Fanfic: Adorável Impostora *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Juan olhava de um para o outro, tentando compreender o motivo de tanta animosidade.

Em tom conciliador, dirigiu-se a Anahí:

— Os móveis foram afastados quando fizemos uma reforma no telhado, há alguns anos, e acabaram ficando como estão agora. Quando Ruth era viva, a casa era arrumada de um jeito bem diferente...

— Se você me ajudar com as peças mais pesadas, poderemos devolvê-las aos lugares antigos. — sugeriu Anahí.

Alfonso cortou sumariamente a conversa:

— Isso não será necessário. Para nós, já é suficiente o que você tem feito. Quanto ao seu salário, prefere recebê-lo no fim de cada semana, ou quando for embora?

Anahí levantou-se para recolher os pratos, satisfeita com o resultado da conversa.

— É indiferente pra mim.

Alfonso atirou o guardanapo sobre a mesa, afastou sua cadeira, e sugeriu a Juan:

— Bem, então que tal uma partida de xadrez?

Na manhã seguinte, Anahí lavava a louça quando Alfonso entrou na cozinha.

— Vou à cidade, fazer compras. Precisa de alguma coisa?

— Não preciso de nada, obrigada. — Anahí enxaguou um prato e o colocou no escorredor. — Quer ajuda nas compras, ou prefere que eu limpe as prateleiras da dispensa, para quando você voltar?

Ele respondeu com outra pergunta, em tom brincalhão:

— Além de satisfazer o apetite dos homens, será que sua vasta experiência inclui comprar provisões em grande quantidade?

Os olhos azuis de Anahí cintilaram.

— Quanto às provisões, a resposta é não, nunca estive no exército. É melhor você cuidar disso, enquanto eu continuo a... satisfazer o apetite dos homens.

Sorrindo, Alfonso murmurou um "até logo", e saiu em largas passadas.

As mãos de Anahí ficaram imóveis dentro da espuma, até o som do motor se afastar.

Sentia as batidas inquietas do coração.

Quando Alfonso relaxava a guarda e se dirigia a ela daquela forma amigável e lisonjeira, ela se desconcertava.

A simples presença dele tinha o poder de alterar seu equilíbrio físico e mental, seu corpo reagia, excitado, à lembrança de como ele a fitava nesses raros momentos de descontração, fazendo-a sentir-se mulher... e desejável.

No final da manhã, ela decidiu tomar um banho para aliviar o calor.

Lavou os cabelos com o xampu de Alfonso, apreciando o suave perfume de ervas, o perfume dos cabelos dele. Enxugou vigorosamente a cabeça, lembrando do secador que deixara em Denver.

Pensou nas diferenças de estilo de vida na cidade e no campo, e percebeu que, na fazenda, sentia-se muito mais tranquila e saudável.

Aprendera, nesses poucos dias, a apreciar o ar puro, a vivência com os animais, a extensão quase ilimitada da bela paisagem, habituara-se ao serviço da casa, e às vezes se surpreendia cuidando das coisas como se fossem suas, e como se ela também pertencesse àquela pequena família.

Sentia saudades dos amigos, era verdade, mas não de Denver.

Desembaraçou com os dedos os longos fios úmidos que se enroscavam no pescoço delicado e desciam pelos ombros.

Olhou-se no espelho com ar crítico: Vou ficar parecendo uma cigana.

Vestiu o jeans recém-passado e uma camiseta limpa, a que tinha um pôr-de sol colorido pintado na frente.

Num impulso, decidiu ficar descalça. Era agradável sentir o brilhante assoalho encerado sob os pés nus.

Foi para a cozinha, e entrou na grande dispensa.

As prateleiras cobriam as paredes até o chão, e havia compartimentos especiais para legumes, frutas e cereais.

O enorme freezer poderia estocar comida para um exército, pensou Anahí, e seria mais que suficiente para os longos dias de inverno, quando a casa ficasse isolada pela neve.

Como seria bom, nesses dias, cozinhar para um Alfonso apaixonado e terno, enquanto a neve se acumulava lá fora.

E quando a noite chegasse, ficariam juntinhos ao lado da lareira, esquecidos do mundo...

"A caminhonete!" Anahí correu para abrir a porta de tela.

Os minutos seguintes foram uma confusão de caixas e sacolas, que se empilhavam sobre a mesa, o chão, o balcão da pia.

Anahí achou absurda a quantidade de provisões, que daria não para um mês, como dissera Alfonso, mas para todo aquele inverno que ela estivera fantasiando.

Alfonso entrava e saía da cozinha, trazendo as caixas em silêncio.

Além de um rápido olhar ao entrar, parecia disposto a ignorá-la.

Anahí pegou uma das latas que enchiam uma caixa.

Mas, para que tanto chili?!, virou-se para perguntar, e tropeçou num saco de tomates que estava no chão, a seus pés.

— Oh, Alfonso! — exclamou, agarrando-se nele para não cair.

Por um breve instante, ficou presa entre os braços dele, o rosto apertado contra o peito largo. Ele cheirava a sabonete e a cavalos.

Afastou-se, envergonhada.

— Sinto muito! Como sou desajeitada...

— Parece que a cozinha está cheia demais, não é? — ele murmurou, soltando a devagar.

Anahí tentou disfarçar o embaraço.

— Bem, pelo menos ninguém vai passar fome por aqui. Nunca imaginei que vocês gostassem tanto de chili...

— Não é bem isso. É um recurso para quando ninguém quer cozinhar. — ele apanhou o saco causador do acidente. — É para quando você estiver de folga. Não pretende trabalhar os sete dias da semana, não é?

— Ah, se é assim... Acho que você deveria ter comprado mais outra caixa. — Anahí respondeu, com um sorriso malicioso.

Seguiu-o para a dispensa, e encostou-se na porta, enquanto ele despejava os tomates na cesta.

— Não vejo tanta comida desde os doze anos, quando morei com uma família que cuidava de mais cinco crianças... — comentou pensativa.

— Não era a sua família? — inclinando-se, Alfonso escolheu uma maçã de uma caixa, seus olhos não se desviavam dela enquanto os dentes fortes e brancos mordiam a fruta.

Apoiado na prateleira, uma bota cruzada com displicência sobre a outra, Alfonso parecia ocupar todo o espaço da dispensa. Vestia a mesma calça preta e justa da noite anterior.