Fanfic: A Noiva do Capitão - Adaptada Vondy; Finalizada | Tema: Vondy, Época
— Dulce? — tia Thea colocou a cabeça com turbante no vão da porta. — Becky me disse que você está arrumando seus baús de viagem. Está tudo bem?
— Tia Thea, sente-se, por favor. Nós precisamos conversar.
Dul se preparou mentalmente. Estava na hora. Já tinha passado muito da hora. Aquele atoleiro de mentiras a tinha puxado cada vez mais para baixo ao longo dos anos. Ela estava afundada até o pescoço e dessa vez não teria qualquer ajuda de Christopher. Dul só dependia dela mesma para se soltar.
Primeira regra dos atoleiros: não entre em pânico.
— O que foi, Dulce? — tia Thea perguntou.
Respire, ela disse para si mesma.
— Eu... eu tenho muita coisa para dizer. Posso lhe pedir para que escute tudo que tenho para falar?
— É claro.
— Quando eu tinha 16 anos e fui passar aquela temporada em Brighton, contei para você que conheci um oficial escocês na praia. — Dul engoliu em seco. — Eu menti.
Lá estava. A grande confissão, em três sílabas. Por que foi impossível dizê-las em voz alta por tanto tempo, ela não sabia dizer. Mas agora que ela já as tinha dito uma vez, não parecia tão difícil dizê-las outra vez.
— Eu menti — ela repetiu. — Eu nunca conheci nenhum cavalheiro. Passei as férias todas sozinha. Quando voltei para casa, todo mundo esperava que eu fosse passar minha Temporada em Londres. Entrei em pânico ao pensar na Sociedade, então inventei essa mentira maluca sobre um Capitão Von Uckermann. E continuei mentindo. Durante anos.
— Mas... a menos que minha idade avançada tenha me deixado demente, há um homem neste castelo. Um homem cujo nome é Capitão Von Uckermann. Ele parece bem real para mim.
— Ele é real, mas eu nunca o encontrei antes. — Dul deitou a cabeça nos braços cruzados. — Sinto muito. Eu estive envergonhada e com medo de que você descobrisse a verdade. Eu queria ter lhe contado anos atrás, mas você gostava tanto dessa ideia... e eu gosto tanto de você.
— Oh, minha Dulce. — Tia Thea massageou as costas de Dul fazendo círculos com a mão. Do mesmo modo que ela fazia quando Dul era uma garotinha. — Eu já sabia.
— Você sabe que eu sinto muito? Pode me perdoar?
— Não só isso. Eu sei de tudo. Das mentiras, das cartas. Que seu Capitão Von Uckermann era apenas fantasia e imaginação. Eu sempre soube.
Aturdida, Dul levantou a cabeça.
— Como?
— Por favor, não fique ofendida com isso, querida, mas não era uma história lá muito plausível. Na verdade, era bastante absurda, e você não tem muito talento para mentir. Sem que eu atestasse sua história, ela não teria durado um mês com seu pai.
— Não entendo o que você está me dizendo. Quer dizer que você nunca acreditou em mim? Esse tempo todo você soube que meu Capitão Von Uckermann era uma total invenção e nunca disse nada?
— Bem, nós concordamos que você parecia precisar de tempo.
— Nós? Quem é "nós" nessa frase?
— Lynforth e eu, é claro.
— Meu padrinho também sabia que eu inventei um pretendente? — Dul enterrou o rosto nas mãos. — Oh, Senhor, que vergonha.
Era vergonhoso, mas também dava uma sensação de liberdade. Se isso fosse verdade, pelo menos ela não precisava acreditar que tinha herdado o castelo com mentiras.
— É claro que ele sabia. E compreendia. Porque, minha querida Dulce, nós dois éramos muito próximos.
— Próximos...
— Namorados durante vinte anos, indo e voltando. E ele sabia que eu também havia mentido para evitar o casamento.
Dul pensou que seu cérebro fosse se contorcer com todas essas revelações.
— O Conde de Montclair não a estragou para todos os outros homens?
— Oh, eu fui para a cama com ele. Não foi terrível, mas também não foi mágico. E, não, aquela noite não me estragou para os outros homens. Pelo contrário, aquilo me fez perceber que eu era jovem demais para me prender a um homem pelo resto da minha vida, só porque meus pais acreditavam que ele fosse adequado – e para que eu descobrisse, na noite de núpcias, que ele podia possuir ou não uma obsessão erótica por penas.
— Penas?
— Nós não precisamos falar disso. A questão é, a importância da compatibilidade na cama não pode ser subestimada. De qualquer modo, eu proclamei a minha ruína em voz alta como desculpa para evitar o casamento. Eu pude ter meus amantes quando e como preferia, mas durante as últimas duas décadas de vida de Lynforth, eu fui bastante dedicada a ele. Quando ele faleceu foi um golpe e tanto para mim. Por isso vim com você para a Escócia com tanto gosto. Eu também estava de luto.
— Mas o seu luto era real. — Dul se aproximou da tia. — Oh, tia Thea, meus sentimentos.
A tia enxugou os olhos.
— Nós sabíamos que iria acontecer. Mas ninguém consegue estar preparado de verdade. Apesar de tudo, a vida segue. Nós descobrimos novas paixões. Enquanto você passava seu tempo desenhando besouros, eu estava na minha torre escrevendo uma novela tórrida.
— Você é uma escritora? Mas isso é... ora, isso é perfeito.
Quando Dul pensou a respeito, constatou que a tia Thea vinha escrevendo um melodrama havia anos, com Dul no papel principal.
— É mais um livro de memórias, na verdade. Ou, como os franceses dizem, um roman à clef. Quase tudo que acontece é fiel aos fatos da minha vida, mas os nomes foram mudados para proteger os libertinos.
Dul meneou a cabeça.
— Por que você não me contou? Por que nós temos mentido uma para outra esse tempo todo?
Ela segurou as mãos de Dul nas suas.
— Eu não sabia que estávamos mentindo, querida. Durante anos eu pensei que o entendimento era tácito. Às vezes uma mulher não precisa se encaixar no papel que criaram para ela. Nós fazemos o necessário para trilhar nosso próprio caminho, para criar nosso próprio espaço. Eu pensei que você seria feliz aqui na Escócia, e encorajei seu pai a deixá-la em paz. Mas então esse homem enorme e lindo apareceu...
— E não é que apareceu mesmo? — Dul riu, irônica.
— Eu fiquei sem saber o que pensar. Talvez você estivesse dizendo a verdade o tempo todo. Eu criei alguns testes para ele. O poema, a aula de dança. Tentei me deixar à sua disposição, para o caso de você querer se abrir comigo. Mas, na verdade, eu decidi... você é uma mulher, agora. Uma mulher forte e inteligente, que eu admiro. Não cabia a mim interferir.
Dul pegou a borda de crochê de seu lenço.
— Ele é um completo estranho. Dá para acreditar? De algum modo minhas cartas foram entregues para ele, que sabe tudo sobre mim. Sobre a nossa família. Mas eu nunca o tinha visto antes de ele aparecer na sala de visitas. E agora...
— E agora você o ama. Não é isso?
— Receio que sim... — Os olhos dela arderam nos cantos e ela piscou várias vezes. — Mas ele não me ama. Sinto que ele poderia amar, mas não se permite. Não sei o que fazer. Nós tivemos uma briga feia noite passada, depois do baile. Eu devolvi o broche de noivado para ele.
— Quem sabe foi apenas uma briga de namorados...
— Será? Nem sei se somos namorados. Eu quero desesperadamente ser amada. Tenho medo de que só estou fantasiando que ele poderia me amar da mesma forma. Vou acabar presa em mais uma mentira que criei.
Tia Thea sorriu.
— Depois do que eu o fiz sofrer nos preparativos para o baile, ele deve gostar mesmo de você. Pelo menos um pouco.
— Ele é um homem leal. Mas eu... eu acho que o magoei de algum modo. Profundamente. Talvez minhas mentiras não tenham magoado você ou a família, mas magoaram Christopher. Não entendo como ou por que as cartas bobas de uma jovem de 16 anos poderiam causar um impacto tão grande. Mas eu queria saber, para poder consertar tudo.
Nem mesmo oferecer seu amor foi suficiente. O que, além disso, ela poderia lhe dar?
Dul ficou olhando para a mesa.
— Eu só me sinto retorcida por dentro. E sem esperança.
— Pois eu tenho o remédio certo para essa aflição.
Dul estremeceu. Não havia nada melhor para estragar um momento emotivo daqueles do que um dos remédios da tia.
— Oh, tia Thea. Sinceramente, eu preciso dizer que... eu não sei se consigo engolir mais um dos...
— Deixe de ser boba. É apenas isso.
A tia se inclinou para frente e a prendeu em um abraço caloroso e apertado. Um abraço que cheirava a balcão de cosméticos, mas ainda assim era bem-vindo. Elas ficaram um tempo abraçadas, balançando para frente e para trás. Quando se separaram, Dul tinha lágrimas nos olhos. Tia Thea levou as mãos às bochechas da sobrinha.
— Você é amada, minha preciosa Dulce. Você sempre foi. Quando souber disso, e acreditar de coração, todo o resto vai ficar mais claro.
💌
Christopher manteve distância de Dul durante os dias seguintes. Não era fácil ficar longe, mas ele não via o que poderia ganhar se aproximando dela. Ela já estava quase indo embora e ele não tinha nada de novo para dizer. Ele só podia esperar que o tempo — ou talvez a ameaça das cartas — a fizesse mudar de ideia. Isso pareceu ainda menos provável quando, na tarde de Beltane, ele a encontrou no salão de jantar em meio a dezenas de caixas e engradados. A mesa estava coberta de pratos, talheres, copos e taças, toalhas e guardanapos, castiçais de estanho. E itens mais humildes também: potes e chaleiras, atiçadores de lareira, velas e potes pequenos de temperos.
— Você vai dar uma festa? — ele perguntou.
— Não — Dul disse. — Isso tudo não é para uma festa. Estou fazendo o enxoval dos homens.
— Enxoval? — Ele franziu a testa.
— Homens podem ter um enxoval? Não sei bem. Não importa. Quando eles se mudarem para suas casas novas, vão precisar equipá-las. Estas coisas vão ser úteis.
— O castelo não vai mais precisar dessas coisas?
— Não mais. — Ela acomodou uma caneca de estanho em uma caixa com palha. — Vou voltar para a casa da minha família. Achei que alguém podia fazer bom uso dessas coisas.
Christopher apertou os dentes. A calma dela o deixava ressentido, o modo prático com que Dul falava em ir embora. Não apenas embora do castelo, mas da vida dele também. Ele a seguiu quando ela foi até a outra ponta da mesa, onde separou as colheres em pilhas com a mesma quantidade.
— Eu também vou ganhar um presente de despedida? — ele perguntou, sem dúvida soando mais petulante e magoado do que gostaria.
— Quem sabe uma mesa de aparador e um par de castiçais?
— Na verdade, tenho outra coisa em mente para você.
— Oh, mesmo? O que é?
Ela o encarou.
— Eu quero que você fique com isto.
— O que, uma colher?
— Não, isto. — Ela inclinou a cabeça e olhou para o teto abobadado. — A terra. O castelo. Tudo.
Christopher a encarou.
O que ela estava dizendo?
— Dul, você não pode estar falando...
— Já está feito. — Ela esticou a mão para o centro da mesa e pegou um envelope no alto de uma pilha de toalhas de mesa dobradas. — Eu preparei os papéis, copiando os documentos que transferiam a propriedade para mim. Becky e Christian assinaram como testemunhas. A notícia já deve ter se espalhado pelo castelo. À noite todo mundo vai estar sabendo. — Ela entregou o envelope para ele. — Lannair é seu.
Christopher pegou o envelope. Ele não soube o que fazer a não ser encarar o documento.
— Mas o acordo que você sugeriu... eu não cumpri a minha parte.
— A verdade, Christopher, é que isso não me pertence. Nunca pertenceu. Eu não trabalhei para merecê-lo. Não tenho nenhuma ligação com a terra. Este lugar pertence aos escoceses. Ao povo que viveu aqui durante gerações. Àqueles cujos ancestrais empilharam as pedras deste castelo com as mãos calejadas. E não posso imaginar uma pessoa melhor para cuidar disso tudo.
— Eu não quero caridade de você nem de ninguém. Eu sempre trabalhei para ter as minhas coisas.
— Ah, eu sei disso. Eu sei bem que aceitar vai lhe deixar constrangido, e isso faz parte da minha diversão. Estou tendo muito prazer em ver você sofrendo. Para mim é um tipo de vitória.
E a vitória combinava com ela.
— Então, quando você vai embora? — ele perguntou.
— Amanhã. Pretendo ficar para a festa, é claro. E para a fogueira, esta noite. Todos nós trabalhamos tanto nos preparativos. Mesmo que eu não seja mais a senhora do castelo, e mesmo que não seja sua noiva... quero estar presente.
— Eu também quero — ele disse.
Eu quero que você fique aqui para sempre. Essas palavras pairaram na ponta da língua dele, mas Christopher não as disse. Era tarde demais. Não adiantava mais. Ao lhe dar o castelo, tinha lhe tirado sua última moeda de troca. Ele não possuía nenhuma posse ou influência que ela já não tivesse recusado.
Outro homem poderia ter oferecido a Dul uma parte de si. O coração, por exemplo. Uma emoção calorosa. Quem sabe até um sonho. Mas Christopher não sabia mais sonhar, se é que algum dia soube. E quando ele olhava para dentro de si, não via nada que não algo vazio e frio.
— Obrigado por isto — ele ergueu o envelope.
Ela concordou.
— Foi uma honra conhecer você, Christopher. Espero que entenda se eu não lhe escrever.
💌
Fofuríneas,
Já eu posto o último de hoje!
Comentem y Favoritem!
Besos y Besos!!!😘😘😘
Autor(a): Aila
Este autor(a) escreve mais 11 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Dul encontrou uma alegria inesperada em ser anfitriã. Ela achou que era mais fácil do que ser uma convidada. Ela se manteve ocupada fazendo a cerveja fluir e monitorando a entrada e saída de pratos da cozinha, de modo que pôde ficar nas bordas do salão e assim dar uma escapada sempre que a multidão se tornava opressiva demais para ela ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 91
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
vicunhawebs Postado em 22/03/2019 - 14:43:52
Aaaah acabei de ler essa história e queria dizer que eu amei
-
jucinairaespozani Postado em 28/01/2019 - 22:48:16
Linda história
-
capitania_12 Postado em 28/01/2019 - 22:02:24
Aaaaaaah,já terminou. Naaaaaaaaao
-
dul0609 Postado em 28/01/2019 - 03:01:08
Chorei com esse final 😭😭 Amei a história, muito boa ❤❤
-
rosasilva Postado em 27/01/2019 - 05:28:47
O meu deus que história perfeita morrendo de emoção
-
vondyvida Postado em 27/01/2019 - 02:02:53
Gente eu amei muito essa historia! Foi maravilhosa! Obrigada por compartilhar!
-
anacarolinavondy Postado em 26/01/2019 - 22:45:07
Amei parabéns que história maravilhosa li ela do começo ao fim é uma linda história tô apaixonada por ela vou ler de novo e de novo e de novo parabéns 😭
-
dul0609 Postado em 26/01/2019 - 01:27:33
Continua
Nat Postado em 26/01/2019 - 21:16:56
Continuei!:)
-
dul0609 Postado em 25/01/2019 - 00:07:12
Essa história é muito maravilhosa. Não vejo a hora do Christopher dizer q ama a Dulce logo. Continua 😍
Nat Postado em 25/01/2019 - 21:31:55
Que bom que gosta da história! Ah! Ele disse que a ama e foi no momento(na minha opinião) bem inesperado! :)
-
rosasilva Postado em 24/01/2019 - 22:29:28
Posta mais