Fanfic: Corações Sangrando - Trendy | Tema: Trendy, HOT

Alfonso

Você já teve um daqueles momentos em que sentiu que o próprio tempo havia sido suspenso? Onde você teve que arrastar seu traseiro triste da cama todas as manhãs com uma conversa mental que você sabia que era completa bobagem? Até os gestos mais simples roubavam uma energia preciosa. Não obstante a dignidade, senti conforto na voz robótica dentro da minha cabeça, instruindo-me o que fazer. Como executar as funções humanas mais básicas.

Hora de escovar os dentes. Penteie seu cabelo. Provavelmente deve alimentar-se algo entre tiros. Academia? Blá...

Que tal se masturbar no chuveiro? Nada. Nem energia para isso. Senhoras, tivemos uma crise em nossas mãos.

Os últimos trinta e poucos dias da minha vida foram um carrossel perpétuo dessa besteira. As pessoas se mexeram e falaram ao meu redor. Até para mim, provavelmente. Não posso dizer com certeza. O silêncio em meus ouvidos foi ensurdecedor. As cores do meu mundo haviam evaporado em uma névoa de cinza. Nada fazia mais sentido.

Minha companhia. Minha vida. Meu propósito.

Para mim, o sucesso não foi medido pela soma em minhas contas bancárias. Foi um efeito colateral bem-vindo, com certeza. Mas eu tinha a motivação e a ambição de ter sucesso em qualquer campo escolhido. Não era arrogante, apenas fato. Quando você quer bastante, você faz isso acontecer.

Eu queria mais do que ninguém.

Agora que minha conspiração implacável havia desaparecido, restavam apenas crostas. Eu nunca pensei muito sobre o que significava sucesso para mim. Muitas pessoas acreditavam que meu pai tinha sucesso. Ainda me lembro de como cruelmente ri da zombaria da palavra depois que a tragédia se abateu sobre ele. Uma tragédia de sua própria autoria, no entanto.

Se você me perguntasse há seis meses, eu teria ficado com essa proclamação arrogante. Eu estava muito apegado à noção de deixar passar. Meu pai não fora bem sucedido em seus negócios. Isso foi extremamente óbvio. Mas enquanto eu observava as nuvens girarem e se desintegrarem do lado de fora da minha janela alta, uma claridade perturbadora desceu sobre mim.

Ele tinha tudo o que sempre quis. Duas casas ostentadamente bonitas, barcos, carros, férias em família na Europa. Muitas coisas materialistas. Mas era família. O pensamento era tão simplista e, no entanto, me impressionou com o peso de sua importância. Meu pai tinha tudo o que não podia ser medido com ouro. A esposa e mãe mais excepcionais que um homem poderia esperar. Os filhos perfeitos de que ele sempre se gabou. Quando eu imaginei seu rosto, antes de seus problemas financeiros, lembrei como ele estava feliz. O paraíso dos tolos, como eles dizem.

Só agora entendi que os sucessos que eu pensava eram importantes.

Eu me virei na minha cadeira e me aproximei da janela, pressionando a palma da mão contra o vidro. O céu estava nublado e nublado, derramando grandes lágrimas de miséria na cidade de São Francisco. Eu fixei minha atenção nas pessoas minúsculas andando pelas ruas abaixo, imaginando se alguma delas poderia se relacionar com o que eu sentia naquele momento.

Provavelmente não.

A Jane e John Doe lá embaixo viviam em outra existência. Por todas as aparências externas, elas pareciam contentes, mas eram mesmo? Maridos trabalharam seus dedos até os ossos e levaram suas amantes para hotéis para encontros à tarde. As esposas troféus acumulavam contas de cartão de crédito em busca do próximo melhor item que preencheria suas vidas vazias. Crianças jogavam poças com as galochas enquanto as babás as repreendiam e sorriam. Na verdade, eu não conseguia ver essas coisas, mas era como eu imaginava isso na minha cabeça. Deixe-me imaginar isso, sim?

Não foi assim que fui criado. Meus pais eram legitimamente e assustadoramente felizes. Mas houve momentos em que vislumbrei o rosto preocupado de meu pai quando ele se curvou sobre sua mesa com um copo de bourbon tarde da noite. Havia sinais. Todos nós escolhemos não vê-los. Ele levou o peso do mundo sobre seus ombros, como é isso que os pais fazem, certo? E ficamos todos felizes em deixá-lo continuar sem soluços.

Talvez se eu tivesse feito alguma coisa, dito alguma coisa. As coisas poderiam ter sido diferentes. Foi um dilema que eu já havia enfrentado muitas vezes na minha cabeça. Eu o separei e dissequei os restos tantas vezes que nada além de poeira óssea permaneceu.

Era mais fácil odiar meu pai pelo que ele fez do que reconhecer que eu falhei com ele. Para admitir, eu deveria ter me adiantado e mostrado a ele o que eu era capaz naquela época. É engraçado como esses pequenos pontinhos na vida podem mudar tudo. Como agora, seis anos depois, questionei tudo o que achava que sabia sobre meus pais. A notícia absolutamente aterradora de ser pai faria isso com um homem.

Meu filho estava dentro dela.

Um tapa tangível e muito real na cara.

Por que você pode perguntar? Você me aceitou como um daqueles homens que não assumiriam suas responsabilidades? Porque eu posso ter sido muitas coisas, mas eu não era um maldito canalha. Se você precisar-me dar com um pincel específico, não deixe ser esse.

Dulce fez.

Ela não me deu escolha no assunto. Considerou-me inapto no momento em que descobriu, desde o ponto principal. Deu-me um tapa com a etiqueta doadora de esperma e me sentenciou a uma caixa de papelão, apenas para apodrecer em uma unidade de armazenamento em algum lugar pelos próximos dezoito anos.

Não pude ver minha raiva dessa vez. O pensamento racional teve pouca importância quando sibilou e surgiu dentro de mim, chiando como graxa dentro de uma frigideira. Foi apenas uma questão de tempo até eu pegar fogo.

Como um rolo de filme ruim, as palavras tocaram na minha mente. Ela escondeu isso de mim. Ela poderia mergulhar uma estaca no meu coração e doeria menos. Por assim dizer, parecia que ela tinha descarregado um clipe inteiro de pontos vazios dentro do meu intestino.

Eu seria o primeiro a confessar que tenho moral questionável. Meu histórico não foi o melhor, provavelmente. Eu não tinha orgulho de todas as coisas que fiz. Eu odiava o que tinha feito com ela. Sabendo agora que estava grávida quando aconteceu? Isso me estripou. ABANDONOU-ME.

Essas palavras não eram para mostrar. Eu não estava tão fodido desde que o destino deu um ingresso para um assento na primeira fila com a morte da minha família. Eu não recebia a sensação com frequência. Manter um equilíbrio cuidadosamente entorpecido e indiferente era um mecanismo de enfrentamento. Minha maldita atitude de cavaleiro funcionou para mim. Fechando a porta com dor, deixei-a inflamar dentro de mim como um câncer.

Esse câncer quase destruiu Dulce em vez de mim. Agora eu aprendi que também meu filho ainda não nascido. Como você acha que eu me senti?

Como um idiota gigante, inútil, é assim.

Mas ela deveria saber como me sentiria sobre isso. Quanto isso significa para mim ou quanto quero fazer parte disso. Ela arrancou-o de mim sem pensar duas vezes.

Ela achou que eu também seria um pai de merda?

A melhor pergunta era: Eu poderia culpá-la se ela pensasse assim? Eu não sabia a resposta para isso. Mas o que eu sabia era que tinha o direito de provar a mim mesmo se ela tivesse me dado à chance. Mas ela não deu.

E isso dizia tudo que eu precisava saber.