Fanfic: Abaruna | Tema: Original
Tão forte quanto à união dos reis Hildegardo Camilo e Verônica eram os longos anos de amizade do monarca com D. Domingos Fuas Nolasco que gerou a promessa do enlace de seus filhos quando crescessem; em reuniões regadas a vinho tinto e pastéis de carne com queijo eles discutiam e buscavam diversas soluções para a falta de interesse dos dois até o relato que envolvia Abaruna foi redescoberto, enchendo-lhes olhos e estômago de felizes expectativas.
Chegada a manhã que daria inicio à expedição, todos se reuniram no quartel da Cavalaria Real para serem passados em revista pela família real que nestas ocasiões sempre era acompanhada pelo professor Odivelas e era bonito ver todos enfileirados como os tradicionais soldadinhos de chumbo que alguns ainda guardavam em suas gavetas. Em seguida todos abriram caminho para D. Alexandre passar, já montado em seu cavalo Corre-Campo; como era lindo! Branco de crina negra e ondulada, estava enfeitado com os arreios dourados e a sela pintada com as cores amarela, vermelha e azul com três estrelas brancas; junto dele, seguiam mais quatro cavaleiros que formavam sua comitiva. Finalmente, o discurso do rei para esclarecer tais coisas.
-Bravos cavaleiros, hoje eu lhes apresento D. Alexandre Fuas Nolasco como o cavaleiro que está destinado a trazer da floresta o dote de sua futura esposa e minha adorada filha, a princesa Berenice de Serruya! E não se trata de um dote comum, não é meu caro Odivelas?
-Isso mesmo! E trata-se de ninguém mais, ninguém menos que Abaruna, o mais raro e belíssimo pássaro ou como era chamado pelos antigos, o príncipe destas matas! - Anunciava o professor Odivelas ao fundo do palanque. Durante o discurso, os cavaleiros murmuravam diversas opiniões entre si. Uns aplaudiam por tudo, outros franziam o rosto e duvidavam da existência daquela ave. Com tantos dotes de casamento a serem dados, pra que se embrenhar na mata atrás de um pássaro desconhecido? Por sua vez, a rainha Verônica recordava-se de uma antiga lenda contada por seus antepassados no qual Abaruna estava presente desde a criação do mundo.
-Sem mais delongas, vamos retomar nossas posições. Sua Majestade, o Rei Hildegardo Camilo passará esta espada ao nosso valoroso cavaleiro!
-Espada que já estava em meu quarto, quanto protocolo... - Suspirava D. Alexandre enquanto lia um juramento escrito à mão e novamente recebia a espada do rei; até Corre-Campo bufava pela demora nas formalidades. Chegada a hora, D. Domingos se emocionou e deu seus conselhos para o filho.
-Filho, esperamos que faça uma viagem excelente, produtiva e que obtenha o êxito tão esperado por nós e por vossa princesa!
-Pai, se eu não conseguir?
-Mas é claro que vai conseguir! E jogue fora esse pano velho, está estragando a beleza do teu uniforme! - Ordenava D. Domingos e para não contrariá-lo, D. Alexandre fingiu que jogava o lenço fora e guardou-o no bolso na esperança de que sua admiradora lhe desse sorte, mas de vez em quando olhava atrás para ver se a princesa o observava...
Na hospedaria, Pedro se arrumava para a viagem. Esquecer da promessa inacabada e seguir a vida normal ao lado da mãe era uma opção feliz, já que ela o adorava e precisava dele; por outro lado não via graça em viver ali em troca de serviços prestados, sem direito à salário e privacidade. Todos os empregados se mantinham daquela forma, criavam seus filhos ali e se o dinheiro arrecadado não fosse o suficiente, passavam á eles o desejo de ter uma vida tranqüila e a casa própria; no preparo das coisas dona Rosaura apenas refletia.
-Há essas horas meu filho já se aprontou. Não dava pra segurar...
-Mamãe falando sozinha?
-Ô filho, desculpa! Insisti tanto, mas o seu Teófilo nem quis emprestar as botas...
-Tudo bem, essas já são de bom tamanho. Só lamento porque frei Salvador não vem junto... - Cabe ressaltar, naquele tempo já se propagavam as narrativas sobre heróis valentes que percorriam travessias perigosas e caminhos obscuros sobre aqueles sábios, feiticeiros ou não de meia-idade. Dentre as que Pedro e tanta gente conheciam estavam "A epopéia de Raul nos mares do Sul", "A peleja de Jurandir contra a feiticeira Ondinaíra", "Idílio nas selvas" e Cobé, a mais trágica de todas.
-Tu sabes que o frei vive ocupado com as coisas da Capela, mas ele prometeu rezar um Rosário por ti e ainda me disse: "Olha, teu Pedro só parece menino, mas já sabe de muito, está pronto pra viajar sozinho! - Respondeu Dona Rosaura de modo que o filho se contentou e sorriu. Mirando novamente o retrato desbotado do pai ele desejou que Manoel Jorge também lhe sorrisse antes de partir até a mãe lhe ainda dá um tom de brincadeira.
-Que sorriso é esse meu filho, apaixonado de novo?
-Eu?! Ah mãe, quem me dera! - Exclamou Pedro. - Posso levar uma maçã daqui?
-Tem bastante, pegue quantas quiser. - Aconselhou a mãe enquanto o observava. Quando Pedro se aproximou, ela ajeitou-lhe a gola da blusa e fitou-o por uns instantes. E eu duvido essa cavalaria recusar o filho tão bonito que eu tenho!
-É pra ser cavaleiro, não virar modelo de quadro mamãe... E o coração da senhora vai comigo não vai? – Indagava Pedro enquanto se ajoelhava para ser abençoado e dona Rosaura assentia com a cabeça. Das mãos maternas ele se despedia para subir na carroça que lhe serviria de carona e depois adentrar na mata, levando consigo chapéu na cabeça, bolsa com os alimentos e o fiozinho de esperança cuja angústia adormecia, mas ainda existia.
-Não demora meu filho! - Gritava a mãe enquanto a carroça que levava Pedro para cada vez mais longe de suas mãos.
-Te mando carta minha mãe! Vou, mas volto logo!
Um dia de domingo, roupas para lavar, panelas com refeições a serem feitas e dona Rosaura ficava sem aquele que aos seus olhos era o mais crescido e bonito dos filhos de Rio Adentro. Só de pensar nisso, o coração da mãe se apertava novamente quando surpreendida e agraciada com o mesmo milagre que descera à terra na noite anterior. Pedro tanto desejou que chegasse a vez dela vislumbrar a lindeza daquela ave mística cujos tons se alteravam em diversas cores como uma fogueira de São João que finalmente aconteceu. E justo quando dona Rosaura se aproximava para acarinhar, os gritos mal-humorados do hóspede recém-chegado e as ordens do patrão a afastaram dali.
-Ah meu Deus, que eles tenham uma boa viagem e não demorem tanto!
Quando a comitiva de D. Alexandre e o solitário Pedro puseram os pés na floresta por caminhos diferentes, ela toda se fervilhou de contentamento. Pouquíssimos ousavam percorrer suas vias e cuidavam para não se perder naquele verde e vago mundo sem fim, inclusive os raios de sol precisavam pedir licença às copas das árvores para alcançar o chão. Os domingos ensolarados também revelavam aos passarinhos belos nichos com igarapés para se refrescar e criar seus ninhos ali perto enquanto mudinhas recém-nascidas ouviam histórias das árvores centenárias e se alimentavam tanto da chuva como dos raios luminosos que Estefânia também distribuía.
-Agora ninguém segura, eles vem chegando!
Desde cedo ela descansava e saboreava mangas num nicho cercado por doze araras e pressentia o início das jornadas de D. Alexandre e Pedro, ambos seus bem-queridos. Gostava tanto deles que mal podia escolher e por isso desejava converter seus caminhos num só; de repente, barulhos incômodos interromperam a paz e afugentaram as araras dali. Mais adiante uma pequena indígena enfrentando sozinha uma estranha criatura de pele escamosa e esverdeada, com olhos puxados e pés de salamandra que atirava várias pedras em sua direção.
-Ele não cansa... - Como fada triunfante, Estefânia professava horror as traquinagens do rebelde chamado Juripuri que continuava atirando pedras enquanto a indiazinha desistia da luta e corria para longe dali.
-Seu desalmado! Pelejando com alguém menor do que você!
-Olha já, mulher querendo mandar em mim! - Respondia o diabrete, mostrando-lhe a língua de serpente.
-Eu já vi gente e bicho tão ruim quanto você. E deixa de graça, nem és homem de verdade! - Vendo que provocara mais alguém naquele dia, Juripuri rolava de rir sem se envergonhar de suas molecagens.
-Essa gente lá do alto, se acha dona da verdade e quer mandar em todo mundo!
-O passado ainda lhe dói, eu sei. Eu sinto tanto quanto você! - Dizia Estefânia enquanto o diabrete lhe fazia caretas e saltava por todos os lados. Não era engraçado ver Juripuri acusá-la de todas as características que ele mesmo possuía; era o jeito dele de se divertir e se mostrar superior, mesmo sem ser. - Com licença, preciso rever os meus meninos e não encoste um dedo neles!
-Pois voa, voa longe daqui! Tu te achas, mas é tão ruinzinha como eu aqui!
Houve um tempo em que Juripuri sendo guerreiro de carne e osso, dotado de poderes especiais e grande força chegava a se igualar à própria Estefânia, a não ser pelos defeitos da presunção que o dominava. Fora nomeado por Tupã como guardião de sua própria tribo que vivia escondida na floresta graças a uma barreira mágica por ele formada e mantida ao seu redor até se descuidar, ocasionando sua destruição por uma tribo rival. Como punição, Juripuri teria de devolver seus poderes, mas ele preferiu se refugiar na floresta onde assumiu sua forma esquisita e passou a viver de pequenos feitiços para atormentar os viajantes.
Chegada a hora do almoço, Pedro mordiscou uma manhã e o prato de arroz-feijão com bife e farofa que gostava. Ao terminar sua refeição, jurou a si mesmo que não demoraria a chegar à capital e imaginava quais habilidades eram necessárias para a Cavalaria. Do que adiantava se revestir do uniforme desejado por tantos rapazes e meninos de Angustura se nada soubesse? Sem perceber, ele se afastava cada vez mais da trilha na qual se acostumara a caminhar todos os dias; nem adiantava levantar a cabeça e olhar para cima, uma vez que as copas das árvores se entrelaçavam, formando seu próprio céu esverdeado.
- Égua, nem trouxe uma espingarda ou cajado pra me defender! Mas deixa, se eu continuo reclamando não chego a lugar nenhum. -E Pedro meio que andava para trás, sempre olhando de um lado a outro à espera de alguma movimentação estranha quando se deparou com a pobre indiazinha, cansada de sua fuga e com as mãos postas nos joelhos. Vendo-a tão pequena, Pedro julgou que ela estivesse perdida e ofereceu sua ajuda.
-Oi minha flor, tudo bem? Não fica com medo não, se quiser eu te ajudo! - Ainda que se mostrasse inofensivo, a pequena desconfiava de sua presença e logo corria até desaparecer entre as árvores deixando Pedro confuso. "Alguém fez um mal muito grande pra essa criança ou botou-a pra fora de casa, por isso ela está desse jeito! Quem é que a deixa andar sozinha por aqui?!"
D. Alexandre e seus companheiros conversavam sobre os mais variados assuntos enquanto a natureza lhes oferecia o frescor do vento e belíssimas paisagens que nem os melhores pintores poderiam reproduzir. Passavam tanto tempo dedicados a seus treinamentos e missões que sobrava pouco tempo para admirar tantas maravilhas até avistarem um Pedro sozinho, franzino e preocupado com o próprio caminhar, deixando-os indignados. Que tipo de viajante não arruma sequer um cavalo ou uma espingarda para percorrer a floresta?
-Que raios esse garoto faz aqui sozinho? – Exclamava Tomásio, o mais jovem da comitiva. - E essas roupas, tão antigas quanto o meu bisavô!
-Deve estar perdido ou só passeando. Coitado, não sabe se tropeça nos cipós ou nas próprias pernas! - Caçoava o fidalgo Jeromão Guilhon que integrava a comitiva até prestar atenção num detalhe amarrado no bolso de D. Alexandre. - Outra vez esse lenço? Por que não o joga fora?
-O que você acha? - Indagava D. Alexandre enquanto os cavaleiros achavam graça de seu porquê. "Ele tenta se amostrar, mas já nem lembra a serventia desse lenço!"
"Ô madrinha Estefânia, cadê você?" Bem que Pedro fez, pediu e por pouco não chorou antes de partir, mas não pode arrumar um cavalinho sequer e lamentava a sorte do jumentinho teimoso que falecera cansado de tanto suportar o peso das cargas e chicotadas de seu dono. Em seus sonhos também construía um estábulo para abrigar e socorrer animais maltratados quando o surgimento da Cavalaria Real reacendeu-lhe o fiozinho de esperança angustiada.
-Salve nobre companheiro! - A reverência atrapalhada do caboclinho, imitando a postura dos nobres de Angustura provocara espanto seguido de riso entre os demais cavaleiros, mas D. Alexandre buscava manter o controle de tudo.
-Salve meu caro viajante... Qual o teu nome?
-Salve! Eu sou Pedro e sim, estou viajando sem cavalo, sem espingarda, mas não por querer! - Respondeu o jovenzinho.
-Fique em paz, pertencemos à Cavalaria Real de Angustura e estamos envolvidos numa importante missão de buscar o maior tesouro desta floresta!
-Eu também tenho uma missão importante sabe? E vocês nem imaginam... - Sem querer, seu modo amostrado de falar lhes levantou uma estranha suspeita. E se ele também estivesse à procura do mesmo pássaro de D. Alexandre? Era só o que faltava, um concorrente! Contrariando certos princípios, rapidamente surgiu a idéia de testar-lhe o grau de ingenuidade.
-Olha, acabamos de retornar de uma estalagem onde compramos nossos cavalos e recarregamos nossa munição. Você pode comprar tudo ali pagar tudo daqui a um mês! Vire à direita e siga sempre em frente!
-É sério? Vocês conhecem tanto daqui...
-Confie em nossa palavra, meu rapaz!
-Pois muito obrigado e tenham um bom dia! Graças a Deus, estou salvo! - E Pedro ficou tão feliz que se afastou sem fazer a clássica reverência enquanto os cavaleiros riam e apenas Tomásio percebia o absurdo da situação.
-Estalagem no meio da floresta?! Como assim?
-Acalme-se Tomásio, agora que nossa brincadeira vai começar!
Que significava um cavaleiro de Angustura para o viajante perdido? A certeza de ser indicado ao caminho correto! A esperança se inflamou tanto no espírito do jovem que ele nem desconfiou da existência de uma estalagem no meio da floresta até tropeçar e cair numa pequena ribanceira, cheia de lama. Pedro sentia a dor do pé torcido quando de repente notou a aproximação de cinco velozes cavalos avançando em sua direção!
-Misericórdia! - Ignorando a dor sentida, Pedro corria e jogava pedras para afugentá-los, mas a medida que caminhava, sentia os pés se desprenderem no chão até perceber que flutuava acima dos cavalos, graças aos poderes de Estefânia.
Do alto da mangueira, ela mesma fazia os quatro cavalos andarem em círculos até ser levantada uma nuvem de poeira e deles escolhia Corre-Campo para servir de montaria do afilhado até que ele pudesse segurar os arreios e dominá-lo totalmente. Por onde passavam, uma nuvem de poeira se levantava e o pé torcido se curava, deixando o jovem cada vez mais confiante até ser interrompido pelo endiabrado Juripuri que golpeara sua cabeça com uma tora de madeira.
-Pedro!!! Meu Pedro... O que fizeste seu tratante?!
-Ora, estou favorecendo o outro lado! - Respondia Juripuri enquanto Estefânia descia de sua nuvem para cuidar do afilhado e direcionava os cinco cavalos de volta para os seus donos. Corre-Campo era aquele que vinha mais devagar e arrependido de ter participado daquela façanha.
-Eu não lhes desejo o que pretendo fazer, mas a justiça das selvas exige! - Sabendo o modo como dona Rosaura cuidava dele, Estefânia o massageava dos pés a cabeça onde o choque doera mais. De Pedro retirava tudo que não lhe convinha fazer e arrumava seu coração com novos itens, mais úteis e bonitos em seus devidos lugares; D. Alexandre também precisava daquele cuidado, mas isso ficaria para depois e de outro modo.
Falando dele e de sua comitiva, pense no quanto desejavam atravessar a floresta naquele dia! Já esquecido da façanha, ordenava seus companheiros que cortassem os cipós pendurados nas árvores para abrir caminho e reconhecer alguns atalhos, mas as horas se passavam e começavam as reclamações. Que pássaro mais difícil de achar! Por que não caçar qualquer xerimbabo que agradasse à princesa ou lhe arrumar outro dote?
-É Abaruna quem devemos encontrar, custe o que custar! É ele quem fará nossa estimada princesa sorrir!
-Mas foi bem bolado o que aprontamos pra cima daquele um! - Comentava Jeromão, todo satisfeito.
-Deu até pena, o pobre coitado correndo e se embolando todo! - Dizia Tomásio ao imitar um matuto; D. Alexandre ria junto com eles até Estefânia aparecer por detrás dele e apertar seu coração com as próprias mãos, provocando-lhe certa dor e os cavalos da comitiva começavam a perder fôlego e caminhar lentamente. Em mãos de fadas, corações humanos acendem diversas luzes e sempre se destacavam as de brilho maior que as outras. Escolhida por Estefânia, a luz vencedora afugentava a dona do lenço e devolvia D. Alexandre ao seu último encontro com Berenice antes de viajar.
"Ainda por aqui? Pensei que já tivesse ido..."
"Estou indo, estou indo! Vou buscar Abaruna para ti!"
-Ei amigo, que há contigo?
-Nada, de repente senti umas pontadas no peito! Mas não se preocupem que minha saúde é formidável e eu estou bem o suficiente para continuar!
-Olha, pode ser um sinal divino para moderar no consumo de carnes! Lembre-se de Alfredo que mal chegou aos 30 e semana passada sofreu esse mal-estar no coração!
-Depois verei isso. Eia Corre-Campo! O que está esperando, avance!
-Capitão, o meu cavalo também empacou e não avança mais! - E de repente, todos se viram numa situação embaraçosa como se todos os cavalos tivessem afundado suas patas em cimento e ficassem petrificados!
-Mas isso é praga daquele matuto!
-Que praga o quê, é teimosia de cavalo! - Afirmava Jeromão que já preparava o chicote quando Tomásio interveio e gritou:
-Nem caçamos ainda e a natureza já se vingou!
-Deixem de besteira! A natureza me perdoe, mas se ela está contra D. Alexandre nesta missão... D. Alexandre será contra a natureza! Por Jerônimo e Carlos Maria, avante Cavalaria!
Sem demora, as patas dos cavalos se desprenderam do chão e a comitiva pôde prosseguir sua viagem pela floresta até que não houvessem clareiras e raios de sol. Ainda que não se casasse, D. Alexandre sonhava com as recompensas recebidas em troca de Abaruna; um título de nobreza ou um punhado de terras para administrar, um palacete maior, quinhentos mil réis para gastar como quiser,assumir o comando da Cavalaria ou partir para a Europa onde ingressaria na guarda imperial até sentir novamente a pontada no coração.
-Capitão, você está bem?-Indagaram os demais cavaleiros ao acudir D. Alexandre que reencontrava a princesa Berenice em sua imaginação. Bem sabia que o olhar melancólico daquela menina lhe desarmava, mas também transmitia a confiança de ser bem-querido. – Mais essa, jovem desses e já sente tais coisas!
"Oh muito obrigada! Pelo visto não és tão inchado como dizem..."
"Eu que agradeço e desejo o teu bem, mais do que desejava antes. Espere, logo mais Abaruna estará em minhas mãos!"
-Desperte Alexandre, desperte! - Exclamava Jeromão. – Por D. Carlos Maria, que há contigo?
-A pontada de novo... Está bem, quando eu voltar para Angustura darei um tempo nas carnes gordurosas. Será que o matuto encontrou o caminho de casa?
-No máximo ele se perdeu ou bateu a cabeça numa árvore... - Brincava Jeromão. A comitiva passou o restante do dia arrumando o alojamento, traçando planos de captura e comemorando o inicio da expedição sem imaginar que eram observados dois olhinhos escuros e indignados por ter perdido seu abrigo para eles.
-Tribo de cariua mau vai ver só!
Sentindo que a queda não deixaria seqüelas em Pedro, Estefânia encostou-o junto a árvore mais próxima para dormir confortável e protegido das chuvas; por enquanto não adiantava fazer alguma coisa que não fosse cuidar dele até o clarear do dia seguinte. "Pobrezinho, jamais retornará pela via outrora escolhida para chegar aqui!" Pensava a fada enquanto produzia belos sonhos para o sono do afilhado. Se da floresta Abaruna era príncipe, a justiça das selvas era a princesa encarregada de proteger a floresta e os indefesos, castigando quem ousasse profaná-la e por meio de Estefânia também agia, petrificando as patas dos cavalos de certa comitiva e socorrendo o coitado do Pedro, ainda tonteado com a queda. Que desastre, um nocaute desses logo no primeiro dia!
-Se sente bem, Pedro?
-Égua, nem sei... - Murmurava o caboclinho.
-Pobrezinho, ainda está com defeito! - Exclamou a pequena madrinha. Pedro continuava zonzo e chateado pela queda, mas a presença de Estefânia o consolava até adormecer novamente. - Ah Pedro, você e sua mãe são o maior enigma que Deus me concedeu!
Sem imaginar os ocorridos fantásticos entre seus afilhados, frei Salvador visitava as famílias de Rio Adentro, pois ele e mais um frade queriam recrutar as crianças para ensaiar um folguedo natalino, conhecido como "pastorinha". Aos sessenta anos, mantinha o entusiasmo por sua vida dedicada aos fiéis e por humildade própria evitava a fama de milagreiro que os mais devotos lhe impunham, pois eram muitos os relatos de doentes e moribundos que ficavam curados após sua visita. À tardinha, soube do milagre vivido por Pedro e Dona Rosaura através dos gritos da vizinhança.
-Depressa, venham ver o amontoado de pena bonita que tem aqui!
-Cruz-credo feitiçaria! – Benzia-se uma senhora assustada.
-Já falei que num é pena de galinha Tonhão! Deixa de preguiça e recolhe uma dessas, deve valer muito dinheiro!
-Que povo esquentado, se empolga com tudo! – Exclamava o frei alegremente até encontrar a multidão aglomerada ao redor do amontoado de penas alaranjadas que surpreendiam cada olhar. Dependendo da posição onde estavam, seus tons alternavam ou brilhavam impressionando a maioria.
-E se for bicho malfazejo? Nem pavão tem pena colorida assim...
-Malfazejo é teu nariz, alguém depenou três galinhas e deixou tudo aqui pra gente ter de limpar! – Resmungava Tonhão, que de tudo reclamava.
-Acalmem-se! – Bradou frei Salvador, pois a curiosidade estava gerando discussões bastante calorosas. – Conheço esta ave de longa data e estas penas não são de galinha, é um tipo que precisa soltar suas penas antigas para se renovar como todos nós precisamos nos desprender dos vícios e desentendimentos! Podem se chatear comigo, mas esta é a verdade e não podemos negar. Deixem que o vento se encarregue de levar...
Chateadas, as pessoas largaram as penas no chão para retomar a vida enquanto frei Salvador explicava mais detalhes sobre a pastorinha. Alguns retornaram às escondidas e juntaram tais penas para fazer chás, sucos e remédios para curar e prevenir diversas moléstias sem que os enfermos conhecessem a natureza de tal medicação. Só dona Rosaura sabia e embora quisesse trocar tal saber pelo retorno do filho, ela continuava feliz.
-Vai meu filho, vai seguir teu chamado... Meu coração vai contigo!
-Dona Rosaura! - Gritou uma das arrumadeiras de dentro da hospedaria. - Vem logo que o patrão está chamando e... A senhora está bem? E Pedro, por onde anda?
-Estou bem, não se preocupe. Meu menino teve de sair, mas já volta... - E frei Salvador ainda pôde ver dona Rosaura na varanda, conservando as penas alaranjadas em suas mãos e sorrindo ao sossegar sua amiga arrumadeira. "Pedro, já pode despertar e prosseguir feliz. Ela te entendeu!"
Autor(a): Ginny Potter
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-Égua! Por quanto tempo dormi? Num único sonho, Pedro viveu inúmeras vidas. Foi pescador, cavaleiro ladeado de companheiros que se divertiam afugentando seus oponentes com seus cavalos, foi dono de um luxuoso e bonito casarão com vários cavalos e bois, e como cavaleiro ajudava sua mãe vestida de marquesa a descer de uma carruagem do ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 2
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Magda Postado em 07/04/2019 - 15:41:35
ah, eu tenho uma fic baseada em tvd com o casal vondy, caso vc se interesse de ler: https://fanfics.com.br/fanfic/24829/memorias-de-uma-vampira-diego-finalizada
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Magda Postado em 07/04/2019 - 15:40:48
oiie, leitora nova! se quer uma dica, nao posta tudo de uma vez nesse site. Vai postando ao pouco, uns capitulos por dia ou mesmo por semana, tudo de uma vez o proprio site não divulga mt ai vc perde a chance das pessoas verem. Beijito!!