Fanfic: Seven Warriors | Tema: original, yaoi, gay, lgbt, romance, aventura
O resto do dia passou rapidamente e qualquer estresse da manhã foi esquecido, ainda mais no horário de almoço, onde o movimento da lanchonete era absurdamente grande, eles não tinham nem como parar para pensar em problemas com a correria que estava o estabelecimento. Para a sorte de Dylan, seu chefe pareceu ter se esquecido que ele prometera ajudar no almoço com os hambúrgueres e até mesmo que levaria um para ele experimentar. Assim, ele se limitou a sua função usual de atender as mesas com um sorriso no rosto. Essa parte ele sabia fazer muito bem e acabava sendo elogiado pela maioria dos clientes devido a sua simpatia, mesmo vez ou outra esquecendo dos pedidos ou trocando os pratos das mesas. Parecia que isso tudo era perdoável devido a sua personalidade aparentemente cativante.
― Mocinho, mocinho, eu já cheguei há algum tempo e ainda não fui atendida! - Uma senhora levantou as mãos frágeis em direção a Dylan, que pareceu não reparar em ser solicitado. Com isso, Sarah se prontificou a andar o mais rápido possível até a mesa para atendê-la.
― Já decidiu o que deseja, senhora? ― Ela se curvou sutilmente, deixando um sorriso se desenhar em seus lábios finos.
― Sim, sim...mas das últimas vezes que eu vim aqui aquele jovenzinho me atendeu, e ele me atendeu tão bem! Tem como chamar ele, por favor? ― Ela parecia bastante sincera e não percebeu sua indelicadeza ao dispensar a jovem a sua frente. Essa por sua vez deixou um suspiro no ar, como se já estivesse acostumada com a situação.
― Um momento então, já vou chamá-lo. ― Forçou um sorriso final e foi até o colega de trabalho, que parecia completamente distraído com algo que acontecia fora da lanchonete ― Dylan! A senhora da mesa dez está te chamando há vários minutos e ela e-xi-ge que você atenda ela.
― Ah, eu sei quem é. Pode ficar tranquila que já já eu vou lá. ― Ele não desviou o olhar do exterior da loja nem por um instante.
― O que você tanto olha lá?
― A floricultura só está abrindo agora, olha lá! ― Ele apontou com a cabeça para o estabelecimento pequeno e delicado que ficava do outro lado da rua ― Ele não tem um horário fixo, os clientes devem ficar malucos com isso! Semana passada ele deixou a floricultura fechada por três dias! Será que é só ele que trabalha lá mesmo? Você já viu algum outro funcionário?
― Nunca vi, mas é porque não fico prestando atenção assim na vida dos outros. O que te importa quantas vezes por semana ele abre a loja ou que horas ele abre? Vocês nem ao menos são amigos!
― Você não se importa em ajudar seus antigos colegas de turma? Eu queria dar umas dicas de como o negócio dele pode alavancar! Se ele ficar abrindo a loja quando bem entende, isso logo vai falir.
― Eu acho que o Adrien sabe muito bem como dirigir um negócio, na verdade, tão bem quanto você! No fim do ensino médio não foi ele que acabou levando a melhor como aluno destaque, te deixando em segundo lugar? ― Sarah tentou provocar Dylan com a informação, porém, o mesmo não se incomodava com esse tipo de pódio.
― Eu ainda acho extremamente estranho que um cara como ele, que podia ter a carreira que quisesse, resolveu abandonar tudo e abrir sua própria floricultura aqui em Delphos.
― E quem é você pra falar algo? Você não está exatamente na mesma situação? ―Ela parecia indignada por ele não perceber que a vida que ele escolheu não se diferenciava em nada da vida do outro colega.
― Isso é diferente! Eu ainda vou me decidir, talvez eu vá seguir uma carreira de médico ou então monte minha própria banda, são muitos destinos que podem me esperar. ― Ele definitivamente não sabia que rumo seguir, mas gostava de jogar no ar algumas opções ― Adrien não está tirando um tempo pra pensar, ele realmente já decidiu e abriu um negócio. Será que era o sonho dele ter uma floricultura?
― Por que você não pergunta a ele diretamente? ― Ela brincou, sabendo que era improvável que ele fizesse isso, devido ao histórico pouco amigável que os dois tinham desde a época de escola.
― Você está certa! Vou falar com ele. ― disse de forma óbvia, se estranhando por não ter pensado nisso antes.
― O que? ― Sarah arregalou os olhos, achando improvável e ao mesmo tempo engraçado, pensar naquele tipo de diálogo entre os dois.
― É isso mesmo, vou lá pessoalmente dar uns conselhos a ele.
― Você só vai lá perturbar ele, como você costumava fazer. ― Ela balançou a cabeça negativamente, não querendo se meter nas coisas aleatórias que Dylan falava.
― Quando foi que eu perturbei ele? ― Ele parecia falsamente indignado.
― Você é muito cara de pau. ― Suspirou parecendo desistir do assunto ― Antes de ir perturbar ou “ajudar” qualquer pessoa, será que você pode ir atender a senhora? Ela vai criar raízes já já e eu não quero o Sr. Davidson reclamando no meu ouvido sobre isso.
Seguindo as orientações da amiga, Dylan seguiu com suas tarefas, desempenhando a função muito melhor do que normalmente fazia, porque queria que o restaurante esvaziasse o quanto antes para que pudesse tirar o seu horário de intervalo. Depois de mais de uma hora de correria e de servir mais de vinte mesas, finalmente ele conseguiu respirar mais aliviado, tirando rapidamente o avental e escondendo atrás do balcão.
― Intervalo! ― informou a Ryan, que o encarava desconfiado de todo seu ânimo ― Volto já.
Ele correu pela porta dos fundos e deu a volta na lanchonete, avistando de longe o seu objetivo: a pequena floricultura do bairro. Um homem de pelo menos 1,80 metros estava na porta com um avental azul claro, parecia os tons usados em roupas de bebê, embaixo do avental havia uma blusa branca fechada até seu último botão, não deixando uma parte de seu tórax de fora. Seu corpo era bem torneado e, apesar de esguio, parecia forte. Seus olhos combinavam perfeitamente com o tom do avental, eram azuis como o céu e se escondiam atrás de óculos com armações finas, que pareciam ornamentar com suas feições marcadas e ao mesmo tempo angelicais. O cabelo liso e loiro fazia com que ele se diferenciasse de qualquer norte americano comum, porque diferentemente da maioria da população, o tom de seus fios se assemelhava ao cinza em vez do amarelo, fazendo pensar de que se não fosse pela sua aparência jovem de no máximo vinte anos, poderia se tratar de um cabelo grisalho.
Mas tudo em sua aparência combinava perfeitamente a ponto de chamar a atenção da maioria das pessoas, sendo mulheres ou homens, por ser algo que beirava a um ser celestial. Ao visualizar as feições de seu antigo colega de escola, Dylan lembrou de como era difícil conviver na mesma turma que ele, afinal de contas, as garotas não conseguiam encarar nenhum homem da mesma forma depois de avistarem Adrien. Ele realmente elevou o padrão. Porém, Dylan não se importava com isso, porque mesmo não tendo a aparência angelical e perfeita, ele conseguia ganhar a simpatia das garotas com seu jeito claramente mais amigável, já que o outro nunca havia demonstrado nenhum interesse em ser simpático com alguém. Enquanto Dylan amava falar, se gabar, contar histórias e se aproximar das pessoas ao máximo possível, Adrien era o completo oposto, era educado, porém, calado, comedido, evitava contato físico e até mesmo visual com outros, era o típico altivo e sério.
Eles eram como gelo e fogo no mesmo ambiente.
Devido a essas diferenças, os dois nunca conseguiram ser amigos. Por mais que Dylan tentasse se aproximar, da mesma forma que fazia com todo mundo, o outro nunca pareceu interessado em nada da personalidade dele, muito pelo contrário, o seu jeito parecia incomodar bastante o outro, como se fosse inapropriado. Dylan acabava se aproveitando disso em alguns momentos quando queria se divertir com algo e naquele momento queria saber se isso ainda funcionava.
― Hey! ― Ele acenou despretensiosamente ao loiro que estava parado na frente da floricultura, uma cliente parecia se despedir com um lindo buquê de girassóis em mãos, ao ver ele sozinho, Dylan percebeu que podia se aproximar ― Lembra de mim?
― Dylan Rockefeller. ― pontuou o nome dele lentamente como se fosse óbvio, encarando o outro e se perguntando no olhar o porquê dele estar ali.
― Nome e sobrenome? Quando escuto isso parece que somos completamente estranhos e que nunca nos vimos na vida. Por que você sempre fala como se tivesse 40 anos? ― disse rindo de forma despretensiosa.
― Dylan.
― Viu só? Imagina se eu chego aqui e falo “Adrien Waren, como vai você?” ― O outro pareceu surpreso com a frase e logo Dylan entendeu ― O que? Achou que eu não lembrava do seu nome completo?
― Sim. ― Apesar das frases monossilábicas e temperamento frio, Adrien falava olhando diretamente nos olhos dele sem desviar por um segundo. Dylan se lembrou que isso sempre o deixava intimidado.
― Eu trabalho na frente da sua loja há pelo menos dois meses e você nunca foi falar comigo, posso me sentir ofendido? ― Ele se aproximou um pouco mais do outro, tentando manter um tom amigável.
― Não. ― Antes que Dylan pudesse retrucar as respostas monossilábicas, Adrien resolveu ampliar a frase ― Eu não sabia que você trabalhava ali.
Dylan pareceu incrédulo pelo que tinha acabado de ouvir, não tinha como Adrien nunca tê-lo visto, eles já até tinham cruzado olhares sem querer em alguns momentos, porém, quando ele ia tentar cumprimentar o outro, sentia que tinha sido completamente ignorado. Vendo a mentira descarada, ele resolveu que não ia pegar leve.
― É mesmo? Então, depois de tanto tempo sem ver a minha cara, você deve estar com saudade, não? Que tal me dar um abraço de colegas? ― Abriu um largo sorriso enquanto se aproximava do outro levantando os braços para o contato.
Dylan sabia que Adrien não era do tipo caloroso e que iria receber um gesto desse com naturalidade, ele ia travar completamente como se estivesse fora de seu corpo. Nos dois anos que estudaram juntos ele podia jurar que não tinha visto o outro trocar gestos de amizade ou carinho com ninguém. Sabendo disso, ele esperava o olhar de espanto e o afastamento que ocorreu em seguida.
― Por que um abraço? ― Adrien parecia assustado com a proposta.
― Porque é isso que colegas fazem depois de passarem um tempo sem se ver! O que foi? Tem medo que eu faça algo? Que tipo de coisa eu poderia fazer?
― Você sempre se aproximava assim das garotas quando queria algo com elas, não consigo encarar isso tranquilamente. ― Dylan não se segurou e deixou que algumas risadas altas escapassem de seus lábios enquanto relaxava os braços para tranquilizar o outro.
― Você está realmente se comparando a uma garota, Adrien? Será que sua fama de cara mais bonito da escola subiu tanto a sua cabeça a ponto de você pensar que todo ser humano tem uma queda por você? ― Um som levemente ríspido saiu da boca de Adrien, indicando o quanto aquilo tinha o irritado.
― Eu não estou dizendo esse tipo de coisa, é só que... prefiro não ser abraçado ― Ele parou um pouco como se pensasse em algo – por você.
― Oh, isso machucou! ― Não tinha machucado na realidade, porém, a ênfase no “por você” o incomodou um pouco ― Vou começar a achar que isso tudo é medo de não resistir ao meu charme.
― Na verdade, não.
― Então, sem abraços? ― O outro apenas negou com a cabeça como se estivesse lidando com uma criança e logo depois indagou:
― Posso te perguntar uma coisa? ― Dylan se sentiu vitorioso com isso, porque parecia que pela primeira vez em muito tempo ele estava conseguindo fomentar um diálogo com a figura ilustre da sua turma, o intocável.
― Até duas!
― Por que você está aqui, conversando comigo? ― Ele parecia realmente intrigado com aquilo.
― Aquela garota dos girassóis também estava aqui falando com você.
― Ela é uma cliente.
― E eu não posso ser um cliente? ― Ele estava tentando disfarçar a resposta, pois não queria dizer que estava ali para se distrair do tédio pelo trabalho.
― Você quer algum girassol? ― Mesmo que sério e polido, ele tinha debochado levemente e Dylan percebeu isso.
― Depende. Eu combino com girassóis?
― Não.
― E com o que eu combino? ― Os orbes azuis de Adrien, que nunca se desvencilhavam de seu olhar, pela primeira vez desviaram do caminho e encararam o rapaz por inteiro, como se estivesse analisando para então dar uma resposta concisa.
―Hm... você combina com algo que eu não tenho aqui, desculpa.
― Mas é uma flor? Qual o nome?
― Nyen. ― A palavra parecia estrangeira e fez com que Dylan encarasse com estranhamento.
― Nyen? Mas o que é isso? Nunca ouvi falar!
― Já imaginava que não conhecia. Mas sim, é uma flor.
― Você pode me mostrar alguma? ― Ele realmente estava curioso em saber como um florista o interpretava.
― Um dia quem sabe. No momento, não tenho nenhuma aqui. – Ele finalmente se desfez da pose rígida e se virou como se estivesse mexendo em algumas plantas da loja que ficavam pela calçada. Dylan percebeu que aquela seria uma deixa para pessoas educadas se despedirem e irem embora. Mas ele não se considerava um cara dos mais educados.
― Agora, eu posso fazer uma pergunta? – Adrien pareceu tentar negar, porém, ele mesmo tinha solicitado a autorização de uma pergunta antes, seria indelicado dizer não.
― Faça. Mas que não seja uma de suas gracinhas de sempre, eu preciso trabalhar ainda.
― Não é gracinha ou piada. ― Ele se debruçou meio entediado em um balcão que continha gérberas de diversas cores ― Na verdade, é sobre trabalho. Assim, por que você não abre a floricultura todos os dias? Por que ela não tem horário fixo? Você trabalha sozinho aqui? Por que? De onde teve a ideia desse tipo de negócio? É um sonho seu, vocação?
― Isso são quase dez perguntas! ― Ele parecia levemente bravo, apesar do tom de voz não ter se alterado.
― Desculpa! Não consegui me conter, eu sou um cara curioso ― e de fato era – você pode respondê-las?
― Não. Eu nem ao menos me lembro de todas elas.
― O melhor aluno da turma que terminou o ano com resultados impecáveis não consegue se lembrar de seis perguntinhas? Você quer mesmo que eu acredite nisso? Você está se saindo como um grande mentiroso, Adrien Waren. ― Seu tom era leve e claramente estava brincando com a indignação.
― Uma.
― Ok, uma pergunta! Mas eu não sei qual quero saber mais... ok! Melhor você escolher, escolhe uma pergunta e responde.
O outro olhou pra baixo em meio a um suspiro como se pensasse em qual poderia responder e após algum tempo fixou os olhos em Dylan novamente, respondendo de forma séria:
― Sim, isso é um sonho meu.
― Um sonho que você sempre teve?
― Não...
― E há quanto tempo tem esse sonho? ― Dylan resolveu continuar as perguntas para ver até onde ia, porque percebeu que o homem a sua frente tinha ficado levemente perdido em seus próprios pensamentos.
― Há mais de treze anos.
― Então, você ama isso?
― Chega ― disse de forma extremamente educada enquanto desviava o olhar, voltando a virar o corpo para ajeitar alguns vasos que claramente não precisavam ser ajeitados ― eu preciso trabalhar.
― Ok! ― Dylan tinha se dado por vencido e estava bastante satisfeito do que tinha conseguido extrair de Adrien, por mais que isso não fosse mudar em nada sua vida, essa tinha sido provavelmente a conversa mais longa que tinha conseguido ter com o antigo colega de turma. ― Meu intervalo está acabando também... você pode me chamar aqui no dia que você tiver uma Nyen para me mostrar? Quero muito ver alguma!
― Ok.
Após se despedir sem muitas palavras, porém, se sentindo bastante satisfeito, Dylan seguiu para o trabalho, terminando o dia no tédio que ele sempre sentia. A alegria florescia em seu peito ao ver o início do pôr do Sol, porque isso significava o fim de seu turno e que ele poderia seguir para casa finalmente. Após deixar o avental em sua prateleira, ele aguardou Sarah e Ryan para que pudessem seguir o caminho juntos e, enquanto esperava os dois, percebeu que a floricultura já estava fechada e que não havia mais sinal de Adrien pelo local.
― Vamos? ― disse ao avistar os amigos se aproximando
― Na verdade, eu vou ter que ir em direção ao Centro, fiquei de comprar umas coisas pra minha mãe. ― Sarah informou para o desagrado de Dylan e logo Ryan a completou.
― Eu também não vou seguir contigo hoje, tenho que buscar a bicicleta no conserto e de lá sigo para o curso. ― Dylan suspirou em descontentamento.
― Tudo bem, tudo bem! Sigo sozinho hoje. Mas só se vocês jurarem que não estão me enrolando para sair em um encontro. ― Ele fez a brincadeira sabendo que Ryan iria se enterrar em timidez. Pois ele já havia percebido o interesse do outro por Sarah ao longo desses anos.
Sarah e Ryan foram da mesma escola que ele, porém, Sarah havia se formado com Dylan e Ryan era um ano mais novo, porém, isso não impediu que eles fizessem uma amizade, pois Ryan e Sarah eram vizinhos desde muito novos. Ela mesmo sendo uma boa aluna e conseguido bolsas em boas faculdades, resolveu se manter na cidade devido ao estado de saúde de seu pai. Já Ryan terminou o ano escolar fazia poucos meses e trabalhava desde muito novo para ajudar sua família, que não tinha boas condições financeiras. Após o fim da escola, ele indicou Sarah para trabalhar no Davi’s e Dylan conseguiu o emprego mais de um ano depois quando sua mãe convenceu Sr. Davidson que seria uma boa ideia e, com certeza, o velho não negaria.
Desde então, eles voltaram a ser tão amigos quanto eram na época de escola e o motivo que fazia Dylan não largar o emprego monótono era a sensação de nostalgia que passava com eles dois, mesmo ambos precisando ajudá-lo quando se metia em certas confusões com o chefe, o que era um caso recorrente.
― Para de falar esse tipo de coisa! ― Ryan disse meio exasperado deixando um leve rubor aparecer em seu rosto.
― Então, você está dizendo que está livre então para sair comigo? ― Ele se esgueirou para perto de Sarah, vendo-a rolar os olhos em desaprovação.
― Duas vezes no mesmo dia? O que é isso, um novo recorde? ― Ela disse não parecendo muito interessada ― Eu preciso ir, você vem comigo, Ry? ― O outro concordou com a cabeça e já de costas ambos apenas acenaram em direção a Dylan, dando a entender que não queriam perder tempo com suas piadas de todo dia.
Com uma leve frustração, restou somente a ele seguir em direção ao caminho de casa. Mesmo sozinho, ele parecia super feliz apenas em poder apreciar aquele momento de fim de tarde. Apesar da temperatura levemente baixa, o que o fazia se odiar mentalmente por não ter levado um casaco, ele já conseguia ver uma certa vida em muitas árvores, o que indicava que o início da primavera estava próximo. Com as mãos apoiadas na parte de trás da cabeça, ele andava despreocupadamente por ali, parecendo não ter pressa nenhuma pra chegar em casa.
Apenas uns vinte passos de distância da lanchonete, em cima de um muro velho da maior casa da região, ele avistou algo que fizeram seus olhos brilharem instantaneamente: um gato. Não tinha sido a primeira ou a segunda vez que ele via aquele mesmo animal desde que havia se mudado para Delphos há três anos e meio, ele costumava vê-lo pelo menos duas vezes na semana, em pontos diferentes do bairro. Dylan tinha uma relação especial com os felinos, ele realmente adorava e se encantava com a beleza e com a personalidade única que os gatos tinham. Se dependesse dele, pelo menos uns cinco já morariam na sua casa, porém, sua mãe não permitia que ele levasse nenhum animal para casa. Uma das coisas que ele prometeu a si mesmo é que assim que fosse morar sozinho, antes mesmo de ter uma cama, ele teria um gato.
Ele começou a andar lentamente em direção ao animal, que estava sentado na mureta, como se o esperasse. Apesar de vê-lo com muita frequência, Dylan nunca tinha conseguido ficar a pelo menos dois metros dele, pois, assim que se aproximava, o animal corria e se escondia, voltando a aparecer em seu percurso apenas dias depois. A vontade que ele tinha era apenas de chegar perto e acariciá-lo.
― Não corra de mim hoje... ― suspirou baixinho enquanto dava passos curtos e lentos em direção ao felino, que parecia encará-lo sem mover um músculo, apenas observava.
Dylan continuou a andar até conseguir se aproximar do muro, apenas mais uns seis passos o separavam do animal. Ele se sentia muito animado, porque por mais que não pudesse se aproximar mais, agora ele conseguia observar melhor as características do felino. Ele parecia ser um gato maior do que os outros que ele encontrava pelo bairro, seu rabo era extremamente peludo e preto, porém, ao chegar nas costas sua pelagem volumosa clareava e atingia um tom acinzentado. Suas patas eram bem brancas, parecendo quatro botinhas e esses pelos brancos subiam pelo peito frontal, ficando mais espesso ainda, como se fosse uma juba. O nariz era rosa e o focinho seguia a mesma coloração clara do peito, suas orelhas e a parte que envolvia os olhos se destoavam, pois, eram escuros, criando um contraste muito bonito. O que mais chamava a atenção no animal eram seus olhos azuis, com a claridade do local suas pupilas escuras ficavam quase invisíveis e o azul de fundo se destacava completamente, ainda mais devido a pelagem escura da região. Não tinha como esse ser um gato vira-lata comum de bairro, definitivamente era de raça.
― Uau! Você é realmente bonito. ― disse impressionado ao encarar o animal.
Nesse momento, o gato se levantou e espreguiçou-se graciosamente, Dylan pensou que seria nesse momento que ele faria o de sempre: se virar e correr até sair de vista. Mas para sua surpresa, ele deu lentos passos para frente até descer do muro em um salto único, parando perfeitamente no chão sem nenhuma falha de equilíbrio. Em seguida, continuou seu andar calmo em direção ao homem na sua frente e ao chegar a uma distância inferior a um metro, sentou em suas patas traseiras, o encarando com seus olhos azuis.
Dylan achou aquilo incrível e, por mais que aquela cena no meio da rua fosse estranha, ele resolveu imitar os gestos do gato e sentou-se na calçada, o encarando de frente. Ele pensava que dessa forma ele conseguiria fazer que ele se aproximasse o suficiente para acariciá-lo e, novamente para sua surpresa, foi exatamente isso que aconteceu. Ele voltou a ficar em cima das quatro patas e começou a andar em direção a Dylan, mantendo o rabo imponente posicionado perfeitamente na vertical e os olhos focados no rosto do rapaz. Até que, em um movimento único, saltou para cima de suas pernas, levantando o focinho branco, aparentemente para o encarar mais de perto.
Dylan já estava completamente impressionado com a ousadia do felino e resolveu arriscar, levando sua mão lentamente até o pescoço branco do mesmo e deixando que seus dedos se perdessem na pelagem volumosa, depositando ali diversos carinhos, como se estivesse coçando o animal. Nesse movimento, ele percebeu que ao redor do pescoço dele havia uma espécie de cordão em fita de seda, ele não tinha reparado antes pois a fita era exatamente da cor de seus pelos brancos. No meio do cordão e em direção ao peito, continha uma espécie de medalhinha dourada e discreta e, por ironia da situação, ele pensou ter visto um cachorro desenhado nela.
Ele parecia surpreso porque aparentemente o gato tinha dono, não só pela espécie de coleira, mas também pelo cuidado em seus pelos e ele parecia ter boa saúde também. Será que era macho ou fêmea? Ele não conseguia dizer e nem iria investigar isso naquele momento. Apenas continuou fazendo o carinho no pescoço do gato que já tinha os olhos fechados e parecia estar curtindo toda a ação em deleite. Após alguns poucos minutos, ele voltou a abrir os olhos, dessa vez as pupilas um pouco mais dilatadas e menos impactantes, porém dando ao gato um ar mais amigável. Novamente para a surpresa de Dylan, ele levantou o focinho e deu duas lambidas em seu queixo, fazendo-o estranhar o movimento, pois a língua do gato era quente e extremamente áspera. A vontade que tinha era de pegar o animal em seu colo e levar para a casa, mesmo que sua mãe falasse horrores, ele iria conseguir acalmá-la após algum tempo.
Porém, antes que pudesse tomar qualquer atitude, o gato apenas saiu de seu colo em um salto ligeiro, lançando um rápido olhar para ele, pouco antes de correr com pressa para o muro onde estava e em um movimento quase impossível de perceber, pulou novamente para o muro, dessa vez, indo quase que diretamente para o outro lado e saindo do campo de visão de Dylan. Esse por sinal sorriu em satisfação, afinal de contas, já tinha ido mais longe do que imaginava e mesmo que não pudesse levar gatos para casa, ele estava satisfeito em acariciar alguns pela rua pelo menos.
Após o episódio peculiar, ele resolveu seguir seu destino, deixando um leve sorriso colado em seus lábios finos. Ao avistar sua casa, que era menor do que todas as outras na rua, viu que todas as luzes ainda estavam apagadas e que provavelmente sua mãe ainda estava no trabalho, volta e meia ela acabava chegando mais tarde e esse parecia um desses momentos. A luz do dia estava quase inexistente quando ele entrou pela casa e correu em direção ao quarto, jogando o tênis em qualquer lugar do cômodo e deixando seu corpo cair de uma vez só na cama. Ele estava cansado e aquele tinha sido um dia bem cheio.
Assim que recuperou um pouco o vigor, buscou o celular no bolso apertado da calça elevando o aparelho até acima do rosto, deixando o brilho da tela ser o único ponto de luz do quarto. Após desbloquear, foi direto na barra de busca e digitou rapidamente a palavra “nyen”. Ele estava bastante curioso sobre a flor que Adrien tinha dito que combinava com ele, aquela curiosidade realmente estava incomodando-o. Imagina se fosse algo realmente feio e não agradável? Ele teria sofrido uma ofensa sem nem mesmo saber!
Para a sua surpresa, nenhuma imagem de flor apareceu, por mais que ele buscasse mais a fundo nas outras páginas que apareciam. Nyen parecia ser somente o nome de uma cidade em São Petersburgo na Rússia e mesmo após ele procurar pelo termo “Nyen Flor” os resultados continuaram nulos. Como pode a internet não saber do que se tratava? Ele pensou que tinha errado a grafia e por isso testou diversas formas de escrever o que ele tinha escutado. Porém, nada que parecesse uma flor ou até mesmo uma planta aparecia.
Será que Adrien tinha inventado um nome qualquer apenas para dizer que ele não combinava com nenhuma flor existente?
Dylan ficou pensando em diversas possibilidades para a situação, deixando sua imaginação correr e indagando se o antigo colega realmente entendia de flores ou se tinha inventado um nome qualquer para ele. Um tempo depois perdido nos pensamentos, suas pálpebras começaram a se fechar sem que percebesse. A mão que segurava firmemente o celular logo caiu ao lado do corpo, deixando o aparelho deitado na cama. Quando menos percebeu, já estava embalando em um sono profundo.
Quando ele notou, estava sentado em um campo florido que nunca tinha visto antes na vida. Ao olhar ao redor, conseguiu notar que no fim do campo havia uma pequena casa de madeira, com grandes janelas abertas que pareciam convidativas ao sol. Do outro lado do campo, para sua surpresa, ele avistou o mar. As águas eram azuis e brilhavam mais do que qualquer foto que ele já tinha visto do Caribe e refletia o céu da mesma cor, ainda mais vibrante. Aquele claramente não era o céu de Ohio e ele não conseguia se lembrar de qualquer região que tinha o mar de encontro com tantas flores.
Ele se levantou e olhou ao redor, no meio de tantas cores, uma flor se destacou de todas as outras. Ela era mais alta do que todas e tinha o mesmo formato que um girassol, porém, suas pétalas em vez de brancas pareciam ser prateadas. Ele nunca tinha visto algo do tipo na vida! Ele se aproximou devagar e antes que pudesse tocá-la, outra coisa chamou a sua atenção, bem atrás da flor e no meio de tantas outras, o gato de olho azul o encarava com uma expressão curiosa. A medalhinha ao redor do pescoço estava mais aparente dessa vez e ele parecia intrigado para saber o que Dylan faria, os olhos azuis sem desgrudar dele por um segundo sequer.
Quando ele se aproximou mais da flor para tocá-la, o gato pulou em sua frente e elevou o rabo peludo na vertical, parecendo protegê-la de Dylan, que se assustou e recuou um passo. Ao ver que o felino voltara a posição amigável de antes, ele resolveu arriscar novamente e esticou o braço em direção às pétalas prateadas da flor, porém, novamente o gato pulou na frente, só que dessa vez suas pupilas se encolheram ao máximo, deixando os olhos completamente azuis e mais agressivos. Ele fitava Dylan com certa coragem, porém, não parecia querer atacar, apenas o encarava de forma direta.
Poucos segundos depois, seus pelos começaram a se eriçar e ele fechou os olhos, escondendo os orbes azuis, seu corpo todo se tremia e Dylan segurou um grito na garganta ao ver o corpo do felino crescer diante de seus olhos. Seus pelos sumiram e ele começou a assumir a posição em duas patas, que logo se tornaram dois pés. Suas patas frontais se moldaram em mãos humanas e todo o seu corpo pareceu assumir a mesma transformação. Dylan por mais que estivesse com medo, forçava a vista para tentar entender a aparência que o gato estava se transformando, porém, por mais que se esforçasse, ele só conseguia enxergar uma silhueta alta e a forma de um homem, mas ele não conseguia identificar mais nenhum traço.
Tudo parecia confuso, borrado, estranho, o gato que virou homem na sua frente agora era uma sombra. A flor na sua frente já não existia mais, perdera as pétalas se transformando apenas num miolo. O Sol que brilhava já não existia mais e a noite assumia lugar. O mar calmo parecia completamente agitado e parecia que a qualquer momento iria inundar o campo. Ele estava ali, sentando, não conseguindo entender o que acontecia ou até mesmo enxergar direito. Então, quando viu a silhueta na sua frente se aproximar de seu corpo, antes que pudesse correr, gritar ou se defender...Dylan abriu os olhos e viu o teto de seu quarto.
Ele estava sonhando novamente.
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Esse é o fim do capítulo 1! Eu resolvi postar o prólogo e as duas partes do capítulo 1 hoje pra vocês entenderem um pouco o tom de Seven Warriors. Ela se desenvolve mais lentamente porque é uma história cheia de detalhes, segredos, mistérios, enfim... espero mesmo que vocês gostem!
Os posts serão sempre domingo (sem horário definido) e quintas-feiras (20:30)
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Autor(a): naru
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Apenas três dias tinham se passado e todos perceberam que havia algo de muito diferente com Dylan. Logo após o sonho no campo florido, com o gato de rua e a flor prateada, ele foi socorrido pela sua mãe em seu quarto em meio a alguns gritos enquanto seu corpo ardi ...
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