Fanfics Brasil - Nós trepamos Eu Estive Aqui - Adaptada - Portiñón/Vondy

Fanfic: Eu Estive Aqui - Adaptada - Portiñón/Vondy | Tema: Rebelde


Capítulo: Nós trepamos

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O último Espetáculo Funerário de Anahí Giovanna Portilla está ocorrendo em um pequeno promontório na área do estuário de Puget. Um guitarrista e um violinista tocam aquela canção de Joan Osborne, “Lumina”. Alguém lê umas palavras de Kahlil Gibran. Não há muita gente, talvez vinte pessoas, e todos estão usando roupas normais. O cara que está conduzindo a cerimônia é do centro de orientação psicológica do campus, mas, por sorte, ele não transforma a coisa toda em um serviço de utilidade pública sobre prevenção do suicídio, apontando os diversos sinais de alerta que todos nós obviamente ignoramos. Ele fala sobre como o desespero cresce em silêncio. Essa é uma das coisas que levam pessoas como Any a fazer o que fizeram. E, depois de tudo, o desespero que ela deixou para trás deve ser respeitado e sentido, mesmo por aqueles que talvez nem a conhecessem.



Então ele olha para o grupo reunido ali e, embora não nos conheçamos, embora eu esteja sentada em um lugar mais afastado, ao lado de Maite, embora eu tenha aceitado vir à cerimônia a contragosto, só porque me senti mal por ter acusado Maite de ter colado a capa do disco na porta do quarto de Any, os olhos dele param em mim.



– Sei que muitos de nós ainda estamos tentando entender o que aconteceu. O fato de que não conhecíamos Any muito bem talvez torne o nosso fardo menos pesado, mas também torna mais  difícil processarmos o ocorrido. Fui informado de que hoje temos uma grande amiga sua conosco, Dulce, e imagino que ela também esteja lutando contra isso.



Lanço um olhar fulminante para Maite, porque é óbvio que foi ela quem me entregou, mas ela me encara com toda a calma.


Lanço um olhar fulminante para Maite, porque é óbvio que foi ela quem me entregou, mas ela me encara com toda a calma.



O sujeito lá na frente continua:



– Dulce, gostaria de convidá-la a compartilhar qualquer coisa que quiser sobre Any. Ou dividir conosco como está sendo para você passar por tudo isto.



– Não vou lá para a frente – sussurro para Maite, entre os dentes cerrados.



Ela me fita com os olhos arregalados e inocentes.



– O que você me contou me ajudou muito. Achei que pudesse ajudar outras pessoas também. E a você mesma.



Agora, todos estão olhando para mim. Minha vontade é matar Maite, que está me empurrando para a frente.



– Conte para eles sobre aquela história da biblioteca, sobre como ela ajudou o irmão dela a comer melhor – sussurra Maite.



Mas, quando chego lá na frente, não saem histórias edificantes sobre bibliotecas, bandas de rock ou menininhos enjoados para comer.


– Vocês querem que eu conte algo a respeito de Any?



É uma pergunta retórica e minha voz é puro sarcasmo, mas todos aqueles cordeiros inocentes assentem, me incentivando.



– Any era minha melhor amiga e eu achei que nós fôssemos tudo uma para a outra. Achei que contássemos tudo uma para a outra. Mas, no fim das contas, eu não a conhecia nem um pouco. – Sinto o gosto de algo duro e metálico na boca. É horrível, mas eu o saboreio, da mesma maneira que você saboreia o próprio sangue quando tem um dente frouxo. – Não sabia nada da vida dela aqui. Não sabia das aulas dela. Dos seus colegas de república. Não sabia que ela havia adotado dois gatinhos doentes e cuidado deles até ficarem bons, só para deixálos sem lar depois. Não sabia que ela saía à noite em Seattle e tinha amigos por lá, e se apaixonava por caras que a magoavam. Supostamente, eu era a melhor amiga dela, e não sabia nada disso, porque ela não me contou. Ela não me contou que achava a vida um sofrimento insuportável. Eu não fazia a menor ideia.


Deixo escapar uma espécie de risada, e sei que, se não tomar cuidado, o que pode vir em seguida é algo que não quero ouvir, que ninguém quer ouvir.



– Como você pode não saber uma coisa dessas sobre a sua melhor amiga? Mesmo que ela não lhe conte, como você pode não saber? Como pode acreditar que alguém é a pessoa mais bonita, incrível e simplesmente a criatura mais mágica que já conheceu, quando, no fim das contas, ela estava sofrendo tanto que precisou beber um veneno que rouba o oxigênio das células até o coração não ter outra escolha senão parar de bater? Então, por favor, não me perguntem sobre Any. Porque eu não sei merda nenhuma sobre ela.



Alguém arqueja de espanto. Eu olho para a plateia, para todos eles, salpicados de sol. O dia está lindo, cheio da promessa da primavera: céu limpo, nuvens fofas, cheiro adocicado das primeiras flores trazido pela brisa. É injusto que haja dias como este. Que a primavera precise chegar. Parte de mim acha que o inverno deveria continuar este ano.



Vejo que algumas pessoas estão chorando. Eu as fiz chorar. Me tornei um veneno. Se me beber, você morre.


– Sinto muito – digo antes de sair correndo.



Deixo para trás o gramado, saindo do parque e indo em direção à avenida principal. Preciso partir. Ir embora de Tacoma. Sair do mundo de Any.



Ouço passos atrás de mim. Deve ser Maite ou Chris Locão, mas não tenho nada para dizer a eles, então continuo correndo, mas quem quer que seja é mais rápido que eu.



Sinto a mão de alguém no ombro. Viro para trás. Desta vez, os olhos dele têm a cor do céu depois do pôr do sol, quase violeta. Nunca tinha visto os olhos de alguém mudarem de cor, como se estivessem em sintonia com o estado da alma. Se é que ele tem alma.



Olhamos um para o outro por alguns instantes, recuperando o fôlego.



– Posso lhe contar coisas. Se você quiser. – A voz dele tem aquele grunhido de antes, mas também demonstra hesitação.



– Não quero saber dessas coisas.


Ele balança a cabeça.



– Não, não isso. Mas posso lhe contar algumas coisas. Se você quiser. Sobre a vida dela aqui.



– Como você saberia? Se ela foi só uma trepada?



Ele faz um gesto com a cabeça, como se quisesse dizer que este não é o lugar.



– Vamos sair daqui e conversar.



– Por que você está aqui, afinal?



– A colega de república dela me deu o panfleto – diz ele, respondendo como ficou sabendo da cerimônia, mas não por que veio.



Ficamos parados.



– Venha. Vamos só conversar – insiste ele.



– Por quê? Você sabe por que ela se matou?



Ele se retrai. Como se sofresse o coice de uma arma. De novo. Como se tivesse sido puxado para trás. Só que, desta vez, a expressão no seu rosto não é de raiva.



– Não.


 Andamos um bom pedaço até um McDonald’s. De repente, estou faminta, com fome de algo que não seja vegetariano, orgânico ou saudável, mas feito em meio à tristeza cotidiana.



Pedimos um trio de Quarteirão e levamos a comida até uma mesa sossegada ao lado do playground vazio.



Comemos em silêncio por algum tempo. Então Ucker começa a falar. Ele me conta de quando Any apareceu na cena das bandas indie, logo fazendo amizade com um monte de músicos da região, o que me soa bastante plausível. Conta como foi fácil para ela, uma universitária de 18 anos que veio do cu do mundo no leste de Washington, chegar e fazer todo mundo comer na sua mão, o que também é bastante plausível. A princípio, Ucker sentiu inveja dela, porque, ao chegar ali dois anos atrás, de Bend, Oregon, foi bastante esnobado pela comunidade musical antes de ser aceito.


Ele conta das falsas brigas que os dois costumavam ter sobre quem era o melhor baterista: Keith Moon ou John Bonham. Quem era o melhor guitarrista: Jimi Hendrix ou Ry Cooder. Quem compôs as canções mais grudentas de todos os tempos: Nirvana ou Rolling Stones. Ele conta de quando Any adotou os gatinhos, depois de ouvi-los chorando numa caixa em uma caçamba de lixo perto do abrigo para moradores de rua
no centro de Tacoma onde ela trabalhava algumas horas por semana.


Any levou-os ao veterinário e gastou centenas de dólares para eles recuperarem a saúde. Conta como ela pediu doações a alguns dos músicos mais bem-sucedidos da cidade para os tratamentos – mais uma vez, a cara de Any – e como deu a eles fórmula para bebês com um conta-gotas, pois eram pequenos demais para comer comida de gato. De tudo o que ele me conta, é a imagem de Any dando comida a dois gatinhos órfãos que me dá vontade de chorar.



Mas não choro.


– Por que você está me contando tudo isso? – Agora é minha voz que parece um grunhido.



O maço de cigarros de Ucker está em cima da mesa, mas, em vez de fumar, ele fica acendendo e apagando o isqueiro, a chama sussurrante aparecendo e desaparecendo.



– Parecia que você precisava saber. – A maneira como ele diz isso soa como uma acusação.



– Por que você está me contando isso? – repito.



A chama ilumina os olhos de Ucker por um instante. E consigo ver outra vez os vários tons de culpa ali. A culpa de Ucker, como a minha, é tingida de uma fúria vermelha incandescente, mais quente do que o fogo com que ele está brincando.



– Ela me contou sobre você, sabia? – diz ele.



– Ah, é? Ela não me contou sobre você.



Isso é mentira, claro, mas não vou lhe dar a satisfação de saber que ela inclusive lhe dera um apelido. Até porque, no fim das contas, não era ele o amargurado.



– Ela me contou que, numa das casas em que você fazia faxina, um cara tentou apertar a sua bunda e você deu uma chave de braço tão forte que ele pediu arrego e ainda aumentou o valor da sua hora.


É, isso aconteceu comigo com o Sr. Purdue. Um aumento de 10 dólares por semana. Esse é o preço de uma apalpada indesejada na minha bunda.



– Ela chamava você de Buffy.



Mais do que a história com o Sr. Purdue, é isso que me faz ter certeza de que Any contou para ele sobre mim. Buffy era como ela me chamava quando achava que eu tinha sido especialmente fodona, como Buffy Summers, a Caça-Vampiros. Any dizia que era Willow, a parceira com poderes mágicos, mas estava enganada: ela era Buffy e Willow, força e magia, tudo em um pacote só. Eu apenas pegava carona no brilho dela.



Não parece justo que ele saiba essas coisas sobre mim; é como se tivesse visto fotos constrangedoras de quando eu era bebê. Como se houvesse tido acesso a detalhes aos quais não tem direito.



– Ela lhe contou bastante coisa para uma garota que você comeu uma vez e descartou.



Ucker parece magoado. Excelente ator, esse Christopher Uckermann.



– Nós éramos amigos.



– Não acho que amigos seja a palavra certa.


– Não – insiste ele. – Antes de tudo ir pro cacete, nós éramos amigos.



Os e-mails. As provocações inofensivas. A conversa sobre bandas de rock. A mudança repentina.



– Então o que aconteceu? – pergunto, embora já saiba.



Mesmo assim, fico chocada quando o ouço dizer da maneira como ele diz:
– Nós trepamos.



– Vocês dormiram juntos – corrijo. Porque pelo menos isso eu sei. Sei que Any, depois do que aconteceu naquela outra vez, não teria transado com ninguém a não ser que gostasse da pessoa. – Any não treparia com alguém.



– Bem, eu trepei com ela. E, quando você trepa com uma amiga, estraga tudo. – Ele acende o isqueiro e deixa a chama se apagar de novo. – Eu sabia que isso iria acontecer, mas fiz assim mesmo.


Agora que ele está sendo honesto, é ao mesmo tempo repulsivo e magnético, como um acidente de trânsito horrível que você não consegue deixar de esticar o pescoço para ver, mesmo sabendo que vai lhe dar pesadelos depois.



– Por que você fez isso se sabia que iria estragar tudo?



Ele suspira e balança a cabeça.



– Sabe como é, quando você está no clima, e tudo está acontecendo, e você não pensa no dia de amanhã.



Ucker me encara, mas a questão é que eu não sei. Pode parecer chocante, mas a verdade é que ainda sou virgem. Quando você é criada para ser “lixo branco”, faz tudo o que pode para não cair na armadilha de engravidar. A maioria das vezes, parece inevitável de qualquer maneira. Mesmo assim, eu não precisava colocar mais um prego no meu caixão dando para algum mané da minha cidade.



Fico calada, olhando para o playground vazio.



– Só transamos uma vez, mas foi o suficiente. Depois disso, foi tudo por água abaixo.



– Quando?


– Não sei. Por volta do feriado de Ação de Graças. Por quê?



Faz sentido. O e-mail dela sobre “dar para o barman” foi logo antes do feriado. Mas e os gatinhos? Ela os encontrou após o recesso de inverno. E a história do Sr. Purdue apertando minha bunda aconteceu em fevereiro, algumas semanas antes de ela morrer.



– Mas, se vocês se desentenderam há tanto tempo, como sabe todas essas coisas recentes? Sobre os gatos? Sobre mim?



– Achei que você tivesse lido os e-mails.



– Só alguns.



Ele faz uma careta.



– Então você não leu todas as coisas que ela escreveu para mim?



– Não. E um monte de e-mails dela sumiu, tipo, entre janeiro e a semana antes de ela morrer.



Ucker parece confuso.



– Você tem algum computador aqui?



– Podemos usar o de Any. No quarto dela.



Ele fica calado, como se estivesse pensando no assunto. Então, amassa as embalagens vazias do nosso lanche.



– Vamos lá.


 


 


 



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Autor(a): Joy

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13 De volta ao quarto de Any, Ucker abre seu e-mail, faz uma busca pelo nome dela e uma tela inteira de mensagens aparece. Ele sai da cadeira e eu me sento em seu lugar. Repete vem saltitando pela porta aberta para arranhar as caixas de papelão. Começo pelo início, pelos e-mails em que eles ainda estão flertando, todas aquelas mensagens sobre Ke ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 24



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  • capitania_12 Postado em 10/07/2019 - 12:39:28

    Aaaaah. Terminou. . amei,essa fanfic abordou um tema bastante importante. . Obrigadaa

  • capitania_12 Postado em 07/07/2019 - 18:12:50

    Ihu, continua

  • capitania_12 Postado em 05/07/2019 - 20:14:25

    Continua

  • capitania_12 Postado em 02/07/2019 - 19:48:48

    Continua aaaaaaaa

  • Manuzinhaa Postado em 01/07/2019 - 20:11:24

    Meu deus do céu, preciso q tu continueeee

  • capitania_12 Postado em 27/06/2019 - 20:23:46

    Continua

  • capitania_12 Postado em 26/06/2019 - 22:48:19

    Porraaaaaaa. Tá muito FODA, continua

  • Gabiih Postado em 24/06/2019 - 16:32:01

    Leitora nova continua

  • capitania_12 Postado em 24/06/2019 - 15:38:46

    Continua

  • manuzinhacandy Postado em 24/06/2019 - 00:41:29

    Continuaa...


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