Fanfic: A Noiva do Capitão - Adaptada Vondy; Finalizada | Tema: Vondy, Época
Dul apertou o passo e sumiu atrás de uma casa de pedra baixa e longa, com telhado inclinado de sapé. Quando se viu sozinha, ela pôs os braços sobre o abdome e se abraçou apertado. Seus dentes batiam e a pele toda formigava. Ela se sentiu um pouco culpada por deixar Christopher sozinho e sob um falso pretexto. Não havia nenhuma mulher entrando em trabalho de parto naquele vilarejo.
Pelo menos nenhuma que Dul conhecesse.
Mas ela viu uma ovelha dando de mamar para dois cordeirinhos em um cercado de pedra atrás da casa e decidiu que isso bastava para que ela não tivesse mentido. Quando a multidão se fechou à volta dela, o frio também se aproximou. Ela soube que precisava se afastar e a verdade nunca servia de desculpa. Aquela lição lhe foi ensinada repetidas vezes ao longo de sua vida. Se ela implorasse para ser liberada de uma obrigação social apenas por ser tímida demais, sua família e suas amigas nunca acreditavam nela.
Todos insistiam que ela só precisava tentar.
Eles a pressionavam e a forçavam, falando sobre como se divertiria. Às vezes, eles prometiam. Mas nunca era diferente. Há muito tempo Dul tinha aceitado a verdade. Os mesmos eventos que levavam alegria e diversão para os outros eram uma tortura para ela.
E ninguém nunca a compreenderia.
Depois que se acalmou, ela foi até a esquina da casa e observou a cena. As mulheres continuavam ao redor de Christopher e a cesta de produtos de beleza. Elas pegavam os frascos que ele oferecia e examinavam os potes de creme, conversando e rindo entre si. Ele destampou uma garrafa de água de colônia e a estendeu para que uma moça de cabelo cobreado sentisse o aroma. Depois de inspirar com cuidado, a jovem riu e continuou sorrindo. Uma coloração rosada lhe chegou às faces sardentas. Dul suspeitou que aquilo não tinha nada a ver com o perfume e sim com o belo entregador.
Minha nossa, como ele estava bonito. O sol da manhã destacava os tons de ruivo no cabelo dele e transformava sua pele em bronze. Christopher emanava um ar tranquilo de autoridade. Ele estava confortável ali. Era provável que tivesse crescido em um vilarejo muito parecido com aquele. Ele sabia exatamente como cumprimentar cada um dos aldeões que se aproximava, desde a mais velha das avós até o jovem curioso que descia dos pastos na encosta. Quando viu que a cesta de Christopher tinha sido esvaziada e que as mulheres começavam a voltar para suas casas carregando seus novos tesouros, Dul saiu de seu esconderijo. Eles se despediram das crianças e dos cachorros e começaram a caminhada de volta. Christopher não parecia nem um pouco satisfeito com ela.
— Foi uma brincadeira e tanto que você me armou, me abandonando para bancar o vendedor ambulante com as jovens.
— Eu não acho que elas estavam interessadas nos meus presentes. Acredito que estavam curiosas a seu respeito.
— Eu teria feito melhor se tivesse saído para os campos e conversado com os homens.
— O que você quer dizer é que isso teria sido mais senhoril.
Ele soltou um ruído de pouco caso.
— Não se trata de ser senhoril. É o meu dever conhecer os vizinhos e fazer com que saibam que não precisam se preocupar com o futuro. — Ele a encarou. — Falando de preocupações, o que aconteceu lá atrás?
— Não sei do que você está falando.
— Eu acho que sabe. Quando as mulheres a rodearam, foi como se você tivesse ido parar em outro lugar. Ou se trancado dentro de si mesma. Você não estava lá. Notei que a mesma coisa aconteceu durante nosso casamento.
Ela mordeu o lábio.
— Você acha que as mulheres repararam?
— Não sei dizer. Mas eu reparei.
Ela olhou para longe.
— Eu lhe disse. Sou tímida.
— Isso me pareceu ser mais do que timidez.
Ela meneou a cabeça.
Dul estava acostumada que seus familiares e amigos não entendessem. Mas era ainda mais deprimente que seu namorado imaginário se recusasse a aceitar a verdade.
— Sou tímida em grupos, é só isso. Sempre fui. E eu detesto que, às vezes, as pessoas pensem que não estou interessada, mas não sei o que posso fazer.
— Não se preocupe. Você vai ter a chance de causar uma boa impressão em Beltane.
— Beltane?
— Primeiro de maio. É uma festividade tradicional na região, que remonta aos tempos pagãos.
— Já ouvi falar — ela disse. — Mas não sei por que eu causaria uma boa impressão nesse dia.
— Eu convidei os aldeões para irem ao castelo e pedi às jovens que espalhassem a notícia. Vamos estender o convite a todos que moram por aqui.
— Você vai dar uma festa, então?
— Seria mais correto dizer que você vai dar uma festa. A senhora do castelo é a anfitriã, certo?
Dul ficou agitada e quase tropeçou em uma pedra.
— Primeiro de maio está a menos de quinze dias. Não há tempo suficiente para preparar o castelo. Ou, por falar nisso, para eu me preparar. Nunca fui anfitriã de nada.
— As pessoas precisam se conectar com as tradições — ele disse. — Esperar uma celebração. E elas precisam saber que a terra está em boas mãos. É importante que nos vejam trabalhando juntos.
— Eu gostaria que você tivesse me consultado antes.
— Eu poderia ter consultado. Mas decidi convidá-los sem esperar sua resposta.
— Ora, isso é muito autoritário da sua parte.
— Não estou acostumado a tomar decisões em assembleia, mo chridhe. Para discussões amenas, você deveria ter enviado suas cartas para algum vigário de Hertfordshire. Se não queria um oficial das Terras Altas, não deveria ter inventado um.
Não devia, não podia, não teria.
— Que boba, eu. Sonhei grande.
Ele lhe deu um sorriso maroto.
— E conseguiu o que queria.
A sugestão sensual na afirmação dele a fez corar.
— Nós poderíamos, por favor, discutir o fato evidente de que não combinamos? — ela perguntou. — Não se passaram dois dias ainda e o casamento já é um desastre. Eu fico pensando que tem que haver outra solução. Se você não aceita um arrendamento... talvez eu possa lhe vender uma parte da terra.
Ele bufou.
— Vai me vender em troca de quê? Eu pareço um homem rico?
— Você é um oficial. Ou era. Seu posto deve valer bastante.
— Eu consegui minha patente através de promoções em batalha. Minha patente não vale tanto quanto a de um cavalheiro. Ela deu a mim e aos rapazes o bastante para começar, mas só.
— Oh... Bem, isso não é bom.
— Se eu tivesse dinheiro para comprar terra, já teria feito isso por minha conta. Teria sido muito mais fácil.
Dul não sabia como lidar com aquela afirmação. Ela deveria acreditar que Christopher tinha sido levado àquela situação indigna — em que a forçava a se casar com ele — por motivos dignos? Ou ela deveria se sentir como a segunda opção dele?
Ela levou a mão ao broche preso em sua faixa xadrez. Bem, ali estava sua resposta. Ela era a segunda opção dele.
— Digamos que eu nunca tivesse escrito nenhuma carta — ela disse, suavizando a voz. — Digamos que seus homens não precisassem de ajuda. O que você estaria procurando para si, Christopher? Um lar, uma esposa, uma família? Uma profissão ou uma fazenda...? Com o que você sonhava?
— Eu nunca sonhei com nada.
— Não vale dizer nada. Com certeza você tem que...
— Não — ele a cortou. — Mo chridhe, eu nunca sonhei com nada.
💌
Christopher não pretendia dizer aquilo.
Não era algo de que ele costumava falar.
Na verdade, aquilo era algo de que provavelmente nunca tinha conversado com outra alma, jamais. Ele sabia que isso o fazia parecer estranho. Mas ele falou naquele instante, por pura tolice. Ela parou no meio da trilha e se voltou para ele, perscrutando-o com aqueles olhos escuros e inteligentes, que tinham o poder de enxergar não só o que estava ali, mas também o que não estava.
— Não acredito em você — ela disse. — Todo mundo tem sonhos.
— Não eu. — Ele deu de ombros. — Quando fecho meus olhos à noite, não existe nada que não escuridão atrás deles. Apenas vazio até eu acordar.
Aquele era o maior medo de Christopher — e o pensamento que provavelmente o preservou durante tantas batalhas e campanhas — de que quando chegasse a sua hora, a morte não seria nada além de uma noite sem fim. Ele seria novamente um garoto trêmulo, sozinho na escuridão vazia.
Para sempre.
— Mas noite passada você...
— O que aconteceu noite passada?
Ela apertou os lábios.
— Nada. É só tão estranho. Nunca conheci alguém que não sonhasse.
— Acho que nunca desenvolvi esse talento. Eu era um órfão sem nada. De que adiantava sonhar? Eu nem saberia com o que sonhar, mesmo se tentasse.
— Não deve ser tarde demais para você aprender. — Ela esticou a mão para tirar uma sujeira da manga dele. Como se quisesse tocá-lo, mas tivesse pensado melhor. — Você não precisa ficar preso a um casamento comigo. Não se não quiser.
Ele a puxou para si, brusco. E deixou que Dul sentisse o corpo dele contra o seu.
— Acho que você não pode duvidar do que eu quero.
— Tudo bem, mas existe querer e querer. O desejo do seu corpo pode não ser o desejo da sua alma.
Ele soltou um ruído de pouco caso.
Que alma?
— A vida que você está tão decidido a conquistar para seus amigos e arrendatários... uma casa, plantações, animais no pasto... — Ela tocou a camisa dele na altura do coração acelerado. — Uma bela jovem escocesa para recebê-los todas as noites, ao voltarem do campo, para mantê-los aquecidos à noite, dar-lhes filhos... Talvez você queira tanto isso para eles porque é o que também deseja para si.
Ele afastou essa ideia.
— Você é que tem imaginação em excesso. E eu preciso dizer, isso não ajudou muito a sua vida, ajudou?
— Acho que não.
— Não importa o que eu quero. Muito menos o que eu sonho. Minha alma não tem influência nesse assunto. Nada disso tem a ver comigo. Vim para me casar com você porque é o que os homens precisam. Vou me sacrificar pelo clã.
Ela se contraiu ao ouvir aquilo.
No mesmo instante Christopher percebeu que a tinha magoado.
E isso não foi nem um pouco prazeroso como ele esperava que seria. Fez com que se sentisse mesquinho, na verdade. Como um garoto que é pego jogando pedras em passarinhos. Ela soltou o ar aos poucos, depois meneou a cabeça.
— Obrigada por isso. Depois de ver sua interação com os arrendatários, eu estava correndo risco de gostar de você.
Dul se afastou dele com passadas largas, e o jeito decidido dela fez com que Christopher a seguisse.
— Você precisava de um novo motivo para me detestar, afinal. Só estou tentando colaborar.
— Você está fazendo um belo trabalho.
— Então você está chateada comigo.
— Estou.
— Ofendida. Brava. Irritada.
— Tudo isso.
— Ótimo.
Ele a agarrou pelo braço e a puxou, fazendo com que Dul o encarasse. Então Christopher baixou os olhos para a pele corada do pescoço dela e o subir e descer dos seios sobre o espartilho. Um brilho atraente de desafio iluminou os olhos escuros e misteriosos de Dul.
— Então nossa próxima parada é no quarto, mo chridhe. Esteja pronta para tornar este casamento real.
💌
Autor(a): Aila
Este autor(a) escreve mais 11 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Oh, não! Dul se arrependeu de suas palavras no mesmo instante. — Não seja ridículo. — Não vou ser ridículo. Pretendo ser incendiário. Dul queria pensar em uma resposta mordaz, sofisticada, para colocá-lo em seu lugar e se livrar daquela situação. Mas o vento forte que agita ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 91
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
vicunhawebs Postado em 22/03/2019 - 14:43:52
Aaaah acabei de ler essa história e queria dizer que eu amei
-
jucinairaespozani Postado em 28/01/2019 - 22:48:16
Linda história
-
capitania_12 Postado em 28/01/2019 - 22:02:24
Aaaaaaah,já terminou. Naaaaaaaaao
-
dul0609 Postado em 28/01/2019 - 03:01:08
Chorei com esse final 😭😭 Amei a história, muito boa ❤❤
-
rosasilva Postado em 27/01/2019 - 05:28:47
O meu deus que história perfeita morrendo de emoção
-
vondyvida Postado em 27/01/2019 - 02:02:53
Gente eu amei muito essa historia! Foi maravilhosa! Obrigada por compartilhar!
-
anacarolinavondy Postado em 26/01/2019 - 22:45:07
Amei parabéns que história maravilhosa li ela do começo ao fim é uma linda história tô apaixonada por ela vou ler de novo e de novo e de novo parabéns 😭
-
dul0609 Postado em 26/01/2019 - 01:27:33
Continua
Nat Postado em 26/01/2019 - 21:16:56
Continuei!:)
-
dul0609 Postado em 25/01/2019 - 00:07:12
Essa história é muito maravilhosa. Não vejo a hora do Christopher dizer q ama a Dulce logo. Continua 😍
Nat Postado em 25/01/2019 - 21:31:55
Que bom que gosta da história! Ah! Ele disse que a ama e foi no momento(na minha opinião) bem inesperado! :)
-
rosasilva Postado em 24/01/2019 - 22:29:28
Posta mais