Fanfics Brasil - Esta era a vez... Abaruna

Fanfic:  Abaruna | Tema: Original


Capítulo: Esta era a vez...

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         Esta era a vez de dois meninos, nascidos de uma estrela. Ambos moravam na província de Angustura, terra graciosa, localizada num período distante e sempre adornada com o manto esverdeado das florestas, seus pássaros de longo vôo a competir para saber quem era o mais bonito e segredos murmurados dentre os rios perolados de sol. Desde menina, sua beleza tanto atraía reis e imperadores que estes se arriscaram em batalhas e expedições para conquistá-la; mas Angustura só teve olhos para D. Carlos Maria de Serruya, o primeiro de seus reis...


Das primeiras cabaninhas de taipa e madeira ali erguidas aos suntuosos casarões e palacetes de mármore com azulejos, jamais houve reino como Angustura! Seus habitantes não só nutriam respeito e veneração pela família real serruyana que os governava como também viviam sob a proteção da Cavalaria Real de Angustura, herdeira da antiga tropa chefiada por D. Carlos Maria e D. Jerônimo Fuas Nolasco cuja amizade se estendera aos seus descendentes juntamente com os costumes e tradições ali cultivadas até chegarmos ao então príncipe Hildegardo Camilo e sua decisão inesperada:


-Meus queridos pais, de hoje em diante deixarei tudo para seguir minha verdadeira vocação! De vós espero somente a bênção...


-Meu filho! - Exclamava Oriana, a rainha-mãe. - É isso mesmo que deseja?


-Nunca tive tanta certeza em minha vida, minha mãe!


-Louco de pedra, isso sim! - Bradava Sua Majestade, o Rei Claudeonor enquanto a esposa tentava acalmá-lo. - Que será de Angustura, da linhagem real e de teus súditos sem o príncipe herdeiro?! Não permitirei isso!


-Que será de mim se eu não partir, meu pai?


Sob a influência educacional da Rainha Oriana e de seus tutores, o jovem príncipe Hildegardo Camilo de Serruya mais parecia um filósofo grego ou um eremita do deserto a ponto de evitar os bailes reais para ler,meditar e cultivar sabedoria nos jardins e bibliotecas do palácio. Assim que atingiu a maioridade, aspirou uma vida tão reflexiva e oculta do mundo que deixou tudo para se tornar monge recluso por quatro anos até o rei Claudeonor baixar o decreto que lhe obrigava a retornar sob pena de fechar o mosteiro; nem a desculpa dada por seus superiores lhe serviu de sossego para ele...


-"Ausência de vocação", uma ova! Sabia que meu pai planejou tudo isso!


-Tem paciência com seu pai, ele já tem certa idade e tu és o príncipe herdeiro, foste educado para assumir o trono! E convenhamos, seu primo Eugênio não lhe daria um bom substituto!


-Mas um decreto?! Isso é injusto, minha mãe!


-Por favor meu filho, respire fundo. Agora, mantenha a temperança e coloque teus pensamentos em seu devido lugar para apresentá-los a seu pai, pois a raiva os bagunçou tanto! E nós estamos em família, não em campo de batalha... - Exortava a rainha-mãe com tanta firmeza e docilidade que o filho teve de se render...


-... Mamãe sempre tendo razão, não há como competir!


-Razões nem sempre terei, ainda mais quando lhe acho mais belo vestido de príncipe do que de monge. E vamos ao baile, teu pai nos espera!


Era o aniversário da Cavalaria Real de Angustura cujo baile se realizava no palácio todos os anos desde a sua criação com direito a orquestra sinfônica, a presença dos cavaleiros com seus familiares, competições, banquetes, queimas de fogos, homenagens aos idosos veteranos e cerimônias de admissão dos novos cavaleiros e aspirantes promovidas por D. Domingos Fuas Nolasco,chefe da cavalaria e grande amigo do príncipe; sabendo de seu retorno as donzelas enfeitavam seus vestidos e penteados com lírios brancos enquanto se esbarravam num certo rapazinho de cabelos ruivos que corria atrás da mesa de doces.


-Salve Alteza! Que honra tê-lo de volta!


-Salve meu caro amigo, porque tão aflito?


-É Alexandre novamente, não sem a quem puxou! Esse foguetinho pede-me tanto para vir comigo nos eventos e cerimônias para fazer tanta arruaça!


-É o ardor dos oito anos, uma hora ele se ajeita... E o padrinho monástico? - Indagava o príncipe.


-Era a noite dele na capela do convento... E esse teu coração fechado para este jardim, nenhum lírio lhe agradou por aqui?


-Engraçado, como tantas donzelas descobriram a minha flor preferida? – Ironizava o jovem príncipe. "Até nisso meu pai planejou enquanto estive fora!


-Se tal descoberta foi possível à todas elas, garanto esta minha espada prateada que hoje encontrarás sua rosa vermelha e futura rainha!


-Oh não me diga! E nossa filha será desposada por teu Alexandre!


O tempo ziguezagueava com as canções, bailados e risos soltos enquanto o príncipe bocejava; até sentia falta de Verônica, uma pequena amiga de infância com quem brincava e certamente o tiraria daquele tédio até ser empurrado por Alexandre Fuas Nolasco e sua tropa de amiguinhos divididos entre mouros e cristãos para guerrear. Hildegardo Camilo estava a persegui-los quando se deixou encantar pela rosa vermelha que acabara de chegar ao contrário de outra princesa que certa vez partira à meia-noite no melhor do baile; rosa vermelha e também morena de olhos e cabelos tão escuros quanto brilhantes a rir e bailar de pés descalços com suas amigas. Quem a via, se admirava e também ria!


- Que beleza atrevida, onde já se viu chegar num baile perto da meia-noite?


- Quem será ela? Não me é estranha...


- Oh céus, não me digam que é Verônica! - Exclamava a rainha Oriana que se surpreendeu ao reconhecê-la. - Tantas vezes a carreguei no colo quando pequena e a via correndo com nosso filho pelos jardins, agora é uma moça tão bonita!


- Tão bonita quanto a minha rainha! - Afirmava o rei Claudionor que logo se aborreceu novamente. - E esse meu filho, que faz ali parado no meio do salão?!


-Deixe querido! Nosso Camilo a procurou tanto e agora não quer perdê-la de vista! Deixe tudo acontecer como Deus quer... - De mãos dadas, os reis Claudeonor e Oriana acompanhavam o bailado dos jovens e o acerto do querer de ambos, quando Verônica se colocou na ponta dos pés e Hildegardo Camilo inclinou seu rosto em direção ao dela. Daquela noite em diante viriam semanas de bilhetes, passeios nos jardins e declarações nunca ditas, um grandioso casamento real, o nascimento de uma adorável filhinha para cumprir uma promessa involuntária e a prematura coroação do jovem casal ao reinado de Angustura devido à morte do rei.


Quatro anos depois...


-... Ainda me lembro de quando fomos ao batizado da princesa. Pequenina, rosada, perfeitinha como um botão de rosa!


-Botão de rosa que me beliscou semana passada, e ela nem é tão bonita como a rainha! - Respondia D. Alexandre Fuas Nolasco, que aos doze anos já não se contentava em conquistar mesas repletas de doces e soldadinhos de chumbo. No palacete dos Fuas Nolasco, parte desta história lhe era recontada por frei Salvador Infante, seu padrinho e professor particular desde a infância.


-Cada flor desabrocha no seu devido tempo, assim como a beleza desta menina. E quando chegar a vez dela, esta birra logo acabará!


-... "E todos viveram felizes para sempre", menos eu! Virei noivo duma pirralha...


-Pobrezinha, que mal ela te fez? – Sempre sorrindo, frei Salvador tirava um mimoso espelhinho dourado com detalhes de esmeralda do bolso e entregava-o para o fidalguinho invocado. – Ouças foguetinho ruivo, és forte o suficiente para desbravar o mundo e derrotar teus inimigos, não é mesmo?


-Sou sim padrinho, porquê?


-Pois trate de derrotar teus resmungos e doar sua gentileza á pequena dama, sim?


-Pensarei em vosso caso... – Respondeu o fidalguinho. - E papai, onde está?


-Ah, teu pai foi buscar vosso potrinho recém-nascido em Rio Adentro. Com ele você aprenderá a cavalgar com ele por estes campos mas por enquanto não se preocupe com a aparência do pequeno, pois sinto que ele traz consigo a bravura de Pégaso e a força tremenda dum Corre-Campo!


Corre-Campo! Assim fora nominado aquele que seria o mais veloz e fiel dos companheiros de D. Alexandre Fuas Nolasco que por sua vez crescia rodeado de mimos, privilégios e expectativas de assumir o comando da Cavalaria Real. E lhe garanto, não fosse a educação recebida do pai e Frei Salvador ele seria o vilão desta história. Raramente se sentia triste, pequeno e desamparado como nas vezes em que acompanhava o pai nas visitas ao túmulo da mãe, falecida quando era um bebê e no dia em que frei Salvador fora convocado para uma nova missão e teve de deixar sua família.


-Ser missionário em Rio Adentro, quem diria! Pelo visto o Senhor me envia ás águas mais profundas e... Que cara é essa, meu filho?


-Não... Não é nada, padrinho! – Murmurava Alexandre ao engolir o choro. – É que às vezes... Ás vezes eu não quero crescer!


-Não queres crescer? Justamente aí mora o perigo; se não souberes te despedir do que lhe impede de crescer, serás infeliz! E quanto a gentileza que lhe recomendei?


-Gentileza? – Frei Salvador se referia ao famoso espelhinho e D. Alexandre levara a mão na testa, pois o esquecera no fundo da gaveta. Bem que D. Domingos lhe oferecera toda a sorte de alimentos, roupas e dinheiro para a viagem, mas frei Salvador já era acostumado a renunciar tais coisas para seguir viagem. Negro e órfão, ele trabalhava numa granja em troca de abrigo até ser adotado por monges dominicanos que lhe ensinaram a ler, escrever, cozinhar, compreender e partilhar a sabedoria de Deus aos demais.


Rio Adentro era um dentre tantos povoados de Angustura que abrigava oitocentas pessoas divididas em diversas habitações, capela e armazéns, cada qual com sua família além de ser aquele que ficava mais próximo da floresta. Viviam da pesca, da caça e do cultivo de frutas e plantas medicinais cuja colheita era celebrada com as quermesses realizadas em frente á hospedaria onde os viajantes descansavam ou guardavam suas bagagens enquanto conduziam seus animais até o igarapé mais próximo, sem contar os empregados que ali viviam em troca de trabalho. Dentre eles, havia uma jovem chamada Rosaura e seu pequeno filho que percebera a chegada de frei Salvador montado num burrinho e correu até ele. Sim, é o segundo menino! É por este caminho que vamos conhecê-lo...


-Ei tio! Tio, aqui em cima! Me levanta?


-Ora essa e quem me chama? – Indagava o frade que até então julgara estar sozinho no meio da estrada até perceber a engraçada figurinha que deveria ter uns sete, oito anos. Era um pequeno tão pobrezinho e descalço que frei Salvador lhe doou as esmolas restantes no bolso e um pedaço de pão.


-Pois não, filhinho de Deus! Qual o teu nome?


-Pedro! Moro bem ali com a mamãe, e você?


-Sou Salvador Infante, e vim ajudar meus irmãos a cuidar de vossa gente. É de se admirar, tamanho senhorzinho por estas bandas! E teu pai, onde está?


-Ah, faz tempo que ele viajou e espero ele voltar, mas ele demora tanto...


Ao contrário de tantos menininhos, Pedro de Souza Antunes ou Pedrinho como era chamado na infância não temia estradas desertas e a escuridão da noite; ambas ele enfrentava sendo embalado por cantigas e lendas assustadoras contadas pelos viajantes. De vez em quando alimentava os peixes e lagartixas á beira do igarapé, se metia nas conversas dos adultos e criava os próprios brinquedos, mas não via graça nos jogos de azar e competições onde trapacear era comum. Inesquecível fora o Natal anterior, quando ganhou um lindo barquinho de miriti e Pedrinho lhe fez navegar de mão em mão até naufragar nas mãos de seu primo Juquinha que chorava e insistia em ficar com o barquinho.


-Pois fique com ele, te dou de presente! – Isso repercutiu tanto que chegou aos ouvidos da mãe que preparava a sobremesa sem desconfiar do ocorrido. Mais tarde, ela o chamava num canto para conversar e tentar entender.


-Mas o barquinho era teu meu filho, era só pedir de volta sem brigar! - Além do mais, seria o único brinquedo que Pedrinho teria durante a infância.


-O Juquinha não ia ganhar nada mamãe, aí eu dei o barquinho de presente pra ele!


-Meu filho, a festa já acabou e agora que estamos só nós dois você pode me contar: O que te levou a agir assim?


-O tio Bastião vive de bater no meu primo e já estava de cara feia pra cima dele...


"Tão pequeno e tão diferente de Alexandre e toda a sorte de meninos..." Refletia o frade quando de repente viu o menino correr até certo ponto e cair de joelhos, inclinar a cabeça para trás e apontar o céu com seus olhos arregalados; parecia gritar, mas a voz não lhe saía! Tal fenômeno durou poucos minutos, mas logo frei Salvador socorreu o pequenino que já estava em seu estado normal e contava sobre o ocorrido.


-Pedrinho, você está bem? Suando frio desse jeito!


- Tio, você não viu? Todo grandão, girando lá em cima!


- Nada vi, mas o que houve? Conte-me sem pressa.


-Um bichão vermelho girando, pegando fogo lá no céu! - E frei Salvador estremeceu com a resposta, pois antigamente ele vira algo parecido e se encantou de tal modo que espalhou a novidade para os ouvidos descrentes; estes o acusaram de mentiroso e deram-lhe sete golpes de palmatória, obrigando tal lembrança a perecer no esquecimento.


-Ouça, te deixo em casa e não dizes a ninguém que viu Abaruna. Falar dele de qualquer modo pode lhe custar caro!


-Nem à mamãe posso contar? - Indagava Pedrinho.


-Bem, à mamãe você pode e somente a ela contar! - Assim combinado, frei Salvador montou o pequeno no burrinho e seguiu com ele até a hospedaria onde Rosaura de Souza Antunes o esperava. Aos vinte e seis anos, a jovem mãezinha tinha seus olhos suaves e tristonhos por uma saudade distante e o sorriso acolhedor de quem sabia repreender, mas logo acalentava o pequenino em seus braços.


-Ah Pedrinho, eu te procurei tanto! Não saia mais assim de repente, sem me avisar!


- Olha mamãe, eu fui esperar o papai e peguei carona do moço lá na estrada velha...


-Ele é frei meu filho, repita: F-R-E-I. Ah, desculpa meu menino, ele tem essas manias de esperar o pai todo dia na estrada e voltar na carona dos outros!


-Eu que peço desculpas pela demora, a viagem estava tão boa! - À ela frei Salvador se apresentou novamente e depois prosseguiu sua viagem até a capela de São João onde fora acolhido pelos outros frades. Do alto da mangueira, o "bichão vermelho" observava a jovem mãe seguindo os pulos do pequeno Pedrinho para entrar primeiro na hospedaria e sobre eles irradiava sua graça luminosa.


Isto aconteceu quando D. Alexandre Fuas Nolasco, Pedro de Souza Antunes e a princesa Berenice de Serruya eram crianças que cresciam com suas vantagens, desvantagens e desejos distintos que correspondiam à um só: Obter a felicidade como um tesouro que não estivesse aprisionado em conchas no fundo do mar ou num baú enterrado na praia. Ainda não sabiam, mas este tesouro esse existia e também procurava por eles como um príncipe enamorado que se dispõe a alegrar e ser a alegria dos seus!



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Autor(a): Ginny Potter

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  • Magda Postado em 07/04/2019 - 15:41:35

    ah, eu tenho uma fic baseada em tvd com o casal vondy, caso vc se interesse de ler: https://fanfics.com.br/fanfic/24829/memorias-de-uma-vampira-diego-finalizada

  • Magda Postado em 07/04/2019 - 15:40:48

    oiie, leitora nova! se quer uma dica, nao posta tudo de uma vez nesse site. Vai postando ao pouco, uns capitulos por dia ou mesmo por semana, tudo de uma vez o proprio site não divulga mt ai vc perde a chance das pessoas verem. Beijito!!


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