Fanfic: Sol & Tempestade | Tema: Vondy

Ao fundo podia ser ouvido a voz da moça de cabelos curtos pretos a chamando com cuidado, Dulce abriu os olhos devagar e se viu no mesmo lugar que antes, a cama dura incomodava suas costas. Seus olhos foram de encontro com os de Maite que sorriu e suspirou

 — Graças a Deus, pensei que estivesse morta

 — Onde eu estou? — a voz de Dulce soou rouca

 — Está no nosso quarto, você engordou um pouco, foi difícil traze-la aqui para cima — Maite riu se levantando da cama de Dulce que agora estava sentada

 — Eu juro, juro por Deus que não me lembro de nada, não sei quem é você, não sei quem era aquela senhora com o chicote e não sei onde estou — os olhos de Dulce encheram d'água e foi aí que Maite realmente acreditou que havia algo de errado com sua amiga de anos

 — Tudo bem, fique calma, por sorte a senhora Matilde, que é senhora do chicote lhe deu folga e disse para eu cuidar de você — Maite tirou alguns fios de cabelos do rosto de Dulce e sorriu docemente — Eu vou te ajudar

 Ambas sorriram uma pra outra, Dulce sentiu seu coração ficar aquecido, o que significava que realmente podia confiar na moça de cabelos pretos curtos

 — Meu nome é Maite, somos amigas desde o dia que você veio trabalhar aqui, ainda éramos pequenas. Meus pais tiveram que me abandonar pois estavam leprosos então me deixaram nas mãos da senhora Matilde. — Dulce a olhava com atenção — Você é Dulce Maria, ninguém sabe como a sua pequena casa se incendiou porém você sobreviveu e veio pedir abrigo aqui e claro, em troca teve que trabalhar.

 — Dulce Maria — ela repetiu tentando aceitar tal nome — E onde é aqui?

 — É o castelo do Rei Victor, tudo e todos pertencem a eles e aos seus filhos, que são os príncipes.

 — Rei Victor? — Dulce perguntou em um tom mais elevado fazendo Maite se assustar

 "Rei Victor", a mesma repetia consigo mesma, já havia ouvido falar sobre ele, mas onde? Onde?

 Dulce fechou os olhos por um instante e foi aí que se lembrou, aula de história, quinta série do ensino fundamental, o professor magro, alto e de óculos redondos lia sobre o Rei Victor, um rei muito adorado pelos seus súditos e familiares. Exceto por uma pessoa...mas quem? Dulce não conseguia se lembrar.

 — Dulce! — Maite a sacudia — Estás a ficar pálida novamente

 — Em que ano estamos?

 — Mil quatrocentos e dezesseis

 — Século quinze? — Dulce voltou a elevar seu tom se levantando rapidamente da cama — Isso é loucura, não é possível! — A mesma olhou seriamente para Maite — Me prove!

 — Podemos dar uma volta pelo castelo e pelos seus arredores.

 — Sim, faremos isso

  — Mas antes precisar se vestir adequadamente, não gostaria nem de imaginar se algum príncipe lhe visse apenas de camisola, seria um escândalo.

 Dulce concordou com a cabeça pegando com cuidado um vestido que estava sobrado ao lado do castiçal, era um vestido liso comprido e de mangas compridas, da cor turquesa, idêntico ao vestido que Maite e as outras mulheres da cozinha usavam. Nele não havia babados, decote, renda, nada, era apenas um pedaço de pano.

 Dulce se viu no pequeno e quebrado espelho que estava em um canto e suspirou por ver que seu cabelo não era mais vermelho como o sangue, era castanho, sua cor natural. Após isso calçou os sapatos pretos e realmente eles eram pesados e desconfortáveis.

 — Pronto — Dulce ajeitou seu vestido e olhou pra Maite

 — Bom, esse é o nosso quarto como pôde ver, só dormimos quando todos da família real já estão em seus aposentos.

 — Certo — Dulce começou a segui-la para fora do quarto, descendo as escadas estreitas seus pés reclamavam devido ao aperto dos sapatos

 — Essa é a cozinha, aqui nós comemos e preparamos a refeição para os príncipes. A responsável pela comida do rei e da rainha é a senhora Matilde, só ela pode os servir.

 — Então nós somos empregadas? — Dulce perguntou enquanto saia da cozinha e seguia por um enorme corredor de vista para um enorme jardim cheio de flores

 — Hum, prefiro dizer que administramos o castelo, sem nós ele não seria tão brilhante como é.

 As duas riram quando um homem alto, cabelos loiros e brilhantes como o sol, olhos esverdeados apareceu diante das duas e sorriu

 — Vejo que estão sorridentes como sempre

 — Príncipe William — Maite o reverenciou e Dulce fez o mesmo.

 — Esta uma ótima manhã para cavalgar, caso precise de mim não se contente em chamar-me

 — Sim senhor — Maite sorriu enquanto ele se afastava — Aquele é o segundo príncipe, William, é um doce de pessoa

 — É, tão doce que te fez babar

 Maite tocou no próprio queixo procurando pela baba o que fez Dulce rir

 — Não seja maldosa, ele é um cavalheiro, é o príncipe mais querido por aqui, algumas pessoas acham que é uma pena ele não ter nascido primeiro, sem dúvidas seria um excelente governante.

 — E um excelente marido — Dulce novamente zombou e as duas caíram na gargalhada

 — Meus ouvidos latejam de dor com essas risadas tão histéricas — as duas pararam de rir imediatamente e Maite fez reverência para uma bela moça de cabelos loiros e olhos claros

 — Princesa Angelique

 — Saiam da frente! — Dulce e Maite sairam do caminho ficando coladas com a parede enquanto Angelique passava desfilando com seu vestido vermelho cheio de babados, bem diferente e bastante nobre do que o vestido que Dulce vestia.

 — Quem é a bruxa?

 — É a nossa futura rainha — suspirou Maite — Ela veio da França apenas para se casar com o primeiro príncipe, Sebastian, o sucessor de Victor.

 Ambas ficaram em silêncio até a princesa Angelique sumir.

 — Não vai ser fácil recomeçar — disse um senhor passando entre as duas rapidamente

 Dulce o olhou e o começou a segui-lo, aquele senhor, era o mesmo que estava pintando na praça, era o mesmo que a empurrou no lago e era o mesmo que estava correndo cheio de papéis nas mãos.