Fanfic: Aceita-me (RBD) | Tema: Rebelde, Romance, LGBT, Portinon

Dulce Maria

Agradeci aos céus por ela não ter olhado em meus olhos ou eu não seria capaz de mentir.

Eu tive que mentir para a Anahí ou eu não conseguiria conviver com a culpa de privá-la da graduação. Tínhamos opções, mas nenhuma delas era significativa para nenhuma de nós:

1) Eu iria para o Flamengo, Anahí viajaria todos os fins de semana para ficar comigo, mesmo eu sabendo que provavelmente teria algum compromisso, como um jogo. Isso desgastaria o nosso relacionamento.

2) Eu iria para o Flamengo e Anahí iria comigo, ambas deixariam a graduação inacabada.

3) Eu continuava em São Paulo, desempregada e desistia do meu sonho de jogar profissionalmente.

Não tinha porquê prologar mais esse sofrimento. O nosso relacionamento estava fadado ao fracasso e eu não hesitei quando pisei os pés no ônibus. Deixei que algumas lágrimas escapassem e escorressem por meus olhos.

A verdade é que eu voltei estranha do JUEF porque eu percebi que a vida de solteira já não me pertencia mais. Foi estranho perceber que eu tinha encontrado a pessoa que me completava tão cedo, enquanto tantos passam a vida toda procurando pela sua.

Mas algumas almas gêmeas não eram destinadas a ficar para sempre juntas e aquele era o nosso caso.

Na tela do celular, uma mensagem da minha mãe piscava na tela.

Carnaval 2018

Anahí Portilla

Já havia passado tempo o suficiente para que eu esquecesse aquela-que-não-deve-ser-nomeada, nome dado carinhosamente por Maite. Seis meses eram o suficiente, certo? Ou não havia tempo certo para esquecer alguém?

— Eu nunca superei a Viviana, ou o Rodrigo, ou o Mike...

— Ah, tá bom, Maite! - Angelique interveio. - A gente vai ficar aqui o bloco todo enquanto você fala todos os crushes que você não beijou e por isso não superou.

As duas estavam em clima de guerra desde que Dulce fora embora. Primeiro Maite queria que eu voltasse a falar com ela enquanto Angel discordava totalmente do ponto de vista da minha amiga. Até que Maite mandou algumas mensagens bêbadas para Dulce e acabou pegando ódio da minha ex namorada escrota, como ela mesma havia denominado. A verdade é que, nas mensagens, Dulce desdenhava do nosso namoro.

Depois disso, Angelique tomou o lugar de Maite e a minha amiga já não quis mais opinar sobre o assunto. A maior parte das vezes era só uma conversa minha e de Angel enquanto Maite se perdia nos próprios pensamentos, se recusando a abrir a boca. Chegava a dar raiva e eu desejava ser o Edward Cullen pra ler os pensamentos daquela capeta.

— Amiga, não precisa ficar com ninguém. Mas, pelo amor de Deus, você tá no Rio de Janeiro, vamos curtir um pouco! Acabou faculdade, estamos no carnaval, vamos nos formar logo e vai ser lindo! - Angelique insistiu, chacoalhando o meu braço.

É, eu estava no Rio de Janeiro. E não foi uma coincidência.

Maite nunca gostou do Rio, mas Angelique estava insistindo demais em me levar para lá e eu aceitei. Minha melhor amiga, para não me deixar sozinha com o perigo - como ela havia denominado o estado de espírito de Angel -, acabou vindo junto.

— Acabou o TCC, Anahí Portilla! - Maite gritou, me entregando um copo e saindo para os braços de algum carioca.

Revirei os olhos e ri da sua atitude. Não poderia esperar menos dela.

— Tem certeza que ela não vai aparecer aqui? - Perguntei pela milésima vez, mordendo o lábio inferior.

— Anahí, como uma jogadora de renome vai aparecer no meio desse bloco?

Apesar de ser futebol feminino, Dulce havia ficado conhecida como a nova craque do Flamengo. Os canais futebolísticos mostravam o seu rosto com mais frequência do que eu gostaria, mas eu sempre me pegava zapeando entre eles. Eu levava uma bronca se era pega por Maite - tendo ela e Angelique se mudado para o apartamento depois que Dulce foi embora de casa alegando ser só para ajudar a me reerguer.

— Eu não sei, tá bom? Vai que ela vai no camarote. - Beberiquei do copo da minha amiga e devolvi assim que ela se recuperou dos beijos.

— Quem vai no camarote?

— Ninguém. - Angelique lançou o olhar penetrante para a amiga que logo deu de ombros, um tanto alterada para ficar curiosa.

— Tudo bem. - Suspirei, me rendendo. - Vamos nos divertir na cidade maravilhosa.

— Arrasou, bicha! - Angel ergueu a mão e eu acertei a dela com a minha.

— Assim que eu gosto! - Maite concordou, um sorriso enorme nos seus lábios.

O meu sorriso aparecia apenas com um esforço muito grande nos últimos meses, mas ali estava ele, apenas para deixá-las felizes.

Dulce Maria

Eu queria descansar durante o feriado de carnaval, foi por isso que pedi para os meus pais não me visitarem naquele fim de semana no meu apartamento na Barra da Tijuca. Estava cansada demais para recebê-los como deveriam.

Quando descobriram que eu iria jogar no Flamengo - claramente não por mim, mas pelas meninas que jogavam comigo na faculdade que os parabenizaram, o que não fazia sentido nenhum - ficaram muito felizes. Dona Blanca não fez questão de esconder sua felicidade quando lhe disse que eu também havia terminado o meu namoro, mas eu pude ver a tristeza pintada nos olhos de meu pai.

Foi ali que eu entendi que meu pai me aceitava, que ele aceitava a minha relação e que a nossa relação só se fortaleceu depois disso. Ele me aconselhava a mandar mensagem para a garota, para explicar tudo para ela, mas não era tão fácil quando parecia. Eu a havia magoado de um jeito que eu sabia não haver perdão.

Isso não me impedia de saber dela por outras pessoas. Vez ou outra eu me via mandando mensagens para Maite enquanto Angelique me dava seu voto de silêncio. Depois de uma discussão com Maite, na qual eu falei coisas que poderiam magoar Anahí mais uma vez - e eu sabia que ela estaria ciente dessa discussão -, nunca mais obtive notícias. Pelo menos não até Angelique me mandar mensagem pouco depois.

Desde então eu tinha me aberto verdadeiramente para Angel como eu não tinha feito com Maite. Eu a conhecia há muito mais tempo e sabia que ela seria capaz de entender os meus motivos mais do que a própria Maite.

Eu soube como havia sido o TCC dela e o quanto ela havia ficado feliz por ter terminado a sua graduação. Fiquei feliz por ela, por ter deixado que ela fizesse isso, mas triste por não estar ao lado de Anahí, por não poder compartilhar dessa felicidade com ela.

Foi apenas no início de fevereiro que Angelique propôs que elas fossem passar o carnaval em Ipanema, podendo revezar entre os blocos em Copacabana, Ipanema e no Leblon.

— Eu vou te passar as localizações e você pode aparecer lá ao acaso. - Angelique sussurrava ao telefone.

— E como eu vou achar vocês no meio da multidão, Angelique?

— Mas você não é mais da multidão, meu amor. Você agora é do camarote.

Revirei os olhos para a sua constatação. Às vezes eu em esquecia de que agora tinha privilégios.

— Você já viu camarote no bloco, Angelique? - Ela riu do outro lado da linha. - Eu vou ver. Ando muito cansada ultimamente.

— A vida é uma só, Dulce. - Bufei e ela prosseguiu, sem se abalar. - De qualquer modo, vou te mandando a nossa localização. Se quiser decidir toda essa situação, sabe onde nos encontrar.

Deitada no meu sofá, eu olhei a localização que havia sido mandado há uma hora.

— Se eu quisesse resolver algo, com certeza não seria em um bloco de carnaval. - Murmurei para mim mesma.

Ou seria?

Anahí Portilla

— Eu não vou te beijar. - Pela milésima vez eu argumentava com um homem que estava sem camisa e tinha minha cintura enlaçada em seu braço.

— Por quê? - Ela tinha os lábios em meu lóbulo e eu tentava empurrá-lo com ambas as mãos espalmadas em seu peito nu.

— Eu já te expliquei o porq...

— Amigo, é o seguinte. Ela não tá afim! - Um garoto se aproximou.

— E quem é você? Sai daqui, moleque! - O mais forte o empurrou e, o que parecia ser o meu herói particular, cambaleou alguns passos.

Olhei feio para o macho escroto a minha frente e puxei o garoto para mim, beijando seus lábios. Quando tive certeza que o outro estava longe, depois de alguns xingamentos, me soltei do meu herói.

— Você é...? - Perguntei.

— Derrick, ao seu dispôr, senhorita. - Ele fez uma reverência e eu ri.

— Senhorita Anahí. Muito obrigada e muito prazer.

Ao longe eu vi o porquê das minhas amigas não terem e salvo: estavam preocupadas demais beijando - não entre si, mas com outras pessoas.

— Prazer foi todo meu. - Sorriu e eu beberiquei do meu copo, olhando para os lados.

Derrick não saiu do meu lado e eu olhei para ele, questionando-o.

— Perdi meus amigos. - Explicou.

— Ah, sim. - Assenti. - Eu também. - Apontei para onde Maite e Angelique estavam.

Depois disso, nós desenrolamos uma conversa de bêbado e nos protegemos de possíveis novas "ameaças" de acabarem com aquele momento.

Derrick também era de São Paulo, mais precisamente do Itaim Bibi, estava solteiro, trabalhava e era formado como publicitário. Aquele estilo não deixava enganar que ele era de comunicação.

Foi a minha vez de contar a minha história e eu não economizei no álcool. Quando percebi, o nome de Dulce já tinha saído por entre meus lábios e eu estava, literalmente, na sarjeta. Eu e meu mais novo amigo havíamos sentado no meio-fio e eu tinha a cabeça deitada em meus braços que estavam apoiados em cima dos joelhos.

— A verdade é que eu não sei mais o que eu quero depois de todo esse tempo. - Uns soluços e uma golada do que restava de bebida em meu copo, então eu pude continuar. - O baque foi grande. Tudo o que ela fez e falou me magoou muito. Essa decisão dela foi pra sempre, sabe? E eu sei que nunca mais vou ser genuinamente feliz sem ela. - Derrick assentia enquanto eu limpava as lágrimas. O primeiro e único beijo do meu carnaval até ali, o primeiro depois de todo esse tempo entre "estou bem" e nenhuma lágrima, tocou o meu braço, me dando forças para continuar meu desabafo. - Eu sei que tenho amigas ótimas, que me apoiam, que querem me ver bem com outra pessoa, mas você já viu alguém encontrar o amor da sua vida e simplesmente seguir em frente quando este te deixa? - O garoto negou e eu levantei os braços para o ar apenas para soltá-los nas pernas, em um forte tapa. - Não! Lógico que não! Isso não existe. - Ao longe, vi Angelique e Maite se aproximando, ambas riram e pararam assim que me viram. Pareceram ainda mais assustadas quando olharam para algo atrás de mim, mas eu estava bêbada demais para notar de imediato. - Eu nunca mais vou voltar com ela, nunca mesmo! Aliás, se eu a ver na rua... Ah, se eu a ver juro que vou...

— Vai o que?

Meu coração vacilou uma batida e eu arregalei os olhos para as minhas amigas que estavam em minha frente, ouvindo as minhas últimas palavras. Me virei com calma na direção da voz de quem eu nunca esqueci o timbre. Me levantei um pouco tonta pela bebida e ouvi o som da música um tanto abafado ao fundo.

O que eu faria se eu a visse? Beijaria? Bateria? Engoli em seco e olhei fundo nos olhos da garota que um dia eu jurei amar por toda a vida. Olhei para a pele bronzeada que ela tinha pelos treinos e por morar no Rio, um lugar ensolarado e recheado de praias. De gente bonita.

— Dulce... - Sussurrei, mas sabia que ela tinha escutado.

— Tudo bem, Anahí? Quanto tempo, hun?

Antes que eu tivesse qualquer reação, a garota abraçou meu corpo para o seu e eu retribuí o seu abraço. Meu rosto estava em seu pescoço sem permissão e eu senti o seu coração acelerado tanto quanto o meu.

— Senti saudades, Anahí. - Ela sussurrou em minha orelha e eu senti cada poro do meu corpo corresponder em um arrepio.

— Quais as chances, senhoras e senhores? - Ouvi a voz de Maite gritar por cima de todos.

Derrick riu da constatação da minha amiga e eu já sentia a sobriedade tomar conta do meu corpo.