Fanfic: Corações Sangrando - Trendy | Tema: Trendy, HOT

Alfonso

Quando eu era criança, minha mãe me levava ao píer todo fim de semana e passava o dia inteiro se dedicando a fazer o que eu imaginava. Às vezes estava navegando, muitas vezes no aquário, e havia até ataques ocasionais de observação de leões-marinhos brincando.

Qualquer que fosse a ocasião, tínhamos uma tradição, ela e eu. Ela sempre me levava ao Dreyer e me deixava encher meu rosto com sorvete até que eu quisesse vomitar. Devo ter experimentado todos os sabores e combinações de cobertura que meu cérebro minúsculo conseguia conjurar cerca de uma dúzia de vezes. Mas não Katherine.

Ela preferia baunilha. Simplesmente velho, nada acrescentado, chato como baunilha do inferno. Eu não conseguia entender uma coisa dessas no meu canto infantil. Havia muitos outros sabores. Tantas possibilidades diferentes. Quando eu disse isso, ela riu e acariciou minha bochecha da maneira que as mães fazem.

"Algum dia, doce menino." Disse ela. "Algum dia, você entenderá."

Sentado no meu escritório, vinte anos depois, eu finalmente entendi. Inclinei-me para a frente para passar as pontas dos dedos sobre a foto emoldurada do rosto bonito de Dulce. Esse pequeno hábito sujo estava começando a rivalizar com o de Norma.

Tudo fazia sentido para mim agora, o que minha mãe disse. Baunilha era puro e imaculado. Limpeza para o paladar, você teve que saborear para apreciá-lo. Eu poderia saborear a doçura de baunilha de Dulce por mil anos e nunca ficar totalmente satisfeito. Eu sempre a reabastecia. Eu juro. Eu a quebraria mil vezes, se eu pudesse reuni-la novamente.

Pilhas de trabalho estavam espalhadas pela minha mesa, esquecidas e ignoradas. Tudo estava fora de ordem e convidando o caos para a minha vida. Fator de cuidado? Nada. O caminho para o que fiz desapareceu de uma cordilheira ao longo da Rodovia da Costa do Pacífico em uma noite não muito tempo atrás.

Hoje foi dia 29 de julho. Meu aniversário. Surpreendeu você que eu era de leão? Não deveria.

Aniversários deixaram de existir para mim seis anos atrás. Eu duvidava que Dulce tivesse alguma marca especial desse dia em seu calendário. Mas se ela tivesse, eu me perguntava o que ela teria me presenteado. Ela era atenciosa. Não seria o esperado em círculos como o meu. Sete laços ou abotoaduras feitas com presas de espécies ameaçadas de extinção. Nenhum charuto cubano ou garrafas de uísque de duzentos anos saíam de suas mãos.

Dulce daria algo do coração. Algo que importava.

Pensei em algumas coisas que me agradariam. Ela entrar no meu escritório numa lingerie branca, ajoelhando-se e se sacrificando no meu altar. Oh, espere, ela já fez isso. Ainda assim, não havia nada como uma boa reconstituição antiquada.

Eu teria recuperado tudo se pudesse? Naquele primeiro dia no quarto de hotel, quando eu alterei meu curso sem saber, drasticamente. Provavelmente não. Eu não era um santo, nunca seria. Aquelas memórias com Dulce eram muito parecidas com uma injeção de penicilina. Doloroso, mas necessário às vezes. Eles ainda faziam algo nas proximidades do meu peito se mexer de vez em quando.

Pelo que você sabe de mim, eu suponho que eu estava mais do que um pouco distorcido. E você estaria certo.

Eu nem sempre fui assim. Era uma vez uma pessoa normal de 24 anos que trouxe flores para as mulheres e as levou para jantar. Eu nunca pensei em ser outra coisa senão respeitoso com elas.

Foi assim que minha mãe me criou, afinal. Para atrair, encantar e jogar de acordo com as regras.

Então a vida aconteceu. E tijolo por tijolo, meu reino de morteiros sensivelmente construído se desintegrou diante dos meus olhos. Minha verificação da realidade foi que a vida não foi justa. A vida levou. E as pessoas pegaram. E todo dia que eu acordava, porra vazia levava... Alguma coisa. Fui forjada no fogo do sangue e da miséria. O sádico dentro de mim criou alguém à sua imagem. Ou talvez ele só tenha trazido à vida o monstro sempre à espreita lá. Eu nunca realmente tinha certeza.

Mas Dulce amou o monstro. Ela admitiu isso. Então, que bem faria fingir eu ser outra coisa? Por que aparecer com vinho e chocolate quando você sabe que sua garota quer couro e palavras sujas?

E ainda lá estava eu ​​sentado. Trinta anos no meu triste escritório com minha triste papelada. Sozinho.

Eu queria que ela me mandasse uma mensagem. Falasse algo. Eu estive esperando o dia todo. Era uma noção tola. Ela nem sabia que era meu aniversário. Eu sabia quando era o dela. Eu compraria o mundo para ela, mas de alguma forma eu duvidava que isso fizesse uma diferença.

Nos últimos seis anos, eu estive sozinho neste dia. Nunca foi um problema. Na verdade, eu preferi assim. Mas hoje à noite, eu não queria ficar sozinho. Eu queria estar com ela.

E eu estava cansado de esperar.