Fanfic: Adorável Impostora *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo IV

Mais tarde, quando terminou de arrumar a dispensa, Anahí sentia-se menos deprimida, mas decidiu que uma caminhada a ajudaria a coordenar melhor os pensamentos.

Saiu para o dia ensolarado, afastou-se da casa, pulou uma cerca, e atravessou o campo em direção a um bosque de pinheiros.

Caminhou algum tempo, até chegar a uma pequena clareira isolada, coberta por um macio tapete de folhas secas.

Deitou-se, com os braços sob a cabeça e o rosto exposto ao sol.

Tentava compreender a razão de sua tristeza.

Aos poucos, o calor e o silêncio a relaxaram.

Antes de conhecer Alfonso, sempre se orgulhara da atitude independente que mantinha em relação aos homens.

Já tivera alguns relacionamentos amorosos no passado, mas em nenhum deles um simples beijo a fizera sentir-se tão abalada e insegura.

Alfonso conseguia confundi-la, sempre oscilando entre atitudes de atração e repulsa, surpreendendo-a a cada momento, mantendo-a num estado entre expectativa e frustração.

Nesse momento, seu corpo doía, despertado pela intensidade das carícias e emoções, a lembrança do corpo rijo de Alfonso contra o seu, a necessidade de tocá-lo, trouxe-lhe uma sensação de angústia que ela tentou reprimir.

Sentou-se, abraçando os joelhos.

Afinal, a quem ela pretendia enganar, dizendo que Alfonso lhe era indiferente?

A quem tentava convencer, enquanto repetia a si mesma que não era possível apaixonar-se em tão pouco tempo?

Se Alfonso não tivesse interrompido o beijo dessa manhã, ela não teria hesitado em fazer amor com ele. E não importava o que ele pudesse ter dito, era óbvio que Alfonso também a desejava.

Aquele beijo jamais deveria ter acontecido. Se as coisas continuassem nesse ritmo, querendo ou não, eles acabariam envolvidos num romance que não seria conveniente para nenhum dos dois.

Ela era uma impostora. E, se quisesse prosseguir no seu caminho, tentaria esquecer a cena da dispensa. Como ele mesmo lhe dissera para fazer.

Sentindo-se fortalecida com a decisão, Anahí levantou-se e voltou para casa, sentindo-se mais aliviada.

Esse estado de espírito a acompanhou até a hora do jantar.

Conversou com naturalidade, dirigindo-se principalmente a Juan. Apesar de olhá-la com frequência, como se estranhasse tanto bom humor, Alfonso parecia distraído.

Anahí não queria ficar sozinha aquela noite e convidou Juan para uma partida de baralho.

— Boa ideia, Mia. E você, Poncho, não quer entrar para uma partida à três?

Alfonso levantou-se, afastando a cadeira.

— Talvez em outra hora, Juan. Hoje tenho de preencher aqueles formulários do governo.

O som das vozes de Juan e Anahí devia chegar até o quarto dele, mas Alfonso só voltou para a sala quando já era bem tarde.

Encostou-se na parede de pedras da lareira, e ficou ali, silencioso.

— Bati! — Anahí exclamou, triunfante, abrindo as cartas sobre a mesa.

Bocejando, Juan levantou-se.

— Essa menina sabe jogar, Poncho... Quase me limpou, esta noite! Bem, pessoal, hora de ir para a cama. Boa noite, Mia. — deu uma palmadinha no ombro de Alfonso, e saiu.

— Juan, é um homem tão gentil... — disse Anahí impulsivamente, recolhendo as cartas. — Quem é ele, Alfonso? Não parece um simples empregado da fazenda.

Com um atiçador, Alfonso tentava reanimar o fogo.

— É difícil acreditar que Oscar não lhe tenha falado sobre ele. — respondeu com frieza.

A pergunta tinha sido um erro.

Anahí ficou olhando as brasas da lareira, sentindo-se insegura.

Alfonso quebrou o silêncio.

— Juan ajudou minha mãe a nos educar quando meu pai morreu, há quinze anos. E mesmo depois do falecimento de minha mãe, ele insistiu para que Oscar e eu continuássemos a estudar, porque sabia que era esse o desejo de meus pais. Oscar estudou na universidade estadual, e eu fui para a faculdade de agronomia. — percebendo o interesse de Anahí , ele continuou, em tom neutro: — É claro que você não tem ideia do que isso significou para nós. Não tínhamos outros parentes. Juan, mesmo não sendo da família, e sem nada ganhar com isso, importou-se com o que pudesse acontecer aos dois adolescentes naqueles tempos difíceis. Devo muito a ele.

— Entendo... — murmurou Anahí.

— Duvido que você entenda, Mia. Não existem muitas pessoas como Juan, o interesse dele não era forjado, e nunca poderia ser comprado. — Alfonso interrompeu-se, e enfiou as mãos nos bolsos do jeans. — Está ficando tarde. — disse, como se desejasse que ela saísse.

Anahí pestanejou.

Depois de sugerir que ela não era capaz de entender um homem honesto, ele simplesmente a mandava para a cama!

Desenroscou-se da posição confortável no canto do sofá e flexionou os músculos.

Era melhor seguir a sugestão dele, senão acabaria dizendo algo de que pudesse se arrepender.

Caminhou até a porta, e olhou para trás.

Contra a luz das últimas brasas da lareira, viu-o na mesma posição, com as mãos ainda nos bolsos, o corpo rígido.

Ele parecia tão só que ela esqueceu o ressentimento. Compreendia muito bem aquele tipo de solidão.

O dia seguinte era domingo.

Depois de cuidar das coisas essenciais da fazenda, Alfonso e Juan passaram boa parte do tempo na garagem, com as cabeças enfiadas sob o capô da caminhonete, mexendo no motor.

Sem nada para fazer no seu dia de folga, Anahí foi até o estábulo, visitar a potrinha.

Depois, voltou para a casa, apanhou três latas geladas de cerveja e as levou para a garagem.

— Que tal uma cervejinha gelada?

Alfonso endireitou-se e alcançou uma estopa, limpou um pouco da graxa das mãos e pegou uma das latas.

— Obrigado. — disse, abrindo a cerveja.

Seu olhar desceu pelo corpo de Anahí, antes de tomar um longo trago. Depois encarou-a novamente, com o rosto contraído.