Fanfic: Stranger Tales | Tema: Stranger Things, Mileven, Lumax, Dungeon and Dragons, RPG
A conversa estava animada. Todos tinham algo para falar; uma história que ia virando outra, que virava outra, que virava mais uma. Quando todos finalmente terminaram de comer e Joyce perguntou quem iria querer a sobremesa, pois ela ia pôr a torta no forno, Jonathan aproveitou para pegar a filmadora e gravar um pouco daquela noite de festa, tão incomum na casa dos Byers.
- Oh! Não, guarde isso! - Joyce dizia para o filho que não perdia nenhum momento.
- Como eu gosto de dizer, mãe, é assim que teremos coisas boas registradas!
Hopper e Joyce continuaram conversando enquanto ela juntava as louças na mesa para levar para a cozinha. Will, El e Mike conversavam com Jonathan enquanto ele filmava e davam risada das piadas que Jonathan fazia.
- Jonathan, por que você não pega a câmera fotográfica e tira uma foto bem bonita de nós todos neste natal? - Joyce sugeriu enquanto levava as louças para a cozinha, com a ajuda de Hopper. - E depois revezamos para você também sair nas fotos! - Ela logo completou. Detestava a hipótese de excluir um dos seus filhos de qualquer coisa que fosse.
- Boa ideia, mãe! - Ele foi seguindo os dois para a cozinha com a filmadora em punho - Mas antes, me deixe registrar esse momento...
- El, deixa a gente te mostrar meu desenho do nosso grupo para essa campanha! - Will disse, animado, correndo para o quarto.
- O Will desenha muito bem, você vai ver!
- Mike, o que é campanha? - Ela perguntou.
- Bem, nesse caso, significa que é a nossa história para o jogo. Assim, - ele tentava explicar, procurando as palavras - o jogo funciona como se eu estivesse contando uma história para vocês e cada um de vocês tem um personagem nessa história.
Ela assentiu. Mas pareceu não entender muito bem.
- É como se eu estivesse te contando uma história que aconteceu há muito tempo e você me dizer o que um determinado personagem fará nessa história. Esse personagem é como se fosse você vivendo aquela história...
- Olhe, El! - Will voltou à mesa, trazendo consigo seus desenhos. Os três se amontoaram em cima da mesa para enxergar. - Vamos, vamos nos sentar lá, é mais fácil para mostrar! - e apontou o sofá da sala.
Mike pegou os desenhos que Will lhe mostrara mais cedo e os três se sentaram no sofá da sala para que eles pudessem explicar à garota todo o universo do jogo e como eles jogariam.
- Não tem segredo, você precisa usar a imaginação e jogar os dados! O resto é por minha conta... Tudo bem que tem alguns livros e algumas regras e algumas coisas que você precisa saber, mas eu posso te explicar tudo, El! - ele ia dizendo apontando um a um no desenho - Esses somos nós, desenhados pelo Will. Esse é o paladino, ele é como um guerreiro, mas ele conta com poderes divinos, porque sempre usa suas habilidades para uma causa maior que ele mesmo! Nas nossas aventuras, eu costumo ser o paladino.
Ela olhou para o desenho e depois para Mike. Aquele desenho realmente se parecia com ele.
- Parece com você. - Ela disse. - É bonito.
- Sim! O Will desenha muito bem!
- É bonito, Will! - Ela olhou para o amigo, sorrindo. - Eu gosto.
- Obrigado! - Ele respondeu, orgulhoso. - Olhe os nossos outros jogadores!
- Essa sou... eu? - Ela apontou para a maga em vestes azuis.
- Sim, El! Essa é você, nossa maga! - El sorriu de lado e olhou para ele e depois para Will. - Os magos têm poderes muito parecidos com os seus! Eles são muito fortes, usam magia arcana!
- Arcana?! - A garota franziu o cenho. Nunca havia ouvido aquilo na vida.
- Isso. - Will respondeu - Significa que sua magia não vem de nada divino. Diferente da magia do Mike, ou da minha, por exemplo... no jogo, claro! - Ele se apressou a dizer.
- Todos os poderes dos magos vêm dos elementos e de estudos. Os poderes dos paladinos e dos clérigos vêm da fé.
- Fé... - Ela fez uma pausa. Quantas coisas novas estava ouvindo naquele dia. Mas, parecia que aquela palavra... ela achava que conhecia. - É quando... você acredita em alguma coisa?
- Isso! - Os dois responderam, juntos.
Ela sorriu, satisfeita. Se lembrara do dia em que Hopper ensinara aquela palavra a ela.
- E esse sou eu, o clérigo! - Will apontou para si mesmo representado no papel. - Os clérigos além de poder lutar e ter ataques mágicos, de certa forma parecidos com os seus, ainda podem curar!
Eleven parecia maravilhada.
- Eu gostaria de poder curar... - ela disse.
- Você cura, El. - Mike respondeu. - Não literalmente dessa forma, mas cura.
A garota pareceu não entender de início, mas quando Mike segurou sua mão, apertando-a de leve, ela sorriu mais uma vez. Sabia que havia feitos coisas ruins, bem ruins, mas, no fundo, sabia que também havia feito coisas boas.
- Bem, aqui, nós temos o Lucas, ele é nosso ranger. Ele ataca com espada, mas é bom mesmo em ataques a distância...
- Por isso o Lucas é bom naquele negócio que atira pedras? - Ela interrompeu Will.
Os garotos riram.
- Sim, é por isso. - Ele respondeu. - Ele gosta de chamar aquele estilingue de...
- Foguete de pulso. - Mike completou a frase antes mesmo que Will pudesse terminá-la.
Os três riram.
- Acho que você vai gostar de jogar com a gente! - Will falou, ainda mais animado. Era impossível falar de D&D sem ficar empolgado.
- Sim, eu adoraria! - Ela disse, entusiasmada. Não estava entendendo muito bem nada daquilo que os meninos estavam dizendo, mas se significava ficar mais tempo ao lado de seus amigos e, bem, ao lado de Mike, ela toparia. - Posso pedir a ele.
- Will e eu podemos pedir também! Não é, Will? - Mike perguntou ao amigo que concordou prontamente.
- Mas talvez não agora, ele estava zangado mais cedo. Está tendo algumas coisas para resolver, que ele não me conta por ser trabalho. - El pegou o desenho e olhou mais uma vez para todos representados ali.
- Dustin, o bardo. Eles também têm magia arcana. E são muito bons com truques de mágica, ilusões e canções... - Will continuou explicando. - Uma vez ele tocou umas músicas num baile no castelo para o Rei Tristan e ganhamos muito dinheiro! - Will disse rindo, apontando o amigo no desenho.
O telefone da sala começou a tocar.
- Essa? - Eleven interrompeu Will, apontando para a garota em vestes marrons ao lado de Lucas.
- Madmax - Will completou. - Ela é a... ‘Pera aí, me deixa atender isso de uma vez.
- Max, você se lembra dela, ela estava no baile também! - Mike falou tentando arrancar um olhar de compreensão da garota. Não seria possível ela não se lembrar de Max.
- Com Lucas? - Ela perguntou confusa, olhando para ele. Se lembrava de Max, claro, afinal a cena da garota andando de skate em volta de Mike na quadra da escola ainda passava pela sua mente vez ou outra. O ponto não era esse.
- Sim! Ela faz parte do grupo agora. No dia em que você fechou o portal ela ajudou levando todo mundo no carro do Billy quando o Steve estava desmaiado, então é justo ela fazer parte do grupo. - Mike pensou um pouco, acrescentando. - Acho que ela é namorada do Lucas agora.
Eleven voltou a olhar o desenho.
- Eu sou... a maga... O Lucas é ranger... Você é pala...- ia dizendo devagar. Muitas palavras desconhecidas de uma só vez. - paladi...
- Paladino - Mike completou, sorrindo.
Ela assentiu continuando.
- O Will é... clérigo. O Dustin é bardo... A Max é namorada...
Mike riu.
- Não, ela é a ladra, ou ladina. Os ladinos são rápidos e sorrateiros, eles têm muita agilidade...
Mike havia falado pelo menos meia dúzia de palavras que Eleven não saberia dizer ao certo o que eram de imediato. Ela pensou um pouco.
- Sorrateiro?
- Significa esperto. - Ele dizia com paciência.
- Agilidade?
- São rápidos...
- Namorada?
Mike travou.
- Bem, ela é namorada do Lucas, eu acho. Mas isso não tem a ver com o jogo...
- Não? - ela perguntou confusa.
- Não. Eles foram ao baile juntos...
- Como nós?
- Sim, acho que sim.
Ela parou por um instante olhando para ele que ficou um pouco sem graça e desviou o olhar. Ela já o tinha visto fazer algo parecido alguns anos antes. Mas quando? Achava que havia sido na noite em que ela derrotara o demogorgon, quando ele a convidou para o baile... e a... talvez. Aquela noite havia sido muito intensa.
- Mike?
- Sim?
- Então eu sou sua namorada também?
- Bem, cl-claro! Se você quiser! - Ele corou, mas não desviou os olhos dela dessa vez. E lá estava, aquela sensação novamente. Aquele sentimento que ela não sabia bem o que era, mas que ela realmente adorava.
- Sim! - Ela sorriu.
- Era a Nancy... - Will disse ao voltar para a sala e se sentar no sofá - Ela perguntou pelo Jonathan, não por você! - ele se adiantou ao olhar de Mike que fez uma careta. - Onde nós paramos?
- Acho que explicamos tudo - Mike olhou para o desenho e depois para Will. Ele não conseguiria controlar o sorriso bobo por muito tempo. Aquilo que estava sentindo não era novo, mas era muito mais forte do que das outras vezes.
- Vamos, crianças, hora da torta de cereja da Karen! - Joyce passou por eles carregando a torta quentinha, despertando olhares devido ao aroma. Will foi logo atrás da mãe, estava ansioso por aquela torta.
- El, - Mike segurou a mão da garota antes de eles se levantarem - me deixe contar ao Chefe Hopper que você é minha namorada, ok? Não fale ainda. Ele pode ficar bravo e eu gostaria de falar com ele pessoalmente antes, acho que esse é o certo.
- Tudo bem, Mike. - Ela concordou.
Os garotos mais uma vez se juntaram à mesa e à conversa que cessou por alguns minutos enquanto todos apreciavam a torta. Logo Jonathan recomeçou a falar para os garotos sobre as fotos do Snow Ball, que ficaram ótimas, enquanto Hopper e Joyce se lembravam que certa vez haviam comido uma torta muito parecida, mas sem se lembrarem direito onde.
- Vou passar pela casa da Nancy daqui a pouco - Jonathan disse à Joyce pouco tempo depois - e posso já te levar, Mike. Vou só pegar a câmera para tirar umas fotos desse natal.
Joyce olhou para o filho e o agradeceu silenciosamente. Estava começando a sentir alegria novamente, depois de tanto tempo. Ela certamente queria registrar aquele momento. Estava sendo um natal especial, com certeza.
- Ah, ok... - Mike respondeu a Jonathan, sem conseguir disfarçar seu desapontamento. Havia esperado por aquele momento o dia todo. E passara tão rápido! Trocou um rápido olhar com El e percebeu que talvez ela estivesse se sentindo da mesma forma. E então se lembrou da conversa de minutos antes. E sorriu.
Eleven comia a torta rapidamente. Hopper a olhou esperando adverti-la, mas tudo o que conseguiu foi cair na risada.
- Calma, garota, ainda precisa ter mais espaço aí para comida pelo resto da vida. Além disso, vão achar que não te alimento em casa!
Todos riram, até Eleven. Ela limpou o rosto enquanto terminava de mastigar.
- Em casa não tem nada disso... Tem ervilhas. E elas são horríveis.
- Então termine de comer, pois nós também já estamos indo. - Hopper completou. - Ainda preciso passar na delegacia para ver como estão as coisas. E ainda preciso deixar você em casa.
- Posso ir com você. - Eleven rapidamente se pronunciou. - Não quero ir para casa agora.
- O que nós conversamos sobre concessão? - Hopper arqueou as sobrancelhas sobre um olhar duro. A garota revidou o olhar, mas não por muito tempo.
- É que passou tão rápido! E tudo estava tão gostoso... - Protestou.
- Eu sei, garota. Mas sabe nossas regras, certo?
- ... certo. - Ela se deu por vencida, por fim.
- Bem, mas antes - Joyce sorriu, apertando de leve o braço de El em cima da mesa. - me deixe arrumar algumas coisas pra você levar. Principalmente um pedaço grande dessa torta!
Eleven sorriu de volta, um pouco mais animada. Ela realmente havia gostado muito da torta.
- Posso pedir para minha mãe fazer a torta mais vezes, se você quiser, El! - Mike foi logo dizendo. - Ela sabe fazer várias outras também, você vai gostar!
Ela o olhou se lembrando que há um tempo Mike havia dito que a mãe era uma ótima cozinheira. Ele estava certo, era mesmo.
- Vamos todos então, para guardar esse momento! - Jonathan chamou todos para a sala.
As crianças correram na frente e Jonathan aproveitou para tirar uma foto dos três. Largos sorrisos, olhares animados. A primeira noite de natal de El onde ela pôde se sentir em família, em casa.
- Aposto que você se divertiu muito hoje, hã? - Hopper perguntou, mais tarde, quando estavam quase chegando em casa.
- Sim! - Eleven sorria involuntariamente embaixo dos montes de potes com comida que trazia consigo. - Foi muito legal!
Hopper estacionou e desceu, dando a volta do carro e abrindo a porta para a garota. Pegou alguns dos potes e a ajudou a descer do carro. Fechou a porta e logo se puseram a caminhar.
- Eu não devo demorar, mas trate de escovar os dentes e ir dormir, ok? Coloque essas coisas na geladeira antes para não estragar e depois...
- Ok, ir para a cama, já sei.
- Isso. - Ele sorriu.
Não podia negar, aquela noite havia sido muito melhor do que ele poderia ter imaginado. Depois de Sarah... era difícil se sentir daquela forma novamente. Mesmo que Jane fosse grande parte de si agora, estar em uma casa quente, cheia, com risadas em pleno natal, isso era novo. O fazia sentir como se tudo pudesse ser completo novamente.
- Mike quer que eu jogue com eles. - Eleven disse, despertando Hopper de seus devaneios.
- O que?
- Ele quer que eu jogue com eles, um jogo. Não lembro o nome. Mas é um jogo com personagens, parece divertido. Eu quero jogar.
- Daqui um ano você pode, agora é perigoso.
- Mas, eles vão jogar antes, não sei exatamente quando, mas não daqui um ano!
- Garota, você me faz parecer um disco arranhado! - Ele disse, carrancudo. - Todo dia preciso te dizer, diversas vezes ao dia, que é perigoso sair antes, que é perigoso ficar em qualquer lugar que não seja aqui...
Ela bufou. Sentiu os olhos arderem.
- ... e eu sei que gosta dele, mas eu faço o melhor que posso para que você permaneça viva.
Ela sabia. Ela sabia de tudo aquilo. Mas Hopper também sabia o essencial: ela gostava dele.
Chegaram em casa sem trocar mais nenhuma palavra. Ela abriu a porta e entrou. Ele acabou tendo que entrar em seguida para colocar ele mesmo na geladeira o que estava carregando e o que ela havia deixado em cima da mesa, antes de ir para o quarto e fechar a porta.
Eleven se sentou no canto do quarto, aquele canto em que sempre se sentava quando queria ficar sozinha, esquecer que tudo lá fora existia, por mais que o mundo sempre berrasse em seus ouvidos a fazendo se sentir ridiculamente medíocre.
Ela tinha mil vezes a força de Hopper e ainda assim tinha de obedecê-lo. Aquilo a enfurecia! Ela só queria poder ficar ao lado de seus amigos, fazer coisas com seus amigos... e não ficar trancada em casa como uma prisioneira. Mesmo que ela soubesse que ele fazia isso por sua segurança. Ah, isso tudo era tão frustrante!
Fechou os olhos, segurando a cabeça entre suas mãos. Não queria pensar nisso. Chorava lágrimas sentidas. Seu coração batia acelerado. Levou uma das mãos ao peito e... lá estava. O colar. Sentiu o pingente redondo e delicado, e conseguiu respirar um pouco mais aliviada.
‘El?’ ela ouviu.
‘El, se você puder me ouvir quero que saiba que essa noite foi muito especial para mim...’
Em algum lugar ela conseguia ver Mike. Ele estava na cabana de cobertores, aquela onde ela dormira anos antes, segurando o supercomm. Ele ainda estava com a roupa da ceia. Ela sorriu. Ele estava muito bonito essa noite. Aquela noite também havia sido muito especial para ela, ela queria poder dizer.
‘... nós vamos conseguir convencer ele a deixar você jogar com a gente...’
Será que conseguiriam? Ela duvidava muito. Mas não quis pensar naquilo agora. Queria apenas focar no que era realmente importante naquele momento: ouvir a voz dele. Talvez, se ela se concentrasse o suficiente, conseguisse imaginar Mike bem ao seu lado e não há centenas de metros de distância... Talvez, ela conseguisse sentir a presença dele ali, junto dela, enquanto dizia o quanto havia gostado daquela noite. Ela repassou toda a noite em sua cabeça e se sentiu reconfortada, mesmo que momentaneamente. Depois pensou no baile, nas músicas que dançaram juntos... Antes de qualquer coisa, era bom ter Mike a seu lado. Ela gostava dessa sensação.
Mike desligou o supercomm e se recostou na parede, ainda dentro da cabana. Precisaria pensar em como aquilo ia funcionar... Olhou para a mesa onde todas as suas anotações sobre a campanha estavam e teve uma ideia. Se levantou imediatamente e correu para a mesa, precisaria anotar tudo antes que esquecesse.
Autor(a): rahrt
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
12:56 Porão dos Wheeler - Você acha que o Jonathan consegue gravar uma k7 com as músicas do Snow Ball? - Mike perguntava a Will enquanto os amigos ajeitavam a mesa para que eles pudessem usá-la. Mike passara grande parte da noite de natal, depois que chegara dos Byers, planejando os detalhes da a ...
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