Fanfic: Adorável Impostora *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo II

O sol luminoso da manhã despertou Anahí.

Sonolenta, ela enrolou-se nas cobertas, tentando dormir mais um pouco, mas o som de uma voz masculina e as súbitas lembranças do dia anterior a trouxeram de volta à realidade.

Sentou-se na cama.

Preciso enfrentar os fatos, e descobrir uma forma de sair desta situação, pensou, preocupada.

O mais sensato e, na verdade, a única alternativa, seria continuar com a farsa de Mia por mais algumas horas, tentando falar o menos possível e evitando situações embaraçosas.

Afastou as cobertas com um movimento impaciente e pulou da cama, apanhou na maleta seu estojo de maquiagem e foi para o banheiro.

Um perfume agradável de loção pós-barba impregnava o ar, ainda úmido de vapor.

Uma toalha molhada estava jogada sobre um cesto de roupas, e um estojo de barbear fora esquecido aberto ao lado da pia.

Essa intimidade inesperada com um desconhecido a perturbava.

Sob a ducha quente, surpreendeu-se imaginando o corpo nu e molhado de Alfonso, que estivera ali há tão pouco tempo.

Desligou o chuveiro, irritada consigo mesma.

Não seja ridícula!, pensou, enxugando-se na enorme toalha.

Passou um hidratante no corpo, e escovou com energia os cabelos embaraçados, depois, espiou o corredor para ver se havia alguém, e correu para o quarto.

Estendeu suas roupas sobre a cama. Além de camisetas, jeans, e do vestido de malha, só trouxera um conjunto branco de blazer e calças compridas.

Seria uma roupa adequada a um funeral? Bem, na falta de alternativa...

Já vestida, pensou se deveria arrumar a cama.

Mais tarde, se eu voltar, decidiu, e saiu apressada.

Qual das portas levaria a outra ala da casa?

No hall principal, ouviu vozes masculinas.

Respirou fundo, e abriu uma das portas.

Alfonso e um outro homem, bem mais velho, tomavam café da manhã ao lado de uma grande janela, vestidos sobriamente de terno e gravata.

Ela caminhou na direção deles, constrangida, sentindo que seu conjunto branco talvez fosse alegre demais para as circunstâncias.

Receou um comentário sarcástico sobre a sua aparência, mas Alfonso apenas bateu a xícara na mesa, e com a ponta da bota, afastou a cadeira a seu lado, para que ela se sentasse.

— Seu café está em cima do fogão. Sirva-se.

Bem, pensou Anahí, ele não era lá muito educado, mas o começo poderia ter sido pior.

Pegou um prato com ovos, bacon e torradas ainda quentes, e voltou para a mesa.

O homem de aparência rústica a olhava com admiração, e Anahí cumprimentou-o com um leve sorriso e um aceno de cabeça.

Alfonso apresentou-os, dizendo secamente:

— Oscar com certeza lhe falou sobre Juan Fuentes, e esta é a famosa Mia Herrera, Juan. Parece que ela existe mesmo, afinal...

O homem murmurou um cumprimento, e continuou a comer em silêncio.

Anahí sentiu-se mais situada, se Mia era a viúva de Oscar Herrera, então, Alfonso só poderia ser irmão dele, ou talvez seu primo.

Alfonso dirigiu um olhar impaciente ao prato dela, ainda intocado, com relutância ela espetou com o garfo um pedaço de bacon.

Aquele café da manhã parecia pesado demais ao seu estômago, habituado a refeições mais leves.

Hesitante, olhou para cima, e surpreendeu Juan a examiná-la.

O rosto marcado pela idade e pelos rigores do clima enrubesceu, e ele se levantou com precipitação.

— Vou trazer a caminhonete, Poncho. — disse, e saiu desajeitado pela porta dos fundos.

Anahí forçou-se a se alimentar, ignorando o homem silencioso a seu lado.

Contra as expectativas, a comida mostrou-se saborosa, ela comeu com o apetite de quem não fazia uma refeição há muitas horas.

Uma xícara de café fumegante foi posta à sua frente.

Quando Alfonso, ainda sentado, reclinou-se para recolocar o bule sobre o fogão, a camisa fina modelou o torso longo e musculoso, e Anahí sentiu-se envolvida pela aura de virilidade e força daquele homem.

Com relutância, desviou os olhos, apoiou os cotovelos na mesa, e tentou concentrar-se na xícara que segurava.

Sentia-se analisada por Alfonso, que, recostado para trás, com o braço apoiado no encosto da cadeira, não desviava os olhos dela.

Suas mãos começaram a tremer, ruborizada, abaixou a xícara.

— Há alguma coisa errada com a minha aparência? — perguntou, erguendo o queixo em atitude de desafio.

— Não, você parece estar desempenhando o papel muito bem. Faces pálidas, olheiras profundas... Uma viúva inconsolável, sem dúvida. Seria perfeita, se usasse uma aliança.

Anahí encarou-o.

Apesar da ironia que brilhava nos olhos dele, notou as olheiras escuras, as linhas de cansaço e abatimento ao redor da boca bem-feita, então, apertada numa linha rígida.

Que idade ele teria? Trinta anos, ou pouco mais.

Que belo rosto... Os traços duros e angulosos eram suavizados pelos olhos verdes, de longos cílios escuros. Os cabelos negros, agora mais escurecidos pelo banho, pareciam a juba de um leão.

Ele todo parece um leão... ferido, pensou Anahí, embevecida.

Num impulso, disse:

— Olhe, Sr. Herrera, acho que foi um erro ter vindo para cá. Eu não conheço os parentes e amigos de Oscar, e não pretendo ferir os sentimentos de ninguém. Não acha que talvez seja melhor eu não assistir ao funeral?

Alfonso levantou-se.

Os olhos frios tinham um brilho de aço.

— Você o abandonou quando era vivo. Decidir se vai fazê-lo de novo agora é problema seu. Juan e eu sairemos em cinco minutos. — e caminhou para a porta.

— Alfonso...

Ele olhou para trás, com o rosto fechado.

— Alfonso, eu sinto muito... Acho que você não acredita, mas é a verdade.

A expressão dele não se alterou.

— Sente mesmo? — disse apenas, e saiu, descendo o chapéu sobre os olhos.

A cozinha de repente pareceu vazia e silenciosa.