Fanfic: Aceita-me (RBD) | Tema: Rebelde, Romance, LGBT, Portinon
Dulce Maria
No dia seguinte eu não estava nem com vontade de levantar da cama. Não chequei ligações e nem mesmo mensagens, deixando que Anahí servisse meu café da manhã na cama. Sabia que ela estava fazendo um esforço imenso para me ver sorrir, mas eu não conseguia retribuir, pelo menos não sinceramente.
Eu não podia continuar escondendo aquilo dos meus pais, era verdade, mas eles descobriram da pior forma. Talvez se eu tivesse conversado antes eles tivessem aceitado melhor. Mas agora estava tudo acabado. Eu estraguei tudo e ninguém poderia saber o tamanho da dor que estava sentindo.
Nem mesmo Anahí, já que a sua própria mãe não sabia sobre a sua sexualidade ou sobre nosso relacionamento. E seu próprio irmão, descobrindo da mesma forma que meus pais, acabou por nos aceitar como éramos.
A geração dos nossos pais era uma geração de merda.
— Dulce, amor. - Anahí chamou a minha atenção enquanto eu fitava com curiosidade o teto branco do quarto. - Seu celular não para de tocar. As meninas do futebol estão te ligando.
— Eu não quero falar com ninguém. - Resmunguei, me virando de lado e cobrindo a cabeça.
— Eu posso atender? - Perguntou e eu pensei por um momento sobre aquilo. Não tinha nada demais.
— Pode. - Disse em um muxoxo.
A voz que se seguiu foi apenas de Anahí e eu conseguia entender metade da conversa que foi mais ou menos assim:
— Alô?... É a Anahí, colega de quarto da Dulce... - Tinha ressentimento na sua voz por ter que esconder aquilo das minhas colegas, mas eu não quis pensar em iniciar uma discussão. Anahí era tudo o que eu tinha agora. - Ah tá, pode deixar que eu aviso sim... Eu que agradeço, Karla.
Karla era a capitã do meu time, claro que eu imaginei que era ela que estava me ligando. Mas por quê?
— Dulce? - Anahí me chamou mais uma vez, agora acariciando meus cabelos e tirando a coberta do meu rosto. - A Ka ligou e disse que hoje vocês tem um amistoso com as meninas da UNIFESP.
— Eu não vou. Arrumem outra pivô. - Continuei emburrada, de olhos fechados e de costas para ela.
— Dulce, um representante do Flamengo vai estar lá.
Aquilo foi o bastante para eu dar um pulo na cama e me virar para ela, os olhos arregalados pela surpresa. Não era o Palmeiras, meu time do coração, mas era um grande time.
— Do Flamengo? Por que não dos times de São Paulo? - Franzi o cenho.
— Isso faz diferença? Seu nome tá correndo de boca em boca e ele ficou interessado em te ver jogar.
Parei para pensar um momento sobre jogar em um time grande profissionalmente. Era um sonho longínquo. Como isso estava acontecendo bem no pior momento da minha vida?
— Eu não vou. - Balancei a cabeça em negação. - Não vou conseguir jogar bem e vou acabar decepcionando todo mundo. Principalmente esse representante que vai vir lá do Rio de Janeiro pra ter uma surpresa desagradável dessas.
— Dulce, me escuta! - Anahí segurou meu rosto entre suas mãos e olhou fundo em meus olhos. Eu estava em completo silêncio, esperando que ela me dissesse o que se passava em sua cabeça. Com certeza ela era a racional daquele relacionamento naquele momento. - Eu sei que é difícil ouvir isso de uma pessoa que não passou por tudo o que você teve que passar, mas se esse for o seu recomeço, se isso for motivo de reaproximação entre você e seus pais, é importante que você entre em quadra e esqueça do mundo. Seja você e a bola, você e o jogo, você e o seu objetivo.
— Como isso vai me reaproximar se eu tiver que morar no Rio? - Debochei, balançando a cabeça em negação e ri, mesmo sem achar graça alguma das palavras dela.
— Você entendeu o que eu quis te dizer, não é nenhuma criança. Seus pais vão ter que te aceitar. Você é a única filha deles, é motivo de orgulho. - Minha namorada tomou minhas mãos nas suas e se ajeitou melhor na cama. - Vamos mostrar pra eles que o nosso relacionamento não é passageiro, que a nossa relação não é uma brincadeira. Você mesmo tentou provar à eles com palavras e, se aquilo não adiantou, tá na hora de provar nas atitudes. Se você não for hoje, mesmo que for pra dar o seu pior em quadra, só vai mostrar para os seus pais como é uma criança que não aguenta ouvir um não, que não consegue passar por uma dificuldade. Pior: vão pensar que eu não sou boa o suficiente, que eu não consegui te reerguer. - A garota segurou meu rosto entre uma única mão e aquilo formou um pequeno bico nos meus lábios. - Meu amor, eu sei que quando você está em quadra esquece do mundo. Não existe ninguém além do seu foco, não houve ninguém torcendo por você, e tudo bem. Melhor ainda. Entra em quadra e esquece seus problemas durante os minutos que a bola rolar.
Ela tinha razão. Mais uma vez ela abriu a minha mente e, se não fosse por ela, talvez eu não tivesse me levantado da cama e nem mesmo tinha começado a me trocar para o jogo.
Não pude evitar de sorrir verdadeiramente quando vi, nos lábios dela, o mais belo sorriso. Foi sem resistência que eu me coloquei entre suas pernas e beijei seus lábios, embrenhando meus dedos entre seus cabelos. O sorriso dela não se desfazia nem quando nossas línguas se encontraram e o meu também permaneceu ali. Suas mãos acariciavam minhas coxas desnudas e eu decidi que era hora de me afastar ou eu nunca chegaria à esse jogo.
Anahí Portilla
— Maite! Angel! Aqui! - Gritei, abanando a mão na arquibancada.
Liguei para as duas sem demora e contei as novidades. Não conseguia acreditar que havia conseguido tirar a Dulce da cama com meu pouco senso de persuasão e muito menos elas. Foi por isso que as duas vieram ver de perto o meu feito.
— E como ela está? - Angel me entregou um grande copo de cerveja e nós três brindamos antes de beber - porque beber sem brindar, sete anos sem dar.
— Muito abalada ainda. Acredito que vai voltar a se confinar no quarto antes de tomarmos a atitude de viajar. Mas uma hora tudo se ajeita. - Suspirei e voltei a beber da minha cerveja.
Podia ver Dulce inquieta do outro lado da quadra, parecendo nervosa e procurando por mim. Ou talvez tentando identificar o representante do Flamengo. Eu também tentava identificá-lo. Ele deveria estar de terno e com um bloco de notas nas mãos, certo? Ou ele estava muito bem camuflado entre todos os rostos, os quais eu tentei identificar um a um desde que havia chego, ou eu não sabia muito bem como um representante se portava. Apostava na segunda opção.
— E se ela for mesmo pro Rio? O que vocês vão fazer? - Olhei para Maite enquanto mordia a borda do copo de plástico.
Não havia pensado naquela possibilidade. O contrato não seria de início imediato, certo? Ela poderia terminar a graduação junto comigo e aí nós resolveríamos o que faríamos. Nós tínhamos uma vida aqui, e tudo teria que ser pensado e conversado com calma.
O apito soou e me acordou do transe. Apenas dei de ombros, tentando soar despreocupada, mas sabia que Maite lia outra coisa em meus olhos. Minha amiga deixou pra lá e nós curtimos o jogo - se é que curtir pode ser a definição para o que estávamos passando.
O jogo foi apertado, o placar estava acirrado, mas as meninas da USP conseguiram virar e venceram a UNIFESP por seis à quatro. Dulce havia jogado bem, recebendo até queixa das suas companheiras de jogo por nunca passar a bola. Não sei se aquilo contava como um bom ponto para ela, mas eu desejava que sim. Mais do que tudo Dulce precisava de um pouco de felicidade. Não fiquei chateada quando ela não dedicou o seu gol para mim, eu mesma havia pedido para ela focar no jogo e esquecer sua vida longe dali. Foi o que ela fez e aquilo só me deixou mais confiante.
Quando o apito final soou, elas comemoraram e Dulce se despediu das colegas para vir nos cumprimentar. Suas bochechas estavam rosadas e escorria suor por todo o seu corpo, mas eu ainda conseguia me apaixonar por ela assim. Quase selei nossos lábios, mas me lembrei que apenas devia abraçá-la e deixar que ela fizesse o mesmo com nossas amigas.
— Você jogou muito bem! - Angelique foi quem falou e Maite a acompanhou, assentindo.
— Eu fui uma merda. - Resmungou, pegando sua mochila e tocando minha mão.
— Dulce, não seja rude. - Repreendi a garota, que apenas revirou os olhos e assentiu.
— Vamos, eu tô morrendo de fome.
Ela não esperou que ninguém respondesse e apenas me puxou para fora dali. Maite e Angel entendiam o porquê dela estar daquele jeito, por isso não se importaram com a sua grosseria.
Paramos em uma hamburgueria e, depois dela pedir dois lanches só pra ela, nós nos sentamos em uma mesa que cabiam todas.
— Já sabe quando vai receber a resposta do Flamengo? - Angel perguntou, interessada no futuro da amiga.
— Não faço ideia. - Respondeu, lambendo os dedos e bebendo de seu refrigerante.
— Eu tô muito feliz por você, independente do que acontecer. - Mostrei apoio à ela, tocando sua coxa e vendo-a passar o braço por meu ombro e se debruçando para selar nossos lábios.
Estava enganada pensando que aquilo era um gesto de carinho, porque ela limpou a mão em minha blusa em seguida, me fazendo soltar um grito. Eu a empurrei, vendo-a rir acompanhada das nossas amigas.
— Não é você que lava as roupas, não é? - Resmunguei, voltando a comer meu lanche.
— Posso lavar. É só você me ensinar. - Deu de ombros.
— Como você morava sozinha? - Maite quis saber.
O clima pareceu pesar, Dulce olhou para Maite por sob os cílios enquanto terminava de mastigar. Seu olhar não era sedutor ou amigável, mas carregado de rancor e dor.
— Minha mãe lavava pra mim.
Foi o bastante para a mesa ficar em silêncio o resto da refeição.
Maite me pediu um milhão de desculpas antes de ir embora, totalmente sem graça pelo acontecido, mas garanti à ela que não tinha como saber que Dulce dava as roupas para a própria mãe lavar.
O carro também foi silencioso, assim como o ato de nos arrumarmos para dormir. Quando me deitei na cama, me perguntei se estávamos casadas há anos já que ela estava mexendo em algum jogo no seu celular enquanto eu checava minhas mensagens e mexia nas redes sociais.
Foi por isso que larguei o celular de lado e abracei seu corpo para o meu vendo-a resmungar, mas não me afastar em momento nenhum. Dormi com o rosto escondido no seu pescoço, sentindo seu cheiro e sem nunca soltar seu corpo de meus braços.
Dulce Maria
Fiquei aliviada de Anahí não ter tocado mais no assunto do Flamengo, já que eu não havia recebido nem uma negativa. Já havia perdido as esperanças e foi depois de muita insistência que eu deixei que ela me levasse à uma viajem para a praia.
Angelique ia disponibilizar a sua casa para que passássemos um fim de semana. Anahí havia tirado férias, mas eu disse à ela que não ficaria mais do que três dias longe de nosso apartamento. Maite e Angel não se juntariam à nós até domingo, então poderia tentar descansar.
Sabia que não estava sendo justa com Anahí e a tratando muito mal. Mas como poderia ser diferente quando eu estava tão infeliz? Quando a minha vida estava desmoronando e meus próprios pais não me amavam mais? Como?
Assim que terminamos de subir as bagagens para o apartamento próximo da praia, me sentei no sofá do apartamento bem mobiliado e parecendo novo. Anahí se sentou ao meu lado e deitou a cabeça no meu ombro.
— Vamos pra praia? - Abracei a garota para mim, ouvindo sua pergunta.
— Vamos fazer o almoço e depois podemos ir pra praia. - Sorri para ela.
— Nossa, é a primeira vez que você se dirige à mim sem alguma grosseria. - Se levantou, um sorriso debochado pintando seus lábios enquanto ela se afastava para a cozinha.
— Você sabe muito bem o porquê do meu temperamento. - Me levantei, indo atrás dela.
— Sei, mas acho que eu, como a pessoa que mais tá te ajudando, deveria ser tratada melhor. - Anahí começou a pegar panelas e arrumar os suprimentos nos armários enquanto eu a olhava, recostada na parede ao lado da geladeira.
— Me desculpa se eu não consigo controlar o meu temperamento. Só que você não sabe o que é ser rejeitada pelos seus pais, não sabe o que é eles terem descoberto a sua sexualidade daquela forma, não sabe o que é perder o rumo, Anahí Portilla! Um pouquinho de compreensão e menos brincadeiras quanto à isso seria bom. - Àquela altura eu já gritava com a minha namorada.
— Quer saber, Dulce? Eu tô cansada de ser sempre a compreensiva, a fortaleza e qualquer outra coisa que mantêm esse relacionamento de pé. - Anahí jogou a panela no fogão e se afastou. - Se você quiser, faça a sua própria comida.
— Onde você vai? - Fui atrás dela, vendo-a abrir a porta e bater, sem me responder.
Assim que abri a porta, pude ver o elevador descendo com a minha garota dentro dele.
Droga, eu era uma babaca! Magoara a única pessoa que me restava, que continuava a me aguentar. Bati a porta com força e me sentei no chão, passando a chorar.
Como eu havia chego naquele ponto?
Antes da felicidade vinha tanta dor assim?
Autor(a):
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Anahí Portilla — Eu não sei o que está acontecendo com ela, amiga. - Suspirei, ouvindo Maite fazer o mesmo do outro lado da linha. - Eu sei que tô bem cansada. — Anahí, você sabe que eu sou o tipo de amiga que fica do seu lado mesmo quando você está errada, mas não agora e nem dessa vez. - Umedeci ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 4
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Gabiih Postado em 28/02/2019 - 14:15:26
Que linda história , eu amei meus parabéns que bom que tudo acabou bem depois de tudo oque as duas passaram, final lindo e merecido parabéns!!!
GioviSouza Postado em 13/03/2019 - 11:38:24
obrigada pelo carinho! <3
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Gabiih Postado em 25/02/2019 - 16:27:31
oi bom ainda estou lendo tudo, mas eu estou adorando posta mais!!!
GioviSouza Postado em 25/02/2019 - 16:31:06
olá! seja bem vinda! ela já está completa. espero que goste!