Fanfic: Aceita-me (RBD) | Tema: Rebelde, Romance, LGBT, Portinon

— Eu realmente achei que tinha perdido o papel na rua, mas como eu ia voltar pra procurar? Podia tá em qualquer lugar. Quando eu cheguei em casa e abri a minha carteira, tava lá! No dia seguinte cheguei pro cara e contei que o papel do estacionamento tava na minha carteira. - Eu contava mais uma das minhas histórias para Maite e Anahí, vendo seus sorrisos e ouvindo suas gargalhadas.

— E o cara? - Perguntou Anahí.

— Mandou eu tomar no cu. - Dei de ombros, fazendo-as rir ainda mais.

— Você é mais lerda que a Anahí. - Maite disse, se levantando com a garrafa de cerveja na mão. - Vou dormir. Beijo pra quem fica. - Mandou um beijo e eu retribui com uma piscadela. - Não faça isso! - Ela apontou pra mim.

— Eu não fiz nada! - Disse, arregalando os olhos e rindo, vendo Anahí me olhar desconfiada.

— Eu te vi piscar, sua ridícula. - Anahí disse.

Neste ponto, Maite já estava indo para o seu quarto e o baque da sua porta foi ouvido, deixando o clima mais pesado. Aquilo acontecia sempre que eu e Anahí ficávamos sozinhas depois daquele incidente no chão.

Uma parte minha queria agradecer Maite por ter interrompido tudo. A outra parte, uma que eu queria ignorar e que parecia dominar, me convencia de matar Maite.

A verdadeira pergunta era: eu estava gostando daquela interação com a Anahí?

Já ia completar uma semana que eu estava dormindo no sofá delas. Apesar de Anahí insistir para que eu dormisse em sua cama, neguei veementemente. Como poderia? Eu saberia se teria controle sobre meus movimentos? Eu disse meus movimentos? Quis dizer movimentos dela. Anahí poderia me atacar, certo? Era como quando estava com um homem, você tinha que ser cuidadosa.

Claro que sempre que eu ia na cozinha e a encontrava na ponta dos pés tentando alcançar algo no alto, ficava um tanto hipnotizada. Anahí tinha um corpo lindo e eu teria inveja, mas era outro tipo de sentimento que se apossava de mim, o qual eu não queria denominar. Queria acreditar que a cozinha era pequena por isso eu esbarrava nela vez ou outra, mas era espaçosa o suficiente para caber diversas de nós duas.

Não percebi que ela havia levantado até vê-la recolher algumas garrafas de cerveja do chão. Passei a ajudá-la em silêncio e levamos até a mesa de jantar. Anahí se recostou ali, as mãos apoiando seu corpo como se estivesse prestes a sentar em cima da mesa. Apoiei minha mão ao lado da dela e outra na minha cintura, olhando-a brincar com os próprios pés.

— Vai dormir, Anahí? - Perguntei.

— Tá com sono? - Ela levantou seu olhar e ali tinha um brilho de esperança.

— Não. Mas você deve estar. É a chefe dessa família. - Ela me olhou confusa e eu expliquei meu ponto: - Você sustenta essa casa com duas filhas.

— Ah, entendi. - Ela riu baixo, balançando a cabeça em negação. - Maite também ajuda. - Deu de ombros. - Mas você tem razão, estou cansada. E amanhã vamos comemorar o seu aniversário. Tenho que estar bem descansada.

— Não acredito que vocês vão me obrigar a ir na Augusta. - Revirei os olhos.

— Você vai amar e nunca mais vai querer ir em outro lugar.

Assim que  Anahí finalizou a frase e começou a se aproximar, eu fiquei paralisada, esperando qualquer movimento dela. Fechei os olhos e, assim que senti sua mão em meu pescoço, recuei de imediato.

— Não faça mais isso. - Eu estava ofegante, o pescoço encolhido e as mãos espalmadas na frente do corpo.

— Isso o quê? - Anahí me olhou com uma inocência claramente fingida.

— Não mexe no meu pescoço. Eu morro de aflição! - Estremeci só de pensar nela chegando perto do meu pescoço mais uma vez. - Ainda mais com essa sua mão gelada que nem um defunto.

Anahí gargalhou e foi se afastando, as mãos erguidas espalmadas na altura dos ombros em redenção.

— Tudo bem, boa noite.

E eu só me dei por vencida de que ela não voltaria para atacar meu pescoço quando ouvi a porta do quarto se fechar.

— Boa noite, Anahí. - Sussurrei.

— Shh, não faz barulho, Maite. - Ouvi a voz da Anahí, logo depois de uma batida da porta de um armário.

Gemi e me virei no sofá, cobrindo a cabeça com o cobertor.

— Ela já deve tá acordada. A gente tem que decidir o que vai almoçar. - Maite respondeu a amiga.

Almoçar?

Me sentei no sofá e ao lado do meu travesseiro estava um Diamante Negro, meu chocolate preferido, me esperando. Sorri e o abracei para mim.

Virei meu rosto pra encontrar as duas me olhando em expectativa, sorrisos pintando os lábios e uma mesa com bolos e alguns doces, e bexigas espalhadas.

— Parabéns pra você, nesta data querida... - E o coro das duas se iniciou, me fazendo levantar e abrir o maior dos sorrisos.

Anahí foi a primeira a me abraçar e eu fiz questão de tirá-la do chão, girando-a comigo. Maite veio em seguida, abraçando nós duas.

— Acho que esse é o melhor aniversário da minha vida. - Confessei, me debruçando sobre a mesa e soprando as velas de número dois e um, uma ao lado da outra.

E aquela era a primeira verdade que eu dizia no meu vigésimo primeiro aniversário.

Nos sentamos na mesa e começamos a comer os doces e o bolo. Maite havia feito e estava uma delícia - como tudo o que ela cozinhava.

— Você fez o curso errado, devia estar em gastronomia. - Disse, bebendo um pouco do meu refrigerante.

— Ah, você nem se atreva a falar isso. Eu não passei quatro anos da minha vida em educação física pra virar chefe de cozinha ou fazer esses docinhos de fresco. - Maite ficou séria, era frustrante para ela nunca ter trabalhado na área. Eu a entendia.

A nossa área pagava mal e ainda poderíamos não ser inseridas nela.

— Você ainda pode fazer gastronomia, por diversão. - Anahí sugeriu, dando de ombros.

— É, talvez. - Murmurou.

— Eu, por exemplo, quero fazer fotografia. - O olhar de Anahí encontrou o meu como um ímã quando ela disse isso.

— Eu vou casar com você, Anahí Portilla. - Falei sem pensar.

— Como é que é? Isso foi um pedido? São muitas emoções pra uma pessoa só. Dá licença, vou me retirar. - Maite disse, se levantando e saindo dali.

Eu e Anahí rimos da atitude dela.

— Já comeu seu chocolate? - Anahí questionou, erguendo uma sobrancelha.

— Não. - Peguei o chocolate e mostrei que ainda estava ali. - Quer dividir?

Anahí assentiu e eu o abri, dando dois quadrados dos quatro para ela e dois para mim. Passei a chupar o chocolate e tirá-lo da boca.

— Eca, Dulce. Você é nojenta. - Anahí disse, gargalhando da minha atitude.

— Não tem nada demais. - Dei de ombros. - Gosto pra comer o caramelo de dentro.

Passei a mexer no celular, vendo algumas felicitações e ouvindo a risada de Anahí ecoar. Um dos parabéns, o de Christopher, vinha com a escolha de um chocolate dentro de uma caixa de bombom.

— Olha só esse cara me perguntando qual chocolate eu quero. - Mostrei a tela do celular para Anahí e vi Maite se aproximando.

— A pessoa que não sabe nem o seu chocolate preferido não merece nem meu respeito. - Maite falou, lavando as mãos na pia.

Aquilo fez com que eu e Anahí ríssemos.

— Isso é verdade. Sabemos mais do que esses contatinhos. - Anahí disse, sorrindo convencida.

Ela tinha toda a razão.

Passamos o resto da tarde entre comer algumas porcarias e ver séries para a noite estarmos calibradas para nos divertirmos. Anahí foi a primeira a se voluntariar para tomar banho, enquanto eu e Maite ficamos vendo Grey's Anatomy.

Eu achei que ficaríamos em um completo silêncio, mas Maite chamou a minha atenção.

— Você ficaria com a Anahí? - Questionou a mais nova.

— O quê? - Eu ri, olhando pra ela enquanto esta ainda continuava fixa na TV. - Não. Eu não beijo mulheres.

— Porque ainda não testou, só por isso. E a Anahí é um bom começo. - Maite continuou, agora olhando para mim.

— Por que a Anahí é um bom começo? - Perguntei em curiosidade.

— No começo da faculdade, eu namorava com uma garota e Anahí sentia repulsa de beijar garotas. Ela beijou a primeira, mas foi traumático, porque foi forçado. Quando ela beijou de novo, não quis mais largar. Eu mesma, na balada, prefiro beijar garotas. São mais delicadas e respeitam o seu espaço. - Deu de ombros.

— Tá querendo dizer o quê?

— Estou querendo dizer, Dulce, que você é a Anahí no início da faculdade. - A garota pegou minha mão entre as suas e me sorriu com empatia. - E é só uma questão de tempo para você evoluir. - Piscou na minha direção, como eu adorava fazer para ela.

Eu vi Maite se afastar para o próprio quarto, provavelmente para escolher sua roupa. A garota me deixou ali, sentada, com um milhão de minhocas na cabeça.

Anahí saiu naquele momento do banheiro enrolada na toalha e me olhou, dando um meio sorriso.

— Tá livre. - Disse.

— Tudo bem. - Disse, no automático e me levantei, pegando a toalha e me trancando ali.

Soltei o ar que estava prendendo e nem havia percebido, me encostando na porta. Eu ficaria louca naquela casa e a culpa seria dessas meninas.

Anahí Portilla

Estávamos descendo a Augusta perto da meia noite, do mesmo jeito que o resto das pessoas ali. Chegamos no Beco 203, a balada que analisamos ser a mais hétero dali para que Dulce não implicasse e fomos direto para o bar.

Pedimos catuaba e saímos bebendo pela balada, dançando um pop animado que tocava. Dulce estava um tanto contida, mas ainda dançava ao som da música - nem um pouco como Maite e eu que já nos soltávamos.

Alguns garotos e até garotas chegavam em nós para tentar nos beijar, mas eu e Dulce repelíamos. Maite aproveitava os que mais faziam o seu tipo e beijava com toda a vontade, aproveitando para pegar o contato de alguns deles.

Depois de algumas catuabas, Dulce já estava mais livres e, em algum momento, ela beijou um dos garotos que chegou nela. Congelei, porque não sabia como reagir naquela situação. Engoli em seco e olhei para Maite, que também havia parado de dançar e piscava para ver se não estava vendo uma miragem.

Ao invés de ficar magoada, eu quis ser aquele garoto. Quis sentir os lábios dela moldando os meus, a sua língua adentrando na minha boca, quis tocá-la como ele fazia. Quando a mão dele escorregou pra bunda dela, de imediato foi repelido.

Eu achei que Dulce era do tipo de casava com alguém quando estava na balada, mas a falta de respeito dele poderia ter mudado isso para ela.

— O que foi, gente? Parece que viram um fantasma. - Dulce riu das nossas expressões e voltou a dançar.

Aquela era uma Dulce diferente. Ela estava maquiada e arrumada, mais linda do que nunca, e eu achei que o dia dia dela era o máximo que ela conseguia, mas estava enganada. Ela poderia ser linda do jeito que quisesse.

I Feel It Coming do The Weeknd começou a tocar e a balada foi ao delírio. Maite beijou mais algum garoto enquanto isso, mas eu fui até Dulce. Em nenhum momento a garota pareceu querer resistir à minha aproximação, virando de costas para mim e passando a rebolar, enquanto minhas mãos iam para a sua cintura.

Passei a roçar o nariz no seu cabelo, sentindo o seu cheiro, a textura dos seus cabelos bem lavados. Apertei seu quadril e subi para a sua cintura, sentindo uma de suas mãos pararem na minha nuca. Dulce jogou a cabeça para trás e deitou em meu ombro com os olhos fechados, eu pude ver, e isso me permitiu que eu acariciasse seu rosto com meus lábios. Era só ela virar alguns centímetros e eu estaria beijando seus lábios.

Como se tivesse levado um choque, Dulce se afastou e tentou disfarçar o seu pequeno susto pelo que fazia com um sorriso. Continuamos a dançar como se aquilo não tivesse acontecido, como se ela não estivesse cedendo, mas aconteceu e ela estava pouco a pouco cedendo mais.