Fanfic: Adorável Impostora *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Anahí apoiou a cabeça nas mãos, sentindo-se deprimida e ameaçada.

Aquela situação estava se tornando a cada minuto mais complicada e ela temia o que pudesse acontecer naquele funeral.

Suspirando, juntou os pratos e xícaras e os levou para a pia.

A grande janela emoldurava uma bela e tranquila paisagem de campos férteis, iluminados pelos primeiros raios de sol depois da alvorada. Os picos nevados tudo dominavam, com serena majestade.

Anahí suspirou.

Se ao menos pudesse absorver um pouco daquela paz...

Quando chegaram à capela do povoado, uma verdadeira multidão os esperava.

Alfonso ajudou Anahí a descer da caminhonete, com fria cortesia, e entraram na capela, sob os olhares curiosos.

Anahí ouvia o murmúrio das vozes acima do som do órgão, sentindo-se cada vez mais perturbada.

Quando viu, no fundo da capela, a urna fechada coberta de flores, agarrou-se a Alfonso, ele se retesou, mas não retirou o braço.

Sentaram-se em um nicho lateral, e em seguida o serviço religioso começou.

Anahí tentou concentrar-se nas palavras do ministro, que falava sobre Oscar Herrera.

Aos poucos, ele surgia como um homem humano e gentil, que fora adotado pelos pais de Alfonso ainda pequeno, crescera na fazenda, e nos últimos anos havia trabalhado como assistente social em Denver.

"... onde há pouco tempo casou-se com Mia."

Nesse ponto da locução, algumas pessoas chegaram a inclinar o pescoço para vê-la, sem disfarçar a expressão de hostilidade e desaprovação.

Mas Anahí nada via. Tinha se transportado ao passado, quando, há quinze anos, assistira ao funeral do pai.

Nessa época, era uma menina de apenas dez anos, já órfã de mãe, e entregue a uma família adotiva pelo próprio pai, um jogador inveterado de pôquer.

O vício o levara a uma decadência progressiva, acompanhada de longe pela filha, até o desfecho final, o suicídio, que o impedira de cumprir a promessa de algum dia ir buscá-la.

A assistência social se encarregara dela, enviando-a para vários lares adotivos até que se completasse a maioridade.

A criança sensível e inteligente, forçada a um amadurecimento precoce, aprendera muito cedo a resguardar seus sentimentos e a evitar envolver-se com pessoas que a pudessem fazer sofrer.

Mesmo a lembrança do pai, ela reprimira junto a outros sentimentos infantis, como a necessidade de sentir-se amada.

Um soluço contraiu a garganta de Anahí e o leve ruído atraiu a atenção de Alfonso, os olhos verdes se fixaram nela por um longo momento, com expressão impenetrável.

Quando a cerimônia terminou, Anahí sentia-se esgotada.

Foram em seguida para o pequeno cemitério, que datava da época da colonização americana, e, apesar de entorpecida, reparou que as lápides mais antigas eram da família Herrera.

As últimas palavras foram ditas ao lado da sepultura.

Olhando rapidamente para Alfonso, Anahí notou a contração de um músculo do queixo quadrado, o único indício da emoção que o dominava.

Finalmente a maioria dos presentes aproximou-se para apresentar condolências.

Anahí recebia apenas algumas palavras formais, acompanhadas por olhares pouco amistosos.

Era evidente que a comunidade local tinha uma péssima opinião sobre Mia Herrera.

Um homem alto de chapéu branco, acompanhado por duas mulheres, dizia palavras de conforto a Alfonso.

Anahí foi apresentada.

— Mia, estes são John e Maureen Quintanar e sua filha Damayanti, nossos vizinhos na fronteira leste. Eram muito amigos do Oscar...

— Muito prazer. — disse Anahí.

A voz soou rouca e insegura. Não suportava mais aquela situação falsa, e rezava para que tudo terminasse logo.

A Sra. Quintanar murmurou um cumprimento, mas Damayanti manteve-se num silêncio ofensivo.

Parecia uma garota comum, ainda bastante jovem, mas era óbvio que estava apaixonada por Alfonso.

Ignorando Anahí, tocou no braço dele, dizendo com voz suave:

— Sinto muito por Oscar, Poncho...

— Vamos todos sentir falta dele, meu amigo. — disse John Quintanar. — Você e Juan especialmente, claro.

A garota olhava Anahí com raiva indisfarçada, e murmurou com insolência:

— Ela não vai sentir nada, aposto.

— Damayanti! — advertiu o pai.

— Mas é verdade! Todos sabem que ela não se importava nem um pouco com o Oscar. E ninguém a viu derramar um lágrima!

— Chega, Damayanti! — reprovou sua mãe. — Lembre-se do que disse o Oscar!

— O quê? Que ela ia precisar de amigos? Ora, só de olhar se percebe que ela não dá valor para isso!

Zangado, John Quintanar apertou com força o ombro da filha.

— Desculpe as maneiras de minha filha, Mia... Acho melhor irmos andando. Alfonso, telefono mais tarde. — disse, afastando-se e empurrando as mulheres à sua frente.

Anahí voltou-se, chocada com tanta agressividade, e viu uma mulher morena que a observava.

— Não se importe, querida. — comentou ela, com expressão indulgente.

Seu tom de voz não denotava a menor preocupação de que ouvissem suas palavras.

— Então, você é a Mia... É incrível Oscar não ter mencionado esses olhos! Deus me ajude, mas eles são exatamente da cor das minhas violetas premiadas! Mas vamos, não se impressione com Damayanti, ela ainda é muito jovem.

Surpresa com a simpatia inesperada da mulher, Anahí apressou-se a apertar a mãozinha estendida, a primeira demonstração de calor humano que recebia.

— Meu nome é Maite Chávez, e este é o meu marido Christian. — ela apresentou, puxando sem cerimônia o braço de um fazendeiro atarracado que segurava com força a mão de Alfonso, numa solene e enfática demonstração de simpatia.

Com essa mesma gravidade, ele inclinou a cabeça para Anahí.

— Poncho, você sabe o quanto lamentamos a perda de Oscar. — a sinceridade de Maite não podia ser contestada.

Como o marido, ela sacudiu a mão de Alfonso, repetidas vezes. Depois, sem transição, mudou de assunto:

— Essa garota vai ajudá-lo muito, Poncho. Ela parece bastante sacudida.

Sorrindo para sua inesperada defensora, Anahí disfarçou um olhar para o rosto carregado de Alfonso.