Fanfic: Sprilly: Grandes Mistérios | Tema: Rebelde, Dulce

De dentro do apartamento não fazia a mínima ideia de qual seria minha atual localização, estive distraída durante todo o percurso, dando total atenção ao que Christopher tinha entre as pernas. Enquanto minhas mãos acariciavam sua intimidade, tudo o que conseguia pensar era que logo ele deixaria de estar preso em suas calças e passaria a estar dentro de um outro lugar. Pra onde ele estava me levando não era importante. Por sorte ao sair do prédio pude perceber que o escritório não era muito distante dali, se fosse rápida chegaria ate lá sem nenhum atraso. Meus planos foram por água abaixo após sentir minha barriga roncar.
Optei por entrar na lanchonete da esquina. Enfrentei uma pequena fila para pegar um cappuccino com bastante chantilly e outra para pagar, sempre ignorando olhares curiosos causados por minha roupa que ainda era a da noite anterior. Não demorou muito para poder sair e continuar meu percurso.

-Está atrasada senhorita Dulce Maria! -Cristian cantarolou ainda de costas para mim, mal havia colocado os pés no estabelecimento.
-Acha que não sei? -Desmoronei no sofá mais próximo, estávamos sozinhos na sala de recepção.
-Que mal humor é... -Cortou a frase ao meio logo após olhar em minha direção. -Abençoado senhor Jesus Cristo, bom filho de Deus! -Arregalou os olhos e me analisou dos pés à cabeça. -Você parece acabada amiga! Veja só, tá toda descabelada.
-Obrigada Cris! Me sinto bem melhor agora. -Estava com uma dor de cabeça terrível, o café não tinha ajudado em nada para melhorá-la.
Juntei forças para me levantar e ir até o escritório, não queria correr o risco de alguém além de Cristian me ver daquele jeito.
-Porque está usando vestido de festa? -Veio atrás de mim -Dormiu fora de casa, né sua safada?! -Me olhou com malícia -Parece que a noite foi boa, ta andando até torta. -Seu comentário me fez rir.
-A noite foi ótima! -Confessei revirando os olhos para que assim ele pudesse ter alguma noção de como realmente tinha sido boa.
-Fico feliz por ter tirado aquelas teias de aranhas daquele lugar inadequado -Falou baixo em tom de sussurro com uma expressão divertida no rosto, desta vez rimos juntos. -Conta ai, quem foi o boy sortudo?
-Conheci ontem na boate, se chama Christopher. -A cena da despedida invadiu minha mente. De certo, para o bem estar psicológico das garotas que o veem só de cueca, ele deveria se preocupar em comprar tamanhos maiores ou samba-canções. - É um belo partido mas não faz seu tipo não. -Sentei-me em uma das cadeira giratórias ainda com aquela visão. -Ta quente aqui, né? -Soltei o ar e abanei-me com a mão.
-Qual o sobrenome? -Pegou o celular do bolso e o desbloqueou.
-Porque isso importa?
-Quero tentar achar ele no Instagran, você sabe que minhas habilidades como stalker são incríveis.
-Não Cris, esquece isso. -Dei o assunto por encerrado e comecei a organizar os papéis na minha mesa.
-Vocês fizeram anal? -Me olhou fixamente com um sorriso malicioso nos lábios.
-O que?! -A pergunta me pegou desprevenida. -Claro que não!
-Vocês héteros tem um preconceito tão bobo com sexo anal. Eu adoro. -Falou despreocupado, como se estivesse me contando sobre sua cor favorita.
-Quem não sabe que você adora? -Brinquei enquanto procurava um remédio pra dor de cabeça dentro de minhas gavetas.
-Falando assim parece que eu sou uma bixa escrachada! Eu, meu amor -Gesticulava com as mãos. -Sou uma bixa de classe, tá querida?
-Como quiser! -Levantei minhas duas mãos em forma de rendição. -Você tem alguma pílula pra dor de cabeça?
-Pra curar essa ressaca ai só um chazinho bem forte daqueles que a minha avozinha falecida fazia, que deus a tenha! -Realizou o sinal da cruz. -Sorte sua que aprendi recentemente.
-Eu agradeceria muito se você fizesse.
-E eu agradeceria muito se você aumentasse meu salário, já viu o preço do feijão? -Colocou uma mão sobre o peito mostrando-se indignado.
-Posso pensar no seu caso. -Sorri.
-Pensar cansa, é só soltar a grana e pronto!
-Vou por a culpa em você se algum dia eu falir.
-Deus que te livre! Vira essa boca pra lá. -Bateu três vezes na madeira mais próxima. -Ah! -Pareceu lembrar-se de algo importante. -Tenho um bafão pra te contar, amiga!
-Pois então diga logo! -Adorava as fofocas de Cristian.
-Sabe aquele cara que conheci no mês passado?
-Oscar Rimeira, certo? -Não me lembrava direito do sobrenome.
-Vieira, Dulce! Vieira! -Me corrigiu.
-Ta bom. -Revirei os olhos. -O que tem ele?
-Sai com ele ontem, aquela biba enrustida está no papo! -Disse orgulhoso.
-Isso é ótimo, sei como gostou dele. -Abri um sorriso sincero. -E como foi?
-Espetacular! -Suspirou. -Vou preparar o chá e dar uma passadinha na lavanderia aqui do lado pra pegar a roupa que você deveria ter pego ontem, assim poderá ficar apresentável para atender o cliente das nove horas. -Levantou-se.
-O que seria de mim sem você?! -Mandei-lhe um beijo.
-Com certeza iria de mal a pior -Rimos. -Hã... Dulce?! -Seu rosto inteiro demonstrava dúvida.
-Sim?
-Onde estão seus sapatos? -Encarava meus pés rindo feito uma hiena.
-Oh, céus! -Só então notei a ausência deles, tinha andado um quarteirão descalça sem perceber. -Devo ter esquecido na casa dele. Merda! Eu adorava aqueles sapatos!
-Este é um ótimo motivo pra reencontrar o bofe amiga! -Parecia animado com sua conclusão.
-Não, não mesmo. -Disse séria, sem nem ao menos cogitar a ideia.
-Sabia que eu não te entendo? -Balançou a cabeça negativamente.
-Você sempre diz isso. -Sorri e ele sorriu de volta.
-Ta bom então, se acha melhor assim. -Deu de ombros. -Volto em breve. -E então saiu, me deixando sozinha naquela imensa sala.

***

-A audiência está marcada para sexta-feira às quinze horas, senhor Cavinsk. -Conferi o horário em minha agenda. -Com certeza ganharemos essa causa. -Disse com convicção na voz, as chances de perdê-la eram mínimas, quase nulas.
-Sabia ter feito a escolha certa ao optar pelos seus serviços. -Sorriu, parecia satisfeito com minha maneira de trabalhar.
-Agradeço a preferência. -Retribui o sorriso.
-Até sexta-feira então. -Apertou minha mão e caminhou rumo a saída.
-Tenha uma boa noite
-Faço de suas palavras as minhas. -Acenou brevemente com a cabeça e se retirou. Estava organizando as coisas quando ouvi batidas familiares na porta.
-Pode entrar Cris -Gritei.
-Como sabia que era eu? -Entrou -Anda fazendo macumba ao invés de contratos, é? -Sentou-se em minha frente. -Já sei, você é como o Crowley de Supernatural que rouba a alma dos outros com uma assinatura.
-Você sempre bate da mesma maneira, três batidas seguidas de mais duas. E não, se eu fosse um personagem de SPN seria o prório diabo.
-Com o fogo que você chegou hoje não duvido. -Rimos. -Estou exausto! -Se esparramou ainda mais na cadeira.
-Nem acredito que aquele foi o último cliente de hoje. -Respirei fundo, aliviada.
-E eu não acredito que atendeu todos eles descalça. -Riu alto.
-Engraçadinho você, hein? -Joguei um papel amassado nele.
-Se você diz.
-Tudo o que quero agora é tomar um banho quente e dormir. -Levantei e peguei minha bolsa.
-Não vai me dizer que se esqueceu da resenha de hoje na casa da Carol -Também levantou-se.
-Ah não! -Coloquei uma de minhas mãos na testa enquanto suspirava -Me esqueci completamente!
-Que bom que te lembrei então. -Caminhamos juntos até o lado de fora do nosso local de trabalho.
-Diga que não pude ir quando chegar lá. -Tranquei a porta enquanto falava.
-Você vai sim senhora. Ninguém mandou encher a cara e passar a noite fazendo coisas indecentes. -Falou alto de mais, chamando a atenção de dois pedestres que passavam por nós.
-Fale baixo! -O belisquei.
-Ai! -Passou a mão freneticamente pelo local. -Vamos, Dul! Por favor, sem você não vai ser a mesma coisa. -Insistiu.
-Ta bom. -Revirei os olhos. Você venceu! -O vi comemorar. -Pode me dar uma carona até em casa?
-Se aumentar meu salário quem sabe.
-Quer ganhar outro beliscão?
-Eu passo. -Sorriu. -Meu carro está do outro lado da rua, já podemos ir?
-Sim. -Confirmei e atravessamos a rua.