Fanfic: Além do Tempo | Tema: Aventura, amizade, LGBT, ficção científica, viagem no tempo, ficção adolescente
508-322 a.C.
Grécia antiga - Atenas
Abbey - 16 anos - Filha de família rica.
Chove! Chove muito forte. Não vou poder sair de casa hoje. Provavelmente serei obrigada a ficar apenas em meu quarto. E depois a sala de jantar. E novamente meu quarto.
Ouço toques na porta.
— Dou minha permissão. Pode entrar.
É a Shirley, nossa doméstica. Cuida de mim, basicamente.
— Madama, está na hora do café, seus irmãos e seus pais já estão lhe esperando.
— Obrigada, Shirley. Já pode ir. Está liberada.
Shirley sai em silêncio. Ela é minha doméstica nova. A antiga, Suelen, morreu recentemente por conta de uma peste. Eu a amava, Suelen era como uma mãe para mim, já que a verdadeira, sempre estava ocupada pra me dar atenção. Pra variar!
Vou ao meu banheiro, e troco de roupa. Um vestido, que posso considerar simples. Não gosto muito de coisas extravagantes.
Saio do quarto
e cumprimento os seguranças de plantão.
Sou de uma família muito rica. Perdemos apenas para os membros do conselho. Meu pai é um homem da política, somos uma família influente.
No total somos seis. Meu pai, Wilbur, minha mãe Atena, meu irmão mais velho, Johan, minha irmã mais nova Meredith, meu irmão mais novo Stewart e eu.
Desço as escadas, e ando pelo corredor até a sala de jantar. Bato na porta e escuto meu pai me dar permissão para entrar. Entro, e sento em minha cadeira, em silêncio. Não falo nada. Não quero falar nada. Não posso falar nada. Só posso falar se meu pai ou algum de meus irmãos se dirigir diretamente a mim, apenas neste momento. Espero Vera, nossa governanta, servir os pratos.
Meu pai faz a oração, e então autoriza o início do jantar.
Estou sem fome, então como pouco, apenas uma concha e meia de sopa.
A mesa está quieta como sempre.
As pessoas não conversam por aqui, parece que é proibido ou sei lá.
De repente, meu pai se levanta, chamando a atenção de todos ali presentes.
— Peço a atenção de todos por favor! Neste momento vamos brindar. Brindar pelo mais novo casamento da nossa família : O casamento de Abbey com Dexter, o filho de uma das mais nobres famílias.
Arregalo meus olhos! Quase engasgo com a sopa.
Como assim eu vou casar?! E por que ninguém me avisou, sei que as mulheres não tem direito algum nesta cidade, mas, sou a noiva! Deveria pelo menos estar ciente.
Levanto da mesa e corro para a porta, empurro com tudo, e saio correndo escadaria a cima para me trancar no meu quarto e chorar.
Sei que o que fiz foi errado, e também sei que haverão consequências por ter me retirado sem permissão.
Mas eu mesma não saber do meu próprio casamento?! E nem poder escolher com quem vou casar?!
Até quando o mundo será assim?!
⏳
Século XVI
França - Reino de Gordes
Morgana - 16 anos - Aprendiz de curandeiro.
Nunca tive uma vida boa. Fui abandonada quando criança, nas ruas de Gordes.
Sobrevivia de esmolas, que raramente me davam.
Até que ele veio. Marlon. Na época era mais novo uns 27 anos. É estrangeiro, vinha da Inglaterra. Ele me achou, quase congelando de frio, me levou a sua mais nova casa e cuidou de mim. Cuida de mim até hoje, é como um pai. Moramos fora da cidade, já que ele é um curandeiro, e curandeiros podem ser considerados bruxos, e acabariam na fogueira. Marlon tem grande conhecimento sobre a cura, medicina, como ele mesmo diz.
— Morceguita - ele chama pelo apelido carinhoso que me deu.
— Sim?
— Podes ir à vila, comprar algumas ervas para mim?
— Claro que posso!
Eu já ia saindo, quando ele me lembra.
— Não vai de capuz?
Não posso ir a vila sem capuz, me considerariam uma bruxa. Morreria na fogueira. Eles não podem saber que tenho cabelos ruivos.
Pego meu capuz e o visto rapidamente, e então saio pela porta.
Ando ante a vila tranquilamente, e paro em frente a loja de ervas e temperos.
— Bom dia.
— Bom dia, Morgana. Fique a vontade.
— Merci beaucoup*.
Ando até a prateleira de temperos, e pego alguns.
— Désolé Miss Morgana,* mas você está très belle* hoje. - ouço o sussurro em meu ouvido.
— Merci, monsieur* Jaque.
Olho em seus olhos, ele nos meus e começamos a gargalhar. Tanto, que senti os olhares das pessoas em nós.
Jaque, é meu melhor amigo. Só tenho ele de amigo. Ele é o único que sabe meu segredo. Bom, ele e Marlon.
— Deixa ver, faltam ingredientes para o chá milagroso. Acertei?
— Quase, para o chá de Hypericum.
— Como "Quase"?
— Você acertou a parte que falta ingredientes. - digo, dando de ombros, e saindo da loja com a sacola na mão.
A rua está cheia, provavelmente já é hora do almoço.
Acabo me distraindo conversando e rindo com Jaque, que não percebo os fortes ventos.
De repente ele para.
— O que foi?
Ele faz um sinal com o dedo no ouvido, e percebo que a rua movimentada e barulhenta está silenciosa.
Olho para trás e vejo todas as pessoas, sem exceção, olhando para mim.
Olho para Jaque de novo e ele aponta para o meu cabelo. Passo a mão em minha cabeça e não sinto o capuz.
Essa não!
— BRUXA - escuto alguém gritar.
— BRUXA - outra pessoa grita.
Todos começam a gritar "bruxa", e apontam em minha direção.
Sinto algo bater em meu braço, olho para o chão. Uma pedra. Jogaram uma pedra um mim.
Outra pedra é jogada e acerta minha canela. E então outra, acerta minha barriga.
Saio correndo, sendo perseguida por algumas pessoas, que continuam jogando pedras em mim.
Entro no bosque, e me escondo atrás de uma árvore grande.
Estou suando e minha respiração está acelerada.
Fui perseguida, e atiraram pedras em mim, por eu ter cabelos vermelhos.
Até quando o mundo será assim?!
⏳
Atualmente
Brasil - São Paulo
Tati - 16 anos - Estudante de enfermagem
Sabe aquela sensação de que o mundo está contra você? Porque é exatamente isso que eu estou sentindo agora.
O meu dia hoje, foi um verdadeiro
IN-FER-NO!
Já começa, que meu despertador não tocou. Ou melhor, ele tocou sim, mas quase duas horas e meia depois do horário certo!
Durante o café, descobri que foi minha irmã caçula, Bia, de 6 anos, que mudou o horário do alarme.
— Você tava cansada demais, tá trabalhando muito, achei que ia gostar de ficar mais tempo na cama.
Fiquei confusa, se eu enchia ela de beijos ou se dava uma bronca nela. No final das contas, decidi não fazer nada, não ia dar tempo mesmo.
Cheguei em cima da hora na faculdade.
A aula foi um saco, não por conta da matéria ou coisa do tipo, não, amo o curso que estou fazendo. O problema é alguém que infelizmente faz o curso comigo.
Frederick Hilton.
Um completo babaca, machista e homofóbico!
Desde muito cedo, aprendi que nem tudo que a gente quer, podemos ter, e nem tudo que a temos a gente quis ter. Isso se aplica em tudo na vida.
Esse babaca aí, não sabia disso.
Vamos jogar limpo.
Eu sou lésbica.
Assumida.
Não pela minha vontade.
Sempre fui muito fechada com relação a mim mesma. Apenas minha mãe sabia que eu era lésbica, até porque se o meu pai soubesse ele ressuscitaria, me mataria e morreria de novo!
Primeira semana de faculdade, e eu a garota nova.
Entre trotes e brincadeiras eu o conheci. Ele era legal, gentil e engraçado, ele só tinha um defeito, confiava demais no poder do dinheiro.
Viramos amigos, e compartilhavamos tudo entre nós. Um belo dia, eu, quieta, fazendo minhas coisas, quando ele chega e me abraça por trás.
"Ok"
Beija meu pescoço.
" Talvez seja a hora de parar"
Morde o lóbulo da minha orelha.
"Beleza, chega!"
— O que é que você pensa que está fazendo?! - digo o empurrando.
— Ué?! O que você está pedindo!
— Como assim "o que eu estou pedindo"?!
— Com essa saia apertada, e esse decote, você só pode estar pedindo! E quem melhor do que eu pra fazer acontecer?!
Dou uma risada forçada.
— Tá legal, vamos por partes. Eu não estou "pedindo" nada por me vestir desse jeito. Me visto assim por mim, não por vocês. E você não é o melhor em nada! Que fique claro que eu e você não vai acontecer! Somos apenas amigos!
— Sabe que não existe amizade entre homem e mulher. Quando um homem se aproxima de uma mulher é porque ele quer come-la.
— Ok, tudo bem! Eu não vou nem perder meu tempo discutindo com você!
Digo indo embora, porém como o destino é uma merda, eu esqueci o computador ligado com a minha conta do Facebook logada.
No dia seguinte eu era o assunto da faculdade. Alguns me davam apoio dizendo coisas do tipo "Relaxa, vai dar tudo certo, é normal" e outros me zoavam dizendo coisas do tipo " Olha lá é a sapatona da escola."
Eu já tinha em mente o que tinha acontecido, mas resolvi ficar quieta. Encontrei com Frederick e a primeira coisa que ele fez foi gritar:
— Olha a sapatona da facul aí! Devia ter percebido no momento em que me deu o fora. E aí? — disse ele, passando o braço pelo meu pescoço.
—Tira a sua mão nojenta de cima de mim
—Ah! Qualé! Não fica zangada comigo!
Ele só podia estar de brincadeira com a minha cara!
—Não ficar zangada com você?! Ah faça me o favor! Você acha que pode sair por aí contando coisas pessoais minhas?!
—Isso não teria acontecido se tivesse ficado comigo, se bem que agora eu entendo por que você não quis.
—Então agora a culpa é minha?!
—Você que deixou o seu Facebook logado!
—E você não tinha o menor direito de mexer nas minhas coisas! Isso é invasão de privacidade!
—A privacidade não existe! Está toda bravinha assim só porque agora a galera sabe que a “certinha” da facul, é só uma vadiazinha lésbica?!
Não me aguentei! Foi no automático! Dei um tapa no rosto dele! Bem merecido, afinal!
—Vê se para de ser esse garoto mimado que humilha os outros quando eles não fazem o que você quer! Isso não vai te levar a nada! Esse seu Papinho de “posso fazer tudo o que quiser” só mostra o quão mimado e babaca você é! Dá um tempo! Ninguém aguenta mais! Você não pode ter tudo o que quiser! Ninguém pode! Vê se acorda pro mundo real! Saí de debaixo da saia dos seus pais e se torne alguém na vida! Faça as pessoas gostarem de você pelo que você é, não pelo que você tem, ou você realmente achou que as outras pessoas andam com você realmente se importam com você?! Elas só se importam com o seu dinheiro! Quando espalhou por aí que eu sou lésbica, afastou uma das únicas pessoas que viu além do dinheiro que você tem! Passar bem!- digo e vou embora. Literalmente.
Pego o primeiro ônibus que passa, sem nem olhar pra onde ele vai me levar. Eu só queria ir pra longe daquele lugar!
Eu fiz a coisa certa não fiz? Falei tudo o que estava entalado. Então por que eu me sentia daquele jeito? Por que eu me sentia tão nojenta e imunda por algo que não foi minha culpa?
Lembro que naquele dia, naquele momento, apenas um único pensamento me dominava:
Até quando o mundo será assim?
Autor(a): malusantos
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