Fanfic: Esse Coração

Mia vivia com sua aldeia em uma floresta, uma aldeia de pacifistas. A renda dessa aldeia era conseguida com produtos artesanais e batas que o pai de Mia, Franco Colucci, vendia no centro da cidade. As casas eram feitas de madeira e não havia tecnologia, a luz vinha ou de velas ou de lamparinas espalhadas pelos locais.

Mia estava em seu quarto, se arrumando. Passou batom, rímel e blush e se olhou no espelho.

- Hoje Mia... - balançou o cabelo. - Você vai arrasar!

A noite era de festa, pois Mia completava 17 anos. Havia uma grande fogueira no centro. Todas as pessoas vestiam branco e batiam palmas enquanto Mia dançava perto da fogueira. 

Franco estava sentado perto dos outros, era líder daquela aldeia, e ao seu lado estava o sobrinho Rocco. Um pouco mais novo que Mia.

- Minha prima está linda não? - perguntou Rocco enquanto batia palmas. - Tinha que ser minha prima.

- Convencido hein? - riu Franco.

Rocco riu, olhou para o tio e ficou sério. 

- Você já falou com ela tio?

- Sobre o que? - perguntou Franco, parando de bater palmas.

- Oliver...

- Não, o dia é especial para ela, não quero estragá-lo.

- Ela vai ficar chateada quando souber...

- Eu não pude evitar... Ele me chantageou!

- O que?

- Ele me conhece da loja, é um freguês e tanto... Viu Mia trabalhando comigo, quando ela saiu para almoçar, eu fiquei para fechar a loja e ele falou do filho dele. Ele precisa se casar para ganhar algum título da rainha da Inglaterra... E ele gostou da Mia e ameaçou, falou que destruiria minha loja e aldeia caso eu recusasse.

- Canalha! - disse Rocco.

- Amanhã conversarei com Mia... Ela terá de entender...

O dia chegou sem problemas. Rocco, Franco e sua esposa, Valéria, já estavam na sala das refeições. A mesa estava com frutas, pães e sucos. Todos eram vegetarianos. 

- Assim que Mia descer, eu falo com ela e...

Mia entrou na sala das refeições sorrindo.

- Bom dia família!

Mia beijou seu primo no rosto e sentou-se a seu lado. Estava sorrindo, mas este se desfez ao ver a expressão séria do pai e o do primo.

- O que houve? Por que essas expressões?

Rocco e Franco trocaram olhares.

- Me digam! Estou ficando nervosa! - disse Mia.

- Mia, você está comprometida.

- O quê?

Valéria olhou para Mia com indiferença enquanto pegava um pão.

- Você vai se casar com Oliver, um garoto inglês... Filho de um poderoso ministro, Antônio. Ele é freguês em minha loja, sempre compra ótimas batas e, quando ele a viu comigo, disse que o filho receberia um título da rainha caso se casasse, e ele escolheu a você.

- E você fala com uma naturalidade... - disse Mia com ironia. - Com licença... Perdi a fome.

Mia se levantou e subiu para seu quarto.

- Mia! - disse Rocco indo atrás da prima.

Franco deteve o sobrinho, puxando ele pelo braço.

- Deixe filho... Eu vou.

Franco subiu as escadas.

Valéria deixou uma risada escapar. Rocco olhou-a com indignação.

- Do que está rindo? - perguntou Rocco.

- Do escândalo da sua prima, você acha que eu gosto dos dois?

- Ora que bom! Eu e Mia compartilhamos do mesmo sentimento para com você!

Valéria se irritou ao ouvir tais palavras e levantou-se, apontando o dedo para Rocco.

- Escuta aqui, sou esposa do seu tio! Você me deve respeito!

- Isso é uma ameaça?

- Sim!

- Pois saiba que há muito tempo perdi medo de cobras.

Rocco lhe deu as costas e saiu. Valéria gritou de raiva e voltou-se a sentar à mesa.

Mia estava em seu quarto, deitada na cama e chorando. Ao lado da cama tinha uma pequena mesa com sua maquilagem, na parede havia um espelho. Do outro lado havia o guarda-roupa e a cama ao centro, em cima havia uma janela, por onde Mia podia ver a floresta e ao fundo os arranha-céus da cidade, estragando a paisagem. Franco entrou e deteve-se na porta, há algum tempo Mia era criança e agora tinha 17. Trajava uma calça saruel e uma bata justa.

- Filha... - disse Franco enquanto sentava-se na cama.

Mia levantou-se e olhou para a janela. Franco pôde ver refletida a mão de Mia secando as lágrimas.

- Entenda minha filha, que...

- Entender o que pai? - perguntou Mia, virando-se para o pai. - Que vou me casar com alguém que nem conheço? Que não amo? Não era esse o casamento que eu pretendia ter!

- Nem eu filha! Mas Antônio me ameaçou! Ele disse que queimaria a aldeia e destruiria minha loja caso eu recusasse a oferta.

- Mas por que eu, meu pai? 

- Entenda filha! - disse Franco enquanto passava a mão no cabelo da filha. - A vida às vezes quer algo que nós não queiramos, muda nossos planos e... A nós cabe aceitá-lo. Você não sabe o quanto foi difícil dizer sim, que aceitava a proposta.

- Tudo bem pai... Deixe-me só! Quero descansar... O dia ontem foi... - parou para respirar e secar as lágrimas.

- Entendo filha. - disse Franco levantando-se. - Mas arrume-se, eles almoçarão aqui!

Franco saiu do quarto. Mia levantou-se e caminhou até o guarda-roupa, abriu-o e viu um vestido lilás que havia feito, era de seda, com alça e a saia ia até o joelho. O corpete tinha algumas pedras enfeitando. Mia puxou o vestido ao lado, um branco, simples, também de alça, de algodão e com uma fita na cintura, tinha um lindo laço como enfeite e batia no joelho, assim como o outro. Despiu-se e vestiu o vestido branco.

Ao chegar na escada, pôde ver duas silhuetas desconhecida. Uma era de um homem, forte, com terno preto, cabelos grisalhos e alto. Ao lado tinha um garoto. Com o cabelo castanho claro, trajava uma blusa social e uma gravata azul. Calça de tecido liso e preta e sapatos pretos. Mia desceu, suas sandálias fizeram barulho ao bater na madeira, o que atraiu a atenção de Antônio e Oliver, que olharam para trás. Mia olhou para os dois e caminhou até o lado do pai.

- Mia! - disse Franco. - Estes são...

- Antônio e seu filho Oliver, suponho. - disse com indiferença na voz.

- Sim... - exitou o menino. - Prazer... - esticou a mão.

Mia cruzou os braços e olhou para o menino. Franco surpreendeu-se com a atitude da filha, era uma menina super educada.

- Onde está sua educação filha?

Mia revirou os olhos e segurou a mão de Oliver. A mão era macia e lisa feito seda, Oliver puxou a mão da menina e a beijou. Mia se encantou pela atitude do menino. Oliver levantou-se, após uma reverência, e olhou para a menina. Mia sorriu, mas puxou sua mão para não dar-se por vencida.

- Com licença, vou respirar um pouco... - disse Mia enquanto saía.

- Mia! - Franco tentou impedí-la.

- Não se preocupe Franco... - disse Antônio. - Oliver reagiu de mesma maneira quando soube.

Oliver passou a mão no cabelo e sorriu envergonhado.

Oliver saiu da casa de Franco e foi procurar Mia. Olhou para os lados e viu uma pequena trilha. Seguiu-a com dificuldade, teve pedaços da calça rasgadas pelos galhos no caminho. Encontrou Mia sentada em uma pedra e passando a mão na água. Era linda!

- É Mia... - respirou fundo a menina. - Se pensava que ia ser feliz... Esqueça.

Oliver escorregou e caiu ao lado da menina. Mia olhou para o lado e riu. Oliver levantou-se e alisou a blusa, que estava empoeirada, e sorriu para a menina. Mia levantou-se, sorriu e virou as costas.

- Espere... - disse Oliver enquanto puxava Mia pelo braço. - Gostaria de conversar contigo.

- Não temos nada para conversar... Vamos nos casar e basta.

- O que eu te fiz para me tratar com desprezo? Meu pai arranjou este casamento! Eu só estou tentando ser um bom noivo...

Mia respirou fundo e pôs a mão no ombro do menino.

- Me perdoe... Deixe-me me acostumar com a ideia antes tudo bem? Estou com a cabeça a mil, soube somente hoje e...

Oliver pegou a mão de Mia e a beijou, depois colocou sua outra mão por cima.

- Entendo...

- Se me der licença... Vou respirar um pouco.

Mia seguiu e desapareceu entre as grandes folhas e a escuridão da vegetação alta. Oliver respirou fundo e viu a menina partir.

Miguel estava sentado em um banco, conversando com Giovanni. Na entrada da floresta, que era propriedade de Franco, só entrava quem tinha permissão. Os dois levantaram-se e olharam para a floresta enquanto conversavam.

- Quem é? - perguntou Miguel olhando para uma jovem distante, que chamava a atenção com sua roupa branca na vegetação.

- Não sei... - disse Giovanni. - Mas não para de olhar para cá.

- Deve ser da aldeia daqueles malucos... Como é o nome? Pacifício?

- Pacifista! - disse Giovanni.

- Isso... Não imaginei que haveria alguém tão bela quanto ela no meio dessa floresta... Quem aguentaria?

- Por que não tenta falar com ela? Talvez você consiga... - Giovanni começou a rir maldosamente.

- Pare com isso! Eu tenho namorada!

- Ah sim, esqueci que o Romeu tem a sua Julieta.

- Vamos... Amanhã eu entrarei nessa floresta...

- Para que? - perguntou Giovanni.

- Estou atrás de uns pássaros exóticos... - disse Miguel virando as costas.

Giovanni riu.

- E de quebra, tenta conquista alguém não é?

- Cale a boca! - disse Miguel puxando o amigo com o braço e seguindo para o centro.

Franco estava desesperado, andando de um lado para o outro, preocupado com a filha.

- Ela sabia do compromisso e... 

- Acalme-se Franco... - disse Valéria.

- Você! - disse Rocco apontando para Oliver. - Você foi procurá-la, deveria saber onde ela está!

- Ela entrou no meio do mato! Eu ia me arriscar entrando lá e me perdendo com cobras?

- Ora... E desde quando uma cobra é tão perigosa? Você é um fresco e...

- Deixem de briga! - interferiu Franco. - Não é culpa dele!

Mia entrou.

- Onde estava? - perguntou Franco.

- Andando... - disse Mia.

- Venham... Vamos almoçar.

O almoço havia passado rápido. Já era noite. Mia estava em seu quarto, somente a luz da lua o iluminava. Mia olhava para o céu e lembrava do rosto de um menino moreno.

- Um dia você será meu... Eu sinto! - disse a menina enquanto ria.