Fanfic: Adorável Impostora *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo I

Terminal rodoviário de Prospect, Colorado.

Não era exatamente o lugar em que Anahí Portilla desejaria estar naquele momento, se pudesse escolher.

Sentada ao lado da janela, tentava se habituar a ideia de passar a noite na cadeira dura da sala de espera, na companhia irritante do funcionário de plantão.

As paredes descascadas a deprimiam, e já havia memorizado cada detalhe da única decoração do recinto, um cartaz desbotado das Montanhas Rochosas.

Levantou-se para distender os músculos entorpecidos.

Bem, pelo menos o tempo parece ter melhorado, pensou.

Foi até a janela, e ficou olhando pensativa a rua deserta.

A luz de neon atravessava os vidros sujos, e iluminava as poças em que as gotas de chuva caíam tristemente.

— Parece que a tempestade passou, não é, moça? — a voz do funcionário a sobressaltou.

Mas que homenzinho insistente!

Desde que ela descera do ônibus, havia uma hora, ele procurava descobrir-lhe a identidade, e o que poderia estar fazendo ali.

— Está visitando algum parente? Se precisar, nós temos um telefone...

— Não, obrigada, vou apenas esperar. — com um suspiro, ela voltou para a cadeira dura.

— Eu conheço quase todo mundo aqui, e ninguém avisou que estava esperando alguém.

Realmente, ele não iria desistir tão cedo.

Acomodando-se melhor no assento, Anahí fechou os olhos e fingiu dormir.

Vendo-se ignorado, o homem retirou-se para a sala dos fundos.

Anahí tentava raciocinar.

Dois dólares e dezessete centavos.

Era tudo o que lhe restava na bolsa.

Com tão pouco dinheiro, não poderia ter nem sequer uma refeição decente, e muito menos um quarto de hotel onde pudesse dormir por uma noite.

Pensou com saudade em seu amigo Petter, que deixara em Denver, e que deveria estar muito preocupado com o súbito desaparecimento dela.

Na pressa da fuga, não houvera tempo para procurá-lo, restituir-lhe o envelope que estava agora em sua mala, e pedir algum dinheiro emprestado.

Nem mesmo roupas suficientes trouxera!

Sob a larga capa que lhe dissimulava as formas do corpo, ainda usava o mesmo vestido da festa da noite anterior, quando invadira o gabinete pessoal de Gerald Lasker.

Aquela festa tinha sido o motivo de sua fuga.

Trabalhava há seis meses na Lasker Development Corporation, como secretária particular de Gerald, e esse tempo fora suficiente para descobrir que ele era um investidor eficiente, mas sem escrúpulos.

Há alguns meses, fora apresentada a Petter, um simpático e paternal velhinho que havia procurado a Lasker Corporation para negociar uma grande quantidade de opções para prospecção de petróleo, uma grande amizade surgira entre eles, e Anahí sentira-se pessoalmente atingida quando Gerald, numa manobra ilícita, apropriou-se das opções.

Então, na noite anterior, na festa da companhia, ela tomara a atitude impulsiva e perigosa de invadir o gabinete, em que sabia ficarem os documentos, para recuperá-los e devolvê-los ao amigo.

Só não esperava que Gerald percebesse o "roubo" tão cedo.

Furioso, ele a procuraria primeiro na casa dos amigos, depois poria aqueles horríveis capangas atrás dela.

Estremeceu à ideia de precisar enfrentá-lo, sabia que ele era implacável e vingativo quando provocado, e agora tinha motivos suficientes para persegui-la.

Além de os documentos valerem uma fortuna, havia o agravante da sua vaidade masculina que também fora atingida.

Gerald estava tão seguro de que iria finalmente levá-la para a cama, e não perdoaria essa traição, nem a interferência dela em seus negócios.

Anahí esperava ter passado despercebida ao funcionário da rodoviária em Denver, com a ajuda da capa larga, do lenço de cabeça amarrado sob o queixo, e sem maquiagem, com certeza ninguém a teria notado.

Ou, pelo menos, assim ela desejava.

Considerou as possibilidades.

Se esperasse até o amanhecer, poderia conseguir uma carona através das montanhas até Cheyenne, onde não seria difícil encontrar um emprego.

Mas nesse momento, sentia-se esgotada. Os acontecimentos das últimas horas tinham sido demais para ela.

Com os olhos fechados, não viu as luzes dos faróis de um veículo que estacionava em frente à estação.

Mas ouviu o barulho da porta, e sentiu a rajada de ar úmido e gelado que entrou de repente.

Meu Deus, eles me encontraram!

Endireitando-se na cadeira, o coração batendo com violência, olhou para a porta.

Um homem alto parado na entrada olhava diretamente para ela.

A luz fluorescente fez brilhar as gotas de chuva nos cabelos escuros quando ele se aproximou em largas passadas, e parou à sua frente.

Anahí levantou-se tremendo, muito pálida.

— Então você veio mesmo... — ele disse com voz áspera e extrema frieza.

Ela o encarava sem dizer nada, sentindo a força e a hostilidade que emanavam daquele homem, dos seus ombros largos e das linhas duras do rosto.

— O Senhor... — começou a responder.

— Sou Alfonso Herrera. Vou levá-la à fazenda.

Anahí pensou não ter ouvido direito.

Sobre o que ele estaria falando? Gerald não tinha nada a ver com fazendas, seu negócio era petróleo.

Tentou ganhar tempo, mas ele já estava levantando a mala.