Fanfic: Our Destiny | Tema: Bangtan Boys, BTS
27 horas e 45 minutos.
Este foi o tempo que marcou o início da melhor e mais difícil fase da minha vida.
Meu trabalho de parto durou exatas 27 horas e 45 minutos. Desde o momento em que passei mal e minha bolsa estourou repentinamente logo após a batida de carro, tudo mudou.
A dor foi indescritível e somente depois de senti-la que sou capaz de entender a explicação das mulheres em geral que a definem como “a dor da morte”.
Elas definitivamente têm razão. Posso dizer que é a dor da morte ou talvez algo pior se caso existir.
Lembro que meu parto foi definitivamente complicado em todos os sentidos. Primeiro que a bolsa realmente estourou repentinamente e me colocou em desespero, pois pensei que estava perdendo Soomin.
A dor só veio quando eu já estava a caminho do hospital, eram como cólicas que se alastraram por toda a barriga a deixando dura e sensível. Junto a dor eu sentia grande desconforto nas costas e por umas 10 horas fui incapaz de deitar sem desabar em choro de dor.
Minhas costas estavam dormentes e ao mesmo tempo doloridas, era difícil entender. Eu suava frio a cada nova contração que me fazia gemer e cair aos prantos dentro da pequena enfermaria.
Sentia os músculos tensos e contraídos com medo da próxima contração que parecia apenas aumentar e não diminuir. Havia momentos em que tudo retornava a normalidade e eu ficava bem, mas então novamente meu corpo era tomado por dores que me tiravam dos eixos.
Eu literalmente ia do céu ao inferno em míseros segundos de dor. O nervosismo aumentava gradativamente e já não tinha unhas para roer de tamanha ansiedade de ter minha pequena em meus braços.
Contudo, depois de 15 horas de um trabalho de parto doloroso minha dilatação não era o suficiente mesmo com o maldito soro que disseram que ajudaria… Com certeza ajudou, ajudou a piorar tudo aquilo que achava não poder ficar pior.
O maldito soro não aliviava a dor como pensei e sim praticamente a triplicou. Eu mordia os próprios lábios tentando copiosamente reprimir meus gritos de dor, mas nem mesmo assim era capaz.
18 horas de parto e a dilatação ainda não estava completa, mas eu estava um completo caos. Meu desespero junto do sentimento de culpa por não ter forças para trazer minha princesa ao mundo me corroía e no momento em que a notícia ecoou no quarto da enfermaria eu desabei em choro compulsivo.
Soomin pela demora estava mudando de posição e quase “sentando" como eles dizem. Naquela posição a pequena não nasceria e para agravar tudo, se continuássemos naquele ritmo a pequena entraria em sofrimento e, tanto eu quanto ela poderíamos não sobreviver no fim de tudo.
Foi dali em diante que eles iniciaram todo um aparato para me ajudar a trazer minha pequena ao mundo. As enfermeiras comprimiam minha barriga e aquilo doía, doía como jamais imaginei doer, mas era para o bem de meu bebê.
Medicações eram colocadas a todo momento no soro que entrava em minha veia e a fadiga já dava seus sinais em meu corpo. Eu estava entrando em colapso depois de 23 horas de trabalho de parto.
Quando achávamos que estava próximo de seu nascimento a pequena tornava a mudar de posição e todo um desespero misturado a frustração nos tomava. Até mesmo a equipe médica já dava indícios de cansaço e extrema preocupação como nossa saúde.
Lembro de muitos fios ligados ao meu corpo e máquinas apitando a todo momento indicando como meu corpo estava reagindo a tudo e era preocupante. Eu já havia perdido uma grande porção de sangue e a fraqueza me impedia de dar tudo de mim naquele parto.
Com 25 horas de trabalho de parto os médicos já não tinham tanta esperança de salvar minha pequena que constantemente dava indícios de sofrimento e cansaço já que nem mesmo forçava seu nascimento. A cesariana era cogitada, mas quando soube que a probabilidade de perder a criança durante a cirurgia era maior do que a de permanecer no sofrimento do parto, me neguei com total veemência.
Aceitar a cesariana era como assinar um atestado de óbito de minha criança e isso seria como morrer juntamente aquela pequena criatura ao qual amava mais do que tudo na face da terra. Se fosse para alguém partir, que esse alguém fosse eu.
Os médicos diziam ser loucura de minha parte e continuavam a afirmar que a pequena nasceria morta naquele ritmo e que no fim eu iria junto dela, mas ainda assim não voltei atrás em minha decisão. Eu estava decidida depositar cada gota da minha vida naquele parto para trazer meu anjo ao mundo, nem que isso me custasse tudo.
Houve momentos em que achei que tudo estaria perdido e que não conseguiria dar a luz, mas no fim Soomin nasceu. Com 27 horas e 45 minutos de parto foi quando um último grito rasgou-me a garganta em meio às lágrimas e por fim ouvi seu choro fraquinho e contido.
Meu corpo amoleceu sobre a maca sem forças nem para virar a cabeça em direção a agitação que se formava em torno da pequena que provavelmente estava com dificuldades pelo tempo passado.
A dor sumiu no mesmo momento em que senti seu pequeno corpo sair de mim e do choro de desespero passei a chorar de alegria e felicidade, a plenitude que preenche nosso peito após todo o caos que se forma ao nosso redor é um dos melhores confortos, ouvir o choro da pequena criança que você acaba de trazer ao mundo lhe faz derreter em emoção e dali em diante nada mais importa.
Como eu disse a dor lhe leva do céu ao inferno, mas o prazer que lhe consome após dar à luz lhe leva do inferno ao céu novamente agora na companhia de um anjo. Eu queria tanto segurá-la em meus braços, mas tinha certeza que a preocupação maior era sua frágil saúde já que era prematura além do fato do parto complicado.
Minha cabeça latejava e meu corpo estava dolorido, meus olhos pesavam e minha respiração estava complicada… Eu estava indo sem nem mesmo ter o maior presente de toda mãe que é segurar seu filho, eu não era tão pretensiosa, só desejava vê-la uma vez, apenas uma única vez.
Os equipamentos alertaram a equipe e o que sucedeu eu não pude mais ver. A correria e gritaria ao meu redor foi se afastando e quando eu vi apaguei completamente. Achava que tinha morrido, mas que pelo menos havia cumprido meu dever como mãe de trazer minha filha ao mundo.
Eu tinha certeza que ela teria todo amor das pessoas a minha volta, meus pais sem dúvida dariam todo amor e carinho necessário além de Ruan que cuidaria da filha como um bom pai. Minha filha teria o amparo necessário e eu de onde quer que estivesse lhe mandaria todo o amor que resguardei em meu peito desde o momento que soube de sua existência em meu ventre.
Para mim tudo estava bem porque minha princesa estava bem.
Como ironia da vida eu acordei dias depois em um quarto hospitalar cercada de meus pais. Ao que pude compreender de tudo foi que pela perda excessiva de sangue eu tive uma pré eclâmpsia e portanto por muito pouco parti dessa para melhor - ou pior por assim dizer.
Mas como mãe coruja que sou, o primeiro questionamento a sair de meus lábios ressecados foi: onde está Soomin..? Me senti aliviada por saber que minha pequena residia na incubadora por ainda não ter 9 meses completos, mas que sua saúde estava boa e sem complicações, estava apenas terminando de crescer para poder chegar aos meus braços.
Lembro de ficarmos pouco mais de duas semanas separadas aos cuidados do hospital para finalmente podermos nos encontrar. Juro que não havia sentimento melhor do que poder ver minha filha pela primeira vez adentrando meu quarto em seu pequeno bercinho já embrulhada em uma das diversas mantas rosa que comprei assim que soube que esperava uma menina.
As lágrimas não demoraram a vir e me apaixonei mais ainda quando seus pequeninos olhos se abriram e se encontraram com os meus. Nosso laço era vivido e como se a pequena soubesse da alegria que me consumia em nosso primeiro encontro depois de tudo, ela me sorriu e a constatação se fez presente me meu coração.
Eu já tinha minha resposta.
Ah como eu amava aquela pequena criatura… Céus! Não havia amor igual, ela era meu tudo e nem mesmo eu havia lhe tocado. Com uma prática inegável a enfermeira já de idade pegou a pequena e direcionou-se a mim que prontamente estiquei meus braços junto a todo amor maternal e a acolhi.
Ela era tão pequenina e frágil, parecia que poderia se partir se eu fizesse um movimento brusco. Eu tinha medo, confesso que tinha muito medo em segurá-la, mas o desejo de tê-la em meus braços era mil vezes maior.
A pequena observava-me e era risonha, a própria enfermeira havia dito que a todo momento ela sorria para as pessoas. Era uma bebê encantadora e linda, sua perfeição era semelhante a de uma boneca. Posso dizer que jamais vi criança tão linda quanto Soomin e não era coisa de mãe coruja, todos a minha volta só sabiam dizer que ela era a criança mais linda nascida naquele hospital.
Nossa temporada no hospital foi cheia de novidades, eu aprendi a lhe dar banho e trocar suas fraldas, aprendi a trocar suas roupinhas e a lhe ninar, até arrisquei cantar umas músicas de ninar, porém não deu muito certo já que ela só sabia rir da minha voz horrível ao invés de dormir.
Ah e não posso esquecer da amamentação que custei a aprender e a me acostumar, era estranho ter uma criança esfomeada agarrada ao seu peito sugando sabe-se lá o que. Era engraçado vê-la tão manhosa ao meu peito, ela parecia gostar do que saia dali a ponto de fazer barulhinhos com a boca.
Ela era curiosa e mesmo estando agarrada ao peito vasculhava tudo a sua volta com os olhinhos, seus dedos gostavam de se enroscar aos meus longos fios de cabelo assim como gostavam de apertar meu seio, talvez na esperança de sair mais leite em sua boquinha esfomeada.
Ah devo dizer que seu apetite era questionável para um recém nascido, ela mamava muito e parecia que nunca estava com a barriguinha completamente cheia. Se ela estivesse acordada e me visse já estava se remexendo no pequeno berço resmungando, a todo momento ela desejava uma mamada. As enfermeiras diziam que era normal nesta fase, mas que depois eu poderia intercalar os horários.
Mesmo que minha felicidade estivesse no nível máximo eu tinha total certeza que ainda havia uma questão pendente e que por esta razão minha felicidade não poderia ser plena. Eu sabia que algo estava errado e apenas aguardava quando a “bomba” fosse explodir, só não esperava que fosse bem ali no quarto do hospital.
Desde o acidente eu não havia visto Ruan, meus pais já haviam vindo para conhecer sua neta e alguns familiares também, mas até aquele momento nada de Ruan. Lembro que era de tarde e que estava novamente amamentando minha pequena quando a porta do quarto foi aberta e o homem alto surgiu em meu campo de visão.
Meu rosto empalideceu e perdi a fala, Ruan tinha um sorriso meio sem graça nos lábios e parecia desconfortável assim como esteve durante toda a gravidez, ele realmente não havia ficado tão feliz com a notícia, lembro bem da cara de poucos amigos que fez ao descobrir.
Meu olhar recaiu na criança e instintivamente a trouxe mais para perto do meu colo, era como um instinto de proteção, meu instinto alertava que ele representava perigo a minha Soomin e portanto eu deveria ter cuidado com sua presença.
Ele disse um “oi” sem graça pois sabia que não havia explicação para seu sumiço tão longo. Não me dei ao trabalho de respondê-lo e apenas foquei meu olhar na pequena agarrada ao meu seio. Ele tentou se aproximar e teve meu olhar de desaprovação, mas ignorou e parou ao meu lado repousando seu olhar na criança.
Não precisei lhe dizer nada e nem mesmo ele foi capaz de dizer algo. Ele recuou alguns passos e sua face demonstrava desprezo, por mim e pela criança em meu colo. A ira tomou conta do homem e ele apenas bufou inconformado com a constatação. Ele pareceu pensar em alguns momentos buscando explicação ou entender o que havia acontecido, mas não havia explicação.
O olhei fria e acariciei a bochecha de Soomin sorrindo ao ver que ela sorria contra meu seio parando alguns segundos de me sugar e quando tornei a olhar ao homem ele apenas negou com a cabeça consecutivamente rindo em escárnio, seu olhar transparecia nojo e repudia que fiz questão de confrontar em nossa discussão silenciosa onde ele simplesmente deu as costas e saiu do quarto batendo a porta assustando minha pequena.
Não havia mais o que ser dito. Nosso “casamento” estava se arrastando desde o momento que a gravidez foi constatada, desde o princípio o erro foi de minha parte ao aceitar aquele casamento sem pé nem cabeça. Ruan não tinha sentimentos verdadeiros por mim, ele apenas queria manter as aparências e ganhar dupla cidadania.
Pouco depois de um mês de casamento soube que ele estava me traindo e que estava caindo na bebedeira depois do trabalho. Ele mentia e fazia coisas escondido de mim, Ruan era uma farsa e eu sabia, apenas ignorei por saber que tinha uma possível mentira tão grande quanto a sua.
Ruan não podia e nem tinha o direito de me dizer algo naquele quarto hospitalar, pois se eu o traí - ainda que uma única vez - ele também havia feito o mesmo inúmeras vezes. Somente por esta razão o homem não fez um estardalhaço e apenas se foi sem dizer nada.
Como eu disse, eu tive minha resposta no momento que pus meus olhos em Soomin e a pequena me sorriu, ela era filha de Jimin. Não havia formas de negar, pois a pequena era a cara de Jimin, desde as bochechas fofinhas com olhos em formato de risquinhos até os lábios rosados e cheinhos.
A alegria em meu peito era maior por saber que ela era fruto de uma noite de amor puro e de um sentimento que até mesmo ali eu ainda tinha, eu amava plenamente o pai da minha filha, eu amava Park Jimin.
Se fosse um filho de Ruan eu o amaria por seu meu filho e daria tanto amor quando darei a pequena Soomin, mas teria o desprazer de continuar a empurrar o fardo que era aquele casamento ao lado de um homem que jamais fui capaz de amar.
Em poucas semanas já estávamos na residência de meus pais que preparam tudo para nossa chegada ali. Apenas alguns dias depois recebi uma carta judicial que alertava-me que o homem com o qual casei havia dado entrada no processo de divórcio me poupando esse trabalho.
Meus pais foram discretos e me deram o meu tempo, não me forçaram a lhes contar o óbvio, apenas esperaram pacientemente meu momento e me ajudaram a esconder a verdade. Quando Soomin havia feito um mês eu lhes chamei para conversar e contei detalhadamente o ocorrido. Eles ouviram tudo silenciosamente e depois de uma troca de olhares eles esbanjaram toda sua felicidade.
Pais… Céus, eu realmente não consigo compreendê-los!
A felicidade era tanta por saber que Soomin era de fato filha de Jimin e não de Ruan que só faltou eles soltarem fogos em plena luz do dia. Só que a felicidade durou pouco quando afirmei que não queria que os Park descobrissem, vi seu sorriso murchar e uma incógnita se formar. Foi uma discussão complicada porque na mente de meus pais não havia razão para esconder.
Se fosse pela lógica, os Park ficariam felizes com a descoberta ou até mesmo mais felizes que meus próprios pais, contudo meu medo era Jimin. Mesmo estando longe eu sabia que antes de entrar para faculdade Jimin fez testes em diversas agências de entretenimento e que algumas haviam lhe chamado para fazer entrevistas após ser selecionado.
Já no tempo da faculdade pelo que entendi uma das agências havia o chamado para se tornar um trainee e enfim ele pôde seguir o sonho de se tornar um idol. Jimin já trilhava um caminho brilhante e um filho não cabia em seus planos, ele não desejava um relacionamento, que dirá um filho. Dizer aos Park que eles haviam ganhado um herdeiro seria uma felicidade e a destruição de um sonho.
Conhecendo Jimin ele largaria tudo, provavelmente procuraria um trabalho qualquer que lhe pagasse o suficiente e tentaria dar tudo e mais um pouco a sua filha. Por está razão eu tomei a decisão mais difícil da minha vida, eu neguei a Jimin e aos Park o direito de saber a verdade. Fui egoísta e fugi com um filho do homem que eu amo.
Ser um idol requer tempo e compromisso, um filho também, por isso um filho não cabia no sonho de ser um idol e nem mesmo poderia ser escondido da mídia com o conhecimento do pai. Jimin me odiaria eternamente se descobrisse a verdade algum dia, mas preferi correr o risco de ter seu ódio do que arruinar seu sonho com a minha decisão do passado de levar a gravidez adiante sabendo eu muito bem que poderia ter tirado a criança sem o conhecimento de todo mundo.
Nunca cogitei a hipótese do aborto, sendo filho de um ou de outro homem, ainda era meu filho e era em mim que crescia e se movia a cada novo mês. Foi meu fardo esconder na gravidez a verdade e seria meu fardo escondê-la durante a vida. Daria todo o suporte a pequena para que nada lhe faltasse e sem dúvida mataria aquele que tentasse feri-la.
Foram semanas de discussões entre meus pais e eu, eles não queriam aceitar minha decisão, mas eu estava irredutível quanto a isso. Posso dizer que os venci pelo cansaço, minha pequena era minha e somente minha, ninguém deveria saber quem era seu progenitor.
Durante o período em que ainda estive na Coreia do Sul tive que ter muita cautela com relação aos Park que sempre tentavam ir me visitar para conhecer a criança que eles jamais imaginavam ser sua neta, mas sempre dávamos desculpas esfarrapadas para esconder a identidade da pequena.
Com o tempo isso foi ficando complicado e quando a pequena tinha 5 meses decidimos que o melhor era me afastar da casa dos meus pais que sempre fora tão frequentada pelos Park, um descuido de nossa parte e tudo estaria arruinado. Depois de muito pensar, resolvi me mudar não só de distrito ou cidade, mas de país.
Arrumei minhas coisas depois de falar brevemente minha situação com minha avó materna e prontamente fui atendida. Foi duro ter que deixar meus pais que tanto me ajudaram, foi doloroso esconder a verdade dos Park, mas foi dilacerante omitir uma coisa tão importante de Jimin.
Viajei para Espanha com minha pequena em meus braços e o coração apertado pelo distanciamento, mas sabia que era o necessário. Vivi basicamente esses 4 anos em prol dos cuidados de Soomin, mudei meu ritmo de vida já que meu trabalho antigo não me permitia estar junto de minha pequena da forma que queria e até mesmo fiz um curso com a ajuda de minha avó para cuidar de Soomin neste meio tempo.
Fiz curso de fotografia, pois sempre tive gosto pela área e ao mesmo tempo a profissão me dava flexibilidade para cuidar da minha pequena ajudando minha avó no que podia. Foram anos importantes da minha vida onde pude construir uma instabilidade financeira e emocional.
Posso dizer que Soomin me ensinou diversas coisas, ela me ensinou a ser mãe, me ajudou a amadurecer e a enxergar a vida de outros ângulos. Não existia coisa melhor do que chegar cansada em casa depois de um longo dia de trabalho e ser recebida com seu doce sorriso junto de um “seja bem vinda mamãe!”.
Ela é meu tudo e minha razão para viver dia após dia. Passei momentos difíceis ao seu lado quando ela adoecia como qualquer criança e eu simplesmente desabava em choro. No fundo ela é meu porto seguro e quando não está bem sinto como se fosse perdê-la.
Não é fácil ser mãe solteira, existem momentos que um homem lhe faz falta, outros em que a falta do pai desequilibra as coisas à nossa volta. Não importa que digam que mulheres são auto-suficientes e que podem muito bem criar seus filhos sem um auxílio do sexo oposto, isso não passa de uma grande mentira.
Não digo que seja impossível, porém não é fácil viver dessa forma. Às vezes o que falta é o amparo de alguém em momentos que você vê seu filho frágil e desejoso por cuidados que você sozinha não pode dar, não importa o quão completa sou na vida de Soomin, sei que sempre faltará algo, por mais que queira preencher esta lacuna em sua vida eu nunca serei capaz de substituir totalmente a falta do pai.
Soomin ainda é pequena e não compreende direito as coisas, mas sem que conforme cresce sinto meu peito se comprir em frustração por saber que em breve serei questionada com mais afinco sobre seu pai. Ainda agora, onde termino de verificar nossa bagagem e passagens não tenho certeza do que ocorrerá em breve.
Olho para as paredes do pequeno quarto cedido por minha avó e sinto a melancolia por deixar o cômodo que por tantas vezes presenciou meu choro de frustração, mas que agora será deixado para trás. Estou pronta para partir mais uma vez e agora apenas me resta olhar para frente e aguardar o que de mim será feito pela vida.
Saio do quarto levando toda bagagem para o andar de baixo as deixando na sala e sigo novamente ao andar de cima, paro em frente a porta de madeira clara com a pequena plaquinha de unicórnio pendurada e adentro o cômodo em busca de minha criança.
Não está dormindo o que talvez não seja novidade, varro o quarto com os olhos e o barulho de água vindo de seu pequeno banheiro me faz rir na mesma hora. Ah tão ansiosa… Bem, ela teve a quem puxar.
Olho o relógio em meu pulso e vejo que a hora passou rapidamente, são 7:12 e nosso vôo está marcado para às 8:40, tenho que apressar minha pequena. Separo um vestido rodado com pequenas borboletas na borda, seu preferido, e um par de sapatilhas. Deixo sua pequena mochilinha com uma muda de roupas limpas caso haja alguma emergência e precise trocá-la.
Tudo pronto vejo se não esqueceu algum brinquedo perdido no quarto e percebo que tudo já está empacotado e devidamente etiquetado para ser mandando ainda essa semana. O necessário já foi mandando previamente e por agora o que levaremos são nossas roupas e coisas bem básicas. Olho para porta do banheiro e como sempre um sorriso me escapa ao ver que faz uma pose engraçada já esperando que eu olhasse na sua direção e logo a tenho em meus braços.
- Omma!! - minha pequena se agarra a mim ainda meio molhada do seu banho e me dá um beijo estalado na bochecha.
- Bom dia meu anjo - deposito um selar na pontinha de seu nariz e ela gargalha se agarrando ao meu pescoço - pronta para a viagem?
- Siiim!! - responde empolgada me mostrando o sorriso perfeito que faz seus olhos quase desaparecem em fofura.
Em meio a conversas com minha pequena que demonstra toda sua empolgação vou lhe arrumando e verificando sempre a hora, faço por último duas maria chiquinhas em seus fios lisos e ajeito sua franjinha a deixando uma verdadeira boneca. Pego nossas últimas coisas por ali e desço me despedindo de cada cômodo da casa que por anos me acolheu perfeitamente.
Não há tempo para tomarmos café e a única coisa que faço é dar novamente um abraço apertado na senhora já cheia de rugas que tinha um olhar marejado e cheio de emoção com nossa partida. Ela me abraça e faz suas recomendações como toda boa avó, agarra-se a Soomin que faz bico por saber que não verá sua vovó Marie por um longo período.
Ah é tão doloroso partir de Madri quanto foi partir da Coréia e veja só, para lá estou voltando e por isso não sei se me sinto feliz em voltar ou sinto saudade por partir.
Pego uma maçã para mim e um suquinho com bolinhos caso Soomin sinta fome no caminho e depois de muitos choros, beijos e palavras de conforto entre nós três a buzina do táxi ressoa e anuncia que a hora de ir finalmente chegou.
Dou um último abraço em minha avó e depósito um selar em sua testa com a promessa de em breve voltar para visitá -la e logo começo a levar as bagagens até o carro enquanto vejo Soomin finalmente se despedir da avó com a carinha de choro. É duro para nós duas, mas isto é para dar uma vida melhor a Soomin.
Com tudo guardado ajeito minha bolsa no ombro e pego a pequena em meu colo que se aninha e afunda o rosto na curvatura de meu pescoço, provavelmente deseja esconder que está chorando e por fim agradeço tudo o que minha avó fez para mim. Entramos no táxi e a última coisa que vejo é minha avó acenar em despedida enquanto vejo tudo ao nosso redor se passar em vultos.
Não será fácil, nem mesmo será calmo, mas desejo que lá sejamos felizes como sempre fomos na Espanha. Não importa que tudo seja novo e conturbado, ela está ao meu lado e isso é tudo o que importa, mesmo que o medo me diga que algo pode dar errado nesta nova fase vou encarar, tenho certeza que fiz a escolha certa ao aceitar a proposta.
É para o bem de Soomin e isto para mim já basta.
Se terei novos desafios a frente também não me importo, já passei por momentos que achei que desistiria de tudo e cá estou eu firme e forte. Então se a vida ainda me reserva algo que seja, não sou mais a mesma menina de 19 anos com uma criança recém nascida nos braços e um papel de divorciada na bolsa, sou uma mulher formada e dona da minha vida, independente e definitivamente mais forte.
Se tudo foi obra do destino para transcorrer desta forma não sei, mas se assim for, só desejo que um dia o vazio que ainda persiste em se manter em meu peito se vá e que no lugar dele floresça um novo sentimento… Talvez esse sentimento seja o que sempre tive medo, talvez ele seja amor...
Continua...
Autor(a): manwol
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