Fanfic: Sprilly: Grandes Mistérios | Tema: Rebelde, Dulce

-Dul?! -Cris chamou. Estava mais dormindo do que acordada então decidi permanecer quieta, tinha esperanças de que ele desistisse e deixasse o que é que fosse para depois.
-Dulce?! -Me cutucou com o dedo. Oh céus! Deveriam ser umas quatro horas da manhã. Assistimos o filme e acabamos dormindo por ali mesmo na sala, e por insistência do único "homem" da turma, com a luz acesa, que no momento já estava apagada.
-Você ta acordada? -Perguntou. Tudo bem, ele não iria me deixar dormir em paz enquanto não o respondesse, espero que pelo menos seja algo importante.
-Agora estou. -Minha voz saiu falha e sonolenta.
-Ah, que bom. Eu também.
-Uhum. -Resmunguei e virei de lado para poder voltar a dormir.
-Você ta com sede?
-Não. -Puxei uma almofada e a coloquei sobre a cabeça.
-Tem certeza? Aquela pipoca tava salgada.
-Sim.
-Não entendi, tem certeza que não ta com sede ou também acha que a pipoca estava salgada e quer água?
-Não tenho sede, Cristian. -Apertei a almofada contra o rosto para não escutar sua voz e poder dormir novamente.
-Hum. -Ficou calado por um tempo e eu pensei que a tortura havia acabado. -Sabe, eu estou com sede. -Agora tudo fazia sentido.
-Então bebe água. -Sugeri desanimada pensando que isso não teria fim nunca.
-Alguem apagou a luz, a casa ta toda escura.
-E?
-Não quero ir na cozinha sozinho depois de ter visto aquele filme.
-Hum.
-Você, como uma boa amiga, poderia ir até lá comigo. Não acha?
-Não. -Suspirei. Eu só queria descansar, estava exausta pela noite de ontem.
-Mas eu não vou conseguir dormir com sede e se eu não conseguir dormir não vou deixar você dormir também. Aceite os fatos.
-Você é um pé no saco, sabia? -Atirei a almofada com o objetivo de acertar nele e me levantei. Escutei uns resmungos e percebi que havia atingido uma das meninas.
-Viu o que me fez fazer? Quase acordei mais gente. -Fui pra cozinha sendo seguida por ele.
-Não tive nada com isso.
-Bebe sua água logo -Liguei a luz e me escorei na bancada. Vi ele beber na boca da garrafa. -Que nojo!
-Nojo porque? Você vive fazendo isso no seu apartamento que eu já vi.
-Correto! Meu apartamento. -Dei ênfase no "meu". -É diferente, a baba é só minha.
-Pra mim é a mesma coisa e fique sabendo que a baba é de nós dois porque também bebo água no bico da garrafa quando estou la.
-O que? -Definitivamente trocaria as garrafas quando voltasse pra casa e supervisionaria todas as vezes que ele estivesse lá e fosse beber água.
-Até parece que nunca nos beijamos e trocamos salivas. -Ele já havia matado sua sede mas ainda remexia a geladeira.
-Mas nos nunca nos beijamos. -Afirmei.
-Detalhe! Com o tempo você supera a minha revelação.
-Ou talvez eu nunca supere.
-É, talvez não. Olha só -Retirou uma travessa da geladeira e pôs sobre a bancada que eu estava escorada. -Aquelas vacas da Carol e da Anny tinham torta de bis o tempo todo e não dividiram com a gente.
-Devolve isso pro lugar.
-Não antes de provar. -Remexeu as gavetas até encontrar colheres. -Você quer?
-Não, não sou inconveniente, sabe?
-Que pena porque ta muito gostoso. -Tinha enfiado duas colheres cheias na boca e ainda não parecia satisfeito.
-Chega, Cristian! Você vai acabar com tudo. -Guardei a travessa no lugar mas não antes de ele conseguir encher a colher mais uma vez. -Eu vou deitar, se não quiser ir fique ai sozinho. -Apaguei a luz e me retirei da cozinha.
-Me espera! -Comeu o doce rapidamente, jogou a colher na pia e veio atrás de mim. Nós dois nos deitamos e não demoramos muito para cair no sono.

***

Inesperadamente senti algo gelado em contato com a minha pele fazendo-me despertar assustada. Sentei rapidamente e tirei o excesso do liquido de meu rosto. Depois de esfregar os olhos com força os abri, dando de cara com meus quatro amigos morrendo de rir da minha reação. Cristian segurava um balde. Eu estava toda ensopada.
-Desculpe por isso, Dul! -Anny me trazia uma toalha ainda rindo. -Você era a única que ainda dormia.
Sempre que fazíamos uma resenha a última pessoa a ficar dormindo era acordada de uma forma bem maldosa. Era quase uma tradição entre nós. Da outra vez o alvo foi Maite, saímos todos da casa e acionamos o alarme de incêndio. O desespero dela foi hilário, quase épico. Mas não parecia nada engraçado agora que o jogo tinha virado, era a primeira vez que passava por isso, deveria ter lembrado de colocar o celular para despertar como costumava fazer. Por algum motivo me esqueci.
-Precisava ver sua cara. -Maite gargalhada enquanto eu me secava praguejando baixo.
-É uma pena não termos filmado. -Cris colocou o balde sobre a mesinha de centro, com uma expressão descontraída.
-É uma pena eu não ter uma arma ou ser faixa preta em algum tipo de luta. -Lancei-lhe o olhar mais ameaçador que consegui.
-Ta estressadinha, ta? -Ele chegou mais perto e apertou minhas bochechas geladas, fazendo uma careta que me fez rir.
-Vocês não prestam! -Falei pra todos eles, no final das contas havia levado na esportiva.
-O café da manhã está na mesa, vocês querem comer agora? -Carol perguntou.
-Tô morto de fome. -Cris caminhou em direção a cozinha sem nem esperar por um segundo convite, o seguimos de bom grado. Puxei uma cadeira para me sentar tendo certeza de que minha roupa molhada a molharia também. Vez ou outra pingos d'água escorriam pelo meu corpo e caiam no chão. A mesa estava impecável, com muitas variedades de comidas e bebidas. Optei por um suco de laranja natural e alguns pãezinhos de queijo.
-Esse bacon está divino. -Maite comentou. Diferentemente dela não conseguia comer nada muito forte no café da manhã.
-Tenho que concordar com você. -Anny pegou outro pedaço. -Carol é ótima na cozinha.
-Esperem até provar a torta de bis que fiz ontem pra vocês. Está uma delícia! -Se gabou e abriu a geladeira. Eu e Cris nos entreolhamos. -Ue, eu podia jurar que tinha mais. -Colocou a travessa sobre a mesa meio confusa.
-A Dulce comeu. -Ele colocou a culpa toda em cima de mim. -Disse que era errado.
-O que?! Eu nem sequer provei! Foi você quem comeu e se eu tivesse deixado acabaria com ela toda. -Me defendi revelando a verdade.
-Maria fifi!
-Esfomeado!
-Está tudo bem, fiz pra vocês mesmo. -Deu de ombros parecendo não se importar. Pegou vários potes e serviu um a um, finalmente provei e pude confirmar que beirava a perfeição.
-É, você realmente manda bem na cozinha.
-Obrigada! -Meu comentário a fez abrir um sorriso de orelha a orelha.
-Por nada. -Retribui o sorriso. Depois de conversarmos mais um pouco olhei as horas no relógio pendurado na parede e conclui que estava na hora de ir. Costumava a passar grande parte dos meus domingos em um abrigo de animais sendo voluntária. Bichos eram uma das minhas maiores paixões e poder ajuda-los me fazia bem. Acabei de beber o suco e me levantei. -Bom, já vou indo.
-Vai pro abrigo? -Anny perguntou tornando a encher o seu copo com suco de limão.
-Sim, hoje vou poder levar Mike pra casa.
-Aquele cachorro velho que solta bufas fedorentas? -Cris fez cara de nojo.
-É, ele é velho de mais pra alguém querer adotar e se ficar lá por muito mais tempo vão sacrificá-lo.
-Pelo menos agora a gente sabe que você tem um coração. -Carol brincou e todos rimos.
-Não vá se esquecer da festa, passo na sua casa as oito.
-Porque não posso ir dirigindo?
-Porque quero evitar acidentes. -Me aproximei dele e o belisquei fraco, depois de ouvi-lo praguejar me despedi de todos e sai ciente de que teria que passar em casa antes pra trocar de roupa.