Fanfics Brasil - 2 - ♫Dona de Mim, feat. IZA♫ PLAY

Fanfic: PLAY | Tema: Elite


Capítulo: 2 - ♫Dona de Mim, feat. IZA♫

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Espanha, 1 ano e 6 meses antes


— Infelizmente o diagnóstico foi tido numa fase intermediária da doença, Senhor Rosón. – O médico olhou para mim e papai, seus olhos estavam bem sérios.


— Como assim? Isso não existe! Eu pago o que for, só faça meu filho saudável de novo. – O rosto do meu pai contorceu-se em profunda indignação, mas detectei um Q de medo.


Aquele médico já devia ter feito aquilo um milhão de vezes, dizer para alguém que ele está doente demais para viver. Eu não o culpava, o que ele podia fazer? Olhei para papai e depois para mamãe, Carla não havia ido conosco, estava ocupada escolhendo a roupa para o baile da escola. De todos os membros da minha família, minha irmã era a que mais estava tranquila e positiva acerca do resultado dos exames.


Juntei as mãos no colo e baixei a cabeça, eu só queria que ele acabasse aquela explicação e me deixasse ir embora. Há momentos em que você precisa de uma e quatro paredes para chorar.


— É comum a leucemia não apresentar-se tão visível no início, é uma espécie de câncer que consegue enganar até os médicos, Senhor Rosón. Bom, se preferir, iniciamos uma série de medicamentos e quimioterapia, mas acho melhor encontrar um especialista na área. Seu filho precisa ser submetido à um tratamento intensivo logo. – Ao juntar as mãos em cima da mesa, Doutor Centrifuegos encarou a nós.


Tateei pelo espaço e encontrei a mão de minha mãe, ela apertou com toda a força e seu pranto foi silencioso.


— Se tiver alguém, diga-me, vamos procura-lo. – Papai foi decisivo.


— O Doutor Alves é brasileiro, poderá entrar em contato com ele por este número. – Um cartão fora deixado em cima da mesa, papai o apanhou e depositou em seu bolso.


— Vamos para casa, filho. – OS braços fortes dele me aconchegaram quando me levantei para deixar a sala.


Com meus pais me abraçando, um em cada lado do meu, deixamos o recinto. Jamais vi eles tão frustrados com algo, afinal, papai estava acostumado a ter tudo perto para resolver com seu dinheiro, algo que ele não poderia fazer com aquela doença.


Eu não chorei naquele instante, simplesmente não consegui. Mantive a minha postura de marquês sério, sempre inabalável. Deixamos o hospital, em meu interior eu estava me preparando para dar a notícia para a pessoa que estava mais esperançosa sobre meu caso. Carla.


(...)


Desci do carro e não permiti que meus pais seguissem aquela marcha fúnebre outra vez, era difícil lidar com tudo que havia acabo de escutar, ainda mais tendo duas pessoas me considerando como se eu estivesse morto.


— E aí, gente? O que o médico falou? – Minha irmã estava com Polo na sala, ambos me encaravam com olhares necessitados pela boa notícia que eu não podia dar.


Parei um momento e observei minha irmã e seu namorado, já estavam juntos há tanto tempo, mesmo que fossem tão novos. Me perguntei como seria estar apaixonado, como era ter um amor que estaria te abraçando num momento como aquele. Não podia florear a situação, então decidi ir direto ao ponto:


— Estou doente, Carla, tenho leucemia. – Disparei.


Os olhos da mais velha me fitaram com uma profunda tristeza, seu rosto mudou de uma alegria contida, para uma velada dor. Polo também me observou com olhos de dó, os primeiros que eu veria durante aquele processo doloroso. Jamais poderia culpa-lo, é o que pessoas como eu provocam na sociedade.


— Para de palhaçada! Mãe? Pai? – Ela buscou uma possível brincadeira, mas papai e mamãe assentiram com a cabeça.


Os olhos de Carla ficaram permeados por lágrimas ao me olhar outra vez, e antes que ela pudesse me abraçar, eu disse:


— É, vou perder os cabelos, ficar horrível, para só depois ter uma morte nada gloriosa. Acontece, é a vida. – Minha voz soou fria e, aparentemente, sem qualquer emoção. Eu mentia muito bem. – Vou para o meu quarto, caso não se importem, tenham uma boa noite. – Desviei do caminho da mais velha e caminhei escada acima.


— Carlos. – Polo tentara me interceptar no caminho.


— Por favor, não. – Fiz um gesto com a mão e passei direto.


Ao subir os primeiros degraus da escadaria, virei-me para trás e contemplei Carla abraçar-se com meus pais e chorar como um bebê. E naquele momento, sem dúvidas, eu vi como a família seria daqui a alguns anos. Quatro elementos, nada mais do que isso.


Rio de Janeiro, Tempos atuais


Eu sentia saudades de casa, sabia que por mais que o Brasil fosse lindo, a Espanha era onde deveria estar. O câncer havia retroagido, seria mais fácil prosseguir o fim do tratamento se retornasse ao seio de minha existência. Era o mais novo de minha família, mas ainda carregava o título de Marquês. Muitos perguntavam o motivo pelo qual havia optado por ficar com uma Host Family, já que dinheiro não seria problema para bancar-me em qualquer lugar que desejasse. A resposta era bem simples, além do fato de só possuir quinze anos, eu tinha medo da solidão. De acordo com meus pais, eu precisava ter o Doutor Eric Alves, um dos grandes oncologistas do mundo.


Um ano naquela condição havia me mudado em tantos aspectos, apenas eu sabia as coisas que aprendera naquela família, coisas que uma vida inteira numa família real não havia sequer visto. Era bem verdade que eu costumava ser um pouco narcisista, mesmo que abalado pela alteração no corpo por conta da doença, mas configurava-me como um bom menino. A solidão me assustava, no entanto, necessitava da minha família novamente, precisava minha da irmã e dos abraços da mamãe.


Já sabia que as coisas por lá não estavam das melhores, uma das antigas amigas de Carla havia sido assassinada de uma maneira horrível. Tudo parecia culminar para a minha volta, e o mais difícil disso seria deixar Frederico Azevedo para trás. Eu não podia fazer aquilo, ele havia sido a melhor coisa que me acontecera. Frederico vira além da doença, ele me amava verdadeiramente.


— Tem certeza que vai mesmo fazer isto, Carlos? – Os olhos do brasileiro se iluminaram, a possibilidade de viver fora de seu país o deixava em polvorosa.


— Vou sim, papai sempre me escuta no fim. Eu preciso da minha casa, Fred, mas não posso deixar você aqui. Só há um problema, você não pode dizer que é meu namorado. Teremos de nos passar por amigos. – Segurei a mão do meu namorado e seus olhos cravaram em mim. – Eu tenho que lidar com a doença e toda essa porcaria, não sei se lidaria bem em contar sobre mim ao meu pai agora.


— Tudo bem, não quero parecer que estou forçando você a nada. Você está me dando uma oportunidade que ninguém me daria aqui, sair daquele morro é um sonho para mim. – O moreno abraçou-me.


— Você me viu além da doença, Fred, eu nunca poderei ser tão grato. –Fechei meus olhos e inalei seu perfume almiscarado, algumas lágrimas escorreram pertinentes.


            Frederico e eu havíamos nos conhecido na escola, quando Fred era mais um dos que tentavam esconder sua realidade social e passava-se por um rapaz de classe média alta. A grande verdade de tudo, era que a mãe dele era a zeladora do colégio, mas o filho tinha vergonha demais para admitir aquilo. Ambos, tanto eu como ele, possuíamos gostos muito parecidos, o que acabou nos aproximando mais do que deveria. As mesmas músicas, filmes, até o sonho americano de ser estrelas em Nova York.


            A Espanha estava distante dos Estados Unidos, todavia, Frederico enxergava aquilo como um grande início. Após a partida do rapaz, capturei o celular e disquei a chamada internacional. Era hora de ter uma conversa com a realeza.


            – Alô?! Carlos? – Papai mal ouvira minha voz, já estava preocupado.


            – Sei que já sabe que decidi voltar, mas liguei para falar sobre algo, ou melhor, tentar pedir uma coisa ao senhor. – Meu modo sereno de falar o fez calar-se, mas não por muito tempo.


            – Não aprovo o que está tentando fazer, sabe que a melhor chance é estar sendo acompanhado pelo Doutor Alves, porém, diga-me o que precisa. – Ele era calculista, não havia pessoa mais controlada e analítica que meu progenitor.


            – Eu gostaria de ajudar uma pessoa, alguém que me ajudou muito aqui no Brasil. – Enquanto introduzi o início de minha tentativa, meu coração acelerou, pois tudo dependeria de um “sim” ou “não.


(...)


            Pus as mãos nos bolsos da calça jeans, inalei a brisa proveniente da maré de Copacabana, como eu amava aquele lugar. Em mil sonhos infantes, quem diria que eu conheceria aquele paraíso chamado Rio de Janeiro? Peguei-me pensando em tudo que havia vivido durante aquele último ano, a escola, as pessoas abrigadas em meu coração. Definitivamente, eu teria saudades daquilo.


            Fred caminhava ao meu lado e comentava sobre a permissão da mãe para que realizasse o intercâmbio, não havia entusiasmo tão contagiante quanto o dele, mesmo para uma pessoa em minha situação. Aliás, ver a felicidade dele me devolvia parte da minha, aquela roubada pelo tempo. O mar belo e revolto de fim de tarde me chamava tanto a atenção, estava ali apenas para observar o espaço, gostaria de fotografar minha última visão do meu local favorito no país.


            – Eles conseguiram acelerar o processo do seu passaporte, esqueci de dizer, Fred. Sendo assim, viajamos em duas semanas.


            – Jura?! – Rapidamente, eis que fui erguido do chão, Frederico me girara no ar. – Isso está acontecendo, os prelúdios do bom futuro.


            Sorriso e me segurei para não cair, aquilo parecia uma cena de romance do Woody Allen, o mar ao fundo só tornava a coisa mais intensa.


            – Eu te amo tanto, Carlos. É só o nosso começo. – Cuidadoso como sempre, Fred beijou meu rosto e me devolveu ao chão. O garoto não gostava de demonstrações fortes em público, nem eu, na verdade.


            – Eu te amo, brasileirinho. – Apertei seu nariz e gargalhei. – Vou sentir muita falta daqui, Fred, muita.


            – Sempre poderemos voltar, há coisa melhor do que voltar como celebridades? É o topo desejado. – Fred mexeu em seu celular ao fazer o comentário, devia estar em polvorosa e contando para os quatro ventos.


            Eu não conseguia ter as certezas sobre o futuro, nem alimentava as possibilidades, era bem mais fácil para ele. Eu estava convicto de que não seria saudável fazer planos futurísticos na minha condição, viria a ser mais alguma coisa a se arrepender por não ter feito, caso o fim chegasse. Aprendi a tocar apenas onde meus dedos chegavam.


            – É, podemos voltar. – Menti pela milésima vez naquele dia, não era como se alguém se importasse, nem mesmo meu namorado.


(...)


— Está tudo aqui? – Dona Ana contava as bagagens e checava cada minúcia em meus pertences, a sala de embarque já havia sido aberta.


Melinda e Gabriel, ambos filhos da Brasileira, estavam presentes, eles haviam se tornado como irmãos para mim. A mais nova, Linda, fora a criatura a qual eu mais me apegara. Oito anos de idade significavam muita coisa, ainda mais quando se era dona de uma sabedoria tão precoce.


Fred tagarelava sem parar, já eu, por minha vez, apenas estava tentando controlar as emoções e manter a minha pose de “rapaz centrado”.


— Atenção, voo 4567, destino Madrid, embarcar no portão de número dois. – A segunda chamada estava sendo feita. Achegara-se a hora que eu mais temia.


Abracei Gabriel e fiz carinho sem sua cabeça, depois passei para Melinda. A pequena me olhou por completo, nada estava escapando ao seu olhar:


— Eu gosto muito de você, Carlos, vou sentir saudades. Eu queria que você ficasse aqui para sempre, sabe o para sempre das histórias? Daquele jeitinho! – A menina segurou minha mão. – Você me ensinou que posso sonhar com o que eu quiser, e eu quero ser médica. E se eu conseguir ser uma médica, vou pode fazer você sarar.


Me abaixei junto a ela, enquanto suas palavras derretiam o lado esquerdo do meu peito. Prometi a mim mesmo que não derramaria uma lágrima, mas quando percebi, já estava chorando:


— Você vai ser sim, Linda, não tenho dúvidas disso. – Pensei momentaneamente e retirei uma correntinha de meu pescoço.


A correntinha era um escapulário de ouro, havia nele uma imagem da Virgem de Guadalupe. Aquilo havia sido um presente da minha falecida avó, para que eu nunca perdesse a fé. Eu olhava para aquela família abastada e pensava todos os dias, els não precisavam de muito para viver, embora vivessem em condições não tão grandes. Era uma obrigação ensinar aquela infante a não perder a fé.


Coloquei o escapulário ao redor do pescoço da criança, dizendo:


— A minha avó me deu isso quando eu tinha a sua idade, essa é a Virgem de Guadalupe, somos muito devotos dela lá em casa. É um presente para não esquecer de mim, e mais importante, para não esquecer de ter fé e acreditar que você pode ser tudo o que quiser. – Abracei Melinda, deixando as lágrimas escorrerem.


— Obrigado, Carlos. Eu não queria que você fosse, diz que não quer ir. – Em completo choro, Linda desabou.


— Eu preciso, Linda, mas eu volto. Eu te prometo. – Mais uma mentira, uma mentira a mais para alimentar a esperança das pessoas.


Ela assentiu chorando, então, levantei-me e olhei para Dona Ana:


— Dona Ana das Mercês, e agora? O que eu digo?


— Não diga nada, meu filho, já chorei demais pensando em tudo isso. – Sua mão tocou meu rosto carinhosamente. – Você chegou aqui uma pessoa, mas estou vendo outra ir embora. Uma pessoa bem melhor que a primeira, meu menino. Você está voltando para o seu lugar, não há canto melhor do que a nossa casa, mesmo que alguns fiquem no caminho e sintam saudades. – Um choro descompassado irrompeu da senhora. A mais velha me abraçou. – Acreditamos muito em Deus aqui, e pode ter certeza que ele vai te curar. Minha fé não me engana, você, Carlinhos, tem muita coisa para fazer nesse mundo.


— Última chamada para o voo 4567, destino Madrid. – A voz ecoou pelo espaço e o abraço intensificou-se entre mim e minha mãe postiça.


Segurei na mão esquerda de Frederico, havia soltado Dona Ana. A mulher abraçou-se com os dois filhos e ficou assistindo-me. Dava para perceber ela tentando consolar a filhinha. A cada passo que eu dava, era como se eu tivesse a certeza de que seria a última vez que eu olhava naqueles rostos. Porém, antes que eu corresse para a aeronave, precisei fazer algo.


Me dirigi até a moça que anunciava o voo, estava ela num pequeno púlpito:


— Posso falar algo? É que meu irmão sumiu.


— Não é permiti o uso do microfone por parte dos passageiros, senhor. – Ela fora categórica.


— Querida, eu estou com câncer, vai negar algo para um doente moribundo? – Meus olhos fixaram-se nos dela, tentei ao máximo utilizar de minha persuasão. A funcionária afastou-se um pouco, permitiu que eu me aproximasse do microfone. – Boa noite, só gostaria de dizer uma coisa. ÉL NO! Se não sabem o que significa, é “ELE NÃO! ”. Votem com responsabilidade. Obrigado!


Senti a mão de Fred me puxando para o caminho do avião, um ato de rebeldia para quem estava morrendo, não era nada.



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Autor(a): mrleondestiny

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Dormi durante todo o percurso, grande parte dos remédios me causava sonos, mas Fred ficou acordado, disso eu tinha certeza. Ele nunca havia viajado de avião, jamais havia saído do Rio de Janeiro, aquilo era um grande conjunto de primeiras vezes para o meu namorado. Não sabia quem me buscaria no aeroporto, apesar de saber que seria óbvio alg ...


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