Fanfics Brasil - Lenda viva Assolação de Kar - A ruína dos Sete

Fanfic: Assolação de Kar - A ruína dos Sete | Tema: Mistério


Capítulo: Lenda viva

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Pouco se sabe sobre ele, à não ser o que emerge de antigas histórias apocalípticas, contadas em rodas de fogueira para assombrar os sonhos das pessoas, ou em mitos cotidianos, que as mães usam para fazer com que seus filhos obedeçam suas ordens. Mitos que percorriam toda a extensão de Kar, ou o que sobrara deste lugar esquecido pelos deuses.


        Antigas lendas percorrem as planícies desoladas, enfeitando a imaginação dos habitantes das poucas cidades restantes, cintilando na crendice bucólica de um mundo que oscilava, constantemente, entre a destruição e a reconstrução.


 


        Os mais antigos, comandados pelos Sete Patres, contavam que ele não nasceu de um ventre humano, que se originou de uma força maligna há muitos milênios, quando as estrelas se obscureceram sobre as pirâmides de Kallin, o berço de seu surgimento, segundo eles. Contam que após o escurecimento total, quando a noite sombria engoliu as estrelas e a Lua, o Grande Mal eclodiu das profundezas subterrâneas, como uma fumaça venenosa que matou todos os seres vivos e plantas de Kallin. O veneno dessa fumaça se unificou dentro da Primeira Pirâmide e formou ele, da pureza do veneno do Grande Mal.


        Após sua formação o Sol foi tomado pelas trevas, dando a Kar setenta e sete dias de escuridão total. Ele era citado nas mais antigas histórias conhecidas e estava talhado tenebrosamente em desenhos rupestres, como um grande mostro que engolia as nações. Os Sete Patres proibiram, desde o último desastre, que seu nome fosse citado entre os sobreviventes das cidades, por isso ele é conhecido como Assolação.


 


        Metrik era uma cidade ao extremo sul, ocupada pelos descendentes de uma antiga metrópole, cantada em tabernas como a mais bela no auge de Kar. Pouco sobrou do que era cantado, a poderosa economia, agora, se mantinha com a criação de gado e a colheita de tâmaras, as únicas frutas que nasciam, devido as condições arenosas e tóxicas do terreno.


        Haviam ali cerca de trezentos habitantes, entre homens, mulheres e crianças, todos sob a orientação do Patre Joseph, que comandava Metrik há quarenta anos, quando seu antecessor morreu por envenenamento, algo que jamais fora explicado.


 


        Joseph tinha oitenta anos, possuindo por direito tudo que estava em Metrik e aos seus arredores. Setenta e sete por cento de tudo que era produzido em Metrik, era seu, desde a carne e leite, até as tâmaras e água, bem como uma fração, de trinta e sete por cento, do pouco que os habitantes conseguiam para si mesmos. Isso era chamado de “Imposto Patre”, e até as crianças deveriam pagar assim que começassem a trabalhar, o que ocorria, geralmente, aos sete anos, para meninos e meninas. Antes de completar a idade de sete, os pais deveriam pagar pelas crianças, o total de dezessete por cento por cada um de seus filhos, mais sua própria porcentagem de trinta e sete.


       


        Cada Patre seguia o mesmo padrão de direitos, sobre as cidades que orientavam e sobre os habitantes. Eles se ergueram, após o último desastre, como os salvadores do povo, com promessas de melhoras, água, comida e reconstrução; mas de fato, Kar nunca prosperou após aquele desastre.


        Os Patres eram considerados como seres superiores, humanos de essência divina, mandados para Kar para conduzir o povo à salvação e para a libertação do Grande Mal. Os Patres eram considerados os únicos com o dom da purificação, que anulava o veneno de todo o mal. Por isso, quando as meninas completavam sete anos, antes de iniciar sua vida de trabalho, eram concedidas ao Patre de sua cidade, para que ele consumisse o mal que havia em sua alma, em um ritual sexual de iniciação ao mundo.


       


Nunca houve nenhuma rebelião, ou ato contrário à decisão de um Patre, sua palavra era soberana e considerada como mensagem dos deuses. Haviam sete encarregados da segurança de cada Patre, conhecidos como Anjos de Argila, uma referência à criação de Mephset, a deusa que mantém o universo em seu ventre.


Eles eram homens altamente treinados, dados desde seu nascimento para servirem aos Patres, sua vida era unicamente em prol de seu trabalho, reconhecido pelos Sete como um dom divino. Ao nascer, os Destinados eram levados para uma cidade oculta, que não era comandada por nenhum Patre, onde eram castrados e colocados sob condições extremas de sobrevivência.


Os Destinados, após completarem dois anos, eram jogados em um deserto inóspito, sem armas ou mantimentos, para que provassem possuir o dom divino. Os que sobrevivessem por cinco anos eram resgatados e levados de volta à cidade oculta, onde se inicia seu treinamento físico e psicológico. Durante o processo de treinamento, os Destinados precisam provar sua devoção, arrancando a própria língua, em um ritual onde os próprios Patres aparecem para assistir. Na vida de um Destinado, essa é a primeira vez que ele pode ver os Patres, assim provando seu dom divino. Caso o Destinado se recuse a sacrificar sua fala, ele perde seu dom perante os deuses, e em custo do sacrifício espontâneo da fala, os Condutores arrancam seus olhos, como castigo por terem visto a divindade dos Patres e terem abdicado seu dom. Após isso, são novamente jogados ao deserto, cegos e sozinhos.


 


Um agricultor local, considerado o mais pobre entre os habitantes, fora eleito antes de seu nascimento para ser um Anjo de Argila, ele era um Destinado. Mas ao nascer, foi constatado que sua perna direita era torta e que ele sempre iria andar mancando, por esse fato, quando nasceu foi mandado de volta para sua família. Nenhum Destinado poderia conter imperfeições, pois isso era considerado uma marca deixada pelos deuses para mostrar a imundice.


Cristian tinha vinte e sete anos, um homem que viveu na mais intensa pobreza, sendo discriminado pelos demais habitantes de Metrik, devido à sua deficiência. Ele conheceu Jasmim aos quinze anos, uma jovem que também havia sido considerada imunda, pois nasceu sem um dos dedos da mão direita. Jasmim herdou uma plantação de tâmaras de seu pai, quando este morreu de câncer aos trinta anos.


 


Cristian e Jasmim permaneceram juntos, cuidando da plantação, o que era contra a vontade de seu pai, que considerava Cristian um imundo. Aos vinte anos tiveram uma filha, chamada de Aurora, uma menina linda e sem nenhum defeito físico, que brilhava alegre, mesmo com a pobreza de sua família. Eles possuíam uma boa plantação de tâmaras, mas devido suas condições físicas, poucos compradores se arriscavam a comprar deles, pois acreditava-se que a tâmara de um imundo era também imunda. Eles vendiam pela metade do preço, para um negociante que conhecia a família de Jasmim, homem que fazia isso pela consideração que teve ao pai dela. E isso era realmente um risco para ele, se alguém descobrisse que estava revendendo tâmaras de imundos, ele iria sofrer pena de morte.


 


O dia do sétimo aniversário de Aurora havia chegado, quando seus pais deveriam banhá-la, vestir roupas brancas, perfumá-la com azeite e conduzi-la até o mercado central, uma grande feira onde um Condutor vinha buscar as meninas para a purificação.


Jasmim olhava triste para sua filha, derramando lembranças à cada lágrima que escorria, enquanto penteava os dourados cabelos de Aurora. Jasmim, mesmo sendo considerada imunda, teve que ser entregue ao Patre, pois ao contrário dos meninos, acreditava-se que se o Patre fosse muito persistente, poderia curar a imperfeição, o que gerou muito sofrimento para ela.


 


- Por quê está chorando, mamãe?


 


Ao ver a inocência de sua filha, em seus olhos calmos, lapidados pela falta de informação sobre o que seria obrigada a passar, Jasmim desabou em prantos, perdendo totalmente a postura.


 


- Mamãe, não chore, eu voltarei amanhã. Precisamos ser purificadas, não se preocupe.


 


Cristian entrou no quarto e madeira velha, que já estava apodrecendo, enquanto era tomada pelos cupins. Ele olhou sua esposa chorando e sabia bem do que se tratava. Mas ele precisava manter a postura diante da situação.


 


- Querida, não fique tão emocionada assim, é apenas a purificação de nossa menina, que vai voltar uma mulher madura e forte.


 


Então olhou o rosto de sua filha, que sorria com a inocência do sol da manhã. Ele sabia que não poderia fazer nada, que se tentasse esconder sua filha, o Condutor enviaria homens para tomá-la, transformando-a em uma das esposas do Patre, no melhor dos casos. Essa era uma lei irrevogável.


 


- Aurora, acho que sua mãe não está se sentindo bem hoje. Que tal irmos só nós dois ao mercado central? Não podemos nos atrasar.


 


Aurora olhou para seu pai com um grande sorriso, fechando seus olhos.


 


- Tudo bem papai. Vamos depressa! – Passou a mão sobre os cabelos de sua mãe, com ternura – Mamãe, não fique triste, eu volto logo.


 


Então Cristian partiu com Aurora, deixando Jasmim mergulhada em suas lágrimas, em um pranto cortante de agonia e dor, rezando baixinho para que os deuses tivessem piedade de sua pequena criança.


 


Ao chegar no mercado central, Aurora se espantou com a quantidade de pessoas, pois ali estavam todos os habitantes da cidade, com exceção de sua mãe. Ela nunca tinha saído do terreno de seus pais, sempre viveu em casa e na plantação, jamais tinha visto tanta gente e tanto barulho.


Mercadores de tâmaras, vendedores de leite, couro e carne, gritando seus preços e cantando ofertas, mas não era esse o motivo de toda a cidade estar ali. Uma vez a cada ano, todas as meninas que completaram sete anos eram levadas para o mercado central, para serem entregues ao Condutor, com a presença do Patre. Esse era um evento que reunia toda a população, afinal o Patre não costumava dar as caras por qualquer motivo, permanecendo maior parte do tempo dentro de sua mansão, erguida dentro da maior e mais luxuosa fazenda de Metrik.


Patre Joseph gostava de estar presente na entrega das meninas, para escolher quais delas iria purificar primeiro, e qual delas se tornaria mais uma de suas esposas. Anualmente, após a purificação, ele escolhia uma para se tornar sua esposa, levando para sua mansão, para se juntar com suas outras quarenta esposas. Elas o serviam sexualmente até os vinte anos, após isso eram transformadas em serviçais do Patre, cuidando da casa e da fazenda.


 


Ao ponto do meio dia, todas as meninas deveriam estar presentes, de frente para a carruagem do Patre, na primeira fileira, seguidas do resto da população. Nesse momento, todos se calavam e ocupavam seus lugares, ajoelhados de cabeça baixa, esperando que o Patre saia de sua carruagem e abençoe à todos, em uma celebração de reconstrução. Após seu discurso, ele descia os degraus da carruagem e caminhava até as meninas, onde iria escolher qual delas seriam purificadas primeiro.


Os pais das meninas que fossem escolhidas por primeiro, poderiam receber a honra de tocar os pés do Patre, o que era considerado a maior dádiva em toda Kar.


 


Quando o Sol se estabeleceu em seu auge, marcando o meio-dia, não podia se ouvir nenhum barulho, até mesmo a respiração dos habitantes era controlada, para que não desrespeitassem o Patre. Então o Condutor abriu a porta da carruagem vermelha, se ajoelhando assim como os demais. Patre Joseph era gordo e enrugado, com olhos amarelados que pareciam saltar das bolsas que se formaram em sua face. Com poucos cabelos, cinzas meio escuros, se mexia com dificuldade, grunhindo a cada movimento, que parecia exigir muito esforço de sua parte. Ele vestia um manto sacerdotal, todo em cor branca e com detalhes em ouro, que formavam arabescos em honra ao deus Hamith, o patrono da sabedoria.


Ele olhou sua multidão ajoelhada, todos prostrados aos seus pés, esperando suas benções. Sua respiração lembrava a de um porco grande, muito esforçada, talvez pela quantidade de gordura em todo seu corpo, o que também o fazia suar constantemente. Ele olhava para as meninas, lambendo seus lábios com sua língua babada. Ele estava pronto para iniciar seu discurso.


 


Antes que Patre Joseph começasse a falar, um som foi ouvido, algo que, mesmo sutil, fez todos tremerem, sabendo que aquilo iria incomodar o Patre. Era o som de passos, que vinham da estrada de terra, que levava para fora da cidade, eram passos em direção ao mercado central, cada vez mais próximos. Ninguém ousou erguer a cabeça, mesmo com a curiosidade inflamando suas veias.


Patre Joseph tentava ver o que era aquilo, limpando o suor da testa, protegendo seus olhos do Sol forte. Era a silhueta de um homem, que se fazia escura e desfocada na poeira, vindo diretamente em direção da multidão.


Cristian começou a suar frio, pensando que fosse sua esposa, Jasmim, que havia se decidido em fazer alguma bobagem. Mas se manteve imóvel, rezando para que fosse apenas um forasteiro desavisado. Todos estavam apreensivos, sabendo que este, seja lá quem for, iria pagar com a vida e que eles, certamente, também poderiam sofrer as consequências, se o Patre considerasse que a cidade não o respeitou.


 


O Condutor se levantou, colocando-se em posição defensiva, junto aos sete Anjos de Argila, que estavam formando um cordão humano na frente do Patre. Joseph esbugalhou seus olhos amarelados, identificando que era um homem vindo em sua direção, vestido com tecidos pretos em detalhes de couro, caminhando sobre botas longas, que refletiam a luz. Ele tinha cabelos longos e escuros, com pele muito pálida e olhos cinzas, seu rosto estava parcialmente coberto, usava um lenço preto que cobria sua face do nariz para baixo. Seu braço esquerdo tinha veias saltadas de cor preta, algo parecido com petróleo.


O homem trazia uma bolsa grande em sua mão direita, de couro marrom claro, causando um contraste com sua aparência.


 


O Condutor deu ordem para que os Anjos de Argila pegassem o estranho, mas foi advertido pelo Patre a ficar quieto. A ganância falou mais alto, fazendo o Patre se pronunciar, com todo o esforço que era preciso.


 


- Forasteiro, não tens respeito por um momento sagrado como este?


 


O estranho então parou, há três metros da multidão, soltando a bolsa no chão.


 


- Vejo que me traz um presente. Parece ser bem grande, pelo tamanho da bolsa.


 


O estranho levantou seu rosto, com ar ameaçador, olhando furiosamente para o Patre, falando com firmeza e frieza em sua voz rouca e penetrante.


 


- Você não merece nenhum presente, Joseph.


 


Neste momento, ao ouvir o modo desrespeitoso de falar do estranho, a multidão expressou seu espanto, respirando profundamente.


 


Patre Joseph não acreditava no que estava vendo, mas pleno de seu poder, sorriu com arrogância, confrontando o estranho com seu olhar soberbo.


 


- Então o que trazes para minha cidade, seu imundo?


 


Ele ergueu seu braço esquerdo, mostrando suas veias negras, que começaram a emitir um brilho sombrio. Olhou bem nos olhos do Patre, com convicção mortal.


 


- Eu trago a morte!


 


Ao falar isso, centenas de najas saltaram da terra, se colocando perto do pescoço de todos que ali estavam, com as presas para fora, pingando veneno, deixando claro que se houvesse o menor movimento, seria o fim deles.


Oito delas não se mantiveram na ameaça, saltando direto no pescoço dos Anjos de Argila e do Condutor, que caíram ao chão agonizando, se contorcendo por alguns segundos. Eram centenas de najas de fogo, a espécie mais fatal de Kar; uma única mordida matava um ser humano em vinte segundos, com muita dor e agonia.


 


Patre Joseph sentiu, pela primeira vez, o medo tomar sua alma.


 


- O que pensa que está fazendo, feiticeiro?! Não sabe quem sou??? Quem pensa que é, seu maldito?!!!


 


O estranho começou a caminhar lentamente na direção do Patre, com uma calma implacável, que se misturava refinadamente com a frieza de sua presença.


 


- Vocês se esqueceram de mim, mas eu jamais me esqueci de vocês. Sempre estive vivo, preparando este momento. Estive no deserto escaldante cozinhando meu espírito, esperando o Sol se pôr, para cortejar o frio congelante das noites que rasgam a mente.


 


Ele passava por todos os habitantes, que estavam ajoelhados e imóveis, perante as najas em posição de ataque. Sua capa negra, repicada, rasgada e cheia de buracos, balançava junto com a poeira que subia do solo.


 


- Eu sei quem você é, criatura nojenta. Você é apenas mais um cretino abusando do poder, levando seus desejos mórbidos à serem concretizados nas custas do povo. Você explora as pessoas, abusa de crianças, mata todos que se levantam contra você, rouba deles e destrói suas famílias. Você é apenas um verme se achando um deus, mais um messias aproveitador sem valor para este universo. Tenho nojo de pisar sobre o mesmo solo que você, ser abominável!


 


Patre Joseph temeu como nunca havia imaginado.


 


- Tudo bem, me diga o que você quer. Eu tenho muita água e comida, tenho posses imensuráveis! É só dizer o que você quer e será seu!!!


 


O estranho se aproximou do Patre, olhando dentro de seus olhos assustados, há dez centímetros da fúria que emanava de seu olhar.


 


        - Ajoelhe-se, verme! – Ele pisou na parte traseira dos joelhos do Patre, fazendo-o cair ajoelhado na terra – Olhe em meus olhos, criatura nojenta.


 


        Ele segurou as bochechas gordas do Patre, as apertando com muita raiva, com tanta raiva que quebrou dois de seus dentes.


 


        - Não sabe quem sou, seu verme nojento?!


 


        Patre Joseph não conseguia falar, com tanta dor e medo. Ele chorava como alguém que sabia estar à beira de uma morte cruel.


 


        - Vocês esqueceram meu nome, já não se lembram mais quem sou. Eu sou a justiça para este mundo corrompido, sou o juiz impiedoso deste lugar esquecido. – Ele apertava com tanta força o rosto com sua mão, que o sangue começou a escorrer da boca do Patre, enquanto seus dentes iam se quebrando – Eu sou a punição, Joseph, eu sou a Assolação de Kar!


 


        Ele então quebrou o maxilar do Patre, jogando-o no chão gemendo. Pisoteou seu joelho, quebrando-o em um só golpe! Largou o Patre ao chão, agonizando, caminhou de volta para sua bolsa, trazendo ela até ele.


 


        - Queria saber o que eu trouxe, Joseph? Sua ganância não tem limites, não é?!


 


        Ele abriu a bolsa e despejou três cabeças sobre o Patre Joseph. Eram as cabeças de três outros Patres; Belial, Richtrow e Carlos! Patre Joseph começou a gritar, debatendo o corpo no chão, totalmente aterrorizado com o que estava vendo.


 


        Ele então se virou para a multidão, mantendo seu olhar furioso.


 


        - Seu líder está aos meus pés, esperando uma dolorosa e cruel morte. Seu destino já foi selado por mim, que venho trazer a justiça para este mundo corrupto. Vocês sabem quem sou, eu sou a Assolação de Kar, aquele que os avisou duas vezes, mas não foi ouvido. Vocês cantam sobre mim, assombram seus filhos com minhas histórias, mas pensam que sou uma lenda. Hoje os faço acordar; eu não sou uma lenda, eu vivo!


 


        Pouco à pouco, a multidão começava a erguer a cabeça, para olhar este homem.


 


        - Duas vezes os avisei, mas não me ouviram. Então novamente os avisei, com o que chamam de último desastre, quando a grande rocha desceu do céu e destruiu suas nações. Mas nada adiantou, vocês continuaram sendo corruptos, aproveitadores e inescrupulosos. Vocês destruíram este mundo, acabaram com os animais e com as plantas, não eu. Eu sou a justiça, que se cansou de avisar e agora veio exterminar essa praga chamada de humanidade!


 


        Todos se olharam muito espantados, sem entender o que estava acontecendo.


 


 


        - Eu não vim aqui matar apenas os Patres, vim também matar seus servos. Cada um de vocês que aqui está, colabora para que esses vermes tenham poder, a força deles vem unicamente de vocês. São covardes, que apoiam esse regime idolatra e abusivo. Se prendem em desculpas esfarrapadas, mentindo para si mesmos que nada podem fazer, pois seriam mortos se fossem contra eles. Mas eu os digo, antes que tivessem morrido lutando contra esses vermes, do que ter vivido essa vida miserável os servindo. Vocês entregam suas filhas para eles, deixam seus filhos serem roubados de seus berços, deixam que peguem os frutos de seu trabalho e nada fazem! São mais do que covardes, vocês são cúmplices!

        Todos começaram a tentar se mexer, prestes a implorar perdão para este ser.


 


        - Eu trago a morte, eu sou a Assolação de Kar!!!


 


        Junto ao seu grito fervoroso, as najas atacaram todos, mordendo seus pescoços sem os permitir dizer nada. Eles caíram ao chão, se debatendo e gritando de dor. Nos últimos segundos de suas vidas, deixaram de se ajoelhar, deixaram de ser uma multidão prostrada, para morrerem do jeito que viveram; agonizando. Mas dessa vez não era apenas por dentro.


 


        Ele se aproximou do Patre, que estava totalmente aterrorizado com o que estava presenciando.


 


        - Para você, Joseph, eu reservei algo mais poético. Acredito que seja o suficiente para selar seu destino com justiça. – Pegou a bolsa e retirou dela um pequeno cacto, com quinze centímetros – Esta espécie de cacto só nasce em Kallin, foi geneticamente modificado pela mesma coisa que matou todo o resto de vida que lá existia. Além de conter espinhos altamente dolorosos e ardentes, ele tem uma grande peculiaridade; quando o plantamos no solo, só chega à quinze centímetros, mas quando ele é exposto a outro organismo vivo, começa a crescer exponencialmente, sem parar até alcançar o tamanho desse outro organismo. Ele drena os líquidos do organismo e se nutre com eles, crescendo até matar o organismo.


 


        O Patre olhava aterrorizado para o cacto.


        - Mas ele faz isso vagarosamente, crescendo de cinco à sete centímetros por dia.


 


        Ele pisou sobre o outro joelho do Patre, quebrando-o. Depois estraçalhou seus cotovelos e ombros. Enfiou uma estaca no chão, onde o amarrou, virando-o de bruços e introduzindo o cacto dentro de seu ânus.


 


        As najas voltaram para debaixo da terra, se esgueirando pela poeira. O estranho foi embora, caminhando lentamente, sem olhar para trás, enquanto ouvia os gritos agonizantes de dor do Patre, em meio a silenciosa multidão contorcida no esquecimento da morte.



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Autor(a): aleisterdelmiro

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