Fanfic: A Dama do Coração Partido | Tema: Sherlock Holmes

Eu estava ansioso por nossa viagem a Bedford e logo que soube que partiríamos de manhã, me apressei em deixar minha mala pronta. Não sabia quantos dias ficaríamos por lá, mas coloquei roupas suficientes para uma semana.

Pouco tempo depois jantamos e fui me recolher, afinal teríamos que acordar cedo no dia seguinte. Quando me levantei, Holmes já havia saído, não fazia ideia para onde, mas a Sra. Hudson estava lá e tinha gentilmente preparado um delicioso desjejum com chá, pão e bolo. Nada de feijão, bacon e ovos, porque iríamos pegar o trem e ela sabia que meu estômago era sensível ao sacolejar das locomotivas.

Enquanto esperava por Holmes, tomei meu café da manhã e a Sra. Hudson me fez companhia. Poucos minutos depois ele chegou.

- Bom dia, Holmes. Onde esteve?

- Bom dia, Watson. Fui mandar um telegrama à nossa cliente para deixá-la ciente de nossa chegada, afinal ela não nos esperava tão cedo.

- Fez muito bem. Agora venha e sente-se conosco. A Sra. Hudson acordou cedo e fez um delicioso Pound Cake para nós. Eu disse que ela não precisava ter se incomodado...

- Você sabe que não é incômodo algum, meu querido. – disse ela sorrindo enquanto pegava minhas mãos. - Você e o Sherlock são os filhos que eu nunca tive: você o educado e ele o malcriado!

- De fato! – concordei rindo enquanto Holmes puxava uma cadeira.

- Vejo que está animada, Sra. Hudson. Feliz por se ver livre de nós por alguns dias?

- Mas é claro Sherlock! Finalmente vou ter um pouco de paz nessa casa! – respondeu ao comentário maldoso de Holmes com uma piscadela, que ele retribuiu com um sorriso discreto enquanto se servia de uma xícara de chá e uma fatia de bolo.

Às vezes Holmes implicava com a Sra. Hudson, mas ela era uma das poucas pessoas com quem ele tinha grande consideração, o que não é nada fácil no que diz respeito ao meu colega, que sequer mantinha o próprio irmão no círculo de pessoas mais próximas. Sou capaz de afirmar que ele mataria quem se atrevesse a tocar em um fio de cabelo dela.

Meia hora depois já estávamos a bordo do trem em direção a Bedford. Holmes estava um pouco mais calado do que de costume durante a viagem, parecia pensativo enquanto olhava pela janela de nossa cabine, mas sem mirar nada em especial. Seu pensamento estava bem distante daquele trem.

Decidi não incomodá-lo e peguei o livro que tinha trazido para a viagem e comecei a lê-lo, porém pouco tempo depois acabei adormecendo. Quando acordei, mais de uma hora depois, Holmes estava tomando notas em sua caderneta. Resolvi puxar assunto.

- O que está anotando Holmes?

- Nada em especial. Apenas alguns fatos conhecidos sobre o caso e algumas perguntas que precisam ser respondidas. Até chegarmos à casa da família Edwards, não poderei tirar mais nenhuma conclusão.

- Concordo, mas diga-me, - perguntei curioso - o que você achou da Sra. Edwards?

- O que eu achei da Sra. Edwards? – repetiu ele, achando minha pergunta meio incomum - Bem... ela é uma jovem mulher que já passou por maus bocados e que está enfrentando bravamente coisas que ela não entende. É estranho... não sei explicar bem, mas sinto que preciso protegê-la.

- Sherlock Holmes está preocupado com uma mulher? Quem diria! Não achei que viveria para ver isso! – não pude conter a surpresa de ouvir aquela resposta. – O grande Sherlock Holmes estaria interessado em nossa cliente?

- Não diga bobagens, Watson! Meu interesse nela é apenas profissional.

- Profissional... sei. Ela também é uma mulher muito bonita, não é mesmo?

- Isso é você quem está dizendo e acho que esse assunto não vem ao caso. – cortou ele, tentando mudar o rumo da conversa. Parecia até mesmo que estava encabulado, o que é uma coisa rara de se ver.

Holmes não era daquelas pessoas que gosta de jogar conversa fora e antes que conseguisse irritá-lo de verdade, decidi esticar as pernas e dar uma volta pelo trem. Quando voltei a nossa cabine, dessa vez quem dormia era ele. Tive de acordá-lo, pois nossa viagem já estava chegando ao fim. Pela janela pude ver a Estação de Bedford se aproximar.

- Acorde Holmes! Já chegamos. – chamei-o com um chacoalhão no braço esquerdo e ele abriu os olhos assustados.

- E quem disse que eu estava dormindo, Watson? Eu estava apenas descansando os olhos.

- Claro que não estava dormindo. E com certeza não era o seu ronco que eu estava escutando pelo lado de fora da cabine.

- Obviamente que não era, porque eu não ronco. – Retrucou ele sem dar o braço a torcer jamais.

Ele se sentou e viu que estávamos realmente chegando. Pegamos nossa bagagem e saímos do trem à procura de nossa cliente, mas depois de andarmos por toda a estação, não encontramos nenhum sinal dela.

- Você mandou o telegrama hoje cedo, talvez ainda não tenha dado tempo de ela vir até aqui. Talvez a casa seja longe...

- Talvez, Watson...

Sentamos no banco de madeira do lado de fora da estação e decidimos esperar um pouco. Fechamos bem nossos sobretudos, nos enrolamos em nossos cachecóis e enfiamos nossos chapéus na cabeça, porque fazia bastante frio e parecia que a neve poderia cair a qualquer momento. Cerca de 15 minutos depois, vimos um homem vir em nossa direção. Ele era alto, tinha cabelos loiros bem alinhados e vestia uma roupa preta. Parecia ser um uniforme. Quando chegou mais perto, confirmei minha suposição.

- Bom dia, senhores. Acredito que são o Sr. Sherlock Holmes e o Dr. John Watson, estou certo? – cumprimentou-nos com apertos de mão.

- Está correto. E quem seria o senhor? – Indagou Holmes sem rodeios.

- Desculpe por não me apresentar! É que estou tão aliviado que os senhores finalmente chegaram que esqueci as boas maneiras. Meu nome é Robert Benningfield, o mordomo da família Edwards.

- Ah! É um prazer conhecê-lo, senhor. – cumprimentei-o, alegre por saber que não ficaríamos esquecidos e congelando naquela estação de trem – Eu sou John Watson e ele é Sherlock Holmes. Perdoe meu amigo, mas é que estávamos esperando pela Sra. Edwards...

- Entendo... É justamente por isso que estou aqui. A Sra. Edwards não pôde vir recepcioná-los, porque... porque infelizmente está hospitalizada.

- Hospitalizada?! – exclamamos ao mesmo tempo. Teríamos chegado tarde demais?