Fanfics Brasil - Discurso Aceita-me (RBD)

Fanfic: Aceita-me (RBD) | Tema: Rebelde, Romance, LGBT, Portinon


Capítulo: Discurso

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— Senhor e senhora Bueno. - Anahí ofegou ao meu lado.


— Dulce, o que é isso? - A minha mãe não olhou na direção de Anahí, preferindo ignorar a minha namorada e se dirigindo à mim com um olhar feroz.


Quais eram as probabilidades daquilo acontecer? De sairmos para comer no Paris 6 e encontrarmos os meus pais? Existiam tantos restaurantes e eles tinham que nos encontrar naquele, naquela hora, bem quando trocávamos um beijo simples e sem medo.


Meu pai tinha a decepção no olhar. Seria por eu ser lésbica? Seria por eu não ter sido honesta com ele desde o início? Minha mãe estava muito irritada, seu rosto adquirindo um tom avermelhado incomum e os braços cruzados no peito davam um ar superior. Minha espinha se arrepiou com o sermão que eu levaria ali no meio da rua. Meus olhos se seguiram para uma Anahí temerosa, mas que me amparava pela minha cintura para mostrar que estava ali por mim, para me apoiar em um momento importante como aquele e que não aconteceria da forma que eu desejava. Um momento que ela própria nunca passara.


É isso, eu não tinha mais o que negar. Havia sido pega no flagra e se eu mentisse acabaria magoando não só eles como a minha namorada.


— Será que poderíamos ter essa conversa em outro lugar? - Tentei, sentindo algumas lágrimas se acumulando em meus olhos.


— Acho que aqui está ótimo pra mim, Dulce Maria. - Rosnou minha mãe.


— Blanca, vamos para a casa. - Meu pai chamou pela minha mãe enquanto puxava seu braço, mas ela o empurrou, lançando um olhar ameaçador na sua direção.


— Mãe, eu vou atrás com a moto. Eu prometo. Só, por favor, não me deixa fazer isso no meio da rua. - Implorei, vendo algumas pessoas lançarem olhares curiosos na nossa direção.


Antes de ir contra a sua vontade, minha mãe ainda mediu Anahí de cima à baixo e ela manteve a compostura o tempo todo. Eu os vi se afastar e o meu pai lançar um olhar significativo. Sabia bem o que ele queria dizer com aquilo.


É bom você nos seguir até em casa.


Fomos em silêncio até a moto, subindo e saindo daquele restaurante. Sem sobremesa, sem sorrisos e com um grande problema a ser resolvido, sem ter como voltar atrás.


— Vai dar tudo certo. - A voz de Anahí estava abafada pelo novo capacete que eu havia comprado à ela. Seus braços se apertaram à minha volta e eu toquei suas mãos com uma, voltando-a logo em seguida para o guidão da moto. - Eu te amo.


Dei um longo suspiro e um início de sorriso nasceu em meus lábios.


— Eu também. E é por isso que eu vou me assumir para os meus pais. Vou te assumir para o Brasil, Anahí Portilla!


A menção da música do Matheus e Kauan fez a minha namorada rir e continuar me acariciando.


Quando chegamos em frente à minha antiga casa, eu soube que nada seria mais o mesmo. Eu entraria como uma pessoa e sairia como uma completamente diferente. Se eles aceitassem minha opção sexual eu sairia feliz e realizada, mas se eles não aceitassem eu poderia nunca mais voltar ali.


A porta estava aberta quando eu entrei e deixei trancada assim que passei com Anahí. Quando atingimos a sala, meus pais estavam sentados no sofá maior, minha mãe com a cabeça entre as mãos e os cotovelos nos joelhos, curvada e parecendo pensativa, mas não chorando. Meu pai tocava suas costas e não parecia tão chocado assim pela minha escolha. Será que ele sempre soube? Quer dizer, eu sempre sofri com esteriótipos, mas nunca trouxe uma garota sequer pra casa.


Me sentei no sofá menor com Anahí e vi meus pais recostarem os corpos no estofado, cada um com seu tipo de olhar. Meu pai estava curioso, já minha mãe não tirava a carranca decepcionada. Será que ela passaria para o estágio de aceitação como aconteceu com meu pai que há pouco também tinha decepção estampada em sua face?


Entrelacei meus dedos aos de Anahí e foi por causa do sorriso que ela me direcionou que eu respirei fundo, encontrando a coragem necessária para finalmente dizer tudo o que os meus pais precisavam ouvir sobre a mais nova razão da minha felicidade.


— OK, eu preciso que vocês ouçam tudo o que eu tenho para dizer até o final. - Engoli em seco e esperei alguma reação, mas a minha mãe apenas cruzou as pernas e os braços, esperando que eu continuasse. - Eu conheci a Anahí em uma confraternização da faculdade. Vocês sabem que eu nunca adiciono quem eu não conheço, certo? Ela me achou no Facebook e eu resolvi que queria aceitar, e foi isso o que eu fiz. Não achei que esse gesto me levaria ao que somos hoje. Anahí tentou durante um bom tempo a fazer investidas e o tempo todo eu dizia para ela que minha opção sexual era outra. Quando eu me demiti, Anahí me ofereceu abrigo sem que eu pudesse dar nada em troca. Não pensem que o meu corpo foi a troca, eu jamais faria isso. O que eu recebi na convivência foi algo que nenhum outro jamais me deu: amor, carinho, fidelidade e tantas outras coisas boas. Com ela eu aprendi que a gente não escolhe quem ama pelo órgão genital. A gente ama pelo que a pessoa é, pelo modo como somos tratados. Eu nunca achei que fosse digna do sentimento dela, mas eu dei uma chance, eu decidi que deveria tentar. Se eu não tentasse não estaria tão feliz e realizada como sou hoje. Mas eu tive medo, muito medo. Medo do que vocês iam achar, do que os meus amigos iam achar e de como eu ia ser vista pela sociedade. Eu tenho medo de amar, entendem o quanto isso é ridículo? O quanto isso é dolorido? Vocês não entendem, porque nunca tiveram medo de amar. Vocês são brancos e heterossexuais. Já tiveram medo de ir em algum lugar e receber um olhar torto por estarem de mãos dadas? De apanharem por estar trocando algum carinho em público? Já pensou ter que selecionar qual o melhor lugar para sair com seu companheiro para não ser vítima de preconceito e descobrir que não existe esse lugar? Eu só espero que vocês me aceitem, porque eu ainda vou ser vítima de muito preconceito na rua. Mas se eu tiver apoio dentro de casa já vai ser um alívio imenso para mim. E, sim, eu estou disposta a enfrentar o preconceito e, dia após dia, explicar para as pessoas que amor é amor. Não tem cor, religião e nem opção sexual. O amor não é aparência, é companheirismo, é toque, é coisa de alma. E eu tenho tanta sorte de ter aprendido isso com essa pessoa. - Me virei para Anahí que tinha o rosto lavado pelas lágrimas, emocionada pelas minhas palavras, sempre tão rudes, agora tão sinceras e sensíveis. Eu também sentia as lágrimas escorrendo por meu próprio rosto.


Quando me virei de volta para meus pais pude ver que meu pai chorava, mas minha mãe não estava nada feliz com meu discurso. Blanca Saviñón se levantou e eu achei que iria me bater, que iria gritar comigo, me apontar o dedo, mas apenas se dirigiu para as escadas e então eu pude ouvir a porta bater. Aquilo era resposta o suficiente: ela não me aceitava.


Olhei para o meu pai e vi ali o pedido de desculpas silencioso enquanto ele se afastava e ia atrás de minha mãe. Ele também não me aceitava ou só precisava resolver o furacão que era a minha mãe? Não queria ficar ali para descobrir.


Me levantei rapidamente e saí rapidamente daquela casa. Já perto da moto, me recostei nela e passei a chorar copiosamente, minhas mãos cobrindo meu rosto. Um choro magoado. Eu não tinha o apoio dos meus pais.


Senti os braços de Anahí me envolverem e chorei mais em seu ombro, abraçando fortemente sua cintura para mim. A todo momento ela me pedia calma e acariciava meus cabelos. Sabia que meu choro alto iria atrair a vizinhança, por isso obriguei os meus soluços a cessarem e, quando me senti pronta, decidi que era hora de ir pra casa.


 


Anahí Portilla


— O que aconteceu? - Maite perguntou ao ver nós duas com os rostos vermelhos pelo choro.


— Depois. - Foi o que eu disse e minha amiga assentiu, empalidecendo de imediato.


Angelique também nos olhou alarmada, provavelmente ali para levar a minha amiga para a sua própria casa.


Dulce nos fechou em nosso quarto e se deitou na cama, continuando a chorar. Me aproximei dela e acariciei seu rosto, apenas olhando a minha menina chorar e sem saber como agir. O que eu iria dizer? "Eu sei como é isso, já passei por algo assim"?


Não, era mentira, nunca tinha passado por algo assim antes. E me dava um calafrio na espinha só de pensar que aquilo poderia acontecer comigo. Era melhor eu acabar contando para a minha mãe de uma vez por todas.


— Talvez eles só estejam magoados por terem descoberto daquele jeito. - Comecei a falar, tentando acalmá-la. - Você fez um discurso tão bonito, não é possível que não tenha tocado seus corações.


— Minha mãe não tem coração, Anahí. - Sua risada foi carregada de ressentimento.


Eu quis me colocar no lugar dela, substituí-la para que ela não tivesse que sentir a dor da rejeição dos próprios pais.


— Você sabe que eles ainda terão que conversar com você, certo? - Beijei seu rosto e a vi assentir. - Sabe o que nós devíamos fazer? Vou tirar quinze dias de férias e podemos ir nós quatro para a praia. O que acha? - Sugeri, olhando-a se virar de barriga para cima e fungar.


— Não tenho nem cabeça pra pensar nisso agora, Anahí.


— Pois eu tenho e já pensei por você. - Selei nossos lábios e me levantei. - Vou pegar uma água com açúcar pra você e pedir uma pizza.


Dulce parecia absorta em seus próprios pensamentos e eu a deixei sozinha, encontrando Angelique e Maite sentadas no sofá enquanto cochichavam. Ambas se levantaram quando eu me aproximei.


— E então? - Angelique perguntou.


Então eu contei para elas tudo o que havia acontecido. Uma noite que deveria ser de felicidade e descontração, se tornou um inferno.


— Eu conheço os Bueno. O pai da Dulce é legal, mas a mãe... Aquela mulher é a reencarnação do demônio. - Angelique balançou a cabeça em negação. - Meus pais tem uma casa na praia, podemos ir para lá se vocês quiserem.


— Seria ótimo. - Maite concordou. - Vai ser bom para ela esfriar a cabeça.


— Obrigada, Angelique. Se você conseguir, vai ser ótimo. - Sorri para a garota.


— Mas como vou deixar vocês sozinhas aqui? Não vou conseguir ir embora. - Maite choramingou e tocou minha mão.


— Tudo bem, amiga. A gente vai se virar bem aqui. Vou cuidar da nossa menina. - Pisquei.


— Tem certeza? Eu posso ficar para servir de distração se quiser...


— Amiga, acho que a Anahí vai tentar um outro tipo de distração. - Angel interrompeu minha amiga e eu senti o meu rosto esquentar.


— Ah, danada! - Maite me beliscou e eu ri de sua atitude, me esquivando.


— Não. Ela não tem nem cabeça pra isso. Vou deixar que ela durma agora, vou dar um calmante e amanhã nós decidimos o que faremos. O que acham?


— Pode ser. - Maite assentiu.


— Por mim também.


— Muito obrigada por tudo. - Abracei as duas e recebi todo o amor e força que precisava naquele gesto.


— Se precisar, é só ligar. - Maite reforçou o quanto estava sempre ali para ajudar quem ela amava.


Acompanhei ambas até a porta e as vi desaparecer com o restante das coisas de Maite. Fechei a porta de madeira e me recostei contra ela, respirando fundo de olhos fechados antes de enfrentar uma longa noite em claro pensando no quanto a minha chegada na vida de Dulce trouxera tanta dor.


Mea culpa, mea maxima culpa.



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Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

Dulce Maria No dia seguinte eu não estava nem com vontade de levantar da cama. Não chequei ligações e nem mesmo mensagens, deixando que Anahí servisse meu café da manhã na cama. Sabia que ela estava fazendo um esforço imenso para me ver sorrir, mas eu não conseguia retribuir, pelo menos não sinceramente. ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 4



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  • Gabiih Postado em 28/02/2019 - 14:15:26

    Que linda história , eu amei meus parabéns que bom que tudo acabou bem depois de tudo oque as duas passaram, final lindo e merecido parabéns!!!

    • GioviSouza Postado em 13/03/2019 - 11:38:24

      obrigada pelo carinho! <3

  • Gabiih Postado em 25/02/2019 - 16:27:31

    oi bom ainda estou lendo tudo, mas eu estou adorando posta mais!!!

    • GioviSouza Postado em 25/02/2019 - 16:31:06

      olá! seja bem vinda! ela já está completa. espero que goste!


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