Fanfic: Adorável Impostora *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

— Não, obrigada, prefiro ficar. Você também vai, Juan?

— Não, hoje é dia dos meus programas preferidos na televisão. E já que não tivemos tempo durante a semana, eu poderia ajudá-la a mudar os móveis de lugar. O que acha?  Poncho, se você me ajudar com o aparador antes de sair, Mia e eu faremos o resto.

Juan parecia ansioso em agradá-la, o que comoveu Anahí.

— Acho ótimo, Juan, se não for muito trabalho para vocês... Toda a porcelana e as toalhas estão guardadas no aparador, e ele seria muito mais útil perto da cozinha.

O pesado móvel foi arrastado para o local indicado por Anahí.

— É aí que ele ficava, não é, Poncho? — Juan enxugava a testa com um lenço enorme. — E ali, Mia, ficava a cadeira de balanço de Ruth, ao lado da mesinha que agora está no meu quarto. Posso ir buscá-la rapidinho, se você quiser.

— Mas, Juan, sua casa é longe...

— Ora, e para que existem os veículos? — ele insistiu. — Eu gostaria de ver as coisas como eram antes. Isso me lembra as noites em que Ruth ficava lendo ou costurando na sua cadeira, enquanto os meninos faziam a lição, naquela mesa. — Juan sorriu alegremente para ela, e correu para a porta. — Fique exatamente onde está, trarei a mesa em um minuto!

As gavetas do grande móvel haviam sido retiradas para a mudança, e Anahí começou a recolocá-las.

Sempre em silêncio, Alfonso a ajudava.

Ele cheirava a loção de barba e sabonete e os cabelos ainda estavam úmidos do banho.

Anahí não conseguia se concentrar.

Quando ele ergueu com esforço uma grande gaveta cheia de toalhas de linho dobradas, os músculos dos braços e costas contraíram-se sob a camisa.

Ela reteve o impulso de estender a mão e acariciá-lo.

Olhava-o, fascinada, quando ele voltou a cabeça e a surpreendeu.

Pega em flagrante, Anahí tentou disfarçar:

— O que é isto, Alfonso? — indicou um livro grosso, encadernado em tecido, que estava junto com outros papéis.

— É o livro de receitas da minha mãe. — respondeu Alfonso, tentando encaixar a gaveta.

Anahí folheou o livro, e sua voz mostrou uma surpresa genuína.

— Mas não se parece com nenhum livro de receitas que conheço, parece mais um diário... Não, aqui está uma receita. Mas Alfonso, este livro é muito antigo!

— Essa receita provavelmente foi escrita pela minha avó, ou, mesmo, pela mãe dela. — e estendeu a mão para apanhar o volume. — Eram papéis espalhados, que minha mãe mandou encadernar.

— Sua mãe deve ter sido uma pessoa muito dinâmica... Foi ela também quem fez os acolchoados das camas?

— Foi, e levou um tempo enorme. Lembro-me das noites que ela passava aí nesse canto, costurando à mão centenas de pequenos retalhos. Ela foi uma ótima mãe, e excepcional em tudo que fazia.

Anahí o olhava, pensativa.

— Você teve sorte, eu acho. Mesmo que seja por pouco tempo, é sempre importante ter uma família real, um lar, segurança...

— Você acha que seria uma pessoa diferente se tivesse tido uma família assim? — perguntou Alfonso, interessado.

— Bem, não sei... Talvez haja sentimentos infantis que se não forem vividos da maneira certa, na idade certa, podem interferir na personalidade dos adultos. Mas não entendo muito sobre isso, nem mesmo sei se sou feliz ou infeliz. — ela riu, tentando disfarçar uma ponta de tristeza que sentia sempre que pensava sobre o assunto.

Juan entrou nesse momento, ofegante, carregando uma pequena mesa redonda.

— Ela está precisando de uma boa limpeza, mas não tenho tido muito tempo para essas coisas. É aqui mesmo que ela ficava. Espere, vou buscar a cadeira. — correu para um dos quartos, e voltou com uma cadeira de balanço, sólida e antiga. — Pronto, agora está perfeito. Sente-se, Mia, vamos ver como fica!

Anahí hesitou, olhando para Alfonso.

Ele apontou a cadeira:

— Vá em frente, Mia. Ou acha que ela é rústica demais para você?

Mas Anahí analisava a cadeira com olhos críticos.

— Ninguém vai sentar aqui até eu limpá-la. É um crime vocês não cuidarem desses móveis lindos...

Foi buscar na dispensa uma lata de polidor e uma flanela e preparou-se para o serviço.

Os homens a observavam, interessados.

— O que há, vocês não têm nada melhor a fazer do que ficar me fiscalizando?

Juan e Alfonso trocaram um olhar malicioso e saíram.

Anahí começou o paciente trabalho, pensando na mulher que ainda se mantinha tão presente na memória dos que a haviam conhecido.

Uma mulher das montanhas, a matriarca de uma família, a descendente de um povo corajoso e rude que fora o primeiro a chegar até as montanhas.

Essa era a origem de Alfonso, herdeiro do orgulho dos colonizadores, ele também um homem das montanhas.

"O leão das montanhas", pensou Anahí , lembrando a massa sempre revolta dos cabelos, o andar felino e preguiçoso de Alfonso Herrera.

Sentou-se no chão, e encostou a cabeça no braço da cadeira, permitindo por um instante que a antiga amargura, reprimida desde a morte de sua mãe, a invadisse.

Se ao menos conseguisse chorar...

Mas logo ergueu a cabeça, sabia muito bem da inutilidade de desejar coisas já perdidas.

Habituada à rotina da casa, Anahí já não precisava de muito tempo para mantê-la arrumada.

Usava o tempo livre para conhecer melhor a fazenda, não se deixando intimidar pela atitude desagradável de Alfonso.

Ele nunca baixava a guarda e Anahí começou a sentir um prazer perverso em persegui-lo no estábulo ou no curral.

— Por que você não me deixa dar água e comida aos cavalos, Alfonso? — ela perguntou certa manhã, no estábulo. — Eu adoraria fazer isso!

Alfonso esvaziava um saco de ração para os cavalos, pairava no ar um cheiro orgânico de animais e terra.

Ele a olhou com ceticismo.

Os olhares de Alfonso eram sempre carregados das mais diferentes intenções.

"Acho que ele nunca me olhou, simplesmente", pensou Anahí, consciente do exame a que ele a submetia.