Fanfic: A garota da praça | Tema: Amizade, amor
Lá estava ela, sentada no banco, quieta, calada, sozinha e aparentemente feliz e tranquila consigo mesma. Não era o primeiro dia que Gabriel a observava, e com certeza não seria o ultimo. Para ele a garota não tinha um nome e era melhor que assim fosse, pois aumentava a aura de mistério sobre aquela moça tão encantadora que lhe tirava o sossego a tanto tempo.
Ela era meiga de uma forma estranha, doce, amável, gentil. Gabriel não sabia como tirara tantas conclusões assim acerca dela visto que nunca havia conversado com ela ou sequer vela conversar com alguém.
A maioria das pessoas passavam por ela sem lhe dar atenção, como se fosse invisível, mas para Gabriel ela era tudo, menos invisível. Ela era linda, cabelos castanhos muito escuros cor de mel que desciam lisos pelas costas. Os lábios eram de um vermelho delicado e os olhos... os olhos estavam sempre ocultos para Gabriel. A garota estava sempre de cabeça baixa com mechas de cabelo a cobrir-lhe a face. No colo repousava seu celular e dele se prolongavam os fones de ouvidos que ela usava.
Gabriel não fazia a menor ideia de que tipo de musica ela ouvia. Daria tudo para poder ser uma mosca e pousar no ombro dela, perto de seus lindos e perfumados cabelos castanhos, e assim poder ouvir, mesmo que só um pouco, a melodia que ela ouvia tão atentamente. Devia ser uma musica dos deuses para fascina-la tanto. Ela estava completamente absorta do mundo, ou o certo seria dizer que o mundo que estava desconectado dela? Para Gabriel ela era um corpo alienígena, pois a realidade parecia não abarcar uma garota como aquela tão... especialmente diferente.
Não que ela fosse como uma anja ou uma deusa, não, se fosse esse o caso haveria algo no acervo de coisas conhecidas para representa-la. Ela era diferente de tudo, instigantemente diferente. Talvez por isso Gabriel a admirasse tanto, não era exatamente paixão (embora ele achasse que estivesse mesmo apaixonado), mas era mais uma curiosidade louca de conhecer aquela garota. Se dizem que os olhos são o espelho da alma então a alma dela lhe era um total mistério. Ele queria chegar ate ela, superar os curtos dez metros que os separavam e iniciar uma conversa.
Não precisaria ser uma conversa interessante, contanto que houvesse dialogo. Ele queria vela de perto, queria ouvir sua voz, contemplar os seus olhos... ter, mesmo que por breves instantes, sua atenção.
Acontecia porem que um lado seu temia isso. Enquanto distante e inalcançável a moça era especial, única, um ser cheio de magia. E se ele a conhecesse? Não iria toda essa magia se desfazer? Ele conheceria o seu nome, saberia os seus gostos, perceberia os seus defeitos e então ela seria apenas uma garota comum como tantas outras.
Um dilema se travava em seu coração. Por um lado daria tudo para conhecê-la, mas por outro temia isso mais que tudo. Sim, ele estava apaixonado por uma projeção de sua mente, que clichê, mas esse era um clichê que nunca sairia de moda.
Mas para quem apenas visse o mundo como Gabriel acharia que não havia nada ali além da garota sentada em seu banco (as vezes uma das mãos dela deslizavam pela tela do celular e a outra, que repousava em sua coxa esquerda, movia os dedos em um ritmo levemente apressado acompanhado o ritmo da musica, ou ao menos ele assim suponha).
Eles estavam em uma ampla praça repleta de muitas arvores. Algumas pessoas caminhavam por ali, uma senhora passeava com seu cachorro, uma garota lia um livro (um romance suponha Gabriel) sentada em um banco enquanto, não muito longe, um casal se beijava com sorrisos brilhando em seus rostos.
O movimento na praça era intenso, mas para Gabriel nada havia além da garota. Ele sabia que deveria parecer um idiota estando em pé a quase vinte minutos apenas olhando abobalhado para uma moça que nem lhe lançava um misero olhar, mas era um idiota apaixonado e esse tipo raramente percebe a estupidez de suas ações. E é melhor mesmo que assim seja.
Todos os dias Gabriel repetia seu ritual. Ia a praça e ficava fazendo qualquer coisa, as vezes trazia uma revista em quadrinhos ao qual fingia ou então comprava um saco de pipoca na banca ali perto. Mas essas eram coisas que fazia apenas para disfarçar seu verdadeiro objetivo: contemplar aquela moça misteriosa. Se Gabriel contasse sobre isso a alguém lhe responderiam que ele estava vivendo um amor platônico. Gabriel não sabia muito sobre Platão, apenas que havia sido um filosofo grego que vivera lá pelo quarto ou quinto século antes de cristo. Se pudesse perguntaria ao filosofo como se ter um amor assim e não sofrer. Infelizmente mais de mil anos o separavam do antigo grego e ele jamais poderia fazer sua pergunta.
Gabriel suspirou, a garota havia se levantado e ia embora, seus passos sempre curtos, sua cabeça sempre baixa. Ele a seguiu, mas apenas com os olhos, não deu um passo sequer. Alguns minutos depois ele também se foi, não havia mais motivos para ficar ali. Ele retornaria no dia seguinte, cumpriria seu ritual religiosamente, sua contemplação silenciosa.
No dia seguinte Gabriel voltou, mas a garota não estava mais lá, mas ele tentou não se preocupar, as vezes ela se atrasava, ele lembrava que isso havia acontecido umas duas vezes nos últimos três messes. Sendo assim ele sentou-se em um banco, pegou a revista em quadrinhos que havia levado e começou a ler, era a primeira vez que ele de fato lia aquela revista, e descobriu que a história ate que não era ruim. O tempo passou, mas a garota não chegou, Gabriel ficou ansioso e nervoso, mas o universo parecia brincar com ele, todos estavam ali, todas as pessoas que frequentavam aquela praça estavam ali: o casal, a senhora com o cachorro, a garota do livro (que por sinal estava com um outro livro do dia anterior). Gabriel imaginava que eles eram uma espécie de comunidade secreta, um grupo oculto e silencioso de desconhecidos. Ele os apelidava mentalmente de “Os andarilhos da praça”, sabia que o nome não era correto visto que nem todos andavam, muitos apenas ficavam sentados, mas mesmo assim foi o melhor que pensou.
A garota misteriosa não apareceu, nem naquele dia nem no próximo, nem no resto da semana. Gabriel foi a praça todos os dias, mas o motivo de suas viagens nunca estava ali. Ela nunca mais apareceu.
Ele nunca soube o que houve com ela, se havia viajado, se morrera ou se, simplesmente, resolvera deixar de frequentar aquela praça. Ele nunca soube porque nunca perguntou o nome dela. Mas em um desses dias solitários perguntou o da garota do livro e ela disse que era Sarah.
Quatro anos depois eles se casaram e ele descobriu que o que era lia não eram romances, mas sim os livros de seu curso de Direito.
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