Fanfics Brasil - Me dê um motivo Eu Estive Aqui - Adaptada - Portiñón/Vondy

Fanfic: Eu Estive Aqui - Adaptada - Portiñón/Vondy | Tema: Rebelde


Capítulo: Me dê um motivo

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Quanto volto à biblioteca, a porta de entrada está trancada. O que é estranho. Sei os horários de funcionamento de cor. Fechada aos domingos e segundas. Aberta às terças das 13h às 18h.



Confiro o celular. Terça, 15h30. Sacudo a porta e então, frustrada, dou um chute nela. Volto no dia seguinte, em que a biblioteca deveria estar aberta o dia todo, mas deparo com a mesma situação. Desta vez, a Sra. Banks está lá dentro. Bato à porta.



– O que está havendo? – pergunto, quando ela a destranca.



– Houve um pequeno incêndio por causa de uma pane elétrica no fim de semana.



Ficaremos sem energia no prédio até refazer a fiação. Há anos alertamos sobre o estado das instalações elétricas. – Ela balança a cabeça e dá um suspiro. – Mas, com os cortes no orçamento…



– O que eu vou fazer? – questiono, desesperada.



A biblioteca tem sido minha tábua de salvação, minha única forma de contato com All_BS. Já faz quatro dias que não nos comunicamos e estou na fissura.



A Sra. Banks sorri.



– Não se preocupe. Já pensei nisso. – Ela volta a entrar e retorna com uma sacola de compras cheia de livros. – Pode ficar com eles até reabrirmos. Não deve demorar mais do que uma ou duas semanas. Estou emprestando esses para você por fora, por assim dizer – diz a Sra. Banks com uma piscadela. – No esquema da palavra de honra. Mas confio em você.


***


Volto a ter acesso à internet apenas na sexta, na casa da Sra. Chandler. Mas ela está lá, então não posso roubar o sinal às escondidas. Estou desesperada por notícias de All_BS, o suficiente para explicar à Sra. Chandler sobre o incêndio na biblioteca e perguntar se posso ficar depois do trabalho para usar a conexão. Ela me olha fixamente por um bom tempo.



– Você não tem internet em casa? – pergunta por fim.



Eu balanço a cabeça, constrangida.



– Claro. Use quando quiser.



Quando faço o login, estou tensa e ansiosa. E se All_BS tiver perdido o interesse? Mas então vejo a quantidade de mensagens não lidas que tenho dele. O silêncio conspirou a meu favor. Acostumado a ter notícias minhas quase todos os dias, exceto aos domingos e às segundas, All_BS está claramente preocupado por eu ter passado quase uma semana sem responder a nenhuma de suas mensagens. O tom das mensagens é de aflição crescente. Não consigo dizer se o problema seria eu ter me matado sem lhe dizer – ou eu ter mudado de ideia.



Blanca sempre diz que os homens desejam mais uma garota quando acham que não vão conquistá-la.


Garanto a ele que foi só um problema de acesso à internet. Mas então penso no rosto preocupado da Sra. Chandler e tenho uma ideia.



Acho que vou ficar um bom tempo sem acesso regular à internet, digito, exagerando os problemas elétricos da biblioteca. E não sei como vou fazer isso sem a sua ajuda. Já escolhi meu trajeto, mas, se não pegar o ônibus logo, corro o risco de perdê-lo. Não há nenhuma outra maneira de nos comunicarmos? Como por telefone?



A resposta dele parece levar uma hora para chegar, mas a espera é de apenas cinco minutos.



Não acho que seja uma boa ideia, escreve ele.



Eu me obrigo a esperar dez minutos para responder. Não vejo outra saída, respondo. E então digito meu número de celular. Ligue para mim se puder.


***


O telefone não toca. E, sem internet, também não podemos trocar e-mails. Por mais que me custe admitir, sinto falta das nossas conversas. E isso significa que sinto falta dele.



O trabalho me entedia. Não importa quanto eu esfregue e limpe, as casas continuam parecendo sujas para mim. Certa manhã, chego à casa dos Purdues e vejo o carro do Sr. Purdue na entrada. Minha vontade é sair correndo dali, mas para onde posso fugir? Crio coragem e abro a porta com a chave que a Sra. Purdue esconde para mim debaixo da pedra falsa.



Estou na cozinha, pegando os materiais de limpeza de debaixo da pia, quando o Sr. Purdue aparece.



– Avisei no trabalho que estou doente – ele me informa, respondendo a uma pergunta que não fiz.



– Espero que melhore logo.



– Ah, eu estou bem. Tirei o dia mais para cuidar da saúde mental.



Vou andando para o banheiro sem responder. Fecho a porta, por mais que isso vá intensificar o cheiro dos produtos químicos. Estou agachada sobre a banheira com um frasco de desinfetante quando ouço a porta se abrir atrás de mim. Os Purdues têm dois banheiros; não há necessidade de ele usar este. Espero o Sr. Purdue dar meia-volta e ir embora, mas não é o que acontece. Ele se aproxima. Está descalço e consigo ouvir o som dos dedos dos pés contra o piso de azulejos.



Levanto e me viro, o frasco ainda na mão, o dedo ainda no gatilho do borrifador. Ele dá mais um passo na minha direção. A distância entre nós já é desnecessariamente pequena, e então ele dá outro passo.


Seguro o frasco na altura do rosto dele e aperto o gatilho sem força, soltando um pequeno borrifo de alerta.



– Me dê um motivo – ameaço. – Só um.



Tento soar durona, mas, aos meus ouvidos, pareço estar quase implorando.



Ele sai andando de costas do banheiro, os braços levantados, rendendo-se. Quando ouço o cantar dos pneus do carro dele, minha raiva já passou. Mas, ao contrário da última vez que ele se meteu comigo, não me sinto triunfante, como se fosse Buffy, a Caça-Vampiros. Já o alertei antes, mas ele simplesmente me pagou 10 pratas a mais e voltou para tirar mais uma casquinha.


***


A noite é deprimente. Blanca saiu com Raymond e os nossos vizinhos estão dando uma festa.



Ainda sinto o cheiro de água sanitária, mesmo depois de tomar banho, mas é como se fosse a depravação do Sr. Purdue que eu não consigo lavar.



Não aguento mais olhar para as mensagens do Solução Final, então tento me obrigar a fazer algo diferente. Folheio alguns dos livros da biblioteca, mas as palavras se misturam nas páginas. Ligo o computador de Any para jogar paciência, mas acabo abrindo a caixa de entrada dela outra vez. Fico olhando pela centésima vez para a lacuna de e-mails, como se as mensagens apagadas pudessem se materializar num passe de mágica e responder a todas as minhas perguntas. Volto a ler os e-mails que ela escreveu para Ucker. Leio também as respostas dele.



Você precisa me deixar em paz. Como isso havia me deixado furiosa... Mas é difícil sentir raiva agora. Pois eu não tinha dito a ela a mesma coisa, só que sem palavras?



Ela estava irritada comigo? Por eu estar perto demais? Por ter me afastado? Por não ter passado o Natal no Oregon? Abro o e-mail que ela escreveu para mim depois de eu ter quebrado semanas de silêncio para lhe contar que o Sr. Purdue havia apertado minha bunda.



Rá! Aquele velho tarado. Como eu queria ter visto isso! Sei que você sempre será forte; você sempre será minha Buf y, escreveu ela.


Pego o telefone. As mensagens de texto de Ucker continuam na memória, terminando bruscamente depois que eu lhe disse para não falar mais comigo. Meu dedo paira sobre o botão de chamada. Me imagino conversando com ele, contando-lhe sobre o que o Sr. Purdue fez hoje, contando-lhe tudo o que aconteceu durante as últimas semanas.



Só quando ouço o primeiro toque é que me dou conta de que apertei o botão. Ao escutar o segundo, lembro-me de quantas vezes o telefone dele tocou quando estávamos sentados vendo TV juntos. Imagino que meu telefonema interrompa o momento que ele está passando com alguma garota agora. Com uma sensação repentina e brusca de repulsa, percebo que me permiti virar esse tipo de garota. Desligo antes do terceiro toque.



Há também uma mensagem de Maite com o número de Angelique na memória do meu celular.



Ligue para ela, insistiu Alice. Não fiz isso, pois o único motivo de encontrar o amigo misterioso era encontrar All_BS. Mas agora a amargura sarcástica de Angelique parece combinar com meu estado de espírito.


A hippie “paz e amor” mais rabugenta do mundo atende:



– Que foi?



– É Angelique quem está falando? – pergunto, embora a tenha reconhecido.



– Quem quer saber?



– É Dulce. – Faço uma pausa. – Amiga da Any.



O silêncio que paira do outro lado da linha não é amigável. Não parece que ela vá falar.



Então, continuo.



– Eu, ahn, estive com Maite algumas semanas atrás.



– Parabéns.



A boa e velha Angelique. Pelo menos ela não é volúvel.



– Ela mencionou que Any talvez tenha se aberto com você e dito que estava tomando antidepressivos ou coisa parecida.



– Se aberto comigo? – Isso é dito com algo entre uma risada e um latido.


– Por que ela faria isso? Não exatamente fazíamos as unhas juntas.



A imagem é tão bizarra que quase me faz sorrir.



– É, não me parecia provável, mas Maite comentou que você disse algo a respeito. Mas não conseguia se lembrar o quê.



– Ela nunca se abriu comigo. Mas alguém deveria ter enfiado um frasco inteiro de antidepressivos pela sua goela abaixo. Ela obviamente estava precisando.


Meu quase sorriso desaparece.



– Do que você está falando?



– Nunca conheci ninguém que passasse tanto tempo na cama. Exceto minha mãe durante as crises depressivas.



– Sua mãe?



– Ela é bipolar. Não sei se Any era. Nunca a vi no estágio da mania, mas a vi deprimida.



E, acredite, eu sei como é.



Estou prestes a contar a Angelique sobre a mononucleose, sobre quanto Any ficava cansada às vezes desde então, sobre como ela só dormia o suficiente para cinco pessoas porque gastava sozinha a energia de dez. Ela precisa de um tempo para se recuperar, dizia às vezes Marichelo, fechando a porta do quarto de Any e me mandando embora.



Então Angelique diz:



– Além do mais, pessoas saudáveis não falam daquele jeito sobre suicídio.



Sinto os pelos da nuca se arrepiarem.



– O quê?


– Fizemos uma aula de literatura feminista juntas, e uma noite eu, ela e algumas outras garotas estávamos em um café, estudando em uma mesa, e Any começou a perguntar para cada uma de nós como escolheríamos nos matar. Estávamos lendo Virginia Woolf, então a princípio achei que fosse por isso. Todas demos respostas não muito convictas: um tiro, comprimidos, pular de uma ponte... Mas não Any. Ela foi muito específica: “Eu tomaria veneno; faria isso em um quarto de motel e deixaria uma boa gorjeta para a arrumadeira.”



Ficamos caladas. Pois, é claro, foi exatamente isso que Any fez.



– Quando ela disse isso, falei que ela devia parar de resmungar e ir ao centro de saúde do campus e pedir um pouco de Prozac.



Uma amiga me disse para ir ao centro de saúde do campus, pois eles podiam me arranjar alguns medicamentos.



– Então foi você – sussurro.



Consigo ouvir a surpresa dela do outro lado da linha.



– Eu?



– Ela falou que uma amiga lhe disse para ir ao centro de saúde do campus, e eu falei com dezenas de pessoas e ninguém sequer tocara no assunto, ninguém havia pensado em sugerir isso. Exceto você.


– Nós não éramos amigas.



– Bem, nós éramos. Éramos melhores amigas e eu não só não sugeri isso, como nem me passou pela cabeça.



– Então nós duas a deixamos na mão – diz Angelique.



Há muita raiva em sua voz. E é só então que entendo. A animosidade. É Any. São os tentáculos do suicídio dela se espalhando, afetando pessoas que mal a conheceram.



– Desculpe – fala Angelique baixinho.



– Ela deu ouvidos a você. Foi ao centro de saúde do campus e pediu medicamentos.



– Então o que aconteceu? Eles não fizeram efeito?



– Até onde sei, você precisa tomá-los para fazerem efeito.



– Então ela não os tomou?



– Alguém a convenceu do contrário.



– Por que alguém faria uma coisa dessas? Foram os medicamentos que salvaram a vida da minha mãe.



Penso em todas as coisas que li no fórum, sobre os medicamentos entorpecerem a alma.



Mas não foi por isso. Foi porque alguém convenceu Any de que não valia a pena salvar a própria vida. De que a morte era uma opção melhor. Foi porque, no fim das contas, quando deveria ter sido eu sussurrando em seu ouvido, dizendo-lhe quanto ela era incrível, como sua vida era e podia voltar a ser maravilhosa, quem estava sussurrando era All_BS.


Angelique tinha razão ao dizer que Any foi deixada na mão. Mas não foi ela quem fez isso. Fui eu. Eu deixei Any na mão em vida. Mas não a deixarei na mão na morte.


 



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Autor(a): Joy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 24



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  • capitania_12 Postado em 10/07/2019 - 12:39:28

    Aaaaah. Terminou. . amei,essa fanfic abordou um tema bastante importante. . Obrigadaa

  • capitania_12 Postado em 07/07/2019 - 18:12:50

    Ihu, continua

  • capitania_12 Postado em 05/07/2019 - 20:14:25

    Continua

  • capitania_12 Postado em 02/07/2019 - 19:48:48

    Continua aaaaaaaa

  • Manuzinhaa Postado em 01/07/2019 - 20:11:24

    Meu deus do céu, preciso q tu continueeee

  • capitania_12 Postado em 27/06/2019 - 20:23:46

    Continua

  • capitania_12 Postado em 26/06/2019 - 22:48:19

    Porraaaaaaa. Tá muito FODA, continua

  • Gabiih Postado em 24/06/2019 - 16:32:01

    Leitora nova continua

  • capitania_12 Postado em 24/06/2019 - 15:38:46

    Continua

  • manuzinhacandy Postado em 24/06/2019 - 00:41:29

    Continuaa...


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