Fanfic: Apaixonado pela minha irmã | Tema: Incesto, Rio De Janeiro, Romance, Romance Adolescente, Vida De Garoto
Obra COMPLETAMENTE ficcional, qualquer semelhança com a realidade é mera COINCIDÊNCIA
-Eu preciso confessar uma coisa: eu acho a mãe do Matheus uma puta de uma gostosa! – Igor disse como quem não queria nada para seus amigos.
Aquela estava sendo mais uma tarde comum para o grupo de adolescentes moradores do Rio de Janeiro. Era uma terça-feira, haviam sido liberados mais cedo das aulas por conta da semana de provas e decidiram gastar seu tempo na praia de Botafogo – que era o mesmo que atravessar a rua do colégio Ph. Ah, porque sim, todos ali tinham uma condição financeira bem mais elevada que o padrão, permitindo a moradia e estudo privilegiado deles: Flamengo, Botafogo e Urca. Quer dizer, elevada para o nível Ph, mas não ao ponto da Escola Britânica. Lá, não. Tudo ia tranquilamente bem até Igor soltar aquela frase, o que gerou automaticamente comentários no grupo de cinco garotos – a maioria concordando, para o horror de Rafael.
-Como é que é? – Rafael tentou se fazer de desentendido, dando uma chance para ele dizer que era apenas um mal-entendido.
-Você não acha, Rafa? – Leonardo perguntou.
-Leo, é a mãe do Matheus...
-E daí?
-E daí que ela é bem mais velha e .... Mãe do nosso colega de classe!
-Qual é, Rafa? Vai dizer que você nunca sentiu atração por alguém mais velho?
-Não... – Rafael olhava para os amigos com indignação no olhar.
-Uma tia? Prima? Sua mãe? – Rodrigo insistia.
-Escutem só o que vocês acabaram de falar! Isso é nojento!
-Pensei que você não fosse estranhar tanto. – Aquela voz com sotaque enfim se fez presente, despertando a atenção de todo o grupo.
-Porquê que diz isso, Alek?
Aleksandar Asen Krum não era brasileiro. Ele tinha vindo com a família da Bulgária dez anos antes, com apenas sete anos. Desde o primeiro momento em que pediu um lápis emprestado a Rafael, haviam virado melhores amigos, inseparáveis. Acrescentava pontos o fato deles morarem apenas quatro casas de distância um do outro. Aleksandar atraía bastante atenção das garotas da escola, justamente por seu sotaque arrastado e pela sua beleza exótica: era alto, moreno, com um cabelo incrivelmente sedoso para um garoto – não muito longo, mas o suficiente para fazer as garotas suspirarem. De olhos castanhos e boca carnuda, tinha alguns furos nas orelhas, assim como a mania de soltar palavras em búlgaro quando não queria ser compreendido. Ele definitivamente era o oposto de Rafael e seus amigos, o que podemos classificar como: o garoto padrãozinho de Zona Sul. Olhos claros, loiros e morenos, com aquele mesmo corte de cabelo e jeito de vestir. Não era à toa que Alek fizesse mais sucesso do que os amigos. Por terem crescido juntos, Alek sabia bastante sobre Rafael, tendo total segurança ao proferir aquela frase.
-O jeito que você fica com a Luara.
-ELA É MINHA IRMÃ! – Completamente transtornado, Rafael ameaça a jogar um pouco de areia no amigo, prendendo todo o interesse dos outros três rapazes nele.
-Mas não parece, sabe? Vocês são tão... Unidos que as vezes chega a passar a impressão errada. – Alek dá de ombros, como se não fosse nada demais.
E aquilo de fato era verdade. Rafael e Luara tinham apenas um ano e meio de diferença, sem qualquer tipo de rixa entre irmãos: desde pequenos eles eram mais grudados do que unha e carne, o que nunca havia de fato preocupado ninguém, muito menos despertado comentários desse tipo. Ele estava lá quando o primeiro cara partiu o coração da sua irmãzinha, assim como deu o fora em Jasmine – sua ex-namorada, por a mesma insistir em falar mal de sua irmã. Em noites chuvosas, Luara costumava dormir com ele, com medo dos raios e trovões, assim como sempre que podia ele a abraçava em qualquer lugar que estivesse, o que acabava por arrancar sorrisinhos de ambas as partes.
-Você não pode negar nada disso, Rafa. Sabe que eu não estou mentindo. – Aleksandar insistiu, com uma risada debochada no rosto. – Tem certeza que nunca sentiu atração por ninguém tão.... Proibido assim?
-Absoluta certeza.
Os outros três garotos apenas se entreolharam, completamente abismados com toda a situação.
-E a gente pensando que você era o mais santinho do grupo, Rafa. – Rodrigo implicou, numa falha tentativa de fazer piada.
-Você não pode falar mais nada sobre minha opinião. - Igor deixou claro.
-Vocês querem fazer o favor de calar a boca? – Rafael exigiu irritado por estarem desconfiando de seu tratamento fraternal com Luara.
-Só quando você admitir que a mãe do Matheus é gostosa! – Igor o cutucou com seu ombro enquanto se levantavam para ir embora.
-Ou quando concordar que a Luara...
-Eu não acho uma coisa, nem outra. A Luara é só minha irmã e ponto final, Aleksandar! – Rafael desconversou, sequer se despedindo dos rapazes antes de ir para o ponto de ônibus.
Mas Rafael mentiu. Durante seu caminho para casa, em meio aos solavancos da linha 107, uma coisa não saía de sua cabeça: o porquê te ter pensado em Luara quando seus amigos perguntaram se já tinha sentido atração por uma tia ou prima, ou porquê ter ficado tão na defensiva com as provocações de Aleksandar, esse mesmo que estava ao seu lado completamente absorto da realidade, perdido em seus próprios pensamentos.
-Não fica putinho com o que eu falei não, cara. Só disse a verdade. – Aleksandar se desculpava ao saírem do ônibus, atravessando a rua para irem para casa.
-Precisava ser na frente deles? – Rafael ignorou a parte sobre ser verdade, se concentrando em ser o novo motivo de chacota para os amigos de lá por diante.
-Onde mais eu teria abertura para falar? Era o momento perfeito!
-Você é o meu melhor amigo, Alek! Abertura é o que não falta!
-Então você com certeza não vai se importar se eu te disser que a sua irmã está de papinho com aquele idiota da Escola Britânica, né? – Aleksandar falou com um sorrisinho no rosto, vendo a expressão do amigo mudar completamente.
-Como é? – Rafael se virou tão rápido que quase perdeu o equilíbrio, vendo sua irmã conversar com um garoto ruivo, um pouco mais alto que ele.
-Parece que ele está pedindo o telefone dela. – Aleksandar ressaltou.
-E eu com isso? Ela é só a minha irmã. – Rafael tinha o tom sério.
-Então porque você está com ciúmes?
-Eu não estou. – Revirando os olhos, Rafael sequer se despediu do amigo antes de bater o portão na sua cara, mostrando que estava com raiva.
A casa da família Bitencourt tinha um estilo suíço, verde, de dois andares. Seu muro era baixo – o que era considerado seguro para o bairro mais seguro da cidade, já que estava cercado pela Marinha e Exército. Ninguém se atreveria a tentar alguma coisa por lá. Não havia motivos para o muro não ser baixo, tirar atenção da casa.
Aleksandar acenou a cabeça, rindo da desgraça do amigo. Se aquilo não era estar afim de alguém, ele não sabia mais o que era. Por incrível que pareça, Alek não condenava o amigo. Ele acreditava que o amor poderia estar onde menos se esperava, e se nesse caso estava bem ao quarto ao lado, eles não tinham culpa. Ser esse romântico incorrigível fazia sua fama aumentar entre as garotas, mas não entre a que ele queria. Quem era ele para falar de Rafael quando ele mesmo estava caidinho pela prima?
-Oi, Luara. – Alek cumprimentou-a quando passou por eles.
-Oi, Asen. Meu irmão já chegou? – Ela parecia querer fugir daquela situação.
-Já sim. Mas se eu fosse você, ficaria longe. No humor que ele está, não duvido nada ser grosso até com você.
-Valeu por avisar. – Ela se virou para o ruivo. – Se não se importa, eu preciso ir falar com meu irmão.
-Mas ele não acabou de dizer para você não chegar perto?
-Eu vou arriscar.
Com um aceno rápido, a loira correu até o portão de casa, imitando o irmão ao batê-lo com força. Aleksandar riu ao ver o garoto dar um suspiro, indo em direção a sua casa.
Luara era bastante parecida com Rafael, tanto nos aspectos físicos como em seus gostos. Ela tinha cerca de 1,67 de altura, era loira, com seus cabelos chegando até o meio de suas costas. Seu corpo não era muito desenvolvido – o que podemos traduzir como: não, ela não parecia uma supermodelo de Copacabana, mas também não lembrava uma criança. Já Rafael era bem mais alto, 1,85 de altura, também loiro, mas com seu cabelo rente a cabeça. Ele não gostava dos cortes da moda, preferindo se manter no tradicional cabelo curto. Ele fazia parte do time de futebol da escola até o ano anterior, quando teve de parar para se dedicar ao vestibular. Sendo assim, Rafael de fato tinha um corpo que fazia as garotas de sua sala babarem por ele – não como os caras de academia, algo totalmente natural. Os dois irmãos tinham olhos claros, lábios carnudos uma conexão quase que a de gêmeos – mesmo Rafael tendo 17 anos e Luara, 16. Ela era apenas um ano e meio mais nova do que ele, estando no segundo ano do ensino médio e ele, no terceiro.
Rafael soltou um resmungo ao ouvir alguém batendo na porta de seu quarto, deixando claro que sua presença não era bem-vinda, quando Luara entrou sem cerimônias.
-Privacidade mandou lembranças, sabia? – Ele já estava sem camisa devido ao alto índice de calor do Rio naquele dia.
-Que pena, não é mesmo? – Luara rebateu na mesma moeda.
-Eu podia estar nu, Luara! – Rafael jogou uma almofada em direção a irmã, vendo ela desviar completamente do assunto – e da almofada.
-Porque tá todo irritadinho desse jeito? – Ela sequer havia feito alguma menção sobre ser um pesadelo ver ele sem roupas. Tinha ignorado por completo.
-Não tô não.
-Tá sim. Desembucha logo, Rafael! Não tenho o dia todo!
-Ah, claro! Esqueci que seu novo passatempo é conversar com aquele idiota!
-Do que você tá falando, Rafa? Espera, você viu aquilo mais cedo?
-O que você acha, Luara?
-Eu não acredito que você tá com ciúmes dele!
-Não é ciúme, é uma questão de princípios! Não sei se você se lembra, mas o Ângelo ainda estuda lá. E se for só uma brincadeira contigo?
Ângelo havia sido o primeiro namorado de Luara. Eles haviam ficado juntos por cerca de quatro meses no ano anterior, até Aleksandar descobrir – por meio de uma garota com quem estava ficando na época, que também era da turma de Ângelo, que tudo não passava de uma aposta entre os garotos. O intuito de verdade eles nunca descobriram, mas aquilo devastou por completo a garota, despertando a fúria em Rafael.
-Foi justamente por isso que passei o número do Asen para ele, não o meu. – Luara deu uma piscadinha antes de sair do quarto do irmão, rindo.
Rafael estava sem acreditar que aquele simples ato havia feito abrir um sorriso bobo, além de um leve pulsar nas suas calças. Antes mesmo que pudesse pensar a respeito, ouviu seu celular apitar, com uma mensagem indignada de Alek no visor.
Aleksandar: porque raios tem uma mensagem de um cara no meu telefone me chamando de gatinha e me chamando para sair sexta a tarde?!
Rafael: pergunta para Luara.
Aleksandar: sempre pensei que sua irmã gostasse de mim, cara.
Rafael: não vou te defender dessa vez pq você sabe que fez merda
Aleksandar: não sabia que dizer a verdade era sinônimo de merda agora.
Rafael: escroto
Aleksandar: tem as anotações de química? Pode tirar foto?
Rafael: só vou fazer isso pq assim me livro mais fácil de você
Aleksandar: como se o fim do ano fosse me fazer parar de ser seu vizinho e melhor amigo, né?
***
O restante da semana havia se passado de forma arrastada para Rafael. Seguia-se uma mesma rotina: de manhã, provas na escola. Ele era liberado mais cedo, geralmente esperando Alek sair para irem juntos para casa, vez ou outra ignorando uma garota que vinha em sua direção chama-lo para algum evento no final de semana. Esse era algo que seus amigos o invejam: por ele ser o mais tímido do grupo, as garotas conseguiam chegar com mais facilidade, sem o medo de serem rejeitadas ou envergonhadas com palavras grosseiras. Este era justamente o motivo de sacanearem tanto quando viam alguma se aproximar dele durante o intervalo: a sensação de saber que ela seria rejeitada. Não era de seu feitio sair para festas, e bem, eram raras as garotas que chamavam sua atenção. Rafael não era que nem seus amigos, que gostavam de enumerar as garotas com quem ficava. Ele podia não ser mineiro mas comia quieto.
Comer apenas no sentido de completar o ditado, já que apenas tinha partido para os finalmente uma única vez em seus 17 anos de idade – completamente o contrário de Aleksandar, que apesar de búlgaro, mais parecia outro mineiro nesse sentido. Assim, após irem embora para casa juntos, Rafael passava o restante da tarde estudando para as provas seguintes, e pela noite, para o vestibular. Havia sido um novo hábito estudar pela noite, por mais que seus pais dissessem que não era preciso, que ele conseguiria sem muito esforço. E o que de fato era verdade, mas ele gostava da sensação de esforço.
Ele havia virado motivo de chacota para os amigos, mandando todos tomarem no cu quando vinham com piadinhas, como:
- Quem me dera ser o Rafa. Ele estrela o próprio pornô.
- A comida mais fácil da vida dele, certeza.
O simples fato de estereotiparem a sua irmã, a comparando com uma garota fácil fazia evaporar qualquer sensatez de sua mente, tendo de ser segurado para não acertar o rosto de seus amigos. Aquilo não podia ser verdade, não mesmo. Luara era só sua irmã, a droga da sua irmã! Não era nada justo tudo aquilo que se passava por sua cabeça cada vez que a via passar pelo corredor de casa, a confusão dolorosa e apressada em seu peito ao esperá-la escovar os dentes para irem justos para a escola, a falta de fôlego ao apenas passar a toalha pela porta quando ela esqueceu. Com certeza era só a sua imaginação fértil facilmente afetada pelas palavras do melhor amigo. É, apenas isso.
Ele tinha conseguido controlar sua cabeça na quinta feira a noite, após muitas respirações e concentração. Tudo estava normal. Ele era só um adolescente solteiro, apenas isso, um adolescente que se preocupava com sua irmã. Amor fraternal o nome, não é? Só isso....
Quer dizer, até a sexta feira chegar e com ela os momentos mais aterrorizantes de toda sua vida. Como de costume, Rafael e Aleksandar haviam saído cedo do colégio, chegando em casa a tempo de almoçar com folga. Sua mãe estava em casa, não trabalhava as quartas e sextas. Seu pai chegaria apenas a noite e Luara, bem, Luara apenas daria as caras lá pelas três da tarde. As segundas, quartas e sextas ela tinha aulas de teatro – o que era essencial para o seu futuro. Enquanto Rafael queria cursar Cinema, Luara queria seguir as Artes Cênicas. Desde pequenos era um sonho conjunto dos irmãos, seguir a carreira artística, um apoiando o outro. Novamente, nunca ninguém tinha notado o clima entre os dois, apenas pensando ser algo normal entre irmãos.
“Essa ligação deve vir de outras vidas, sabe? ” Sua mãe sempre comentava com suas tias, todos achando fofa a relação dos dois.
Eles tinham esse costume, de sempre que estreava um filme no cinema serem os primeiros a assistirem. Adoravam comentar sobre a direção e atuação, chegando até muitas vezes a entrarem em discussões acirradas sobre o tema, parando de se falarem por dias. Eram cerca de 13:30 da tarde quando o primeiro barulho foi ouvido. Era um som seco, curto e grosso que num primeiro momento fez Rafael pensar ser apenas um copo de Guaravita sendo estourado no chão. Ele não deu bola, voltando a se deitar em sua cama e dando continuidade à nova crítica que o Pipocando havia feito. Na terceira vez que escutou o barulho Rafael já pensava ser uma espécie de desafio para o YouTube - mas pensando bem, quem estoura copos de Guaravita como desafio?
Escutou seu telefone tocar e sequer se importou em prestar atenção em quem ligava. Não eram muitas pessoas que tinham o número dele e devido a sua atual reputação da escola, duvidava e muito que fosse alguma garota.
-Isso são tiros? – Aleksandar perguntou do outro lado da linha, sequer dando tempo para que Rafael atendesse de forma direita.
-Que? É óbvio que não, Alek!
-Eu acho que são sim, cara. Minha mãe tá meio desesperada aqui, fechando tudo.
-Com certeza é só mais um desaf....
Um barulho de helicóptero foi ouvido, assim como relinchos de cavalos.
-Isso é a cavalaria? Rafa, desde quando moramos num filme de faroeste?
Rafael correu até a janela do quarto de Luara – era o cômodo mais próximo do seu com vista para a rua, dando de cara com não apenas a cavalaria, mas também viaturas de polícia e bem, disparos.
Sua casa era mais próxima da praia, onde o confronto ocorria, o que o deixava ainda mais de camarote do que Aleksandar.
-Caraaaaalho, Alek. Que porra tá acontecendo aqui?
-Eu não faço a menor ideia, mas com certeza isso vai entrar para a história! Já tô até vendo as tags no Twitter e Facebook: #TiroteioNaUrca, eu fui!
Rafael até começou a rir, mas parou ao se lembrar de um fato importante.
-Se engasgou?
-Alek, a Luara não tá em casa...
-É, eu sei. A aula de teatro, né?
-Alek, ela sempre chega as 15h. Isso não tá com cara de que vai acabar logo.
-Fica calmo, Rafael. A polícia tá na rua, não vai acontecer nada. Isso aqui tá cercado pela força armada, não é nada demais.
Com um pouco de dificuldade Rafael consegui desligar o telefone, indo atrás de sua mãe. Ela estava completamente desacreditada do que estava acontecendo, apenas rezando para que sua filha chegasse em casa em segurança. Mas ao contrário do que Aleksandar disse, o confronto não passou logo. Nas horas seguintes o número de disparos e sirenes piorou, levando a mãe de Rafael e ele próprio a loucura. Já se passavam das 15:30 e nenhum sinal de Luara. Sua mãe tentou, tentou, mas nada. 16:07, já era a décima terceira ligação de Rafael que ela não atendia. Às 17h o garoto já estava decidido a ir para a rua procurar a irmã. Sua mãe não conseguiu impedi-lo, mas ele também não foi muito longe. Apenas teve espaço o suficiente para abrir o portão de casa e dar de cara com a irmã entrando. Ele aproveitou para dar uma boa olhada na rua: completamente deserta. O único movimento que se via era a Universidade sendo evacuada, com os alunos saindo em bando.
-Eu tô tentando passar, sabe?
-Primeiro que você não tá com moral nenhuma aqui, Luara! – Rafael praticamente a empurrava para dentro de casa. – Porque não atendeu a porcaria do telefone?!
-Eu não tenho uma usina elétrica na minha bolsa não, só para o caso de você não saber.
-LUARA! – Sua mãe gritou, indo de encontro a filha,
-Eu tô bem, gente. Não precisa disso tudo!
Rafael ignorou as duas, indo para o seu quarto. Discar o número do melhor amigo foi um movimento automático.
-Ela acabou de chegar.
-Estou surpreso como você não foi atrás dela.
-Eu fui, na verdade. Mas ela estava entrando em casa.
-Eu te disse que ela ia ficar bem, cara.
***
Se o tempo já não estava muito bom durante o dia, ele havia se fechado por completo ao cair da noite. Começou com uma chuva leve, evoluindo até algo próximo a um temporal. Era quase certeza que Rafael não dormiria sozinho esta noite, mas ainda estava irritado com Luara. Eram quase duas da manhã e nada dela aparecer, e o barulho cada vez mais forte do lado de fora. Por mais chateado que estivesse, Rafael tinha o coração mole o suficiente para não deixar sua irmã com medo. Resolvendo ir atrás dela, Rafael se levantou rapidamente, acendo seu abajur apenas para se situar naquele breu, se surpreendendo ao abrir sua porta e dar de cara com a luz da cozinha acesa no primeiro andar, iluminando as escadas.
Descendo de modo silencioso, o garoto piscou fortemente para se acostumar a claridade do ambiente, reparando na Irmã encolhida próxima a pia segurando um copo de água.
-Luara? O que aconteceu?
-Nada....
-Tem certeza? Está chovendo, e você não apareceu....
-Pensei que não quisesse falar comigo.
-E desde quando estar brigado comigo foi motivo para te deixar sozinha durante a chuva?
-Eu.... Não sei. Você estava tão diferente hoje de tarde que eu....
-Me desculpa, tá? Eu só... estava nervoso. Já tinha passado do seu horário de chegar e nada de você aparecer....
-Meu celular descarregou e eu não encontrei meu carregador de manhã, Rafa. Só isso.
-Você diz isso porque não estava aqui na hora que tudo começou! Luara, eu te liguei umas vinte vezes....
-Vinte e Três, para ser mais exata.
-É sério, Luara! Acho que nunca me preocupei tanto na vida, porra.... Eu estava tão desesperado... – Rafael se aproximou da irmã, que colocava o copo usado dentro da pia, dedicando toda sua atenção a ele – Não conseguia ter notícias suas, a confusão só aumentando aqui fora.... Eu fiquei com tanto medo de te perder, Luara....
Luara não teve como não ficar comovida com toda aquela declaração. Aquela preocupação com ela era encantadora de certa forma.
-Rafa.... Fica calmo, tá? Eu tô bem, já cheguei em casa. Não precisa mais ficar alterado desse jeito. – Ela dizia em um tom calmo, acariciando seu braço de forma carinhosa.
Rafael não teve outra vontade a não ser puxar a irmã para um abraço apertado, a envolvendo completamente. Luara não falou absolutamente nada, apenas o abraçava de volta. Sentia que Rafael se acalmava na medida que ele relaxava seu peso sob o dela, mas Luara se sentia egoísta o suficiente para não querer que o abraço acabasse tão cedo. Ele era tão diferente dos outros, todas aquelas sensações, a necessidade um do outro... Era gostoso repousar sua cabeça em seu ombro, além da maneira como seus cheiros se misturavam. O garoto acariciava os cabelos de Luara quando finalmente quebrou aquele silêncio nada constrangedor:
-Nunca mais esquece o carregador em casa, Luara. Por favor.... Eu pensei que fosse morrer de preocupação. – Ele deu um beijo na cabeça da irmã, que apertou seu braço e beijou seu peito, se distanciando aos poucos.
Quer dizer, esse era o caminho natural a ser seguido, mas algo os prendia juntos, não conseguindo desfazer do abraço. O mais distante que conseguiram chegar um do outro fora o suficiente para deixar seus rostos bem próximos, olhos nos olhos. Aquela expressão de “Que merda tá acontecendo? ” Estampada na cara dos dois os impediu de continuar aquele momento – na verdade, se aproximaram até mais após isso, ao ponto de roçar seus narizes, lentamente inclinando a cabeça. Esperando o que estava por vir.
O tocar de seus lábios arrancou um quase suspiro de Luara, que sentia a mão de seu irmão se desviar até a cintura, involuntariamente levando as suas até seu pescoço. Fora apenas um selinho, afinal. Se afastaram o suficiente para se olharem incrédulos.
-Luara, e-eu... – Rafael gaguejava um pouco, com os olhos arregalados, completamente desacreditado do que fizera.
-Não fala nada, Rafa.
-Desculpa, eu só....
Dessa vez fora ela quem tomou a atitude, calando sua boca. Colando seus lábios novamente, Luara sentiu Rafael sugar seus lábios inferiores lentamente, delicadamente tocando suas línguas no momento em que ela levava sua mão direita até os cabelos dele. O beijo tinha todo um ritmo assustado, mas que não impedia de ser devidamente aprofundado. Com todo cuidado do mundo, Rafael pressionou o corpo da irmã contra a pia da cozinha, apenas buscando um pouco de apoio. Suas mãos se mantiveram firmes em sua cintura, apenas desfrutando do cafuné recebido em seu pescoço e cabelos. Ele sinceramente não sabia quando e se fariam um absurdo desses novamente, apenas tendo a cara de pau de querer aproveitar cada segundo em que beijava a boca de sua irmã. Uma parte sua queria se sentir culpada, mas outra apenas desfrutava daquele doce sabor do proibido, do quanto ela era deliciosamente aveludada. Provavelmente eles teriam ficado mais um bom tempo se beijando se não fosse por um trovão, que os assustou o suficiente para fazer Luara tremer da cabeça aos pés. Se separaram um pouco desnorteados e vermelhos, mas à última coisa que fariam naquele momento era ficar constrangidos com a situação.
-Ainda tem certeza que quer passar a noite sozinha?
-Só me tira logo daqui, Rafa.
Um minuto e meio depois eles já estavam no quarto do garoto, debaixo das cobertas. Era quase inverno no Rio de Janeiro, o que não significaria muita coisa se não estivessem passando por uma frente fria e se não morassem na beira de praia. Diferente das outras vezes, Luara se acomodou nos braços de Rafael de modo a esconder seu rosto sob seu pescoço, se encolhendo toda vez que um novo trovão retumbava. Rafael tentava abafar o barulho da melhor maneira que podia, distraindo-a com carícias em sua cabeça e um beijo em sua testa. Somente quando longos minutos mais tarde a garota adormeceu, que Rafael finalmente percebeu algo que o fez engolir em seco: ele estava completamente e perdidamente apaixonado por sua irmã.
***
O barulho da chuva agora fina acabou despertando Rafael na manhã seguinte sem a noção de onde estava e muito menos com quem. Quer dizer, ele era acostumado a ter Luara em sua cama enrolada feito uma bola em noites de chuva, mas não a dormir com ela de conchinha. Ele dormira tão bem que jurava tudo não passar de um sonho, mas ao abrir os olhos e se deparar com os cabelos loiros desgrenhados bem a sua frente, assim como seu braço apertando sua cintura fora um baque. Ele se descontrolou e admitia isso ao enfiar seu nariz em sua nuca, cheirando a garota. Viu o momento em que ela se arrepiou, se aconchegando ainda mais ao seu corpo. Seu coração se acelerou com o ato, arrancando um sorriso seu, até sentir uma pressão em suas calças.
Fora um pouco letárgico na sua percepção de que a bunda de Luara estava perigosamente colada à sua pélvis, pressionando brutalmente sua ereção matinal. Ele não tinha tido o cuidado todos aqueles anos de escondê-la da sua irmã para simplesmente agora ela descobri-la da pior maneira existente. Parte de seu cérebro tentava pensar uma maneira de se afastar sem acordar a garota, mas outra insistia em se pressionar ainda mais contra aquele monumento escultural que ele achava que era. Luara era definitivamente mais bonita e gostosa do que as outras garotas na sincera opinião de Rafael – mas convenhamos, ele era suspeito para tal afirmação.
Com cuidado, ele se mexeu o mínimo possível, despertando a garota. Ouvindo o pouco do bom senso ainda existente em sua mente, Rafael se virou de costas rapidamente, numa falha tentativa de acobertar a situação dos dois.
-Que horas são? – A voz da garota estava completamente embargada pelo sono.
Rafael fingiu se espreguiçar, soltando a respiração pesada para mostrar o quão sonolento estava – que, embora ele não tenha visto, fez sua irmã arregalar os olhos, completamente ciente de sua presença não apenas como irmão, mas como um cara. Não percebeu também a sacudida de cabeça, tentando esquecer pelo menos por um momento aquilo – e noite passada.
-Dez e.... Trinta e oito. – Ele mesmo quase deu um pulo da cama ao notar o horário, nunca tinha acordado tão tarde assim.
-Vale a pena ir tomar café? – Sua voz estava manhosa.
-Por mim eu ficava nessa cama o dia todo.... – Ele falou olhando para Luara, somente segundos depois se tocando o duplo sentido que poderia ser interpretado. – Quer dizer, quem tem vontade de sair da cama com esse tempo? Pode chover o dia todo, não duvido nada com o temporal de ontem e.....
-Calma, Rafael! Pelo amor de Deus, eu nunca te vi tão nervoso assim! – Luara ria do nervosismo do irmão. Ela tinha entendido o que ele tinha dito e achado fofo a sua preocupação.
-Foi mal. – Ele coçou a sua cabeça.
Mais cedo do que ele gostaria, Luara se levantou, indo em direção a porta. Ele também se levantou, indo em direção ao seu celular que carregava em sua mesa, só não contava que ela virasse em sua direção.
-Raf.... – Uma risada alta ecoou pelo ambiente, fazendo o garoto dar um pulo com o susto. Encontrou a irmã encarando suas calças e tomando fôlego enquanto tentava controlar a crise de riso.
-Ah, cala a boca, Luara. – Rafael respondeu jogando seu travesseiro em sua direção, completamente vermelho.
Minutos depois ela estava trancada em seu próprio quarto enquanto ele ia em direção a cozinha, em busca de comida.
Não encontrou comida, mas sim um bilhete:
“Fomos ao mercado, provavelmente vamos demorar. O dinheiro para o almoço está em cima do balcão. Mamãe. ”
Rafael apenas suspirou.
O dia com certeza seria longo.
***
-LUARA, VEM ALMOÇAR!
Era perto do meio dia quando o entregador finalmente buzinou. Rafael não havia consultado a irmã para saber o que iriam almoçar, não precisava disso. Sabia que a qualquer oportunidade que tivesse, ela comeria besteiras ao invés de uma refeição saudável. E porque não hoje?
Sabia que era uma tentativa de agradá-la, por mais que ainda não entendesse seus motivos. Tinham de esquecer a noite anterior, aquilo fora um erro, um erro que ele insistia em reviver a cada segundo em sua mente. Céus, ele parecia uma garotinha apaixonada! Estava surpreso por ainda não ter recorrido ao melhor amigo, mas tinha medo de sua reação.
-Você vai realmente me fazer almoçar enquanto mamãe e papai não estão aqui? – A voz de Luara denunciou sua presença antes mesmo de aparecer descendo as escadas. Rafael se virou e conseguiu prender o suspiro que ameaçava sair, mas não o bolo que se formou em sua garganta. Seus cabelos estavam úmidos, sem resquícios do sono no rosto. Por mais que vestisse uma camiseta de mangas compridas, estava de short – o que não fazia sentido algum para a temperatura baixa. Ele já se sentia complicado o suficiente com apenas isso, até que tomou conhecimento do pequeno volume na blusa da garota: por ela ter seios pequenos, preferia o uso de sutiãs sem bojo, justamente o que denunciava seus mamilos semi-saltados no momento.
Era hoje que ele morreria, tinha certeza disso. A culpa era um sentimento esmagador, e ele não tinha a menor ideia de como havia começado com isso. Sentia uma imensa vontade de estrangular Aleksandar por enfiar essa ideia em sua cabeça, mas como poderia ser preso, mal podia esperar que o final de ano chegasse e ele pudesse se mudar para fazer a faculdade – por mais que ela ficasse a apenas 30 minutos de sua casa. Ele tinha total convicção que com a mudança conseguiria esquecer sua irmã, que aqueles pensamentos obscuros o largariam de mão.
É, só isso. Apenas mais alguns meses e ele poderia viver em paz novamente.
-Se você não quiser comer aquele hambúrguer é problema seu. Bom que sobra mais para mim.
-Você realmente comprou hambúrguer?
-Porque eu não faria isso?
-Porque você é um irmão chato.
-Irmãos chatos não te acolhem em sua cama quando está com medo!
Ele viu que ela ia responder alguma coisa mas ficou quieta, apenas pegando seu embrulho e indo em direção a mesa.
Teria sido uma refeição normal entre dois irmãos se Rafael não tivesse reparado na boca suja de ketchup de Luara. Sem se conter, se esticou em sua direção, na intenção de limpar.
-O que você...?
-Sua boca, tem ketchup nela. – Rafael estava perto o suficiente para olhar dentro de seus olhos. Com seu indicador, limpou delicadamente o canto de sua boca, e, quando jurava ameaçar surgir um clima estranho com os dois se encarando, tratou de passar o dedo sujo em seu nariz.
-Rafael!
-Você fica melhor assim. – Ele sorria abertamente, desviando da mostarda que ela tentava inutilmente jogar em seu rosto.
-Idiota!
***
Era final da tarde de sábado quando Rafael decidiu finalmente andar três casas a sua direita e bater no portão de Aleksandar.
-A que devo sua rara visita? – Aleksandar abriu o portão somente com uma calça de moletom e uma camiseta, nem tendo tempo de ter uma resposta. Rafael entrou pelo portão indo em direção a casa, ignorando a existência do amigo.
-Você pode entrar se quiser! – Ele gritou indo atrás do loiro, que a esta altura já subia as escadas em direção ao seu quarto.
-Tá, você não tá legal. Bateu aqui no portão quase sábado à noite e não foi para me chamar para sair. Aconteceu alguma coisa? – Aleksandar se aproximou com cuidado, vendo o amigo jogado no chão do seu quarto, tapando o rosto com os braços.
-Eu beijei Luara. – Ele disse num sussurro alto o suficiente para fazer Aleksandar prender a respiração.
-Vocês... O que?
-Nos beijamos.
-E qual foi a reação dela? – Ele não dava a mínima para a ética daquela situação.
-Me puxou para outro beijo.
Aleksandar arregalou os olhos, abrindo e fechando a boca na tentativa de encontrar algum som para expressão seu sentimento de choque, mas nada veio.
-Vocês…. Vocês não fizeram mais nada? – Sua expressão era de desconfiança.
-Não! Que horror, Alek! – Rafael estava completamente enojado da suposição, esquecendo-se que sua atual situação também não era algo muito bonito de se pensar.
-Nem falaram nada?
-Não. Depois disso fomos dormir....
-Teve trovoada, não teve?
-Aham. Foi a noite mais esquisita da minha vida, Alek.
-Tenho uma noção. Mas o que pretende fazer sobre isso?
-Sinceramente? Esquecer. É só carência. Ano que vem eu me mudo e tudo isso passa.
-Não tenho tanta certeza disso não, viu? – Aquele sorriso cínico não abandonou o rosto do moreno em momento algum.
-Você fica quieto que a culpa disso tudo é sua e da sua boca grande, viu?
-Eu já disse e vou repetir mais uma vez: eu só disse a verdade, kreten!
-Você me chamou de idiota?!
-Não, de cretino. Mas é interessante saber que seu búlgaro está melhorando. Preciso melhorar nos xingamentos.
-Eu não sou um cretino!
-Ah, não? – Alek soltou uma risada debochada, jogando seu travesseiro no amigo – É você quem sempre teve sentimentos pela própria irmã e quando alguém finalmente joga isso na sua cara, você age como se fosse culpa dela! É só parar para pensar, Rafael! Porra! A Alana, Maitê e Jasmine por acaso eram o quê? Praticamente uma cópia da Luara! E você terminou com todas elas por justamente terem algo contra a sua irmã! Se isso não é gostar dela, então que merda é?!
Rafael apenas suspirou fundo, se sentindo completamente sem saída.
-É só carência, Alek. Só isso.
-Se é o que você prefere acreditar….
***
Cerca de uma semana e meia havia se passado e nada de anormal havia acontecido. Um passava, olhava para o outro como se absolutamente nada tivesse acontecido.
O que não necessariamente fazia com que estivessem em paz – tanto emocionalmente como conscientemente. Quer dizer, eles eram irmãos e haviam se beijado! E pior: repetido.
Aquilo tudo era loucura demais, nada havia feito sentido. Era apenas um dia completamente atípico da realidade deles, apenas isso. Era difícil, mas era a desculpa que Rafael tentava engolir a qualquer custo.
Justamente por isso não conseguiu processar a tarde daquela terça feira, onde se viu completamente sozinho com a irmã pela tarde. Seus pais estavam no trabalho e ele deveria estar supostamente estudando para o vestibular, mas a verdade era de que não conseguia parar de pensar na última tempestade. Aquilo estava enlouquecendo-o, tirando todo seu sono e pouca sanidade existente. Se antes ele ao menos dava bola para as garotas sequer conversarem com ele, agora Rafael simplesmente fechava a cara e dava meia volta. Costumava também fica insuportável ao ver qualquer aproximação masculina perto de Luara, principalmente quando o garoto da escola britânica bateu em seu portão perguntando se ela estava. Rafael simplesmente bateu o portão com força em sua cara, ignorando sua existência.
Ele não sabia mais o que fazer para esquecer aquela maluquice, estava ao ponto de cogitar a ajuda de alguém quando Luara bateu a porta de seu quarto.
-Rafa, nós precisamos conversar. – Ela fora direta.
Olhando bem para a garota, sua feição não era das melhores: olheiras, olhos cansados, cabelos desgrenhados, sem sorriso algum. Luara estava acabada.
-Sobre...? – Ele tentou disfarçar, engolindo em seco.
Ela sequer se deu ao trabalho de responder, apenas se aproximou o suficiente de sua cama – onde ele estava deitado, se sentando e encarando um ponto fixo na parede.
-Droga...
-O que foi, Luara? – Rafael se endireitou na cama, atraindo sua atenção, ficando frente a frente.
-Eu planejei todo um discurso, mas simplesmente não sei como falar agora.
Eles ficaram um tempo em silêncio até o mais velho tomar partido da situação, vendo que a irmã simplesmente não conseguiria.
-Me desculpa, Luara. Eu não devia ter feito aquilo. – Rafael sussurrava, completamente envergonhado. – Eu estar preocupado não é justificativa para aquilo. Eu fui um idiota, não deveria ter escutado ninguém....
-Espere, escutado quem? Rafael, o que você fez? – O tom de Luara expressava toda a sua repugnância a uma provável aposta asquerosa.
-Eu não apostei nada, Luara! Eu não sou um monstro! – Ele se apressou em dizer. – Não foi nada disso, só.... Alek só tentou abrir meus olhos para a realidade. – Ele disse suspirando, se jogando na cama e cobrindo seu rosto
-Que seria...?
-Que eu sou apaixonado por você. – Ele revelou após um tempo em silêncio. – Isso é completamente errado, sei disso, mas.... Eu não consegui evitar. Se ele nunca tivesse me apontado isso, não estaríamos nessa situação agora.
-Preferia viver na ignorância do que sabendo a realidade agora? – Rafael não entendeu a pergunta de Luara, achando algo completamente estranho.
-Sinceramente, Luara? Tomar consciência disso só mexeu com a gente. Eu preciso estudar para a vestibular, mas só consigo pensar em como sou desprezível por ter me apaixonado pela minha própria irmã e em como eu quero te beijar. Eu não sei mais o que fazer para esquecer aquele dia, e você também não me parece muito bem também.
-Se você se diz culpado por aquilo, eu também não sou inocente. Eu te beijei de novo, lembra?
-Aquilo nunca deveria ter acontecido, Luara. Foi um erro ter dado ouvidos à Aleksandar. Nós somos só irmãos, apenas isso.
-Isso, apenas isso.
Foram apenas palavras ao vento, já que no instante seguinte estavam com a boca grudada uma na outra. Não se sabe realmente quem se aproximou primeiro, só que se beijavam com uma urgência acumulada. Seus dentes se bateram uma vez, mas sequer se importaram com isso, apenas em beijar o máximo possível. Davam graças a Deus por sua mãe não estar em casa, já que não conseguiam controlar os nada suaves barulhos que suas bocas faziam, além dos pequenos gemidos e suspiros que soltavam na medida que as coisas acabam se intensificando.
O que começou com um simples beijo afoito evolui para uma forte pegada na cintura de Luara, enquanto a nuca de Rafael era arranhada com força, o que com certeza deixaria marcas no dia seguinte. Conseguiram se afastar por alguns segundos, o suficiente para reforçarem que aquilo não poderia acontecer.
-Isso não podia acontecer de novo, Rafa. – Luara disse o óbvio meio sem fôlego, em um pedido implícito para que ele a afastasse.
-É. – Rafael suspirou alto, recobrando sua consciência. – Quer parar?
-Não.
E voltaram a se beijar ainda com urgência, completamente perdidos um no outro. Se abraçavam de tal forma a se assemelhar a duas cobras. Um se prendia ainda mais no outro, sem intenções alguma de se soltarem em algum momento. Aquilo fora mais do que suficiente para provar um ao outro que embora parecessem arrependidos, nada mais era do que uma emoção forçada pelo código de ética social. Oras, Rafael se dizia arrependido por ser o que ele devia sentir após aquela noite, mas a realidade era de que arrependimento era algo que passava muito longe de seus pensamentos. A partir do momento em que ele vira Luara com os olhos de um cara, ele queria lutar por mais um beijo, um pouco de carinho e atenção, mas eram só seus pais chegarem em casa que ele se forçava a engolir tudo de volta e fingir ser apenas um irmão cuidadoso com ela.
A verdade era que Luara não estava muito diferente de Rafael, percebendo-se completamente perdida no sorriso sem graça que o irmão dava toda vez que o flagrava a olhando na escola ou até mesmo em casa. Rafael não era o único que tinha passado as duas últimas semanas se culpando por algo. Com toda certeza a velha frase que sua mãe dizia para suas tias se encaixava perfeitamente naquele momento: Todo o carinho e atração que eles sentiam um pelo outro definitivamente era de outras vidas. Ninguém percebia, mas cada um ficava em seu quarto – que era de frente para o outro – pensando e se culpando por aquele sentimento mais do fraternal que crescia a cada dia mais. Como Rafael, Luara não fazia a menor ideia de como aquilo havia surgido, nem como tomado posse de seu coração. Era assustador, mas empolgante ao mesmo tempo.
Em algum momento eles haviam conseguido se virar na cama, permitindo que Luara ficasse presa debaixo do corpo do irmão que ainda beijava com urgência seus lábios – urgência esta de dezessete anos vivendo o tipo errado de amor. Não querendo ser dominada, logo tratou de dar continuidade ao que estava fazendo antes: distribuindo arranhões por toda a sua pele disponível e quando esta já não era suficiente, começou a puxar sua camisa para cima. Rafael sequer prestava atenção ao seu redor, apenas concentrado em perder todo o seu fôlego na boca de sua irmã, tanto que ao sentir suas pequenas mãos puxando sua camisa para cima, sequer cogitou pará-la e tomar um ar. Ele se separou o suficiente apenas para se apoiar em seus joelhos e jogar a camisa para longe, proporcionando uma vista excitante para Luara, que sorriu ao sentir algo vibrar em seu peito. Com luxúria nos olhos Luara apenas arranhou o peito de Rafael, sempre mordendo o próprio lábio. Quando ele se abaixou novamente, sua boca tomou o rumo do pescoço da garota, distribuindo beijos molhados e algumas mordidas enquanto se apertava ainda mais sobre seu corpo pequeno. Já era um fato que seu cabelo estava uma bagunça, assim como suas calças – o que fazia desaparecer qualquer tipo de impedimento para avançarem ainda mais. Rafael mesmo não acreditou que realmente estava apertando os seios de Luara, e que ela se apertava mais contra seu quadril a cada passada de mão sua.
É, aquilo ia realmente acontecer.
Quer dizer, teria acontecido se justamente na hora em que ele fosse tirar a blusa de Luara a campainha não tivesse soado. Num pulo, cada um foi parar em um canto quarto, respirando pesadamente. A realidade era como um balde de água fria, que a cada segundo caía sobre suas cabeças. Eles realmente tinham se amassado novamente e muito provavelmente teriam continuado se não tivessem interrompido.
-Luara, você pode...? – Rafael pediu desconcertado com a situação de suas calças.
Com um sorriso envergonhado a garota apenas concordou com a cabeça. Parando em um espelho na falha tentativa de se arrumar um pouco antes de abrir a porta, Luara percebeu que não havia jeito. Teria de inventar uma desculpa.
Respirando fundo, andou apressadamente até o portão, deparando-se com Aleksandar parado olhando para o outro lado da rua.
-Asen? A que devo o imenso prazer da sua visita? – Luara tentou disfarçar o máximo que pode.
-Eu tiro o seu fôlego, Luara? – Ele obviamente notou suas roupas amassadas e falta de fôlego, entendendo quase imediatamente o que havia acontecido.
-É claro que não.
-Então porque tá toda desarrumada desse jeito?
-Estava aprendendo a dançar com Daniel Saboya. – Ela disse como se não fosse nada demais e óbvio.
-Aham, sei – Ele fez uma careta desacreditado. – Rafael tá aí?
-Acho que dormindo, porquê?
-Nada não, só queria saber se ele não queria ir no shopping comigo, mas acho melhor não acordar a bela adormecida do seu sono de beleza. – Ele revirou os olhos, rindo da situação. – Eu tô indo então.
-Eu digo que você passou por aqui.
-Ah, Luara?
-Sim? – Ela estava quase fechando o portão quando foi chamada.
-Fala para o Daniel Saboya maneirar com o seu pescoço, ele tá todo marcado. – Seu semblante continha um sorriso sarcástico.
-Tá?! – Sua voz entregou todo o seu desespero, passando a mão pelo local na falha tentativa de esconder o chupão.
-Não, mas a sua cara foi hilária. - O sorriso que Aleksandar deu dizia que ele sabia exatamente o que os dois irmãos estavam fazendo, e ele simplesmente não ligava.
Aquela tarde com certeza foi o início de uma história de amor nada fraternal. Rafael e Luara continuaram ficando escondido pela casa, sempre ansiando por um momento a sós, contando com apenas um aliado em toda aquela maluquice. Chegava a ser engraçado para Aleksandar ter que observar os dois serem indiferentes em público, mas ao mesmo tempo ter que segurar vela quando ia na casa dos Bitencourt. Muita coisa mudou para os dois entre aquelas duas semanas: Luara passando a esperar ansiosamente por uma tempestade, Rafael se encontrando perdidamente apaixonado pela própria irmã.
É, aquilo realmente havia acontecido com uma família da classe alta do Rio de Janeiro.
Porque quando você menos esperar, você vai acabar se apaixonando. Mesmo que para Rafael isso significasse atravessar o corredor.
Autor(a): Sereia de Água Doce
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