Fanfic: A Garota Sem Passado | Tema: Caleb McLaughlin e Sadie Sink

Era o meu ultimo destino daquele longo dia. Estava guardando meus livros recentemente lidos em meu armário. Os olhares ambulantes da maioria dos alunos já haviam se dissipado durante as ultimas semanas, mas um ainda me assombrava. Não como um perseguidor de cada passo meu dentro da escola, mas em minha mente. Arthur Lee Dozier. Ele sabia de algo que todos vinham escondendo de mim. Algo sobre Caleb, sobre meu passado, algo perigoso, mas que eu necessitava saber. Cada pequena coisa era importante. Sabia que nunca recuperaria minha memória por conta própria, então correr atrás de respostas parecia ser minha opção final. Resolvi enfrentar meus fantasmas, tentei o acercar desprevenido em seu armário, mais uma vez.

— Arthur. – Chamei logo que avistei a silhueta alta de cabelos loiros reluzentes.

Mas assim que pousou seus olhos azuis sobre mim, ele correu como se eu fosse o seu fantasma. Cansada de falhar, resolvi desistir. Não era a primeira vez que o abordava, e também a que eu não conseguia o pegar. Era inútil continuar com essa caçada, então resolvi fazer o que eu tinha que fazer.

Clube de audiovisual. Foi a recomendação de Dr. Reiser. Um lugar tanto difícil de encontrar devo dizer, era uma pequena sala nos confins do estúdio da escola, haviam apenas cinco pessoas na sala mal iluminada. Três amigos agrupados nas primeiras carteiras do lado direito, de todas as seis. Com câmeras penduradas em seus pescoços, compartilhando de seus trabalhos entre si, uma garota morena que admirava o painel repleto de Polaroids no fundo da sala, e Caleb.

Era estranho encará-lo tão de perto, ultimamente quando o via era preferencialmente ao longe, sem que pudéssemos trocar olhares. Eu sabia que havia algo errado conosco, ou entre nós e foi provavelmente por isso que ele fez toda aquela cena para me afastar. Deduzi que a melhor opção era deixar as coisas como estavam e continuar buscando por respostas.

Por mais que isso fosse insano, parecíamos estar sendo constantemente atraídos um para o outro, apesar de todas as circunstâncias. Me restavam duas opções, encará-lo e agir como uma pessoa madura ou simplesmente deixar aquela sala e cancelar minha inscrição para aquela aula. Mas logo que ameacei cruzar aquela porta novamente fui impedida pelo Pf. Havens.

— Srta. Sink, que prazer vê-la por aqui. – Ele toca meu ombro e me guia pelo caminho de volta adentro. – À vontade, por favor e aqui eu sou apenas Randy para vocês. – Assinto e me sento na carteira em frente a Caleb, deixando para a garota de olhos azuis uma única opção: ao lado dele. – Bom, fico feliz em ver rostos familiares por aqui. – Randy uni as mãos e coça a bochecha. – Espero que todos tenham trago suas armas, caso não, você estará na metade da turma que será a vítima e interpretará hoje.

Fechei meus olhos praguejando internamente. Eu não havia trago sequer uma câmera mais antiga para a aula de audiovisual. Eu deveria ser mesmo uma pessoa de sorte, ao menos por enquanto.

— Então... Samuel e Kimb, – Randy aponta para os dois alunos. – Marcelle e Hitch, – A garota nova e um dos três amigos, e a tão inesperada combinação. – Sadie e Caleb.

Passei a mão na testa, esses minutos mal haviam começado mas já eram o tormento mais longo.

— Refeitório, – Randy voltou a apontar para as duplas. – Estúdio e campo de futebol. – Ele uniu as mãos em uma palma e finalizou. – Temas livres. Vejo vocês em quarenta minutos, estão liberados. – E se senta em sua mesa.

As primeiras duplas deixaram a sala, já com as câmeras ligadas. Não penso em esperar, faço o mesmo, presumindo que fosse ser acompanhada por Caleb até certo ponto onde ele entenderia que eu estava o deixando na mão, assim com ele havia feito na montanha.

— Sadie. – Ele gritou quando eu já atravessava o campo de futebol. – Sadie. – Caleb agarrou meu braço me fazendo virar em sua direção. – O jogo virou, não é mesmo? – Nos lembramos juntamente de nossa ultima conversa não muito agradável.

— Sim. – digo seca. – Posso ir agora? – Pergunto retoricamente, me solto e continuo a andar.

— Não desta vez. – Caleb torna a segurar meu braço, mas o encaro furiosamente agora. – Eu te devo desculpas. – Ele me solta e abaixa a cabeça. – Fui um completo idiota, só estava um pouco assustado. Mas ainda assim, não deveria ter agido com você daquela forma.

Escolhi minhas palavras com extrema cautela naquele momento, não queria ser explicita sobre nada, principalmente aquele assunto, então eu escolhi dizer o que eu faria caso nada daquilo estivesse acontecendo entre nós.

— Mas, – digo num sussurro. – Por que estava assustado?

Ele volta a baixar a cabeça mas agora me deixando sem resposta. Ele morde os lábios, olha ao redor, está claramente perdido. Me lembro então do que Arthur havia deixado escapar enquanto dançávamos ao redor da fogueira, volto a me afogar em minhas questões. Caleb ainda permanecia calado, quando, de repente:

— Era só uma bobagem minha. – diz rapidamente, querendo deixar o assunto ir o quanto antes possível. – Você me desculpa?

— Não faço mais do que deveria. – Torno a repetir suas palavras.

— Está com uma memória boa, tenho que dizer. – Ele sorri e aponta a câmera para mim.

Foi literalmente milagroso vê-lo sorrir. Infelizmente por trás de uma câmera, adoraria ver seus olhos enquanto ele sorria. Era estranho pensar assim, principalmente sobre ele, mas esse desejo era inegável.

— Hm, o que está fazendo? – digo um pouco envergonhada.

— Nossa tarefa. – Caleb responde. – Espere, um minuto. – Ele para em minha frente, abaixa a câmera, tira os meus óculos e me entrega. – Não se sente melhor? – Caleb se refere a luz do por do sol que refletia em minhas lentes, me cegando a cada movimento. Assinto com um sorriso tímido. – Então...

Ele repousa a câmera no ombro e tenta puxar algum assunto.

— Arthur te convenceu a fazer escotismo? – Caleb deixa escapar.

— Arthur? – digo com deboche. – Hm, ele pode até se parecer com um anjo mas claramente não vai me levar ao bom caminho. – No mesmo segundo desejo voltar atrás.

— Um anjo é? – Caleb zomba de mim.

— Eu posso fazer essa câmera desaparecer do seu ombro antes que você note, caso esteja pensando em mostrar isso ao Sr. Havens ou qualquer outra pessoa. – digo fingindo fúria quando, na verdade, estava queimando de vergonha por dentro. – Você sabe que eu não...

— É a luz ou você está corada? – Caleb aponta para o meu rosto. – Ei espere um segundo, veja, já está escuro. – Ele continua zombando de mim.

— Por que não voltamos logo para a sala? Ainda não se passaram quarenta minutos? – Checo a tela de meu celular.

— Já se passaram cinquenta. – O encaro desacreditada. – E não. Eu não ia mostrar isso ao Randy. – Ele aponta para a câmera recentemente desligada em seu ombro. – Mas ainda teremos que voltar aqui e fazer uma gravação antes da próxima aula que por acaso será na sexta. – Caleb verifica notas mentais.

— Você não... – Começo a apontar para partes aleatórios de seu corpo.

— Ei, não me encare assim com esses olhinhos cinzentos. – Caleb levanta as mãos em rendição. – Quem planejava abandonar a aula era você, ruivinha.

— Me rendo, tudo bem. – Abaixo a cabeça e me afasto. – Mas ainda tenho o direito de decidir quando.

De repente, ouço uma buzina. Do outro lado do gramado, à beira da sarjeta, Tio Mitchell acenava freneticamente para mim de dentro do carro surrado.

— Te vejo quando decidir. – Os olhos de Caleb brilhavam pela luz do refletor do campo, sua expressão era contente mas sem que deixasse claro.

Ele esfregou as mãos e receoso, me estendeu uma delas para que pudéssemos nos despedir. Meus olhos alternaram incontáveis vezes entre seu rosto e sua mão, eu não tinha certeza se deveria, mas o fiz. Tomei a mão de Caleb com a minha e sorri. Nada aconteceu de primeiro momento, mas assim que ele se afastou minha visão ficou turva e me levou a outro lugar, foi como uma visão. Ele fazia exatamente a mesma coisa, acenava para mim, mas outras pessoas estavam ao seu redor, como Millie, Gaten, Finn e Noah. Estávamos na cachoeira Hartley, todos pareciam felizes e brincavam como genuínas crianças na água, o cabelo de Millie estava mais curto. Caleb me chamava para o acompanhar até algum lugar fora da água, mas então eu acordei.

Estava de volta ao campo, iluminado apenas pelos refletores, Caleb estava paralisado a alguns metros dali, assim como eu em meu devido lugar. Nos entreolhamos, e tomamos sincronicamente um folego juntos. Compartilhamos de um olhar confuso e intimo e nos viramos, Tio Mitchell buzinou novamente. Eu comecei a andar até ele, tentei alcançar Caleb com o olhar mas ele já havia desaparecido. Adentrei o carro e me ensurdeci por alguns segundos deixando que minha mente apenas gritasse tudo o que ela segurou durante os últimos minutos.

Seria isso uma lembrança? Assim como a que eu tive de seu nome logo antes de desmaiar em seus braços? E sobre o sonho que eu tivera com ele antes de acordar? Pareciam peças de um quebra-cabeças que eu estava mais que disposta a solucionar. Eram finalmente as respostas que eu procurava.