Fanfics Brasil - Bagagem Aceita-me (RBD)

Fanfic: Aceita-me (RBD) | Tema: Rebelde, Romance, LGBT, Portinon


Capítulo: Bagagem

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Quando eu pensei que estávamos livres de todos os problemas que podiam nos atingir, quando sequer me deixei levar pelo momento e aproveitei da felicidade que vinha acompanhada do amor correspondido, quando começava a caminhar nas nuvens, sofri uma queda brusca de lá do céu.


O fim de semana reservado para as garotas visitarem seus familiares chegou e eu me lembrei de que tinha um pai que admirava. Mais ainda, lembrei que tinha uma mãe que não gostava nem um pouco de mim.


O que eu deveria dizer para eles?


Oi pessoal, eu sei que sumi durante um tempo, mas eu voltei e quero dizer algo para vocês: eu sou lésbica. Essa é a minha namorada.


Não, com certeza essa não era a melhor abordagem. Via as garotas se arrumando enquanto eu já estava muito bem arrumada e confortável em meu moletom. Balançava a minha perna incansavelmente e sabia que era uma questão de tempo até que Anahí notasse o meu incômodo. Quando a garota veio falar comigo, já me faltava a unha do polegar.


— Não come unha. - Anahí tomou minha mão e viu o que havia sobrado ali. - Tava tão linda. - Fez um pequeno bico.


Abracei sua cintura e a puxei para ficar entre minhas pernas.


— Não faz esse bico lindo.


A garota riu do meu comentário e tocou meu rosto com ambas as mãos, selando nossos lábios.


Era incrível o efeito dela em mim. Em um momento eu estava desesperada sobre como ia assumir a minha homossexualidade para os meus pais e no outro era só ela aparecer que não existia mais nenhum problema.


— O que te preocupa? - Perguntou, limpando o borrado do batom que havia em meus lábios. 


— Não é nada. - Balancei a cabeça em negação e abaixando para não ter que encarar seus olhos. Se eu a olhasse, não teria como esconder o que me afligia.


A verdade é que eu não queria chateá-la com aquilo, não queria entrar em mais uma discussão sobre isso. Eu falaria quando achasse que era a hora certa, quando estivesse pronta e cada um tinha o seu próprio momento. Eu só temia que esse momento nunca chegasse para mim.


Eu nunca seria 100% feliz se eu escondesse aquilo da pessoa que eu mais amava, não poderia esconder quem eu era só por saber que poderia chatear tantas pessoas. Eu estaria chateando a mim mesma esse tempo todo, estaria temendo a reação dos meus pais quando eles soubessem quem eu realmente era, a pessoa que eu me descobri com Anahí. Até mesmo pensava em nunca precisar falar, mas seria muito pior se eles descobrissem por outro alguém.


No fim das contas, não tinha escapatória.


— Tudo bem, fale quando você achar que deve. - Beijou meus cabelos, sempre compreensiva como era e me abraçou com força. - Só não fique se martirizando sozinha por muito tempo. Se for algo que eu possa ajudar, me diga.


Assenti uma vez e retribui o abraço, me levantando e tomando a sua mão na minha.


— Vamos, Maite! - Chamei nossa amiga, querendo me livrar daquele assunto.


 


Anahí Portilla


Maite se encarregou de deixar cada uma de nós em seus devidos destinos. A primeira a ser deixada foi Dulce que se despediu apenas com um toque em meu ombro e praticamente correu para dentro da casa de seus pais.


Quando minha amiga arrancou com o carro, soltei um suspiro pesado, preocupada com o que estivesse acontecendo com Dulce. A verdade era que eu sabia lê-la bem, só não conseguia adivinhar seus pensamentos. Com isso, eu sabia que algo a incomodava, só não sabia dizer o que era.


— O que foi? - Maite murmurou.


— Nada. - Miei.


— Ah Anahí, desembucha! O que a Dulce fez? - Maite parou no farol e olhou para mim.


Revirei os olhos e bufei, desviando o olhar para o trânsito à nossa frente.


— Ela tá estranha.


— Nada de novo no reino das sapatonas. - Maite engatou a marcha e saiu com o carro.


— Maite, é sério. - Resmunguei. - Se quer ouvir, pelo menos faça direito.


— Tá bom, me desculpa. - Fez uma voz de bebê e aquilo quase me fez rir. - Entendi agora. - Imitou o meme do menino que gosta do raça negra, sendo o suficiente para que eu desse risada.


— Otária. - Dei um soco na sua perna.


— Outch! Eu estou dirigindo, caso não tenha reparado.


— Você dirige bem, pode continuar dirigindo com uma hematoma.


— Você vai ver o hematoma bem na sua cara, sua palhaça. - Resmungou, dando seta e se concentrando para não bater em carro nenhum na hora de entrar na próxima rua.


Apesar de não estar realmente me escutando e fazer graça com absolutamente tudo o que eu falava, era bom estar com Maite. Eu precisava ter uma conversa séria, mas sabia que se o fizesse antes de ver minha mãe, se não estivesse suficientemente distraída, ela com certeza perceberia o meu incômodo e aí eu deveria explicações as quais eu não estava pronta para dar.


Eu não sabia ainda como chegaria para a minha mãe e diria que agora tinha uma namorada. Tinha medo da reação dela e do meu próprio padrasto que, por mais que não mandasse mais em mim e não pagasse minhas contas, era um preconceituoso de merda. Mas não do meu irmão. Sabia que ele me apoiaria, porque Christian tinha herdado o coração puro da minha mãe, e a militância e evolução espiritual de minha própria influência.


— Anahí! - Maite me chacoalhou e eu acordei do meu transe. - Chegamos.


Olhei para a casa que por tantos anos fora o inferno na terra para mim. Suspirei pesado com os olhos fechados, pretendendo encarar aquele almoço pelo meu irmão e pela minha mãe. Voltei meu olhar para Maite que tinha um olhar complacente para mim. Ela sabia bem o que eu passara ali e aquele fora um dos motivos para irmos morar sozinhas - mesmo que a casa dela não fosse nem um terço do que a minha era.


— Volto pra te buscar logo. - Beijou meu rosto. - Qualquer coisa me mande mensagem.


Assenti e sai do carro, olhando a minha amiga se afastar com o carro, sumindo de vista na esquina seguinte.


Decidi que era hora de parar de enrolar e encarar o almoço que estava por vir. Eu só tinha que não pensar em Dulce, nem na nossa relação e muito menos no quão estranha ela havia acordado.


 


Dulce Maria


Eu olhava no celular a cada cinco segundo e acho que foi por aquele motivo que minha mãe questionou:


— O que tanto você está esperando aí? Um namoradinho?


Meu pai parou de mastigar e olhou na minha direção. Não era um olhar protetor, não era um olhar repreensor, mas era como se ele estivesse ansioso pela minha resposta.


Engoli em seco, não querendo imaginar a decepção dele se eu dissesse que era "namoradinha", no feminino mesmo. Quantos pratos será que voariam na minha direção antes que eu pontuasse a frase?


— Desde quando você se importa, mãe? - Revirei os olhos, tentando esconder meu nervosismo e continuei a comer.


— Dulce... - Meu pai me repreendeu.


— Depois você diz que eu provoco! Tá vendo como ela é? Só fiz uma pergunta! - Minha mãe passou a se exaltar, se levantando e tirando os pratos da mesa.


— Eu ainda não acabei! - Meu pai protestou.


— Nem eu! - Exclamei.


— Agora acabaram. - Resmungou, abrindo a torneira em cima da comida que ainda restava.


Me levantei e saí diretamente para o portão.


— Onde você vai, Dulce? - Ouvi a voz de meu pai ao longe.


— Ela não me vê há umas boas semanas e quando eu apareço aqui, é isso o que acontece.


Passei procurar pelo número de Anahí enquanto voltava para dentro e pegava papel e caneta. Ia atrás da minha namorada, mesmo que não soubesse bem no que aquilo poderia implicar para a própria garota. Eu não estava pensando direito, aquela era a verdade.


— Você provocou a sua mãe, Dulce. Ela não disse nada, você sabe muito bem disso. O que está acontecendo? Você parece tensa desde que pisou os pés aqui. Aconteceu alguma coisa? - Meu pai tocou minhas costas enquanto eu esperava que Anahí me atendesse.


E assim ela me atendeu:


— Oi. - Parecia mastigar e eu quase me dei um tapa na testa - porque não sou retardada de ficar me batendo - por não ter imaginado que interromperia seu almoço.


— Anahí, pode me falar o endereço daí? Aqui tá simplesmente um inferno. - Ignorei meu próprio pai, pronta pra anotar o endereço.


Anahí pareceu um pouco desnorteada por um momento, mas quando acordou passou corretamente o endereço.


— Vai vir como? - Perguntou com certa preocupação.


— De Uber, provavelmente. Não vou fazer a Maite de motorista. - Suspirei. - Da próxima eu aprendo que devo almoçar apenas com o meu pai e não com a enxerida da minha mãe.


— Eu ouvi! - Minha mãe gritou da cozinha.


— Sinal de que você não tá surda! - Gritei de volta.


— OK. - Anahí riu baixo. - Vou preparar um prato para você.


Desliguei no instante seguinte para pedir um Uber para o endereço que me fora passado.


— Filha? - Meu pai chamou.


Me virei para ele, os olhos marejando com a quantidade de sentimentos que se acumulavam em meu peito, e abracei seu corpo para o meu.


— Me perdoa por ser tão ausente. - Agarrei com força sua camiseta e o soltei no instante seguinte. - Vamos combinar de ver o jogo do verdão lá em casa, sim? Um clássico com o time do Santos, pra mostrar pra Anahí e pra Maite quem é o melhor. - Pisquei e ele sorriu, tocando meu rosto e assentindo. Olhei o celular e vi que o carro já havia chego. - Preciso ir.


— Deus te acompanhe, minha filha. - Meu pai beijou minha testa e eu me vi livre para ir.


 


Anahí Portilla


— Mãe, uma amiga tá vindo comer aqui. - Voltei para a cozinha, passando a montar um prato para Dulce.


— Mas que ótimo! Mais uma boca para eu alimentar. - Meu padrasto reclamou.


Contei até dez e fechei os olhos, respirando fundo para não jogar a colher na cabeça dele. Tudo bem que ela não faria um estrago tão grande quanto uma faca poderia fazer.


— É a que mora com você e a Maite? - Meu irmão perguntou.


— É sim. - Assenti, sentindo minhas bochechas corarem e feliz por ninguém estar vendo.


Por que eu estava corada? Não é como se eles soubessem o que acontecia entre nós.


— A que você sustenta? - Meu padrasto provocou.


Fechei o micro-ondas em uma batida forte, logo depois de guardar o prato pronto de Dulce. Me virei para o meu padrasto e encarei seus olhos raivosos na minha direção.


— É a que eu sustento com o maior gosto do mundo. Não me importo de ajudar uma amiga quando ela mais precisa, mesmo que ela não vá fazer o mesmo por mim. Sabe o que significa isso?


— Que você é uma imbecil? - Debochou.


— Que eu sou uma boa pessoa, ao contrário de você que quer me cobrar por anos de sustento. Me poupe! Toda a minha pensão pela morte do meu pai entrava nessa casa e eu não reclamava, mesmo podendo guardar todo esse dinheiro para agora que estou na faculdade. - Respirei fundo, vendo minha mãe cabisbaixa, meu irmão com brilhos nos olhos e o traste com um sorriso presunçoso. - Você poderia ser agradável enquanto ela estiver aqui?


Balançou a cabeça em negação, em deboche ao meu pedido.


Naquele momento a campainha tocou e eu fui atender a minha namorada. Dulce me abraçou com força e eu retribuí do mesmo modo. Tanto quanto estava precisando dela, sabia que ela precisava de mim também. Parecia que a bagagem familiar que carregávamos era muito maior do que imaginávamos e trazíamos uma para a bagunça da outra pouco a pouco.


— Meu padrasto tá infernal. - Acariciei seu rosto, colocando seu cabelo atrás da orelha.


— Não me importa.


— Fiz o seu prato, assim que terminarmos o almoço, podemos esperar pela Maite no meu quarto.


Dulce concordou e selou rapidamente nossos lábios, passando a entrar comigo em minha antiga casa. Apresentei ela à todos como Dulce, minha amiga, já que não queria causar um tumulto desnecessário. Não tinha conversado com Dulce sobre como abordaria nossos pais e se abordaria, por isso ela não se incomodou quando fiz as devidas apresentações.


Meu padrasto saiu da mesa no momento em que nos sentamos, indo ver televisão na sala e com isso conseguimos seguir com uma conversa descontraída.


Dulce contou o que cursava, no que pretendia trabalhar, quantos anos, pais separados ou casados?, cor favorita... É, talvez o meu irmão exagerasse um pouco no interrogatório de vez em quando.


— Tudo bem, Christian. Chega. - Me levantei, pegando os pratos e colocando na pia depois de finalizarmos. - Por ter me feito passar vergonha, a louça é sua agora. - Pisquei para o meu irmão.


— A louça é minha todos os dias. - Deu de ombros, se levantando.


— Tadinho do seu irmão, Anahí. - Dulce saiu em defesa dele.


— Tadinho nada, ele tem mesmo que ajudar a mamãe. - Abracei minha mãe que me abraçou para si no mesmo instante.


— Minhas preciosidades. - Ela disse, beijando minha cabeça.


— Estava tudo muito gostoso. - Dulce disse para a minha mãe.


— Obrigada, querida.


— Venha, vou te mostrar meu antigo quarto. - Peguei a mão de Dulce e a puxei para longe dali.


Ainda passei lançando um olhar mortal na direção de meu padrasto que parecia imerso no que a televisão lhe dizia.


Encontrei meu antigo quarto intacto. A parede rosa atrás de uma cama de solteiro velha, lençóis de flores e alguns bichos de pelúcia enfeitavam o local. Barbies e alguns brinquedos jaziam nas prateleiras junto com livros dos tempos de colégio. O armário deveria conter algumas roupas antigas e caixas de lembranças, mas não achei pertinente mostrar para Dulce, porque nada ali valia muito a pena ser mostrado naquele momento.


Cocei o nariz com o cheiro que já se acumulava ali. Por mais que minha mãe limpasse, era inevitável que algumas coisas intocadas se tornassem mal-cheirosas. Abri a janela que dava para os fundos da casa e deixei ventilar, me deitando na cama e vendo Dulce olhar cada um dos meus pertences espalhados.


— Quer me contar o que está acontecendo? - Perguntei, mexendo nas orelhas de um coelho que estava em cima da minha barriga.


A garota olhou para mim e eu desviei meu olhar para o dela. Ali ela pareceu ponderar por um momento as suas opções e acabou por decidir balançar a cabeça em negação, se deitando ao meu lado no segundo seguinte. Abracei seu corpo para o meu e suspirei, entendendo perfeitamente que ela parecia travar uma batalha interna consigo mesma e o que quer que fosse me envolvia de algum jeito.


— Não preciso repetir o que disse hoje mais cedo, não é mesmo? - Perguntei e a garota balançou a cabeça em negação, ainda olhando na minha direção.


Toquei seu rosto e acariciei com o polegar, sentindo sua pele macia sob meu toque. Aproximei nossos lábios, não conseguindo mais esperar para beijá-la.


Beijar Dulce era o mesmo que esquecer que o mundo existia à nossa volta. Era envolvimento, era vício, era único. Por isso que eu não ouvi quando a porta foi aberta, mas quando ela foi fechada em um baque forte, assustando à mim e minha garota.



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Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 4



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  • Gabiih Postado em 28/02/2019 - 14:15:26

    Que linda história , eu amei meus parabéns que bom que tudo acabou bem depois de tudo oque as duas passaram, final lindo e merecido parabéns!!!

    • GioviSouza Postado em 13/03/2019 - 11:38:24

      obrigada pelo carinho! <3

  • Gabiih Postado em 25/02/2019 - 16:27:31

    oi bom ainda estou lendo tudo, mas eu estou adorando posta mais!!!

    • GioviSouza Postado em 25/02/2019 - 16:31:06

      olá! seja bem vinda! ela já está completa. espero que goste!


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