Fanfic: A Dama do Coração Partido | Tema: Sherlock Holmes

Parecia que toda a história começava a se desenrolar na mente de Holmes, mas eu ainda não tinha conseguido ligar todos os pontos.

 - Confesso que ainda estou meio perdido...

- Bem, meu caro Watson, o que os doutores disseram explica muita coisa. Não temos provas ainda, mas podemos deduzir que os diretores do hospital talvez tenham assassinado Edwards e feito com que tudo parecesse um terrível acidente, impedindo assim, definitivamente que ele e o Dr. Cooper seguissem com sua pesquisa. Todavia, não contavam com a esperteza de nosso médico, que já tinha levado toda a pesquisa para casa antes que eles pudessem se apossar dela. Pouco tempo depois de seu falecimento, a Sra. Edwards passou a se sentir vigiada e começou a ter visitas inesperadas bagunçando sua casa durante as madrugadas. Essas visitas, nada mais eram, do que invasores a mando dos diretores e das farmacêuticas em busca das tais pesquisas. Talvez esses bandidos sejam funcionários do próprio hospital, e indo um pouco mais além, quiçá até algum médico sem muitos escrúpulos, que depois de ter seu salário reduzido, aceitou fazer esse trabalho sujo em troca de uma renda extra. Isso poderia explicar o suposto socorro prestado a Sra. Edwards no momento de seu ataque cardíaco.

- Vendo por esse ângulo, faz mesmo sentido... Então quer dizer que o tal comprador da casa não tem nada há ver com a história? Ou será que trabalha para eles?

- Isso, eu ainda não sei, meu caro Watson. Para termos essa resposta, precisamos da ajuda da Polícia de Bedford. Assim que eles o encontrarem, poderemos perguntar pessoalmente. A única coisa que não se encaixa, são as alianças que nossa cliente recebeu pelo correio. Ainda não vejo conexão com o resto da trama. – concluiu Holmes, pensativo, mas rapidamente voltando sua atenção outra vez para o casal de médicos.

– Caros doutores, seu relato foi realmente de grande ajuda, mas antes de irem, tenho uma última pergunta.

- E qual seria, Sr. Holmes?

- Qual é o nome desse novo diretor do hospital?

- É Jonathan Wright.

- Certo, muito obrigado. – agradeceu Holmes enquanto tomava nota em sua caderneta.

- Vocês pretendem permanecer na cidade? – resolvi perguntar.

- Ficaremos só até amanhã à tarde. Já temos passagens compradas de volta para Londres, mas creio que nos reencontraremos ainda hoje, Dr. Watson. – disse Packard. – Pretendemos voltar à casa de Emma mais tarde, porque desejo ver como está a pequena Angie.

- É a filha deles? – perguntei.

- Sim. A pobrezinha deve estar sentindo falta da mãe.

- De certo que sim. Até mais tarde, então.

Assim que nos despedimos, o casal seguiu rumo ao hotel em que estava hospedado. Nós também já estávamos de saída, mas antes, pedimos ao Dr. Young para que nos mantivesse informados de qualquer alteração no quadro de nossa cliente. Ainda tínhamos muito a fazer em Bedford e o dia estava apenas começando, no entanto, precisaríamos da ajuda do Sr. Benningfield para cumprir o restante de nossos planos.

 - Sr. Benningfield, - chamou Holmes - creio que preciso incomodá-lo por mais um tempo, pois tenho mais alguns favores a pedir.

- Pois não, Sr. Holmes. Estou à inteira disposição dos senhores. O que deseja?

- Não conhecemos a cidade e precisamos ir a vários lugares ainda hoje. Primeiramente à delegacia de polícia, depois ao posto de telégrafo, à casa da família Edwards e por último, precisamos encontrar um hotel para nos hospedarmos. O senhor poderia ser nosso guia e chofer, se não for muito abuso?

- Mas é claro, Sr. Holmes, porém, creio que não será necessário irem ao posto de telégrafo nem ao hotel. Tenho certeza de que a Sra. Emma faria questão de que os senhores ficassem hospedados na casa e nós temos telefone lá. O senhor poderá usá-lo se quiser.

- Que boa notícia! Seria interessante adquirirmos também um exemplar do engenhoso invento do Sr. Bell, não é mesmo, Watson? Isso tornaria as coisas muito mais práticas!– exclamou meu colega entusiasmado com a ideia de comprar um telefone – Então, já que estamos de acordo e nosso itinerário foi consideravelmente reduzido, vamos a nossa primeira parada, na delegacia de polícia, pois preciso falar com o Chefe. Depois podemos seguir para a casa.

- Sim, senhor.

Antes de sairmos, fui até a porta para ver como estava o clima. A nevasca já havia passado, mas o chão estava coberto pela neve e o frio voltava a congelar meus bigodes. Benningfield já estava a postos segurando as rédeas do único cavalo que puxava a carruagem. Então, pusemos nossos chapéus e nos embrulhamos novamente em nossos sobretudos e cachecóis para finalmente seguirmos em direção a eles, porém, quando estávamos na calçada, fomos abordados por uma moça com a aparência bastante cansada.

- Sr. Holmes! – chamou ela.

Nos viramos e vimos que ela também saía do hospital. Estava há apenas poucos passos de distância.

- Pois não? – disse ele.

- Desculpe incomodar, mas eu me chamo Olivia Brown e sou enfermeira aqui do Hospital de Bedford. Eu não queria me intrometer, mas foi quase impossível não ouvir sobre o caso da paciente Edwards. Na verdade, acho que todos na cidade já devem estar sabendo.

- Não tem problema, não é nenhum segredo de Estado. – brinquei, tentando descontrair. – O que deseja senhorita?

- Bem... é que pouco tempo depois de a paciente dar entrada, durante a madrugada, algo meio incomum aconteceu. Não sei se significa alguma coisa, mas gostaria de contar.

- Ah! Então diga-nos. – pediu Holmes, já com os olhos brilhando de excitação – Quanto mais incomum melhor!

- É que enquanto eu fazia minha ronda, por volta das 4 da manhã, fui verificar como a paciente estava, mas vi que tinha um homem com ela no quarto. Não entrei, porque por mais incomum que fosse o horário, pensei ser um visitante. Ele ficou lá por uns dez minutos e depois saiu. Achei estranho, porque ele parecia não querer ser visto, já que vestia um sobretudo escuro que o cobria quase da cabeça aos pés. Nem o chapéu tinha tirado. Os cabelos negros e compridos chegavam à altura dos ombros e tinha a aparência de quem já não se barbeava há vários dias. Quando deixou o quarto, fui falar com ele, mas se esquivou de mim e foi embora tão rapidamente que sequer pude ver seu rosto direito. Curiosa, fui até a minha colega responsável pela entrada dos visitantes, e perguntei quem era aquele homem misterioso. Para a nossa surpresa, não havia ninguém registrado como visita da paciente e minha colega sequer tinha visto ele entrar, só o viu sair apressadamente. Ela também achou muito esquisito. Não sei se essa informação é útil para alguma coisa, mas...

- Ah, sim, senhorita! Muito grato por sua ajuda. Não sei o que significa ainda, mas foi uma informação bastante interessante. Só me diga uma coisa: a senhorita conseguiria me dizer a idade aproximada do sujeito?

- Bem, eu só o vi de relance, mas acho que não era muito velho. Posso estar enganada, mas devia ter de 30 a 35 anos.

- Está certo, muito obrigado pela informação, Enfermeira Brown. A senhorita é uma pessoa bastante perspicaz. – disse meu colega.

- Obrigada, fico feliz em ter ajudado. Agora, se me derem licença, eu vou embora, porque esse plantão acabou comigo. Adeus, senhores.

- Adeus e bom descanso, senhorita. – despedi-me da moça, enquanto Holmes permanecia em silêncio e parecia ainda estar absorvendo a nova informação e tentando ver onde ela se encaixaria em toda a sua teoria. Quando finalmente falou algo, foi para me chamar apressadamente.

- Vamos, Watson! Precisamos ir à delegacia o quanto antes!

Obedecendo ao seu chamado, quase que uma convocação, saltei na carruagem e rumamos para a Delegacia de Polícia de Bedford.