Fanfic: Linzsister | Tema: Bangtan Boys, BTS
Dispersa, assim eu me encontrava.
Ser praticamente carregada pelos seguranças porta adentro definitivamente não foi uma das melhores coisas que já me aconteceu, mas dado as circunstâncias, se não o fizessem por mim eu ainda estaria estacada em meu assento.
O olhar surpreso que tomou meus colegas foi quase assustador, se via o olhar de pena que alguns me lançaram naquele momento, era como se eu estivesse indo para algum abatedouro.
Caminhar normalmente dentro do lugar era uma tarefa difícil, a dispersão me tomava de uma maneira que nem sequer prestava atenção na conversa que acontecia a poucos metros de mim.
O olhar desbravador vasculhava cada centímetro do lugar, me perdia dentro das ramificações de corredores, aquele lugar era quase um labirinto. Eu achava que não teria como encontrar coisas piores naquele laboratório, mas entendi de imediato que estava equivocada.
As grandes salas com janelas de vidro permitiam a observação clara do que acontecia em cada divisão, as plaquinhas com nomes de setores também permitiam um entendimento maior do lugar, mas o susto com tantas novidades me deixava confusa.
Pelos lugares que fui encaminhada a cada esquina virada havia uma nova surpresa, a ala de animais em testes foi a que mais me chamou a atenção, chimpanzés respondiam aos estímulos feitos por algumas pessoas do outro lado do vidro; do outro lado uma tomografia de outro chimpanzé adormecido era feita também.
Havia muito instrumental por onde quer que se olhasse, testes eram feitos a todo vapor com os animais que encontrei pelo caminho. Alguns espécimes mantidas em cubas com substâncias davam arrepios, a forma que alguns animais estavam enjaulados também era repugnante.
A área de necropsia foi horripilante, mesmo que seja acostumada a autópsias em animais para estudo, aquilo de alguma forma parecia desumano e cruel, tão infame quanto os testes com crianças.
Perdida dentro do meu mundo fui arrancada de meus pensamentos de forma grosseira pela voz firme do Kim mais velho que teve meu olhar frio para com sua figura.
- Você ao menos está prestando atenção no que estamos falando garota?! - a irritação presente em sua voz me enojava e portanto não tardei a responder.
- E você sabia que eu tenho um nome? - oh claro, o choque foi grande, mas obviamente toda a raiva que resguardei durante esse tempo não tardou a aparecer.
- Como é?! Olha aqui garota, trate de se por no seu devido lugar ou eu te jogo no olho da rua!
- Duvido muito que faça - respondi com cinismo - está escrito no contrato que não serei demitida e tão pouco sofrerei algo se caso colaborar com vocês.
- Eu vou matar essa garota Namjoon! Já disse que ela me dá nos nervos!! Péssima ideia trazê-la - berrou com o irmão que suspirou vendo a situação constrangedora que acontecia no meio do corredor.
- Não, você não vai fazer isso porque sabe que dependemos dela neste momento. Mantenha sua compostura Jin, por favor - a voz calma do rapaz me desestabiliza em certo ponto e faz o mais velho quase rosnar pela raiva até decidir sair andando por um dos corredores ao longe.
- A senhorita tem um gênio forte não é mesmo? - o ar de deboche presente na fala do mais novo me faz estalar a língua em desaprovação - interessante, mas de qualquer forma você parece não ter muito juízo…
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que seu senso de perigo parece não funcionar claramente neste momento, sabe que somos a autoridade e não pensa duas vezes antes de responder Jin hyung… Está mexendo em uma casa de marimbondos, se não tiver cautela será ferroada.
- Que subjetivo não é mesmo? Saiba que não tenho medo dele ou de qualquer um aqui dentro, se eu soubesse tudo que teria que aturar jamais assinaria o maldito contrato!
- Você teve sua escolha, assinou porque quis - o sorrisinho cínico no canto dos lábios do mais novo era irritante e me segurei muito para não xingá-lo no ato - não se deve chorar pelo leite derramado.
- Alguém já disse que você parece um ajusshi cheio de metáforas ultrapassadas? - revirei os olhos irritada com tudo.
- Não, mas aceito o elogio pertinente de bom grado.
- Ah quer saber? Vai se fud…
- Já chega vocês dois - com a interrupção do mais velho lhe lancei meu pior olhar que foi ignorado e ao fundo ouvi a risadinha infame do Kim mais novo - por céus! Já basta os chiliques de Jin.
- Foi ela que começou - me acusou na cara de pau.
- Taehyung, eu disse chega - Namjoon repreendeu o mais novo mais uma vez que fez uma perfeita cara de bunda para meu lado assim como o grosseiro Kim mais velho.
- Aff você está se tornando mais chato que o Jin, literalmente! - cuspindo as palavras no ar o Kim mais novo repetiu o mesmo ato de Jin e sumiu de meu campo de visão por outro corredor desconhecido.
Restando apenas eu, Namjoon, senhor Shinzui e dois seguranças o clima pesou desconfortavelmente. Suspirando inúmeras vezes o homem olhava para tudo a sua volta menos para mim, parecia encabulado e meio sem saber por onde começar uma conversa.
Eu já estava desconfortável antes, que dirá naquela situação, em menos de cinco minutos eu fui capaz de brigar com dois dos meus chefes e ainda criei discórdia entre a família… Sou sortuda não é mesmo? Palmas para mim depois dessa.
- Em sua ficha não dizia nada como isso, mentiu na hora da entrevista de emprego senhorita Lee? - finalmente direcionando seu olhar para mim o Kim atraiu meu olhar diretamente para o seu me fazendo negar levemente com a cabeça sua afirmação - nos deem licença por favor Shinzui-sii, eu resolvo daqui em diante.
Dito isto o corredor se esvaziou, restando apenas um Kim meio enraivecido e eu em sua extensão. Palavras nos faltavam, mas pelo menos em comparação com os outros ele parecia ser mais sereno e bem menos desbocado.
- Gostaria que as coisas tivessem sido de uma maneira bem mais sutil, mas a senhorita não colaborou muito para isso. Jin é desconfiado e Taehyung é atrevido, mas a senhorita… Não entrando nestes pontos, mas acho que concordamos que há erros dos dois lados.
- Eles foram grosseiros, eu só revidei.
- Sei disso, peço desculpa em nome deles por isso, mas seja um pouco compreensiva neste momento… - Kim ponderou alguns instantes antes de prosseguir - estamos passando por uma situação complicada neste exato instante e os nervos de todos estão a flor da pele.
- Pouco me interessa seus problemas, eu quero ir embora. Eu não pedi promoção alguma e muito menos fiz por merecer tal coisa, exijo ser devolvida a meu posto.
- Infelizmente não é possível senhorita Lee, não é questão de querer ou não, nós necessitamos de seu serviços e seguindo as diretrizes do contrato você o fará.
- É só o que vocês sabem falar? Maldito seja este contrato! Se eu pudesse denunciaria tudo isso, é absurdo!! Não adianta usar de sua voz mansa para me enganar, tudo que ocorre aqui é ilegal!
- Ilegal ou não a senhorita já está por dentro de todas as cláusulas dele e sabe que já quebrou mais da metade das regras - paralisada com suas palavras da raiva passei a ficar assustada - o que foi? Achou que não sabíamos? Ou melhor, achou que eu não sabia? Francamente, você não é inocente a tal ponto.
- Desde quando..?
- Desde sempre, você sabe que tudo que acontece lá fora tem vigilância total e uma pessoa que demonstra total desinteresse passar a ler compulsivamente todos os arquivos levanta suspeitas além do normal.
- Droga…
- Você deu brecha para que qualquer um naquele lugar descobrisse Lee, se não fosse por minha interferência você já teria sido pega a meses. Disse a todos que eu lhe designei a estudos individualizados sobre a estrutura do projeto, se não o fizesse você já estaria em um lugar bem longe daqui.
- Não me surpreende que tenha dedo de vocês nas represálias a quem deseja sair deste inferno, mas me proteger? Conte outra! Por que razão me ajudaria? Eu sou só mais um dos seus fantoches!
- Isso não é verdade, eles podem não querer reconhecer, mas você tem talento nato. Não me importa verdadeiramente que você seja contra nossos princípios, admiro você pela coragem, mas a advirto sobre a imprudência. Eu sabia que você tinha não só bom conhecimento do que fazia como também tinha paixão.
- Jura? Usar de sentimentalismo não vai te ajudar a me convencer a trabalhar verdadeiramente aqui.
- Não seja assim, você sabe tanto quanto eu que foi uma escolha sua, não adianta nada jogar suas frustrações em nós, seja digna e assuma o teor de suas decisões. Eu não quero brigar com você, tampouco quero ser seu inimigo, eu quero firmar um acordo entre nós. Você nos ajuda e nós lhe ajudamos.
- Aí está o ponto, eu não quero sua ajuda. Eu quero ir embora dessa droga de lugar!
- Se é o que quer posso lhe dar isso.
- O que disse..?
- É isso mesmo, se quer tanto ir embora eu deixo, sem restrições de contrato. Eu mesmo lhe demito com tudo que tem direito pago, lhe darei bons benefícios com uma saída tranquila se concordar em manter o silêncio depois. Eu só necessito que colabore desta vez e mais nada, logo estará livre, basta me ajudar.
- Está falando sério? O que me garante que não serei enganada?
- Tem minha palavra quanto a isso e me certificarei que um novo contrato de demissão seja emitido a você com anulação de todas as cláusulas do contrato anterior com a condição de silêncio da sua parte.
- O que raios aconteceu para você me oferecer algo desse tipo?
- Oh, agora aparece um pouco interessada não é mesmo? Bem, digamos que estamos a um fio de perder mais de cem anos de pesquisa por conta de algum erro bobo que não encontramos, mas que esperamos verdadeiramente que você seja capaz de descobrir.
- Cem anos? - involuntariamente meus olhos se arregalaram em perplexidade e o mais velho me confirma.
- Sim, são muitos anos de estudo e pesquisa para serem desperdiçados, por isso estamos em estado de alerta geral. Como pode ver logo pela manhã o pessoal ficou eriçado e desesperado porque entramos no estágio dois de alerta e consequentemente algum idiota contou a Jin sobre isso.
- Ele não sabia?
- Não, eu pedi para que não o contassem por conhecer o temperamento de Jin, mas digamos que aqui dentro existem pessoas e pessoas.
- Está dizendo que há pessoas que querem prejudicar sua relação com seu irmão?
- Como esperado você tem um raciocínio rápido. Me admira que tenha se oposto a Jin, aliás não entendo porque estava tão dispersa desde o início… A senhorita é uma verdadeira caixinha de surpresas.
- Dispersa é pouco, o que esperavam de mim? Um sorriso de orelha a orelha logo depois de ser carregada como um saco de batatas por aqueles brutamontes que vocês chamam de segurança?! Francamente, olhe ao seu redor. Vocês fazem todo um teatro dizendo que esta é a área restrita, depois, da noite pro dia me trazem para cá e não esperam que eu fique chocada com tudo isso que vi? Só uma pessoa sem noção para cogitar algo desse tipo.
- Não há nada demais no que viu até o momento, são pesquisas neurológicas, nenhum animal é maltratado ou está em condições precárias. Deveria ver como eles eram tratados antes de vir para cá.
- Ah claro, vocês são defensores dos animais - ditei em escárnio - pena que não se importam em escravizar crianças enquanto testam substâncias tóxicas nelas não é mesmo?!
- O que?! - o espanto na face de Namjoon parecia verídico, mas eu não cederia facilmente ao seu teatro - do que está falando? Ficou louca? De onde tirou essa ideia estúpida??
- De lugar nenhum! Eu vi com meus próprios olhos, vocês tratam aquelas crianças de qualquer forma, elas ficam largadas naquela sala como indigentes para depois serem usadas e descartadas!
- Você tem noção do tamanho da bobagem que está falando? - a risada abafada de Namjoon atingiu meus ouvidos e logo a raiva começou a aflorar em mim novamente - não diga coisas que não sabe e muito menos tire conclusões precipitadas sobre nós, isso é deveras injusto de sua parte.
- Injusto? Ah claro deve ter tudo uma explicação lógica e boba. Eu sei como é, acho super normal trancar crianças em um laboratório para testar substâncias estranhas nelas.
- Olha eu não sei quem te falou isso, mas é mentira. Nós não maltratamos ninguém aqui, nós… Olha, tem certeza que você quer ter esse tipo de conversa nesse lugar? Estamos parados aqui a um tempo discutindo banalidades. Eu já entendi que você não gosta e nem confia em nós, mas você deve ao menos me dar uma chance de te mostrar que não é como você pensa. Tenho certeza que se você me ouvir vai repensar a nosso respeito.
- Não acho que nada do que vá me falar vai mudar minha opinião, mas tem sua chance.
- Ótimo, então me siga - dito isso nos dispomos a caminhar novamente comigo em seu encalço e não tardou a que Namjoon começasse suas explicações - acredito que você já tenha uma boa noção do projeto já que dedicou tanto tempo estudando-o, mas deve sentir que faltam partes naqueles arquivos.
- Sim, a sensação de partes faltando fica claro a partir do momento que li o segundo arquivo de 2008.
- Bem, isso é intencional. Não queremos que qualquer curioso se aprofunde em nossas pesquisas sem a devida confiança no sujeito.
- Eu não sou um poço de confiança e mesmo assim tive acesso a tudo.
- Sim, tudo aquilo que eu queria que tivesse acesso. A grande maioria dos arquivos fica aqui dentro, pois lá fora não estão devidamente seguros. Agora olhando bem para todos os dados você também verá que eles são superficiais e não citam com clareza os dados obtidos nos anos de pesquisa.
- É mais fácil você se questionar o que não falta lá. Sabe quantas noites perdi tentando entender o que era feito com aquilo? Aliás, o que são aqueles genes que nos deram para estudo?
- Calma, uma coisa de cada vez. Vamos pelo início, você não deve saber a história do Linzsister…
- Claro que sei, ele foi elaborado no início da empresa, foi o primeiro projeto das empresas Kim.
- Errado - pontuou sem hesitar.
- Errado? Como assim?
- Para início de conversa Linzsister não era chamado dessa forma, ao início de tudo seu nome era ROAR. Ele existe muito antes do surgimento da empresa, é o projeto número um da família Kim, gostamos de denominá-lo 001. Tem mais de cem anos que os primeiros dados de ROAR foram criados, ele teve origem no final do século XVIII por Janet Roar.
- Janet Roar?! Está falando da renomada paleontóloga irlandesa Janet Roar de 1873?
- Sim, a própria, ela foi a progenitora de tudo isso que você vê aqui hoje. Janet é minha décima avó ou decavó se preferir assim. Ela se casou ainda na juventude com Kim Hyun, mas nunca alterou o sobrenome então poucos sabiam da sua união com o homem apesar de seus filhos herdarem o sobrenome do pai.
- Isso é.. É impossível! Nenhum livro cita ela como uma mulher casada, muito menos fala dela ser casada com um coreano!
- Meu avô ganhou cidadania irlandesa por se casar com ela então acredito que boa parte de seus documentos foram perdidos se for considerar a organização dos antigos, mas isso não vem ao caso porque é verdade. O importante é que minha avó foi o ponto chave para esta pesquisa. A família Kim é extremamente conhecida por sua prática de seguimento de carreira na área das ciências humanas.
- Eu já ouvi falar disso, mas achei que era mentira… - comentei baixo observando alguns gatos presos em gaiolas em uma sala próxima.
- Não, é verdade, quase todos da família Kim sempre partem para a área das ciências humanas e prosseguem os estudos iniciados por nossa avó, é quase como uma brincadeira familiar. Um tipo de desafio que cada geração tenta enfim fazer funcionar, mas a quatro gerações atrás o projeto ficou estagnado porque segundo transcrições de nossos antecedentes não havia resolução para o projeto. Até mesmo meu pai não se dispôs a prosseguir com os estudos de ROAR.
- E ele não deveria ter sido descartado de uma vez então? - indaguei o óbvio.
- Não é tão simples, além disso não foi bem por não querer desenvolver o projeto, a família Kim teve problemas financeiros graves em outras gerações. Infelizmente ROAR, assim como Linzsister tem um custo altíssimo para desenvolvimento como deve imaginar. Nem mesmo nós o retomaríamos se não fosse pelos estímulos de nossa irmã que via no projeto a solução para os problemas do mundo.
- Tolice da parte dela crer nisso, não há salvação para o mundo.
- Tolos são aqueles que desistem antes mesmo de tentar Lee, pense nisso como uma perspectiva de vida.
Não sabia ao certo que rumo aquela conversa estava tomando, mas parecia distorcida do meu ponto de vista e… Céus! Janet Roar, a Janet Roar a quem tanto admirei era avó deles… Cara isso é tão fantástico! Não espera…
Não posso me desvirtuar tão facilmente. E se ele estiver me enganando? Ele pode muito bem ter me investigado e descoberto que eu tinha certo fascínio pela destreza e inteligência da mulher em pleno século XVIII.
Nada me garante que isso não se trata de uma emboscada para me estimular a ajudá-los, entretanto… Não me recordo de dizer meus gostos em nenhuma das entrevistas que fiz, também não tenho o costume de fazer pesquisas na internet por preferir os livros convencionais.
De onde ele poderia ter descoberto isso..?
E se for verdade? Se ele diz a verdade então a pessoa o qual tanto admirei é na verdade uma pessoa má? Janet seria capaz de projetar algo que ferisse crianças inocentes? Ahh eu já não sei o que pensar!
- Desta forma os processos foram induzidos a… Você está me ouvindo Lee? - a pergunta me pega desprevenida e sinto o rubor nas bochechas crescer gradativamente, é uma verdadeira droga ser desligada.
- Sim!
- Tem certeza? - afirmei com a cabeça ainda envergonhada - então do que eu estava falando?
- Eu… Você dizia… Dizia algo sobre.. Sobre sua avó..?
- Não, não dizia nada sobre minha avó - vi Namjoon respirar fundo e parar gradativamente sua caminhada até se virar totalmente para mim - já entendi que não há motivos para explicar as coisas detalhadamente porque a senhorita não costuma prestar atenção… Sendo assim, que tal partirmos para a prática? Acho que quando tiver interesse vai procurar informações por si só.
- Prática? Do que está falando?
- Você saberia se prestasse atenção no que eu estou falando desde o início - a frase regada de deboche me faz estalar a língua cruzando os braços, estou próxima de falar coisas desagradáveis ao homem que ri da minha cara feia - mas já que tem tanto interesse nos meus dizeres eu repito: chegamos a incubadora.
- Incubadora? - observando com mais calma onde estamos parados o olhar discreto de Namjoon cai em direção a duas grandes portas metálicas que me chamam atenção.
O lugar é mais afastado do resto das salas, não há pessoas passando por aqui, estamos sós no corredor extenso. O ar gélido que transpassa pela brecha na porta atinge com rispidez minha face e um suspiro pesado me escapa.
Não sei ao certo o que há no dito local, mas uma sensação estranha me desconcentra do que ocorre ao meu redor. Involuntariamente um de meus braços se ergue em direção a porta, há uma energia diferente sendo emanada do lugar ou eu estou ficando louca.
Dedilhando cautelosamente a porta metálica, meus dígitos escorrem pela parte plana até parar sobre a pequena placa com a nomenclatura do lugar que está exposta. O que é essa sensação..? O que está acontecendo comigo..? É como se eu... O que é isso..?
- Curiosa sobre o que tem aí? - as palavras de Namjoon são propositais, ele sabe que estou imersa em algo que nem eu mesmo sei e se usa disso para brincar com meus pensamentos.
- O que é a incubadora? - ignorando seu questionamento minha pergunta ecoa pelo corredor e sem obter resposta me volto a seu corpo parado ao meu lado.
- Não sei se há palavras certas para explicar o que ela representa, mas sendo sucinto… A incubadora é o coração do Linzsister - há melancolia em sua fala e seu olhar é vago, o homem até então de postura firme e sinuosa agora se mostra fraco.
- Coração você diz… O que é o Linzsister afinal? Você diz muitas coisas, mas não diz o que é necessário.
- É um bom argumento - um risinho desconcertado escapa do homem deixando suas covinhas a mostra - não sou a melhor pessoa para lhe explicar isso, essa parte era do Jin, mas você fez questão de afastá-lo…
- Devemos realmente voltar a este ponto?
- Não, não vamos voltar - se dirigindo a lateral da porta ele digita uma sequência numérica que não sou capaz de ver e por último sua mão é escaneada até que uma luz verde acima da porta se acende. O som da trava sendo liberada logo ecoa pelo corredor e Namjoon retorna ao meu lado segurando firmemente a maçaneta que é puxada sem preocupação pelo homem.
O primeiro fio de luz que escapa pela fenda na porta me cega, demoro alguns poucos segundos até normalizar minha visão e finalmente o que me rodeia ganha forma e cores.
- Você primeiro? - cavalheirismo dispensável é imposto pelo homem que me indica a entrar antes de si - não podemos deixar essa porta muito tempo aberta…
Me alertando com o comentário dou o primeiro passo para adentrar o lugar e pouco depois sinto o homem fechar a porta atrás de mim. Minha primeira visão é ampla, há muitas pessoas estudando em seus computadores e a conversa ocorre em tom baixo pelo lugar.
O ambiente é mais sutil dos que vi anteriormente e parece ser relativamente calmo, ao longe uma mulher se aproxima de nós. Ela é tão alta quanto Namjoon, loira de curvas esbeltas que indicam claramente que a mulher não é coreana.
Os grandes olhos em tom mel são hipnotizantes e nem mesmo sua armação quadricular é capaz de inferir sua beleza rara. Me sinto oprimida pela delicadeza e formosura que a mulher esbanja, ela é definitivamente tudo o que considero de mais feminino em uma mulher.
Ela é linda...
Me retenho sob o olhar detalhista que ela lança sobre mim e sinto o fraquejar em minhas pernas. O aroma adocicado do perfume que usa logo me enlaça e ao meu lado vejo o homem sorrir largamente para a mulher.
Não tenho certeza se estou equivocada sobre minhas suposições, mas seria possível que haja algo entre esses dois? A beleza de ambos poderia ser um atrativo, o ar intelectual também, porém o maior indicador disso é a face alegrada do homem e o pequeno sorriso no canto dos finos lábios da mulher.
- Lee, gostaria de lhe apresentar uma pessoa - o tom ameno que usa me chama atenção, Namjoon me sorri verdadeiramente pela primeira vez naquele dia enfadonho.
- Namjoon - a mulher de voz aguda para próximo de nós com uma prancheta em mãos que só agora pude notar - foi bom que tenha chegado.
- Perdão pela demora. Lee, quero que conheça Lívia, doutora Jung Lívia.
Meu olhar se volta para a figura da mulher que parece analisar-me detalhadamente da mesma forma que faço consigo.
Ela não parece intimidadora, tampouco demonstra desprezo em seu olhar, ela apenas busca analisar minhas feições.
- É um prazer lhe conhecer pessoalmente Lee - vejo Lívia se curvar levemente em respeito e correspondo de imediato me curvando também.
- Gostaria de dizer que é um prazer também, mas infelizmente não estava em meus planos estar aqui - não me contendo sobre meus pensamentos solto a frase que chama a atenção de alguns que passam por ali no momento e faz a mulher rir.
- Omo..! Ninguém disse que ela era tão sincera assim - a gargalhada da mulher me assusta, ela parece se divertir com minha fala e ao meu lado Namjoon suspira inconformado - já gostei de você.
- Lívia seja mais trivial - Namjoon repreende a mulher que dá de ombros me sorrindo - pelo menos na frente das outras pessoas… - o resmungo baixo de Namjoon me faz contorcer a face involuntariamente, quem é esse homem ao meu lado?
- Trivialismo fica para próxima vez, quem sabe na frente de seus investidores Nam.
Aquele momento foi único, Namjoon quase teve um infarto ao que a mulher ditou um apelido de forma carinhosa para consigo. Juro que segurei ao máximo meu riso, mas foi involuntário.
Comecei a rir assim que vi as bochechas do homem ganhar tons rosados e a mulher rir desavergonhadamente de tudo. Ele realmente ficou constrangido e eu não fui capaz de manter o profissionalismo naquele momento.
- Lívia! - o homem renegou a frase da mulher que sem pensar duas vezes enlaçou meu braço me puxando para seu lado me deixando confusa.
- Não seja tão ranzinza, está parecendo o Jin! - ela fez uma careta engraçada e Namjoon bufou - você fez um bom trabalho, agora deixe que daqui em diante eu assumo.
Sem nem mais um dizer ou permitir contestamentos a mulher saiu me puxando pelo lugar até então desconhecido.
Juro que vi o homem a olhar de forma fulminante, como quem promete trucidar a pessoa posteriormente. Ela no entanto pouco se importou com isso e só fez rir mais.
- Não ligue para ele, ele parece mal humorado e ranzinza na grande parte das vezes, mas é uma pessoa doce e gentil. É uma coisa de família sabe, gosto de dizer que eles tem bipolaridade genérica.
- Eu não tenho certeza se estou sonhando tudo o que está acontecendo ou se eu fui abduzida, mas definitivamente isso está muito errado… Diga que estou sonhando e que eu vou acordar e ver que tudo não passou de um pesadelo.
- Não diga tolices! Você está bem acordada e relativamente atrasada. Estou lhe aguardando a mais de meia hora sabia?
- Me aguardando? - mesmo querendo prestar atenção no que a mulher dizia meus olhos recaíram para o meu entorno que era bem diferente do que eu vi.
Muitas salas com armários a perder de vista recheados de arquivos. Mas por que tantos arquivos? A pequena placa em duas portas também aguça meus sentidos, a dita cuja “sala de testes” e “sala de recrutamento” soam peculiares dentro dos corredores do lugar.
O alto padrão tecnológico também é estranhado por mim, há coisas por ali que sequer vi em minha vida, aparelhagem também nunca foi o meu forte.
Os painéis com dados em folha presos a medida que nos aprofundamos mais pelo lugar são estranhos e alguns pude até reconhecer como a mesma fórmula molecular e DNA estranhos que nos foi apresentada.
Os pensamentos a mil me confundem, as poucas linhas que consigo ler em algumas planilhas me recordam os dados que coletei em todo o estudo que fiz nos últimos meses sobre o projeto estranho.
O que é tudo isso exatamente..?
- Gosta de tudo que vê? - o ar descontraído na fala de Lívia é incompatível com tudo que vejo em meu entorno, seria possível encontrar uma só pessoa normal dentro desse lugar?
- Gostar não é bem a palavra que eu usaria, talvez inconformada tenha um teor mais propício - dito soltando meu braço do aperto da mulher que me fita profundamente.
- Por que diz isso? Algo aqui não lhe agrada?
- Você ainda pergunta? Óbvio que sim! Tudo aqui me perturba, é desumano, cruel e ilegal! Não entendo o que fizeram com todos vocês, mas isto é loucura! Onde já se viu brincar desta forma com a ciência?! - dito caminhando logo ao seu lado.
- Acho que estamos tendo conflitos de informação aqui, nada do que diz faz sentido para mim Lee… Eu gostaria muito de lhe escutar e saber o que está havendo, mas não há tempo para isso. Nesse momento todos meus anos de trabalho junto com a de muitos outros cientistas está prestes a ir ralo abaixo, não podemos perder muito tempo aqui.
- Todos vocês dizem isso e eu sinceramente não compreendo, até ontem eu não tinha o direito nem de olhar para a porta que dava acesso a “área restrita”, hoje dizem que dependem de mim… Estão todos loucos?
- Gosto de pensar que o mundo dá voltas, hoje você pode ser um ninguém sem ter o que comer e amanhã pode ser a pessoa mais rica do mundo, tudo depende das oportunidades que aparecem ao nosso entorno e principalmente se vamos agarrá-la… Gosta de ficção científica?
- Minha resposta vem ao caso?
- Era só para descontrair, você é muito séria - a mulher sorriu em minha direção arrumando seus óculos - acho que já entendi o problema, você parece estar irritada por não ter informações, mas não se preocupe, não sou como os outros aqui. Sou a médica chefe da incubadora, não há nada que eu não saiba ou que não possa lhe dizer.
- Então comece dizendo porque raios fui trazida aqui.
- Precisamos de seu conhecimento em botânica, o nosso melhor espécime depende de você para sobreviver.
- Espécime? Mas espere um pouco, eu não tenho formação em botânica...
- Nós sabemos disso, mas você é filha de Dong-Sun e Hae-Won, eles eram nossos melhores especialistas… Se atendo a isso você já era para estar aqui a muito tempo! Portanto se você não é a melhor pessoa para isso então nós não sabemos quem será.
Parando de caminhar imediatamente me sinto congelar ao ouvir o nome de meus pais de forma tão familiar, a mulher para também apenas para constatar meu espanto e possivelmente minha palidez excessiva.
Como assim eles trabalharam nisso..? Meus pais? As pessoas que tanto admiro pela integridade e profissionalismo?! Como pode eles fazerem parte disso?!!
- Pela sua cara isso é novidade para você, eles nunca contaram que trabalharam conosco? - neguei sutilmente com a cabeça ainda em choque e ela sorriu amável se aproximando de mim - entendo… Bem, não foi por um tempo muito longo, sua mãe ficou menos tempo que seu pai, ambos ficaram cerca de quatro anos conosco. Sua mãe saiu ainda no final do primeiro ano de trabalho para cuidar de você que era recém nascida. Depois que você já estava um pouquinho maior nós propomos que ela voltasse com você mesmo, lembro como você era um bebê rechonchudo e de sorriso doce correndo por aqui.
- Ela me trouxe para cá..? Impossível - neguei com veemência - este laboratório tem pouco tempo desde sua construção, eu tenho 25 anos, este lugar não tem mais tempo que isso, meus pais disseram que um de seus amigos precisavam de pessoal para trabalhar no novo laboratório aqui e… - me calei imediatamente processando o que eu mesmo dizia.
- Já entendeu o rumo disso não? - parei alguns instantes fitando a mulher até minha ficha cair por completo - o “amigo” de quem falavam é o Kim Gi-Ho, pai de Namjoon, Jin e Taehyung. Eles trabalharam juntos por serem amigos de faculdade, o projeto foi retomado pelos meninos, mas quem auxiliou tudo foram seus pais Lee, este lugar já tem 28 anos de construção.
- Por que eles nunca me contaram..? E-eu não entendo… - mesmo que involuntariamente senti meu rosto molhar, eu chorava, estava mais perdida do que nunca e agora com muitas dúvidas a respeito da minha ligação com meus pais.
- Ah, bem… Houve uma briga entre o senhor Kim e o irmão mais velho dele, Kim Gi-Hei. Quando isso aconteceu seus pais foram demitidos por culpa das intervenções de Gi-Hei e, como na época Gi-Ho não tinha condições de contestar ele somente permitiu as idiotices do irmão. Mas não se preocupe com isso, não há desentendimentos entre seus pais e Gi-Ho, ele até tentou contratá-los, mas eles disseram que não queriam se focar tanto em trabalho por ter você ainda pequena.
- Meus pais nunca contaram nada disso… Eu não sei o que pensar… Não acredito que eles tenham feito parte disso! Eles não são assim, vocês matam crianças, fazem testes em animais… Eles nunca… Nunca fariam isso…
- Não fazemos nada disso, que tipo de monstro faria coisas desse tipo? Seus pais nunca permitiriam maus tratos a crianças, não ouviu quando eu disse que eles traziam você aqui? Você brincava por esses corredores Lee, dava comida aos animais e desenhava nos rascunhos que fazíamos, acha mesmo que traríamos uma criança para dentro de um lugar ruim?
- Você me conhece? Conheceu meus pais? Como?? Você não parece ser tão velha…
- Vou levar isso como um elogio. Eu realmente sou nova Lee, tenho 29 anos e sou uma das muitas crianças que foram trazidas até aqui no ROAR ou o dito cujo Linzsister.
- Você o que..?
- É isso que te incomoda? As crianças? Sou uma delas Lee e estou bem viva aqui não é? Lhe aviso de antemão que nunca testaram nada em mim, nunca me maltrataram nem me machucaram, sou grata a eles. Não acho que convém entrarmos neste assunto, mas se é isso que mais lhe aflige agora eu garanto que nada de mal é feito a essas crianças.
- Mas elas somem repentinamente e nunca mais voltam… Sempre estão maltrapilhas e com aspecto doente…
- Claro, lá na frente elas estão na quarentena e muitas chegam debilitadas, não me admira que tenham um aspecto doente. Quando “somem” elas vão para internação e assim por diante. É tudo um processo necessário Lee, parece maus tratos a olhos leigos, mas na realidade são processos delicados que todos que chegam aqui precisam passar para estabilizar sua saúde. Lee eu realmente gostaria de sanar todas as suas dúvidas neste momento, mas seus conhecimentos são mais necessários do que qualquer outra coisa, não chore por favor…
Acolhida no abraço de Lívia acalmo todos os meus sentidos, eu realmente estou confusa, mas agora ouvindo um pouco mais me sinto menos desconfortável com toda a situação. Lívia parece ser uma pessoa sincera, ela tem um ar de mãe, é acolhedora e me sinto bem em seu abraço.
Sei que há muito mais para ser descoberto aqui, mas tudo será no tempo certo. Ainda não tenho certeza absoluta se é correto ajudar essas pessoas sem de fato estar apar de tudo, mas se o que ela diz é verdade… Não tenho o que temer em ajudar essas pessoas.
Meus pais sempre foram íntegros e jamais seriam coniventes com coisas erradas, ainda que tenham mentido acredito fielmente que há uma justificativa para tudo e não irei deixar de lado, dentro do possível indagarei a eles sobre tudo.
Com carinhos suaves no topo de minha cabeça sou capaz de conter as lágrimas insistentes e aos poucos conter os soluços, devo estar deplorável, hoje vivi um dia trágico que pode ser comparado perfeitamente a uma montanha russa, cheio de altos e baixos, adrenalina dilatando todos os vasos capilares… Céus, estou a beira de desfalecer, mas ainda tenho aquele desejo absurdo de ter um pouco mais disso.
- Se acalme uh - Lívia me afasta calmamente de seu peito e seca meu rosto com os polegares - não gosto de lhe ver chorando, você fica mais linda quando sorri. Vamos, sorria, sorria - ela brinca com a ponta do meu nariz fazendo uma voz infantil e apesar de ser contraditório e ridículo acabo por sorrir - quero lhe mostrar o melhor desse lugar, quero que conheça meu escritório particular - ela sorri bobamente pensando um pouco - eu vou lhe mostrar o coração do Linzsister, a incubadora é grande, mas meu escritório é o ponto crucial daqui. Venha pequena, quero que conheça a Matriz.
Continua...
Autor(a): manwol
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+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Caminhamos poucos corredores depois da afirmação de Lívia, o dito cujo lugar não era distante, mas a segurança em seu entorno era consideravelmente maior. Muitos seguranças guardavam as áreas e segundo o que a mulher me disse apenas pessoas privilegiadas tinham acesso ao seu “escrit&oacu ...
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