Fanfics Brasil - 1. Ucker Fingindo - Adaptação | New Adult

Fanfic: Fingindo - Adaptação | New Adult | Tema: Vondy


Capítulo: 1. Ucker

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Christopher


 Você não acreditaria se eu dissesse que agora já me acostumei. Que não vou me sentir ferido por uma flecha enferrujada no peito sempre que os encontrar juntos. Você acharia que eu já teria parado de me sujeitar à tortura de ver a menina que tanto amei com outro cara. Você estaria enganado nos dois casos. Um vento nordeste acabou de soprar, então o ar na Filadélfia está fresco.


 A neve de vários dias ainda se acumula sob minhas botas. O barulho parece surpreendentemente alto, como se eu estivesse indo para a forca, e não apenas beber um café com amigos. Amigos. Dei uma daquelas risadas engraçadas do tipo “não é tão engraçado assim”, e minha voz saiu como fumaça.


Eu podia vê-los de pé num canto ali perto. Os braços de Natália envolvem Garrick pelo pescoço e os dois ficam ali abraçadinhos na calçada. Cobertos por casacos e cachecóis, eles podiam estar num anúncio de revista ou numa daquelas fotos perfeitas que vêm junto com o porta-retrato quando você o compra.


Eu odiava aquelas fotos.


Tentei não sentir ciúme.


Eu estava superando tudo.


Estava.


Queria que Natália fosse feliz, e, quando ela pôs as mãos nos bolsos do casaco de Garrick e suas respirações se misturaram, ela com certeza parecia feliz. Mas esse era, em parte, o problema. Mesmo que eu tivesse conseguido me livrar completamente dos meus sentimentos por Natália, era a felicidade deles que inspirava meu ciúme. Porque eu estava triste pra caralho. Tentei me ocupar, fiz alguns novos amigos e vivia uma vida decente aqui, mas simplesmente não era a mesma coisa. Recomeçar era uma droga. Numa escala de um a barraco, meu apartamento era um sólido oito. As coisas ainda estavam estranhas com meu melhor amigo. As pilhas de contas do meu financiamento estudantil eram tão altas que eu achava que seria soterrado por elas a qualquer momento. Eu achava que, ao concluir o mestrado, colocaria ao menos uma parte da minha vida no rumo certo...


ERRADO.


Eu era o mais jovem do mestrado, e todos os outros tinham no currículo anos e anos de trabalho no mundo real. Todos tinham suas vidas constituídas, e a minha estava tão limpa e arrumada quanto os banheiros comunitários do meu dormitório de calouro. Eu estava ali havia quase três meses, e o único trabalho que arranjei como ator foi uma figuração como mendigo num comercial do hospital Bom Samaritano. É, eu estava vivendo uma vida muito boa mesmo. Percebi que Natália notou minha presença porque ela tirou rapidamente as mãos dos bolsos de Garrick, colocando-as em segurança ao lado do corpo. Ela se livrou do abraço dele e me chamou:


— Christopher! Sorri. Talvez eu estivesse atuando um pouco mesmo. Eu os encontrei na calçada e Natália me deu um abraço. Curto. Obrigatório. Garrick apertou minha


mão.


Por mais que isso me enojasse, eu ainda gostava muito do cara. Ele nunca tentou impedir que Natália me visse e aparentemente me deu uma recomendação incrível quando me inscrevi na Temple. Ele não saiu por aí demarcando o território ou dizendo para me afastar. Ele me deu a mão e pareceu sincero ao dizer: — Que bom vê-lo, Christopher. — É bom ver vocês também.


Fez-se um silêncio constrangedor e então Natália tremeu exageradamente. — Não sei quanto a vocês, mas eu estou congelando. Vamos entrar. Entramos juntos.


O Mugshots era uma cafeteria durante o dia e servia álcool à noite. Nunca estive ali antes, já que o lugar fica longe do meu apartamento perto do campus da Temple e porque eu não bebia café, mas ouvi falar bem. Natália amava café eu ainda adorava fazê-la feliz, então concordei em nos encontrarmos aqui quando ela ligou. Pensei em perguntar se eles me serviriam álcool, mesmo sendo tão cedo. Em vez disso, pedi uma vitamina e encontrei uma mesa grande o suficiente para que tivéssemos muito espaço. Natália se sentou primeiro, enquanto Garrick esperava pelas bebidas deles. Ela tinha o rosto rosado pelo frio, mas o inverno combinava com ela. O cachecol azul amarrado em seu pescoço ressaltava seus olhos, e seus cabelos caíam sobre os ombros, expostos ao vento e lindos. Droga. Eu tinha que parar de fazer isso.


Ela tirou as luvas e esfregou as mãos. — Como você está? — perguntou.


Fechei os punhos sob a mesa e menti: — Estou ótimo. As aulas são ótimas. Estou amando a Temple. E a cidade é ótima. Estou ótimo.


— Está? — Dava para ver pelo olhar dela que Natália sabia que eu estava mentindo. Ela era minha melhor amiga, então era bem difícil enganá-la. Ela sempre foi tão boa em me interpretar... exceto quando se tratava dos meus sentimentos por ela. Natália sabia identificar praticamente todos os meus outros medos e inseguranças, mas nunca meus sentimentos por ela. Às vezes eu me perguntava se era só ilusão. Talvez ela nunca tenha reconhecido meus sentimentos porque não quis.


— Estou — garanti. Ela não acreditou, mas me conhecia bem o suficiente para saber que eu precisava me apegar à minha mentira. Eu não podia lhe contar meus problemas, não agora. Não temos mais esse tipo de relação. Garrick se sentou. Ele trouxe nossas bebidas. Eu nem mesmo ouvi anunciarem meu pedido. — Obrigado — eu disse. — Sem problemas. Sobre o quê estamos conversando? Aqui vamos nós novamente. Bebi um gole demorado da minha vitamina para não ter de responder imediatamente. — O Christopher acabou de me falar sobre suas aulas — comentou Natália. — Ele está arrasando na faculdade. — Pelo menos algumas coisas não mudaram. Ela ainda me conhecia o suficiente para saber quando eu precisava de um tempo. Garrick empurrou a bebida de Natália na direção dela e sorriu quando ela deu um gole comprido e prazeroso. Ele se virou para mim e disse: — Que bom ouvir isso, Christopher. Que bom que esteja tudo bem. Ainda tenho uma relação com os professores da Temple. Se você precisar de algo, então, sabe que só precisa pedir.


Meu Deus, por que ele não agiu como um babaca? Se agisse, um bom soco teria bastado para aliviar a tensão no meu peito. E seria muito mais barato do que socar a parede do meu apartamento.


— Obrigado. Vou me lembrar disso — eu disse. Conversamos sobre coisas sem importância. Natália falou sobre sua produção de Orgulho e Preconceito, e eu percebi que Garrick foi mesmo muito bom para ela. Nunca imaginei que, dentre todos nós, ela é quem faria teatro profissionalmente logo depois da formatura. Não que Natália não fosse talentosa, mas ela nunca foi uma mulher segura. Achei que ela seguiria por um caminho mais seguro e trabalharia como diretora. Eu gostava de imaginar que poderia lhe dar segurança, mas não estava tão certo disso também. Ela falou sobre o apartamento onde moravam, perto do bairro gay. Até então, eu havia conseguido me livrar de todos os convites para visitá-los, mas cedo ou tarde eu ficaria sem desculpas e teria de ver o lugar onde viviam. Juntos. Aparentemente, a vizinhança deles gostava de festas. Eles moravam em frente a um bar bastante conhecido. — Natália tem o sono tão leve que virou praticamente rotina acordarmos e ouvirmos o drama que inevitavelmente acontece embaixo da nossa janela quando o bar está fechando — disse Garrick. Ela tinha o sono leve? Odiei o fato de ele saber isso e eu não. Odiei me sentir assim. Eles começaram a narrar uma história de um desses eventos na madrugada, mas mal estavam olhando para mim. Eles olhavam nos olhos um do outro, rindo, vivenciando o ocorrido.


Eu era um espectador da harmonia perfeita entre eles, e era um show a que eu estava cansado de assistir. Fiz então uma promessa para mim mesmo: não faria isso novamente. Não antes de resolver todas as minhas coisas. Esta tinha de ser a última vez. Sorri e acenei afirmativamente durante o restante da história e me senti aliviado quando o telefone de Natália tocou.


Ela olhou a tela e nem mesmo se justificou antes de aceitar a chamada e levar o telefone ao ouvido. — Kelsey? Ah, meu Deus! Há semanas não tenho notícias suas! Kelsey fez exatamente o que disse que faria. No fim do verão, todos estavam se mudando para novas cidades ou novas universidades, e Kelsey foi para o exterior na viagem da sua vida. Sempre que eu entrava no Facebook ela havia acrescentado um novo país à sua lista. Natália levantou o dedo e disse para nós: — Já volto. — Ela se levantou e disse para o telefone: — Kelsey, espere um segundo. Não estou conseguindo ouvir direito. Vou lá fora. Eu a observei sair, lembrando-me de quando o rosto dela se iluminava daquele jeito ao conversar comigo. É deprimente perceber que a vida toma rumos diferentes, como os galhos de uma árvore. Árvores só crescem para cima e se expandem. Não há como voltar às raízes, às coisas como eram antes. Passei quatro anos com meus amigos de faculdade e eles pareciam parte da família. Agora estamos espalhados pelo país e provavelmente jamais nos reuniremos novamente.


— Christopher, eu gostaria de conversar com você enquanto a Natália está lá fora. Isso seria uma droga. Dava pra ver. Da última vez que conversamos sozinhos, ele me disse para esquecer a Natália, que eu não poderia viver baseado nos meus sentimentos por ela. E o pior é que ele tinha razão.


— Sou todos ouvidos — falei.


— Não sei como dizer...


— Simplesmente diga. — Essa era a pior parte de tudo isso. Tive meu coração partido pela minha melhor amiga e agora todos pisavam em ovos ao meu redor como se eu estivesse prestes a ter um colapso, como uma menina com TPM.


Aparentemente, ter sentimentos era o mesmo que ter uma vagina.


Garrick respirou fundo. Ele parecia inseguro, mas, pouco antes de abrir a boca, um sorriso brotou em seu rosto, como se ele não pudesse se conter. — Vou pedir a Natália em casamento — anunciou ele. O mundo ficou em silêncio e eu ouvi o tique-taque do relógio na parede atrás de nós. Parecia o tique-taque de uma bomba, o que era irônico, considerando que todas as partes do meu ser, que eu mantinha unidas por pura força de vontade, haviam acabado de explodir em pedacinhos. Contive-me ao máximo, apesar de achar que sufocaria a qualquer momento. Parei um pouco para respirar, o que é só uma forma melhor de dizer que fiquei congelado, mas parece mais fácil se eu abordar isso como uma cena de ficção. Essas pausas são reservadas para aqueles momentos em que algo na cena ou no seu personagem muda repentinamente. São momentos de transformação. Cara, foi uma pausa e tanto.


— Christopher...


Antes que Garrick pudesse dizer alguma coisa legal ou consoladora, retomei meu personagem, retomei a cena. Sorri e fiz uma cara que eu esperava que parecesse de parabéns.


— Que maravilha, cara! Ela não poderia ter encontrado um cara melhor. Era mesmo como atuar, se bem que uma atuação ruim. Como se as palavras não parecessem naturais na minha boca e minha mente permanecesse separada do que eu estava dizendo, por mais que eu tentasse manter o personagem. Meus pensamentos corriam em disparada, tentando avaliar se minha plateia estava ou não gostando da minha performance, se Garrick estava gostando dela ou não.


— Então está tudo bem para você?


 Era obrigatório que eu não me permitisse parar antes de responder: — Claro! A Natália é minha melhor amiga e eu nunca a vi tão feliz, o que significa que eu estou feliz por ela. O passado é passado. Ele estendeu o braço e me deu um tapinha no ombro, como se eu fosse seu filho ou irmãozinho ou cãozinho.


— Você é um bom homem, Christopher.


Esse era eu... sempre o bom cara, o que significava que eu sempre estava em segundo plano. Minha vitamina parecia amarga na boca.


— Você participou de algumas audições semana passada, não é? — perguntou Garrick. — Como se saiu?


Ah, por favor, não. Acabei de ouvir sobre os planos dele de pedir Natália em casamento. Se depois disso eu tivesse de falar sobre meu fracasso completo e total como aluno graduado, acho que me empalaria num canudo. Por sorte, fui salvo pela volta de Natália. Ela estava guardando o telefone no bolso e tinha um sorriso enorme no rosto. Ela ficou de pé atrás da cadeira de Garrick e colocou as mãos nos ombros dele. De repente fiquei paralisado ao pensar que ela ia aceitar o pedido de casamento. Em algum lugar das profundezas do meu ser, eu sentia a certeza disso. E ela me matava. Calma. Calma. Calma. Calma.


Eu deveria dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas estava apagado. Porque nada daquilo era ficção. Não era uma peça de teatro e nós não éramos personagens. Aquela era minha vida, e as mudanças se erguiam e me esfaqueavam pelas costas. Sem saber o que se passava, Natália se virou para Garrick e disse: — Temos que ir, amor. Temos um compromisso do outro lado da cidade em meia hora. — Ela se virou para mim: — Sinto muito, Christopher. Queria que tivéssemos mais tempo para conversar, mas a Kelsey está desaparecida há semanas. Não havia como não atender, e agora temos uma matinê para um grupo de estudantes. Juro que vou recompensá-lo. Você vai conseguir ir ao nosso Dia de Ação de Graças dos Órfãos amanhã? Eu estava evitando aquele convite havia semanas e tinha quase certeza de que ele era o único objetivo daquele café. Estava prestes a ceder, mas agora não podia. Não sabia quando Garrick planejava pedi-la em casamento, mas não podia estar por perto quando isso acontecesse ou depois que acontecesse. Precisava me afastar deles, da Natália, de ser um personagem secundário na história deles. — Na verdade, esqueci de dizer. Vou passar o Dia de Ação de Graças na casa dos meus pais. — Eu odiava mentir para ela, mas simplesmente não suportava mais. — A vovó não anda se sentindo bem, então achei que seria uma boa ideia visitá-los. O rosto dela vestiu uma expressão de preocupação e ela estendeu a mão para tocar meu braço. Fingi que não vi isso e me afastei para jogar meu copo de vitamina no lixo.


— Ela está bem? — perguntou Natália. — Ah, sim, acho que sim. Só um probleminha à toa, mas, na idade dela, nunca se sabe. Acabei de usar minha avó de setenta anos, a mulher que me criou, como desculpa. Isso é que é babaquice.


— Ah, bem, diga que mandei um oi e que espero que ela melhore. E tenha um bom voo. — Natália se aproximou para me abraçar e eu não me mexi. Na verdade, eu a abracei também. Mesmo porque planejava ficar sem vê-la por um tempo, até que eu pudesse dizer (sem mentir) que a havia superado. E, baseado em como meu corpo inteiro parecia cantar ao toque dela, isso demoraria um pouco. Os dois arrumaram as coisas para ir embora e eu me sentei novamente, dizendo que ficaria e trabalharia na minha lição de casa por um tempo. Peguei uma peça para ler, mas na realidade eu só não estava preparado para voltar para casa. Não podia mais ficar sozinho com meus pensamentos. A cafeteria estava movimentada o suficiente para que minha mente se ocupasse com o barulho das vidas e conversas alheias. Natália acenou pelo vidro ao ir embora e eu lhe devolvi o aceno, me perguntando se ela percebia a finalidade desse adeus.


 ===


Olá amores, como disse na outra fanfic, estarei postando essa adaptação enquanto escrevo a outra história. 


Espero que gostem pois é bem fofinha.


Beijos!! 



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Autor(a): vondycrush

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • Ellafry Postado em 29/03/2019 - 11:06:42

    Por que você não me chama de "mãe"? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  • evelyncachinhos Postado em 25/03/2019 - 11:37:59

    Continua

  • Nat Postado em 24/03/2019 - 16:57:49

    Guria, continua as duas, por favor! Boa sorte nas provas!*-*

  • evelyncachinhos Postado em 18/03/2019 - 10:30:58

    Continua

  • raylane06 Postado em 18/03/2019 - 01:31:00

    Continua


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