Fanfic: Adorável Impostora *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo III

Anahí passou mais uma vez a flanela sobre a mesa e depois se afastou para admirar o resultado.

O mogno escurecido pelo tempo brilhava, tendo recuperado a dignidade de madeira nobre.

Apesar do braço dolorido, ela olhou em volta, feliz com a nova aparência da sala.

Fez uma careta para a cabeça de alce, que a lembrava da primeira noite naquela casa.

No intervalo desses poucos dias, ela havia trabalhado com empenho, quase tanto como Alfonso e Juan.

Na presença dela, os dois não comentavam o motivo do serviço acumulado, mas sem dúvida isso estava relacionado à doença de Oscar.

Não tinha sido difícil adaptar-se à rotina da fazenda.

Mesmo sem um despertador, toda manhã ela acordava com o som de botas no corredor. Vestia rapidamente o jeans e uma camiseta, e entrava na cozinha antes de Alfonso acabar de coar o café.

Quando Juan também entrava, bocejando, ela servia os pratos de bacon e ovos que havia preparado, e mantinha uma atitude de calma e eficiência até que eles saíssem.

Voltava então para a mesa, e tomava uma última xícara de café, sonolenta, observando através da ampla janela o dia acabar de amanhecer.

Juan morava num alojamento afastado, e só vinha para a casa na hora das refeições.

Depois do jantar, os homens em geral conversavam sobre os assuntos da fazenda, assistiam à televisão ou jogavam uma partida de xadrez, enquanto Anahí os observava, fingindo ler um jornal.

Era impossível não se sentir solitária, mas quanto menos participasse, mais segura estaria.

Ela ainda achava estranho ficar sozinha com um homem que só lhe dirigia a palavra quando estritamente necessário.

Procurava não alterar a rotina da casa, e evitava o máximo possível qualquer contato com ele.

Sua tática só havia falhado uma noite, quando encontraram-se no corredor, ela de camisola e escova de dentes na mão, ele, vestido para sair, muito elegante numa jaqueta de camurça.

Anahí ainda sentia o rosto queimar quando se lembrava do olhar de Alfonso ao passar por ela, sem dizer palavra, sem dúvida, aquele tinha sido um olhar tipicamente masculino.

Mas ele parecia ter esquecido o incidente.

Apesar da conveniência dessa atitude, não deixava de ser incomum um homem vê-la com tão pouca roupa e se mostrar indiferente.

A semana de trabalho combinada com Alfonso estava quase terminando.

Depois de arrumar a casa, Anahí saiu para a varanda da cozinha.

Nunca se cansava da beleza e dos contrastes da paisagem, mas nesse momento pensava em coisas mais práticas.

Precisava de roupas adequadas para procurar emprego em Cheyenne, apenas jeans e camisetas não serviam.

Talvez Alfonso aceitasse um novo acordo para alguns dias extras de trabalho, o que teria uma dupla vantagem, aumentar um pouco o dinheiro a ser recebido e ficar mais algum tempo em segurança na fazenda.

Um puxão em sua calça a fez olhar para baixo.

— Oi, Curly! Oi, Spats! — riu, abaixando-se para acariciar os dois gatinhos do estábulo. — Mas o que vocês estão fazendo aqui, seus malandros?! Alfonso vai ficar uma fera...

Logo nos primeiros dias depois de sua chegada, Anahí havia alimentado os gatos na cozinha, o que lhe valera uma irônica repreensão de Alfonso.

— Mas como eu poderia saber que assim vocês não iriam mais querer apanhar os ratos do estábulo, não é, meninos? Venham, vamos ver como vão as coisas por lá...

As portas do estábulo eram enormes, e a serragem do chão tornava-o macio sob os pés.

Havia lá dentro espaço suficiente para vários cavalos, uma grande quantidade de equipamentos, ração e feno.

Aproximou-se da baia maior, em que aparecia a bela cabeça de um cavalo.

Cavalo, não... Era a mãe do potrinho que havia nascido na noite de sua chegada.

Ele se encostava na mãe, e suas longas pernas pareciam delicadas e frágeis.

— Ah, mas que gracinha! Vem cá, cavalinho, não vou machucar você... — estendeu a mão, procurando afagá-lo, mas o som de uma risada zombeteira interrompeu-lhe o gesto.

Voltou-se, surpresa, e viu Damayanti e Alfonso parados na porta, observando-a.

Há quanto tempo estariam ali?

Aproximando-se, Damayanti perguntou com atrevimento:

— Você agora também cuida dos cavalos?

Ignorando o tom da garota, e inclinando-se para ver o potro, Alfonso perguntou a Anahí:

— O que achou do novo hóspede?

Não havia traço de ironia em sua voz.

— Ah, mas ele é lindo! — Anahí sorriu, com os olhos brilhando. — Ou devo dizer "ela"?

Damayanti observava a cena com desagrado, mordendo um talo de feno.

— Você nem sabe a diferença, não é?

Alfonso dirigiu-lhe um olhar severo, antes de responder a Anahí:

— É uma fêmea. E deu muito trabalho para nascer. Belle sabe disso melhor que ninguém...

A égua abaixou protetoramente o longo pescoço para o filhote, o que comoveu Anahí.

— Fico contente que você a tenha salvo. Precisou de um veterinário?

— Mas Alfonso é melhor que qualquer veterinário, você não sabia?! — Damayanti falou indignada. — Todo mundo o chama nos casos mais difíceis... Ele estudou na faculdade e tudo!

Anahí voltou-se para ele.

— É verdade, Alfonso? — perguntou, interessada. — Mas não chegou a terminar o curso?

— Eu estudei para me tornar um fazendeiro mais informado, e não um veterinário. Não era um diploma o que me interessava, e, além disso, eu era mais necessário aqui.

Alfonso abriu o portão e entrou na baia. Correu a mão experiente pela barriga de Belle, e conduziu gentilmente o filhote para a baia do lado.

Olhou para Anahí, e sorriu.

— Quer dizer “Alô”? Pode tocá-la, se quiser.

Surpresa e feliz com o calor inesperado de Alfonso, Anahí inclinou-se para tocar o sedoso pêlo castanho do frágil animal.

Acariciou-lhe a testa, o longo e delgado pescoço, e nesse movimento sua mão e a de Alfonso se tocaram. Ergueu os olhos, e encontrou as pupilas verdes que a fixavam com intensidade.

Por um breve momento, fitaram-se sem desconfiança ou animosidade, conscientes do magnetismo que fluía entre eles.

O olhar de Alfonso suavizou-se, percorreu a face corada de Anahí, deteve-se na macia boca entreaberta, desceu até os seios modelados pela camiseta justa e voltou para se perder nos olhos de um azul profundo.

Um leve sorriso encurvou seus lábios.