Fanfic: Linzsister | Tema: Bangtan Boys, BTS
Caminhamos poucos corredores depois da afirmação de Lívia, o dito cujo lugar não era distante, mas a segurança em seu entorno era consideravelmente maior.
Muitos seguranças guardavam as áreas e segundo o que a mulher me disse apenas pessoas privilegiadas tinham acesso ao seu “escritório”. Deveras era suspeito, mas preferi não intervir com perguntas aleatórias naquele momento.
Lívia era mais do que conhecida dentro das instalações, tanto que não haviam barreiras para sua passagem, mas quando minha presença era notada todos exigiam minha identificação, até mesmo minha biometria foi escaneada quando chegamos em uma sala que antecedia a matriz.
Fora muito cansativo ter que processar tantos fatos de uma só vez e ainda ter que me manter calma e serena a cada nova descoberta ditada pela mulher, mas dentro do possível me manti estável. No fim das contas eu estava mais que curiosa para entender onde tudo aquilo iria terminar.
- Chegamos pequena - chamando minha atenção com um toque sutil em meus ombros a mulher comunicou que a tal matriz estaria logo atrás de uma porta simplória se comparada as demais por qual tivemos que passar.
Eu diria que ela era… Comum? Sim, acho que comum a descrevia com clareza, pois para mim aquilo era uma porta normal como se encontra em casas ou apartamentos. Ela era bonitinha até, branca com alguns entalhes de ramos, mas dentro do contexto do lugar se fazia ser estranha.
Aposto que minha cara de certo desapontamento foi percebido pela mulher que riu abafado, mas também, depois de tantas coisas de certa forma “incríveis” que vi eu esperava algo maior e com mais… Magnitude..?
- Tenho certeza que vai gostar mais do que está lá dentro - Lívia citou risonha enquanto passava seu cartão magnético na trava da porta, o que me afirmou que até ali naquela porta simples havia tecnologia de última geração.
- Não acho que tenha nada que eu possa gostar aqui dentro, mas que seja - afirmei dando de ombros até a trava ser aberta e a mulher me dar passagem para o lugar.
Era… Escuro?
Não entendi a princípio o sentido da coisa, mas observando de forma periférica o ambiente apenas tinha a luz dos monitores e aparelhagem para permitir nossa visão, havia cerca de dez pessoas mexendo em seus computadores e apenas alguns olharam em nossa direção.
Eu diria que era um lugar normal e comum se não fosse pela escuridão excessiva, um pouco de luz não faz mal a ninguém. Me guiando pelo local, Lívia me levou até o centro do salão bem em frente a alguns monitores até então desligados que com apenas um movimento sutil de mão fez as telas se acenderem e repentinamente hologramas de cores distintas e gráficos completamente estranhos surgiram em nosso entorno.
Se eu me assustei? Levei um susto filho da mãe, quase caí no chão na verdade, mas consegui disfarçar apenas dando um leve pulinho para o lado da mulher que riu da minha reação surpresa.
Céus… O que era aquilo.?! Me esquecendo do breve susto que levei tomei a iniciativa e me aproximei dos hologramas que flutuavam no ar. Era a coisa mais incrível que eu já havia visto em toda minha vida acadêmica, eu já tinha ouvido falar desse tipo de tecnologia, mas pensei que era algo como um protótipo em experimento para o futuro e não algo que já vinha sendo utilizado.
Dava uma vontade enorme de tocar, eles literalmente estavam sendo projetados no ar, nem mesmo uma película de vidro era usada para reflexão, eles apenas surgiram bem diante de meus olhos. Se não bastasse a tecnologia de ponta ainda tinha os dados que apareciam, informações de todos os tipos sobre o Linzsister e algumas estatísticas também.
Códigos genéticos rodopiavam pelas telas e cálculos eram feitos pelo próprio mecanismo do computador, resultados de dados coletados eram lançados a todo momento com informações cada vez mais precisas e em algumas telas surgiam vez ou outra símbolos de alerta sobre algo errado, não sei se era no sistema ou em outra parte, mas o mecanismo fazia questão de alertar toda hora emitindo um sinal agudo.
Lívia vendo meu encanto permitiu que eu literalmente me divertisse movimentando das telas de um lado para o outro e até mesmo ler alguns dados que surgiam diante de meus olhos, mas infelizmente eu não era capaz de entender tudo, eu não tinha tanto conhecimento sobre aquilo para saber o que era processado ali.
- Divertido não é? - Lívia brincou e apenas acenei positivamente sem desgrudar os olhos das telas vibrantes - todos ficam assim quando veem isso, mas sinto ter que acabar com seu divertimento - ela suspirou começando a digitar algo sobre a bancada com diversos comandos e botões - eu preciso que resolva algo para mim Lee, eu ainda temo que você possa ter dificuldade quanto a isso por não saber de tudo… Mas de qualquer forma não há mais tempo, quero que veja uma coisa.
Repentinamente alguns hologramas sumiram e outros bem mais complexos e detalhados surgiram, porém com uma novidade estranhamente peculiar, dados vitais..?
- Hanamori?! - Lívia chamou de certa forma alto e não tardou até uma menina de traços finos chegar ao nosso encalço - tem os dados que lhe pedi para coletar? Preciso dar isto a Lee e.. Ah perdão, Lee esta é Hanamori ou Hana como ela gosta de ser chamada - Lívia apontou para a menina que fez uma leve reverência assim como eu - ela é meu braço direito aqui dentro, qualquer dúvida que tenha pode perguntar para ela na minha ausência. Ela é responsável pela coleta de dados do estado físico dos espécimes…
A conversa tinha um tom de naturalidade, mas quando Lívia pronunciou o termo “espécimes” não sei se foi impressão minha ou se de fato partiu da mulher, mas soou com certa repulsa e isso me intrigou bastante.
- É uma honra lhe conhecer senhorita Lee, já ouvi muito a seu respeito - ela sorriu amável - espero nos darmos bem - afirmou estendendo uma prancheta a Lívia que pegou e passou a ler - tudo que me pediu está aí e tomei a liberdade de inserir os últimos dados que coletei a duas horas atrás, acho que deveria dar uma olhada Lívia-ssi.
- Estou vendo… Os leucócitos estão tão baixos… - Lívia comentou mexendo com os hologramas e comparando os dados escritos na prancheta - houve perda de peso recente?
- Sim senhora, na última semana perdeu quase 5kg, apresentou desidratação e durante a madrugada quebrou novamente a iluminação… Já não sabemos o que fazer a respeito.
- Certo, Lee chegue mais perto criança - me atentando ao chamado fiquei ao seu lado onde ela organizou quatro hologramas principais onde a estrutura de um corpo ficava ao lado de dados que mudavam a todo momento - estes são os nossos quatro espécimes, quero que observe com cautela cada um.
- Espécimes? São bactérias ou fungos? - questionei vendo a mulher negar com a cabeça e tornei a observar os hologramas até minha ficha cair - animais..?
- Podemos dizer que são quase isso - Lívia comentou limpando a garganta para prosseguir - são criaturas que tiveram código genético alterado, são híbridos humanos.
- Híbridos humanos?! - afirmei indignada - você me disse que não faziam testes em crianças e nem em animais, você mentiu?!
- Controle seu tom de voz mocinha, eu não fiz isso - ela disse irritada e bufou tão inconformada quanto eu - isso é obra de Kim Gi-Hei, foi a causa para discórdia entre a família Kim e consequentemente o maior problema de ROAR… Mas nada disso vem ao caso no momento, eu preciso que preste atenção nisto - apontou para os hologramas - não fomos nós que os fizemos, mas tomamos a responsabilidade e atualmente eles são justamente aquilo que sempre necessitamos, mesmo que não seja o correto.
- O que quer dizer?
- Nós não criamos as mutações por nossa própria vontade Lee-ssi - Hana interviu - durante o tempo que o senhor Gi-Hei assumiu o projeto na tentativa de lucrar em cima disso ele dirigiu estudos longe de nós e somente quando o senhor Gi-Ho retomou seu posto que nós descobrimos o que ele havia feito, mas aí já era tarde demais… Ele não foi muito longe, mas o que fez já gerou problemas muito grandes.
- Ele criou híbridos? Ele é louco? Aliás isto é possível?? Eu não posso acreditar nisso! É simplesmente loucura e cientificamente impossível.
- Não, não é impossível, ele fez uso de estudo convencionais de misturas genéticas para alimentos por exemplo. Usando-se disso como um princípio básico realmente poderia chegar a algum lugar, só não cogitamos que ele fosse tão… Longe… - Lívia suspirou sacudindo a cabeça negativamente - veja, temos o espécime 526, espécime 739, espécime 948 e por último espécime 1001…
- Por que o nome deles é um número? - indaguei olhando alguns dados.
- O número representa qual foi o experimento que obteve êxito… É uma nomenclatura estúpida, mas a diretoria simplesmente os chama de espécimes, nem mesmo os dá um nome decente… Infelizmente não há nada que possamos fazer quanto a isso.
- Quer dizer que antes do espécime 526 foram feitos 525 testes que deram errado?! Está dizendo que fizeram testes loucos para no fim criar uma aberração?! Este homem tem que ser preso! Que absurdo!!
- Penso como você, mas uma vez feito não há como ser desfeito, principalmente se tratando de uma vida… - Lívia suspirou até que a tela soou novamente um sinal de alerta e um dos hologramas reluziu o tom vermelho.
- Lívia-ssi, 1001 está com queda acentuada de temperatura novamente. Neste momento está com 21°C, devo seda-lo?
- Não, mantenha-o em observação e mande avisar Namjoon que seja feito o reparo ainda hoje da iluminação - Lívia ditou para a menina que se curvou e saiu rapidamente da sala - venha comigo Lee.
Sem dizer outras coisas a mulher simplesmente saiu andando em direção a uma pequena porta que nos levou até uma espécie de cúpula. Estávamos sobre uma grandiosa cúpula transparente dividida em quatro compartimentos.
Me senti insegura de imediato por odiar lugares altos e mesmo tendo certeza que as pontes de ferro maciço que nos mantinha no alto eram seguras eu ainda sentia o frio na barriga de nervoso. As pontes formavam um X sobre a cúpula e nos permitiam a visão privilegiada do que ocorria embaixo, logo minha curiosidade foi aflorada.
- Esses são os habitats de cada espécime, tome - ela me passou a prancheta - aí tem os dados de cada um caso queira alguma informação adjacente. Veja, naquele primeiro compartimento está o espécime 526 ao qual me perguntou, ele é o primeiro e também mais velho, ele tem 29 anos - ela afirmou apontando para um quarto aparentemente normal e com iluminação baixa já que apenas o abajur em cima do criado estava aceso - ele está dormindo neste momento e, bem, ele dorme quase o tempo inteiro na verdade, mas acorda para suas refeições e é muito independente também.
- 29 anos? É muito tempo… Deveria viver tanto tempo assim?
- Como tudo que acontece aqui é experimental, não sabemos ao certo a estimativa de vida de um híbrido, mas acreditamos que dependendo da raça ao qual foi gerado o híbrido uns podem viver mais e outros menos… O 526 é um híbrido de gato, como o projeto já tem muito tempo eles preferiram começar usando um animal bem simples e fácil de se usar no código genético, acreditamos que ele tenha uma estimativa de vida de aproximadamente 50 anos, mas se o código humano prevalecer neste quesito ele pode chegar aos seus 70 ou 80 anos sob nossos cuidados.
- Gato… Ele realmente… É como nos desenhos animados? Sabe, orelhas e rabo felpudo… - indaguei curiosa por não conseguir ver com clareza a figura adormecida e relaxada sobre a cama.
- Ah, não - Lívia riu - não exatamente, como ele foi um projétil inicial ele não tem mutação completa. Em outras palavras ele fisicamente é muito semelhante a um ser humano comum, mas ele não age exatamente como um. Quando usamos algumas medicações para identificar o hibridismo contudo, ele se torna capaz de fazer a metamorfose periférica.
- Metamorfose? Algo como mudar a aparência em si?
- Exato, usando as medicações conseguimos que ele adquira traços mais animais, as orelhas até aparecem, mas rabo não - ela riu vendo minha cara de curiosidade sobre o que dizia - ah, mas ele ganha unhas bem afiadas e dentinhos mais pontiagudos, porém como é um gato ele é bem dócil… Talvez seja só um pouco anti-social.
- Entendo… E naquele quarto ali? O de luz amarela - observei melhor o segundo compartimento que parecia ser um pouco diferente do outro.
Esse tinha cores amenas e os objetos do lugar me faziam lembrar a selva africana, havia muita palha e grama seca no chão formando uma camada espessa sob a criatura que estava sentada sobre seu amontoado. As paredes eram em um tom azul claro e pelos arredores haviam troncos de árvore e algumas pedras medianas. Havia inclusive marcas significantes de arranhões nas paredes e nos troncos como se uma verdadeira fera tivesse o marcado… Era de certa forma assustador.
- Ah esse é o espécime 739, ele também é um projétil da época de Kim Gi-Hei… Este é um pouco mais complexo, foi o segundo espécime que deu certo… É um híbrido de leão.
- Leão?! Fala de um leão de verdade? Daqueles da selva??
- Sim, eu tenho quase certeza que Gi-Hei tinha certo apreço pelos felinos porque seus dois experimentos foram focados neles… Não foi uma escolha muito sábia, leões por si só costumam ter sérios problemas na genética e isso não era muito válido para o que ele planejava, acredito que mesmo o espécime tendo dado certo ele acabou por dar um tiro no próprio pé…
- Qual era a função de criar híbridos no fim das contas? Eu não entendo porque criar algo como isso, é como pecar contra Deus! Estão tentando criar algo que nunca deveria existir.
- De fato você não está errada, eu concordo plenamente com seu pensamento, mas o propósito em si é para que eles tragam a cura para o mundo… Gi-Hei pretendia revolucionar a humanidade, ele queria criar uma nova raça, uma mais forte, mais evoluída, mais poderosa… Mas isso seria impossível de qualquer forma, era uma ideologia tola e obsoleta. Gi-Ho pelo contrário não tinha este mesmo pensamento, ele manteve os princípios de Janet Roar, eles queriam trazer a cura para determinadas doenças, mas infelizmente não é tão fácil - a mulher ditou suspirando.
- Não seria mais correto investir em medicamentos convencionais? Porque usar uma pessoa para isso? Eles eram crianças não?
- Seria mais fácil ir por caminhos convencionais, mas não teria a mesma eficácia. Porém não se preocupe, nossa função aqui é outra - Lívia sorriu para me tranquilizar - o espécime 739 é um pouco temperamental e sensível, ele costumeiramente passa o dia mexendo na serragem que deixamos a sua disposição, tem uma excelente coordenação motora e é capaz de criar até mesmo ferramentas rudimentares com as coisas que deixamos a sua disposição.
- Mas ele parece ser diferente do outro… Ele é capaz de fazer metamorfose também?
- Quase todos são, mas o 739 ao contrário dos demais gosta do aspecto animal então poucas serão as vezes que o verá completamente em forma humana… Ele também não tem muitas alterações físicas, nele não aparece orelhas ou rabo, apenas os caninos proeminentes, as garras bem afiadas e o cabelo maior que o normal.
- Então aparentemente é como uma pessoa normal?
- Basicamente sim, esses dois foram criação da época de Gi-Hei, agora quero que conheça os nossos híbridos - ela afirmou se virando para outra extremidade da barra de ferro - aquele ali foi o nosso primeiro que deu certo, partimos do mesmo princípio rústico usado por eles, mas usamos técnicas mais avançadas e um código genético mais elaborado. Consertamos erros presentes no genes antes de fazer dar certo e, ao contrário dele que usou de fato crianças para isso, nós usamos de inseminação in vitro. Duas das nossas voluntárias foram inseminadas e portanto as crianças já nasceram com a alteração genética, foram geradas assim desde o ventre de suas progenitoras.
- Mas as mulheres sabiam do que estavam participando? Digo, elas sabiam que geraram crianças híbridas?
- Claro, elas faziam parte do nosso corpo científico - ela afirmou como se fosse óbvio - aí na prancheta você encontrará seus dados, o espécime 948 foi o primeiro que conseguimos por esse método, sua progenitora foi Park Eunha e ele nasceu em 1995 por cesariana. Um híbrido de coelho, ele era um lindo espécime desde seu nascimento… Oh veja ele está acordado!
Olhando atentamente para o local onde a mulher apontava havia um belo par de olhos azul ciano nos observando profundamente. O corpo esguio e aparentemente pequeno se encaixavam perfeitamente com o aspecto delicado que a criatura transmitia, as orelhas em pé e em alerta afirmavam que ele podia nos ouvir com clareza já que elas se agitavam a qualquer ruído que fazíamos.
Ele tinha bochechas gordinhas, lábios grossos e bem desenhados, cabelos em tom cinza claro e olhos puxados como os meus… Um híbrido asiático? Isso para mim é novidade, mas também era justificável, sua progenitora era asiática e portanto um filho gerado por si deveria ao menos reter um resquício de sua genética.
Repentinamente a criatura sorriu fofamente em nossa direção e suas orelhas se abaixaram completamente e mesmo de longe pude ver suas bochechas ganharem um tom rosado forte, oh… Era tão bonitinho… Mas também tão absurdamente errado… Droga!
Lívia sorriu ao ato do menino que virou as costas e foi mexer em seu pequeno jardim, sim ele tinha um jardim em seu habitat, grama verdinha e baixa com bastante flores coloridas adornando o local. Um pequeno riacho artificial também permitia dar encanto e beleza que nos remetia a uma natureza verdadeira. A iluminação do local era grande, bastante luz que acredito simular a luz solar assim como no do espécime 739.
- Ele sempre faz isso quando venho lhe visitar… Me pergunto o que passa na cabeça dele - ela sorriu chamando minha atenção - sabe, esta cúpula em volta deles não permite que vejam quem está do lado de fora, ela é espelhada então de dentro eles tem uma imagem holográfica de um ambiente natural de cada espécie, mas de fora vemos o que eles fazem. Porém este espécime sempre olha para cima quando estamos aqui e no fim acaba sorrindo dessa forma até se esconder.
- Tem certeza que ele não é capaz de nos ver? Ele parecia ver claramente a nós e parecia nos ouvir também, coelhos têm uma audição extremamente aguçada e visão noturna para que sejam capazes de fugir de predadores e…
- Conhece bastante coisa sobre animais silvestres não é mesmo? - Lívia brincou quando suspirei - não faça essa cara, isso é ótimo! Precisamos desse conhecimento, mas respondendo a sua pergunta, não, ele não pode nos ver nem nos ouvir, acredito que ele apenas faça porque gosta ou coisa do tipo… Não é bem a minha área questões comportamentais.
- O que há ali? - perguntei me referindo ao total breu dentro do último compartimento - não dá para ver nada…
- Bem, esse é nosso atual problema - Lívia respirou fundo - primeiro eu gostaria de deixar claro que ele é diferente dos outros… Ele é… Único por assim dizer - ela mexeu em alguns monitores referentes ao compartimento da criatura que fez a tela desenhar um contorno azulado quase se misturando ao preto do ambiente - vê este contorno na tela? Só conseguimos imagens dele assim, temos que usar a câmera térmica porque nas convencionais ele não costuma aparecer.
- Por que está tão azul? Não deveria estar amarelo ou laranja? Para ter essa coloração a temperatura corporal tem que estar muito baixa…
- Exato, ele gosta de nos perturbar abaixando a própria temperatura corporal para enganar o sistema. Para lhe ser bem exata este espécime não deveria nem mesmo ter sido criado, mas por muito insistência de Shinzui os diretores permitiram que ele fosse levado a laboratório de criação. Ele não é uma linhagem pura, ele foi feito com traços genéticos de vários animais, pois Shinzui acreditou que para consertar um erro no código genético ele deveria usar os melhores traços de outras criaturas e assim gerar um espécime sem falhas ou sem problemas pela mutação.
- Isso é absurdo só de ouvir, que dirá de se fazer… Os outros tem falhas para aquele idiota querer fazer algo desse tipo?
- Bem, o 526 tem problemas respiratórios graves devido a bronquite crônica que os gatos possuem; o 739 tem problemas atrofióticos, sua estrutura óssea é grossa demais e em algumas parte seu corpo se sobressai como animal, periodicamente ele sofre com problemas de dores porque o corpo humano não sustenta muito bem a formação óssea de um leão; já o 948 frequentemente tem alergias de pele, ele tem hipersensibilidade dérmica, a espessura da pele é fina demais e consequentemente traz malefícios a saúde dele. Em outras palavras, para Shinzui todos que vieram antes de 1001 foram falhas.
- E o que ele é exatamente? - me referi a criatura parada no mesmo ponto a tanto tempo sem mover um músculo.
- Shinzui afirma ser um híbrido de lobo… Mas temos total certeza que há mutações genéticas de várias criaturas, ele apenas não nos diz qual foi e se nega a afirmar para qualquer um que seja. Para falar a verdade nem os diretores têm em mãos o que foi usado para criá-lo.
- Isso não é errado? Ter algo que não se sabe o que é…
- Do ponto de vista científico ele tem o respaldo para fazer tal coisa, além disso ele é alguém que trabalhou aqui desde o princípio, ele ajudou Gi-Hei e nos ajuda também… Apesar de criar algo que nem ele tem controle ele ainda conseguiu a “perfeição” que tanto buscou.
- Então é isso que chamam de perfeição? - afirmei desacreditada com os dados que apareciam da criatura.
Todos estavam completamente em desordem, os sinais vitais da criatura estavam fora de padrões aceitáveis, taxas hormonais baixas demais… Ele poderia facilmente morrer se continuasse daquela forma.
- Isto está muito longe de ser perfeito, na realidade estamos a um fio de perdê-lo - Lívia apontou os sinais vitais da criatura - vê, ele está bradicárdico, hipotenso, dispneico, hipotérmico… E nós simplesmente não sabemos com exatidão porque. Ele simplesmente faz isso com o próprio corpo quando tem vontade até que perde o controle e enfim definha sob nossos cuidados…
- Mas deve haver alguma razão para isso não? Ele não pode mudar tudo isso no próprio corpo, são coisas que vão além das capacidades de qualquer ser humano.
- Este é o ponto, ele não é um humano qualquer - ela suspirou ao que a tela emitiu um novo alerta - ele é um híbrido, um bem temperamental na realidade. Nós não sabemos ao certo que está acontecendo com ele nos últimos meses, mas seu temperamento se tornou deveras complicado… Ele sempre teve problemas com a luminosidade, não importa quantas vezes nós a consertamos, ele sempre torna a quebrá-la, já usamos diversos tipos de mecanismos para o impedir, mas nada adianta e passado alguns dias ele faz o belo serviço de queimar o sistema ou quebrar mesmo.
- Ele tem hipersensibilidade a luz? Algum problema na visão?
- Não, nada. Já fizemos exames de vista e nunca encontramos nada que evidencie algum problema, é algo dele, como se gostasse da escuridão. O problema nisso tudo é que ele necessita receber luz solar para sua pele absorver nutrientes provenientes dela, além disso a falta de luz vem descompensando o organismo como um todo… Ele também não quer mais se alimentar, já trocamos a ração e nem assim… É como se ele estivesse tentando se matar literalmente.
- Ele é racional como os outros?
- Não, nenhum deles é na realidade.
- Como?
- Aparentemente uma das consequências da mutação genética é uma deficiência na fala dos híbridos, até mesmo o 526 que é o mais antigo demorou consideravelmente para aprender a se comunicar, pelo que me recordo ele só veio a aprender completamente por volta dos 18 anos. Dentre todos ele é o único capaz de falar tranquilamente conosco, mas… Ele também não gosta de falar, sempre fica muito calado. Os demais tem a fala ainda sendo desenvolvida, o 739 usa muito a linguagem de sinais, pois sua fala é meio enrolada e o 948 fala quase sempre, mas é em terceira pessoa… Não sabemos porque ele faz isso, talvez seja algo dele ou então tenha relação com sua genética, o importante é que ele simplesmente faz isso.
- Isso não deveria ser investigado mais a fundo? Digo, a fala deles não deveria ser assim, na verdade nada deveria ser assim… A cada minuto que passa sinto que a loucura de vocês piora.
- Não seja assim, isso soa muito ofensivo a mim e ao meu trabalho, isso tudo é muito sério Lee… Sei que não é fácil ouvir tudo de uma só vez e ter que entender, mas espero que ao menos seja compreensiva - Lívia se exaltou - vidas dependem de tudo que acontece aqui dentro e se você vai agir assim fica muito difícil te ajudar.
- Me desculpe, mas até onde me recordo nunca pedi para estar envolvida nisso - respondi grosseira e Lívia me olhou indiferente - mas de qualquer forma prossiga, se Namjoon for um homem de palavra como diz, quanto antes terminar com isso mais rapidamente poderei me ver livre de tudo.
- Certo - Lívia afirmou desanimada com minhas palavras - como eu dizia… Os três primeiros espécimes conseguiram desenvolver a linguagem mesmo que de forma meio deficiente, mas… 1001 nunca aprendeu o que tentamos lhe ensinar, não corresponde aos estímulos, não é sociável, ele é… Diferente.
- Existe algum motivo para isso?
- Acreditamos que seja por causa das diversas misturas genéticas, é o único argumento plausível para nos basearmos. Seu habitat foi criado para ser o mais semelhante possível a de um lobo, mas ele sempre destrói tudo que tem lá dentro, inclusive as luzes… Quando depositamos a comida no seu compartimento ele nem a toca, antes devorava tudo e não deixava nem os ossos, mas agora nem se aproxima. Ele perdeu bastante peso com isso e acreditamos que esteja doente também, mas seda-lo neste momento é impossível - vi a mulher digitar algo no computador a nossa frente - sua saúde está fragilizada e uma sedação pode levá-lo a óbito, portanto seu propósito aqui seria descobrir o que há em seu habitat para que a criatura a odeie tanto e assim pare de destruir as coisas, quem sabe até mesmo volte a comer.
- Preciso dos dados da construção do lugar e dados da criatura, preciso saber do que ele foi feito, não há como descobrir o problema sem os dados - afirmei lendo os dados incompletos na prancheta.
- Tudo que temos está aí, resumidamente, mas ainda assim é tudo - Lívia respondeu simplória.
- Mas isso não dá nem para o começo e.. - parei respirando profundamente antes de prosseguir - tá, legal, beleza, maravilha! Pelo menos tragam-no para alguma sala ou sei lá o que tenha aqui para coletar dados, preciso fazer exames e entender o que está acontecendo, talvez algo esteja passando despercebido por vocês.
- Desculpe, mas isso é impossível.
- Como?
- Não podemos tirar o espécime de lá porque nunca fizemos isso antes, desde seu nascimento ele foi criado ali dentro, ele nunca teve contato com humanos de verdade, quando realmente necessitamos fazer exames nós o sedamos com dardos.
- Dardos? Espera, está dizendo que ele nunca saiu dali? Aquela coisa foi alimentada por um buraco e nunca viu a luz do dia durante todos os anos de sua vida?!
- Basicamente sim, infelizmente não é possível como é com os demais espécimes, o 1001 é completamente diferente, ele não come a ração com sedativos como os outros e também seu crescimento foi surpreendentemente diferente de qualquer outra criatura. Ele se desenvolveu muito rapidamente, com três anos de vida ele já tinha o tamanho de uma criança de sete anos, hoje com os dezenove ele… É do tamanho de um homem adulto, mas a sua forma física é quase animalesca. Sendo bem sincera com você Lee, eu só fui capaz de vê-lo duas vezes em todos esses anos que trabalho aqui e sua aparência é bem… Diferente - Lívia limpou a garganta - sinto muito não poder ser mais útil, mas terá que descobrir as coisas por si só, neste momento não há como manuseá-lo como estamos acostumados e nem mesmo nos comunicarmos… Sei que será difícil e que olhando como pessoas normais é impossível, mas a vida deste espécime é mais do que significante para nós.
- O que me pedem desde o início é impossível, agora então… Não posso fazer milagres, além disto não ser meu trabalho ou minha área as coisas estão completamente difíceis, não seria mais fácil desistir? Não seria melhor simplesmente permitir que a natureza faça seu trabalho e a criatura morra? Isto não era nem mesmo para existir, que dirá sobreviver… Vocês não tem contato com ela e ela nunca viu vocês, sabe-se lá se ele não é agressivo ou coisa do tipo.
- Ele é agressivo, bastante na verdade - a mulher respondeu simplória - ele quase matou um técnico de enfermagem durante uma coleta de sangue porque ele não foi completamente sedado, já era de se esperar já que é híbrido de um lobo, eles são carnívoros.
- Acha isso normal? Vocês criaram uma arma de matar, esse bicho está definhando lá dentro e vocês agem como se isso fosse normal, deveriam agradecer aos céus por isso estar morrendo e não me implorar para salvá-lo.
- Perder 1001 está fora de cogitação - sua imparcialidade me incomodou - ele é o resultado de mais de cem anos de estudo, ele significa a vida para pessoas desacreditadas, ele foi capaz de salvar a vida de pessoas sem nem mesmo estar pronto para isso Lee… Agora que está maduro o suficiente… Justo agora que estávamos tão perto… Não me importo que você ache tolice ou que repudie tudo que fazemos, tudo isso pode ser tolerado perfeitamente por nós, mas agora independente do seu achismo você tem umaobrigação maior, ou um objetivo se assim preferir. Você tem até 72 horas para salvar este espécime, salve ele se quiser lá na frente ser salva também porque por mais irônico que isto soe, este “bicho” como você diz representa a salvação da humanidade.
Continua...
Autor(a): manwol
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