Fanfics Brasil - Um Sentimento Familiar A Garota Sem Passado

Fanfic: A Garota Sem Passado | Tema: Caleb McLaughlin e Sadie Sink


Capítulo: Um Sentimento Familiar

87 visualizações Denunciar


A noite havia sido longa, as mesma imagens se repetiram como uma bobina em minha mente, assim como a angustia acompanhada delas, em meu peito. O teto serviu como uma tela em branco para que eu pudesse a preencher de todas estes tormentos. Esquecer dos gritos de uma mãe que perdeu um filho não era tão simples, assim como aceitar o fato de que eu não fiz nada, absolutamente nada para impedir quando eu sabia que alguma hora aquilo chegaria, apenas me sentei e esperei que acontecesse. Mas de todo o suplicio que guardava, sabia que não era a única.


Tio Mitchell havia se oferecido para me trazer sempre que necessário ao longínquo consultório do Dr. Reiser. Tio Mitchell era – sem brecha alguma – um homem muito egrégio, sempre lutando pelo que era realmente certo e era provavelmente por conta disso que não parava em um sequer emprego. Divorciado e constantemente perdendo a guarda do filho por um fio, nunca deixava de ter um sorriso no rosto e otimismo em sua própria presença.


— Então, nada de novo sob o sol? – Dr. Reiser continua batendo a caneta sobre a mesa, respondo com uma simples negação. – Como foi o primeiro dia, Sadie? – Ele coloca em postos sua caneta sobre a prancheta.


Cautelosamente e planejei um breve discurso em minha cabeça, nunca deixando escapar um segredo ou dor.


— Bem, Noah me ajudou nos primeiros instantes até eu descobrir que as pessoas que eu via constantemente no hospital eram meus melhores amigos. Deixei que eles pensassem que era a primeira vez que os via, mas na verdade, pareceu mesmo ser. Eu não... – Sabia que era a parte do discurso da qual ele não esperava ouvir. – Não consegui me lembrar do nome de nenhum dos dois. – Enunciava cada palavra meticulosamente, deixei escapar ate mesmo um suspiro pesado. – Também, houve um momento no banheiro em que eu... – A terrível sensação de sufocamento invade meu peito e tranca minha garganta novamente. Não queria realmente ter tocado no assunto, mas por sorte eu tive a chance de consertar meu erro. – Esbarrei com uma garota e ela simplesmente fingiu que eu não existia. – Menos mal do que a verdade.


— Seus óculos? – Dr. Reiser aponta a caneta para eles com um sorriso de canto. – Não vi você os usando em nenhuma das suas fotos.


— Acho que duas aulas sentada no fundo da sala foram suficientes para entender que eu precisava deles, embora sejam um pouco frouxos. – Arrumo novamente os óculos que insistem em escorregar pelo meu nariz, estou mais nervosa que o habitual.


— E sobre o seu clube na escola? – Ele pergunta batendo a ponta da caneta sobre a prancheta enquanto eu esfrego as mãos. – Já tem uma ideia do que vai querer?


— Ainda não tenho certeza. Mas de qualquer jeito, tenho até semana que vem para escolher então... – Dou de ombros.


— Tudo bem. Sadie, acho que tenho tudo o que preciso. – Dr. Reiser se levanta e abre a porta para mim. – Nos vemos de novo na quinta?


— Claro. – digo e encontro tio Mitchell roendo as unhas do lado de fora da sala.


Ele se levanta com toda a energia do mundo ao ouvir minha voz. Seu vigor nunca parece ser a de um homem entrando na fase dos sessenta anos.


— Aguente firme, papai. – Dr. Reiser bate nas costas dele.


Nós dois apenas trocamos sorrisos tímidos e seguimos até o carro.


— Então, princesa. – Tio Mitchell me pergunta no caminho até a escola. – Houve alguma melhora?


— Para ser sincera, – Respiro fundo. – não acho que eu vá melhorar. – Ele me encara com desaprovação. – Eu quero dizer, eu deveria me lembrar ao menos dos nomes dos meus pais sem ter de olhar em documentos. – Noto sua expressão desalenta.


Ás vezes essa sensação de egoísmo me invadia ao olhar para seu rosto.


— Tio Mitchell, eu sinto muito. Às vezes eu esqueço que não sou a única que tem passado por momentos ruins. – Cuidadosamente toco seu pulso com a ponta dos dedos.


— Não, querida. – Ele inesperadamente sorri. – Não são momentos ruins, ter ganhado você é um presente maior do que a perda que nós dois sofremos. – Encosto minha cabeça sobre seu ombro. – Não há nada pelo que se arrepender, você entendeu? Tudo vai ficar bem.


Era esse otimismo que eu amava citar sobre ele que eu também invejava. Ver a felicidade com tanta clareza em meio a poeira que nunca abaixava, era para poucos, os como ele.


— Eu sei que não vou ter a chance de conhecer o papai, mas fico feliz por conhecer você. – Ele era mais do que eu poderia desejar. – Obrigado, tio Mitchell. – Agarro minha mochila e o abraço, assim que noto que chegamos à escola.


Todos estavam em horário de aula, havia sido avisada que caso me atrasasse, assim que chegasse, aguardasse até o fim da aula para poder prosseguir os horários corretamente. Os únicos pontos dos quais me lembrava naquela escola eram o banheiro e meu armário, com excessão apenas de algumas salas de aula. Eu opto por ir até meu armário para organizar um pouco as coisas por lá, mas assim que o abro o sino logo acima dele toca. Aperto meus ouvidos doloridos e volto minha atenção ao trabalho. A multidão se propaga pelos corredores e eu tento continuar incomplacente meu afazer de procurar o próximo horário em meio àquela desordem que se encontrava minha mochila.


— Sadie. – Uma voz masculina me chama de trás da porta de meu armário.


Dois garotos, na verdade, eu noto. Um mais alto de cabelos pretos cacheados e bochechas sardentas e pele extremamente pálida, como a minha e o outro, de pele negra reluzente e olhos brilhantes como uma noite estrelada. Ambos se vestiam equitativamente com casacos largos de cores neutras, calças jeans comuns e botas.


— Finn. – Ele aponta para seu rosto na esperança de que eu fosse reconhecê-lo, mas como quase todas as pessoas com quem venho reencontrando com o passar dos dias, não acontece. – Finn Wolfhard, temos algebra juntos. – Finn me estende sua mão, engulo seco e tento arranjar qualquer motivo para dobra-lo.


— Me desculpe, Finn. Eu perdi a primeira aula e não tenho intenções de me atrasar para a próxima. – Aponto para trás e sorrio tentando fugir sorrateiramente. – Então se me perdoar, eu preciso...


Assim que passo por ele, tenho meus ombros puxados de volta para o lugar anterior.


— Desculpa, mas eu só queria te chamar para ir no acampamento. – Minha expressão acusa bem mais que desentendimento. – Provavelmente ninguém se importou em te avisar, não é mesmo? – Ele coloca as mãos no bolso se desculpando sigilosamente por ter me puxado. – Vai ser esse fim de semana, na cachoeira Hartley, você sabe. – Finn esconde o cabelo sob a orelha, aponta em direção a vidraçaria do andar e continua. – Espero te ver por lá, você pode levar seus amigos se quiser. – Noto que ele está nervoso. – Vai ser legal como sempre, eu quero dizer... Esperamos que vá. – Ele sorri de modo inquieto e noto que o outro garoto praticamente se esconde atrás dele, mas nunca tira o olhar de mim. – Te vejo na aula?


— Sim, claro. – digo sem muita reação e deixo que ele siga seu caminho primeiro.


Finn o faz, se vira e dirige pelo corredor até sua sala, mas o garoto que antes parecia atado a ele permanece ali, parado por mais um tempo. Tempo esse que eu não sei desvendar, há algo de familiar em seu rosto, pela primeira vez. Não parece ser apenas um traço físico mas também um sentimento que ele me traz. Ele está sobre uma linha tênue entre a paz e o caos e eu não sei dizer o porquê. Ele parece sentir o mesmo, e noto claramente sua luta interna para se virar e me deixar ali, sem respostas, assim como tenho certeza que ele também se contestou sobre o que havia acabado de ocorrer. 


— Ah, obrigado, Finn. – digo quando ele já está longe demais para escutar.


Deixo o ar - que eu nem mesmo havia notado prender - sair de meu peito. Me ocorreu em perguntar o nome do garoto, mas não deveria ter sido ele a se apresentar? O que havia sido aquilo? Seria uma lembrança? Não havia sido algo ruim, apenas um incomodo, como se lembrasse de algo trágico.


(...)


Na quarta-feira a noite Millie havia ido passar a noite em casa, disse que me ajudaria a me adaptar aos horários e professores. Em algum ponto da noite dividirmos uma pizza com Noah e Tio Mitchell. Millie começou sua introdução pelas salas que eu ainda tinha dificuldade de encontrar, digamos que Kennedy High School fosse um pouco grande demais para uma cidade tão pequena. E no momento em que ela falava sobre a professora de algebra, algo acende em minha mente:


— Millie, você vai ir ao acampamento? – Eu pergunto.


— O que? – Ela parece mais surpresa do que deveria. – Não, claro que não. Como ficou sabendo sobre esse acampamento, Sadie? – Millie pergunta.


Por que motivo ela teria ficado tão defensiva ao tocar no assunto? Ela escondia algo de mim? Ela era minha melhor amiga, disso eu tinha certeza, mas não tanto quanto a de acreditar que não poderia acreditar em absolutamente nada.


— Finn Wolfhard. – Dei de ombros, sendo breve em minha resposta. – Nós dois fazemos algebra juntos.


Ela deixou escapar um pequeno gesto com o canto da boca, e se levanta para depois se sentar em minha cama. Essa é minha vez de ficar curiosa.


— O que há de errado? – Pergunto a seguindo pelo quarto.


— Não é nada, só... – Ela me encara tentando equivocadamente dizer algo. – Você gostaria de ir, Sadie? – Millie simplesmente pergunta.


— Não é uma má ideia. – digo dando a importancia apenas necessaria para a ideia. – Ou é?


— Se você quer ir. – Ela dá de ombros e deixa um sorriso meigo escapar. – Finn disse mais alguma coisa?


Eu me questionei em algum momento o motivo de ela perguntar aquilo mas simplesmente respondi.


— Nada de mais, apenas disse que seria legal que eu levasse alguns amigos. – digo sem serimônias. – Há algo de errado?


— Nada demais. – Ela responde como eu, não sei se devo interpretar aquilo como uma mensagem ou apenas uma resposta. Millie olha no relógio em minha parede. – Sadie, eu preciso mesmo ir. – Ela agarra seu casaco e se levanta da cama. – Ah, Sadie. – Millie me chama a atenção mias uma vez antes de ir embora. – Não acredite em tudo o que lhe disserem.


E assim ela bate a porta, criando milhares de questões em minha cabeça. Deitar na cama não foi fácil, sabia que eu não dormiria novamente. Continuava mentindo para tudo e todos, e isso me sufocava. Me sufocava não poder gritar, não poder simplesmente cumprimentar alguém por medo de que aconteça novamente. Me sentir amedrontada por um estranho que me trouxe a primeira familiaridade em meses. E agora mais que tudo, ter a certeza de não poder acreditar em ninguém.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a):

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

O sol estava em seu ponto mais alto quando começamos a trilha até a cachoeira Hartley. Embora ainda estivéssemos entrando no outono, a floresta estava intensamente úmida e densa. Estava sendo acompanhada por Millie, Noah e Gaten, mas olhares do outro lado do grupo nos rodeavam. Finn e o garoto estavam juntos. Minhas noites não deixaram de ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 0



Para comentar, você deve estar logado no site.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais