Fanfic: Esse Coração

Mia e Miguel ainda estavam parados. Miguel olhava fixamente para Mia, enquanto ela estava parada, sem saber o que fazer. Diante da demora do garoto, Mia resolveu desafiar.

- O que houve? Perdeu a coragem?

- Não me provoque! - disse Miguel.

Mia se calou.

- Então atire... - disse enfim.

O dedo de Miguel começou a tremer no gatilho, após alguns minutos o garoto abaixou a arma.

- Não. Não vou te matar.

Retirou a arma, que tinha uma alça atravessando seu peito e tacou numa nascente. Mia sorriu para o menino e caminhou até ele.

- Que bom que você fez a coisa certa... No fundo, você é mesmo a pessoa que eu pensei que fosse...

- Como assim?

- De longe, você aparentava ser um bom garoto, carinhoso, divertido... 

- Ah, obrigado. Bem, deixe-me ir...

Miguel começou a andar. Mia virou-se para o menino.

- Espera.

Miguel olhou para Mia.

- Obrigada. - a menina sorriu.

Miguel sorriu de volta. Mia começou a andar. 

- Como posso te encontrar de novo? - perguntou enfim o menino.

- Eu moro aqui, não será difícil encontrar minha aldeia! Só tem que falar com meu pai na loja, antes.

- Nos vemos então - disse com um sorriso.

Miguel continuou a andar. Mia o viu desaparecer entre as folhas e começou a rir. Andou distraidamente. Passou por entre arvores, folhas grandes, sem perceber que aquele não era o caminho para sua casa. Os prédios começavam a surgir por entre os troncos das imensas árvores. Esbarrou em uma pessoa. A pessoa virou-se.

- Você de novo... - sorriu Miguel. - Creio que não nos apresentamos... Sou Miguel.

Mia sorriu.

- Sou Mia.

- Prazer Mia... - disse Miguel enquanto beijava seu rosto.

Mia sentiu-se envergonhada, mas sorriu, sem esconder a timidez. 

- Você não ia para casa? - perguntou Miguel, com vontade de tapear a cabeça. Um convite para a menina se retirar.

- Ah... Para ser sincera... - disse a menina entristecida. - Te conhecer foi a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos dias... Quero dizer... Você ao menos me fez esquecer uma coisa.

- E... Que coisa? - perguntou Miguel passando a mão no rosto da menina.

Miguel sentiu a leveza daquela pele, como se estivesse acariciando um pano de seda. Mia sentiu os pêlos do braço arrepiarem e andou para distante do garoto, acariciando os braços.

- Bem... É que...

Mia virou-se para Miguel.

- Meu pai me arranjou um noivo e...

- Arranjou?

- Sim... Um homem, um ministro inglês, é cliente do meu pai, sempre encomenda batas... O filho dele vai receber algum título da rainha, caso se case, e ele escolheu a mim para ser esposa do filho dele... E ainda ameaçou destruir nossa aldeia, caso meu pai aceitasse...

- Que coisa horrível! Como ele pôde fazer isso? Deve ter alguma lei que... Bom... Não há o que fazer? Lutar pelo que é seu?

- Não posso, minha aldeia pagará por qualquer atitude... Agora terão de se acostumar com meus sorrisos tristes, olhares vazios, lágrimas de solidão...

Miguel passou novamente a mão no rosto da menina. Era algo que precisava ser tocado. Mia deixou-se levar pelos braços do menino, que a abraçaram.

- Queria tanto te ajudar... - disse Miguel.

Mia olhou para o menino, sorriu e se afastou.

- Não há muito a fazer... Me desculpe por te perturbar com meus problemas, mas é que... Na aldeia eu não tenho com quem falar... Tenho meu primo... Mas ele se estressa fácil e...

- Nossa, um pacifista se estressando...

- Pois é... - disse a menina rindo.

- Bom... Você tem a mim agora.

Miguel segurou a cintura da menina. Mia sorriu e deixou-se ser beijada pelo menino moreno. Enfim o havia conquistado.

Na aldeia, Franco andava de um lado para o outro, preocupado com sua filha.

- Onde ela está? Por que essa demora? Você ligou para ela Rocco?

- Claro tio... - assentiu o rapaz.

- Vamos sair para procurá-la! Franco e Oliver, vocês virão comigo, Rocco, fique, caso ela volte - disse Antônio.

Franco olhou para Rocco e assentiu, o que significava "obedeça". Antônio saiu, sendo seguido por Oliver e Franco. Rocco, apesar de viver numa aldeia de pacifistas, se estressava fácil, tinha sessões de yoga e meditação, mas nada parecia fazer efeito. 

Mia se afastou e deu as costas para o Miguel, nunca um garoto havia sido atrevido com ela daquela maneira. 

- Perdão Mia... Eu...

Mia virou para o menino e sorriu.

- Não há problema... Só foi algo inesperado...

Algumas gotas começaram a cair e logo começou a chover forte.

- Essa não! - disse Mia.

Mia correu para a floresta, mas foi puxada por Miguel.

- A chuva está forte, o caminho está todo cheio de lama! Acompanhe-me!

- Minha aldeia é aqui perto e...

- Você vai se sujar toda, venha comigo! Pode confiar... - estas últimas palavras o menino disse com um sorriso no rosto. Mia sorriu de volta e deixou Miguel puxá-la pela mão.

Oliver e Antônio voltaram com as roupas molhadas para a casa de Franco.

- Onde está meu tio? - perguntou Rocco.

- Não sei... - disse Oliver recebendo uma toalha de Valéria.

- Essa não! Tio! - gritou Rocco enquanto saia de casa.

- Menino, venha cá! - disse Antônio.

Antônio e Rocco saíram de casa atrás de Franco.

Em uma area descoberta, Franco gritava desnorteado.

- Mia! Mia minha filha, onde está? Mia...

A respiração começou a lhe faltar. Franco caiu desmaiado no chão. Rocco empurrou algumas folhas e reconheceu seu tio, gritou e correu até o corpo.

- Tio! Antônio! Ajude-me! Meu tio está com febre!

Rocco pegou o corpo do tio com dificuldade.

- Ajude-me! - gritou Rocco.

- Eu ajudarei mostrando o caminho... - disse Antônio.