. Genevieve se aproveitou da distração das duas.


— Só por cima do meu cadáver — sussurrou, cheia de maldade.


Joguei minha cabeça para trás e gargalhei fazendo troça.


— Genevieve, você tem um senso de humor bizarro.


Ela não contava com essa reação, e o rubor que se espalhou no seu rosto me deu um arrepio de poder. Eu encontrara a fenda na sua armadura e estava determinada a não afrouxar o ataque. No momento seguinte, eu ri, girei na cadeira e mantive o fluxo de bate-papo animado e alegre para mostrar a todos o quanto eu estava à vontade. Fiz questão de incluir Genevieve em todos os assuntos e usei seu nome constantemente, chegando mesmo a encurtá-lo para Gen. Os olhos verdes se arregalavam com mais e mais desgosto. As más vibrações entre nós duas eram tão fortes que pensei que todos estivessem sentindo, mas, quando olhei para Nat e Hannah, não vi nenhum sinal de suspeita.


Passado mais um tempo, aconteceu a coisa mais estranha do mundo: Genevieve começou a perder o viço diante dos meus olhos, como uma flor que vai murchando. Quanto mais eu agia, falava e fingia que ela não me atingia em nada, mais fraca ela ia ficando, como se estivéssemos num cabo de guerra e eu estivesse vencendo. Cheguei a pestanejar, questionando se estaria enxergando bem. Seus olhos se apagaram, o discurso secou a ponto de ela se expressar apenas em monossílabos, e até seus cabelos pareceram perder o brilho. Ela ficou invisível, enquanto eu brilhava.


Depois do almoço, Nat e Hannah foram para suas aulas, deixando-me a sós com Genevieve.


Parte de mim estava se deliciando com aquilo, enquanto eu tentava impedir que o sorriso de gato da


Alice preenchesse o meu rosto.


— Você está se achando esperta? — disse ela.


— Não, não estou.


— Não importa o que você esteja planejando, não vai dar certo...


— É você quem fica fazendo joguinho.


Ela chegou mais perto, os olhos quase me hipnotizando.


— Não me subestime. Não se trata de um jogo.


Fiquei cara a cara com ela, endireitando minhas costas e levantando o queixo.


— É óbvio que você quer atenção e faz de tudo para conseguir.


Ela falou num tom de séria ameaça:


— Não venha aplicar sua psicologia barata comigo. Você não sabe com o que está lidando.


Debochei, fingindo tremer de medo.


— Uuuh, você está me deixando aterrorizada.


Ela não moveu um músculo, conseguia me encarar por uma eternidade sem piscar. Por fim, precisei desviar o olhar.


— Não desgosto de você, Genevieve, nem guardo rancor.


— Obviamente, Katy, porque não estou me esforçando o suficiente. Quando tudo estiver terminado, você vai me detestar tanto que vai querer...


A garota não chegou a completar a frase. Dei meu sorriso mais benevolente, lembrando-me do conselho de Luke para manter a calma.


— Não somos iguais. Não tenho esse sentimento. Se quer mesmo saber, eu sinto pena de você...


Todo esse ódio deve devorá-la por dentro.


Genevieve me examinou com desprezo e saiu dali, jogando a mochila nas costas.


— Você está enganada — disse ela, tranquila. — É o que me mantém viva e me dá forças.


Na saída, esbarrei em Merlin. Ele me olhou duas vezes, dando uns passos para trás e me examinando dos pés à cabeça.


— Tem algo diferente em você.


— Ah, é? — provoquei. Eu não precisava me olhar no espelho, sentia minha pele resplandecente e meus cabelos soltos e leves com a vitória.


— Você está tão maravilhosa... Não... Digo, você sempre foi maravilhosa, mas hoje tem um brilho especial. Seus olhos estão tão... luminosos.


Ele se inclinou para a frente e passou os dedos pelos meus cachos.


— Quando a pintura ficar pronta, quero que ela exprima seu rosto como está agora, neste exato momento.


Agarrei sua mão e puxei-o para o vão de uma porta, sem me preocupar se o diretor passaria do nosso lado e nos suspenderia por comportamento inadequado. Minhas bochechas queimavam com os beijos longos e intensos que ele me dava. Como pude chegar a pensar que Genevieve fosse tomá-lo de mim?


— Katy, vamos embora — disse ele com a voz rouca. — Vamos dar uma escapulida juntos... para algum lugar, qualquer lugar...


— Não posso. A srta. Clegg já me viu aqui.


— Diga que você está passando mal.


— Não posso deixar de fazer o trabalho.


— Depois da aula, então.


— Prometi à minha mãe que iria direto para casa.


Ele suspirou, desapontado.


— Você sempre está correndo para algum lugar ou está nervosa por causa de sua mãe.


Fiquei na ponta dos pés e segurei seu rosto entre as minhas mãos.


— Nós vamos ficar juntos... logo.


Ele fechou os olhos.


— Isso é uma promessa?


— É uma promessa.


— Katy Rivers... você é absolutamente incrível — disse Merlin, colando os lábios nos meus.


— Você não acreditaria em nada horrível a meu respeito, acreditaria? — perguntei, ofegante, quando finalmente nos separamos.


— Nunca. Por que acreditaria?


Um súbito sentimento de pânico tomou conta de mim.


— Alguém poderia fazer ou dizer coisas que manchassem a minha imagem.


— Isso não mudaria o que penso de você.


— Sério? — Sorri.


— Sério.


Ele sorriu de volta e beijou a ponta do meu nariz.


Toda acanhada, cheguei atrasada na aula seguinte, guardando só para mim a memória de cada toque, de cada palavra que trocamos. Ele enxergara a verdadeira Katy. Nat e Hannah poderiam vacilar, mas Genevieve nunca conseguiria envenenar a cabeça de Merlin e botá-lo contra mim.


Sonhei acordada, relembrando todos os momentos, um delicioso formigamento de emoção percorrendo o meu corpo. Não durou muito. Voltei à realidade num terror repentino, me lembrando da promessa que fizera e percebendo com o que acabara de concordar. Eu precisava de conselhos, e rápido._



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Autor(a): Fer Linhares

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