Fanfic: Corações Sangrando - Trendy | Tema: Trendy, HOT

Christopher chutou os calcanhares na mesa, com os olhos treinados em uma barata que passava enquanto dava outra tragada no cigarro. Era um hábito nojento, que ele deve ter pego na prisão. Nós sempre reclamamos quando crianças sobre como Norma-Jean se recusava a fumar lá fora, e tínhamos que ir a qualquer lugar cheirando a um cinzeiro sujo. Mas agora, quando as linhas em seu rosto mudaram de um menino para um homem, o mesmo aconteceu com o comportamento dele.

Ele era áspero em torno das bordas e muito mais difícil também. Ele era contundente comigo de uma maneira que nunca tinha sido antes, e uma sugestão de ressentimento permanecia em seus olhos toda vez que ele olhava para mim. Eu teria que perguntar a ele sobre isso mais tarde.

"Era Frankie", disse ele, esmagando a barata sob a bota. "Você não o conhecia porque ele não queria que você o conhecesse. Ele disse que era mais seguro assim. Que, se a família dele descobrisse que ele criara uma puta irlandesa, eles cortariam seu pau e matariam Norma só por isso.”

"Mas você o conhecia?" Minha voz soou fina e eu odiei. Eu odiava todos esses segredos e mentiras.

Christopher não se importou. Ele apenas deu de ombros, como se não fosse grande coisa.

"Eu tinha dez anos quando ele começou a aparecer", disse ele. “Mas nos certificamos de mantê-lo fora disso. Ele disse que eu precisava ser o homem da casa e deixá-lo orgulhoso. Ele já tinha uma esposa e filhos, e eles não eram de uma linha de sangue imunda.”

Eu balancei a cabeça em desgosto, e Christopher cortou a mão no ar, sacudindo as cinzas por toda parte.

"Essas foram suas palavras", ele grunhiu. "Não é meu. Mas Frankie não tinha filhos, ele me disse. E essa é a única razão pela qual eu quis dizer alguma coisa para ele, eu acho. Ele queria alguém de quem pudesse se orgulhar e, como eu não me parecia com você ou com Norma, dificilmente saberia que havia algum irlandês em mim.”

Ele olhou para a pequena mesa de jantar laminada da cozinha como se estivesse recordando uma lembrança especial que eu não conhecia.

“Quando fiquei mais velho, ele aparecia com mais frequência. Ele não queria que você conhecesse ele, no entanto. Ele disse que não podia olhar para você sem ver Norma.”

Eu respirei fundo e lancei meus olhos para o chão. A rejeição doeu, embora não devesse. Meu pai era um assassino. Eu sabia disso agora. Mas isso não mudou o fato de que eu sempre me perguntei por que ele nos abandonou. Ou que eu ansiava pelo amor dele como uma menininha.

"Você queria a verdade", disse Christopher. "Eu não vou revestir o açúcar para você, Dulce. Não dessa vez."

Eu pisquei minhas lágrimas e gesticulei para ele continuar, embora fosse a última coisa que eu queria que ele fizesse.

"Frankie me pegou naquele dia", ele continuou. “Ele disse que queria me levar em meu primeiro emprego. Ele queria que eu fizesse o meu velho orgulhoso. Eu sabia o que ele fazia para viver. Norma-Jean me disse quando ele começou a espreitar por aqui com mais frequência, deixando-a realmente nervosa. E eu não vou mentir e dizer que não queria porque eu fiz. Eu queria viver de acordo com seu código e sua honra e ter todas as coisas que ele me prometeu. Ele disse que eu viveria como um rei depois que ganhasse minhas dívidas. Que eu seria intocável e ganharia o respeito de uma linhagem honrada.”

Eu torci minhas mãos e mordi meu lábio para ficar quieta. Eu queria perguntar a Christopher o que diabos ele estava pensando. Como ele poderia sequer considerar remotamente o que ele estava falando. Mas eu precisava ouvir o que ele tinha a dizer primeiro. Eu precisava ouvir tudo.

"Ele não disse muito mais enquanto estávamos dirigindo." Christopher jogou a ponta do cigarro na bandeja e esfregou a mão no rosto. “Eu me perguntava por que estávamos em um caminhão velho tão velho. Eu só tinha visto Frankie em bons carros antes. Depois que entramos na estrada, ele me disse que havia uma família na cidade com a qual ele precisava lidar, que o cara devia algum dinheiro a seu chefe. Eu deveria ter entendido o que ele quis dizer com isso, mas acho que eu era burro demais na época.”

Ele parou para acender outro cigarro, abrindo uma lata de cerveja enquanto estava ali. Eu fiz uma careta e ele estreitou os olhos.

"Foi como um relógio", disse ele. “Nós saímos para o lado da estrada e esperamos. Ele recebeu uma ligação em seu celular, e essa expressão estranha em seu rosto quando ele ligou o caminhão de volta. Calma. Isso é o que foi. E isso nunca mudou, mesmo quando ele os expulsou da estrada.”

Eu agarrei meu estômago e balancei para frente e para trás, imagens da pequena Sophia queimando no meu cérebro. De Alfonso tentando consolá-la durante suas últimas respirações dolorosas. A enormidade de sua dor pesava no meu peito. Eu queria arrancar meu próprio coração e vê-lo sangrar para pagar pelos pecados do meu pai. Para as coisas hediondas e insondáveis ​​que ele fez naquela noite.

Eu estava chorando agora, mas Christopher não tentou me consolar. Eu estava contente. E quando ele continuou, eu apenas escutei entre bocados de ar.

"Ele puxou uma arma de sua jaqueta e entregou para mim", disse Christopher. "Ele me disse para terminar com um na cabeça para cada um deles."

Sua voz estava quieta agora. Muito quieto. E eu não sabia mais como se sentir sobre ele. Eu esperei ansiosamente por suas próximas palavras. As palavras que eu precisava ouvir dele para confirmar o que Alfonso disse. Que meu irmão era um monstro, como nosso pai.

"Eu fui até lá." Ele me olhou diretamente nos olhos enquanto ele dizia isso. “E eu ia fazer isso. Eu realmente pensei que faria. Eu ficava dizendo a mim mesmo várias vezes que era sobre honra. Família. Sangue. Mas quando eu vi a porra dos corpos mutilados dentro, vomitei em todo o lugar.”

"Jesus, Christopher!" Meu corpo inteiro tremeu. "O que diabos está errado com você?"

Ele não me respondeu. Ele continuou falando, no mesmo tom plano, olhando para a cozinha.

“Eu coloquei a arma entre os olhos de Miguel. Ele olhou para mim como se não entendesse. Ele não tinha ideia do por que isso estava acontecendo. Ele estava sangrando por todo o lugar, e a garotinha ao lado dele fez algum tipo de barulho bizarro estranho. E eu não consegui lidar com isso. Então eu atirei cinco rodadas na floresta e fui embora. Eu percebi que eles iam morrer de qualquer jeito. E se eles não o fizessem, então eu sabia que Frankie me mataria. Mas eu não me importei.”

"Oh Deus, oh Deus, oh Deus..."

Corri para a cozinha e vomitei o magro conteúdo do meu estômago. Tudo no meu corpo queimava. Tudo no meu mundo estava desmoronando, e parecia que era minha culpa de alguma forma. A única coisa em que consegui pensar foi em Alfonso. Do que ele passou por causa de Frankie. E se eu queria admitir ou não, mas também por causa de Christopher.

Lavei a boca e escorreguei para o chão, segurando meus braços em volta dos meus joelhos enquanto olhava para o azulejo sujo. Christopher continuou falando, como se precisasse se purificar dos detalhes, independentemente de eu escutar ou não.

“Quando as notícias informaram que Michael Lockhart viveu, nunca mais ouvi falar de Frankie. Os policiais encontraram seu corpo alguns dias depois, em uma lixeira em Chicago. E a pista de evidências me levou de volta. Eles sabiam que eu havia disparado as balas que encontraram lá, mas eles não sabiam o porquê. Eu não diria a eles. Então eles me prenderam com uma carga de dirigir embriagada, e eu nunca disse o contrário. Nem Michael Lockhart. Eu tinha certeza de que o chefe de Frankie viria atrás de mim. Não importava o que acontecesse no tribunal porque eu morreria de uma forma ou de outra.”

“Então um dia, Miguel apareceu. Ele me disse que Michael havia se entregado ao chefe de Frankie, junto com o dinheiro que ele devia para poupar a vida de Miguel. Ele me queria morto, e ele fez questão de me avisar. Mas ele me disse que ia ter prazer em destruir minha vida primeiro. Ele disse que eu tinha a chance de matá-lo, e ele se certificaria de que eu me arrependesse dessa decisão todos os dias pelo resto da minha vida. Quando o relatório do legista voltou, e eles atualizaram as acusações, eu estava fodido. Eu não poderia fazer nada além de aceitar a queda se eu quisesse que você e Norma vivessem, e Miguel também sabia disso.”

"Isso não é justo, Christopher", eu resmunguei. "Não faça parecer que você fez isso para mim e Norma. Você fez isso por você. Você escolheu sair com Frankie naquele dia. Você escolheu não chamar uma ambulância... Para deixar aquela menininha sofrer. O que você fez foi errado, e você também sabia disso. Você foi para a prisão porque queria se punir.”

Christopher me lançou um olhar que teria me murchado em outro dia. Mas eu não tinha mais nada para dar. Cada lágrima já havia sido expurgada do meu corpo e cada grama de emoção secou completamente. Tudo o que restou foi a dureza da realidade.

"E o que teria acontecido se eu não estivesse lá naquele dia?" Ele riu oco. “Seu precioso maldito Alfonso estaria morto, Dulce. Mas você sabe o que, agora que você mencionou, eu gostaria de não estar lá. Porque então ele estaria apodrecendo no inferno, onde ele pertence.”

"Você nem conhece ele", eu rosnei. "E você é cheio de merda. Você não pode pensar que o que aconteceu foi justificado. Frankie assassinou toda sua família, Christopher! E para o que, algum dinheiro?”

"Eu não sabia", ele retrucou. "E eu não me importo. Eu só estava pensando em Frankie. De como eu queria que meu velho ficasse orgulhoso de mim.”

A insensibilidade em suas palavras me destruiu. Porque quando olhei em seus olhos, não vi mais meu irmão. Eu vi um estranho. Ele acreditava no que ele dizia, mesmo que eu não.

"Você quer dizer que queria ser como ele", eu acusei. “Uma vida baixa e criminosa?”

"Por que não, Dulce?" Ele jogou as mãos e me lançou um olhar mordaz. "Que porra mais eu vou fazer? Viver neste buraco de merda para o resto da minha vida? Frankie disse que ele vivia como um rei, e sim, eu admito, eu também queria um pedaço disso. Eu queria algo melhor que esta vida.”

"E agora?", Perguntei. "O que você vai fazer agora?"

"A única coisa que posso fazer", respondeu ele. "Sente-se aqui e mexa os meus malditos polegares até que eu consiga um emprego trocando hambúrgueres pelo resto da minha vida."

Suas palavras me fizeram perceber algo. Algo que não me ocorreu antes.

"Por que eles não vieram para você?" Eu exigi. "Se eles mataram Frankie, por que eles não vieram para você também?"

"Eu não sei." Ele encolheu os ombros. “Eu acho que Frankie nunca contou a eles o que aconteceu. Talvez tenha sido a única coisa honrada que ele já fez.”

Parecia fácil demais, mas era uma mentira que Christopher e eu aceitamos prontamente. Eu precisava acreditar em minha própria sanidade, era verdade.