Fanfic: Without You | Tema: X Japan

Vários dias se passaram desde a entrega da cesta em minha casa. Por mais que não gostasse de surpresas, confesso que dessa vez foi diferente. Gostei muito, muito mais do que deveria. Eu me sentia culpado, ainda com medo, mas não estava tão preocupada como antes.

Mais um dia de ensaio e se tudo correr bem, já iniciaremos as gravações do novo álbum. Hoje o verei de novo, meu coração dispara só de pensar nele, e isso acontece com mais frequência do que gostaria.

Me sinto voando todas as vezes que lembro do nosso beijo, sobre as estrela, o céu como testemunha desse acontecimento mágico que mudou a minha vida. O que será que ele pensa sobre isso? Será que ele só está brincando comigo? Espero que não seja isso. Não suportaria outra decepção...todas as pessoas que amo me abandonam, cedo ou tarde vão embora. Não quero pensar sobre isso agora.

Me arrumei como de costume, mas troquei a colônia, de um amadeirado âmbar para um floral cítrico. Será que vão notar alguma diferença? Será que o cheiro é feminino demais? Haja naturalmente Yoshiki. Isso é só um trabalho.

Cheguei no horário conforme combinado. Odeio esperar ou fazer as pessoas esperarem também. Na porta da sala estavam Pata e Toshi conversando sobre a possibilidade de incluir uma faixa bônus no álbum. Depois que os cumprimentei, Toshi me olhou de cima embaixo e disse que eu estava diferente. Fiquei nervoso, mexendo no cabelo e com um sorriso estava dizendo que estava bem até que ele chegou. Quando ele está próximo nem sei o que acontece, perco a noção do tempo e nem sei como respirar. Hide estendeu a mão até mim e cumprimentou.

– Olá olá, você se sente melhor? Ouvi dizer que as vitaminas presente nas frutas são ótimas para o sistema imunológico. – disse hide dando uma piscadela.

Respira Yoshiki. Respira.

– Estou como novo. Obrigado! – respondi mais rápido que meu pensamento, corando.

Ele cumprimentou os demais e entramos todos na sala.

Todos se vestiam como roupas aparentemente do dia a dia: calça, camiseta e sapato. Com exceção de hide, que usava uma calça laranja cheia de detalhes, um camisa bastante larga e comprida para ele com desenhos indianos e uma boina xadrez. Nada combinando com nada mas ainda, tinha algo nele que me atraia...ahh aqueles cabelos vermelhos. Que shampoo será que ele usa para manter a cor? Olha eu de novo pensando bobagens. Foco no trabalho!

Todos já estavam em seus postos, menos é claro, o Taiji, para não perder o costume. O digníssimo apareceu 20 minutos depois com outra desculpa esfarrapada que nem fiz questão de ouvir para não gerar nenhum tipo de problema.

Conseguimos finalizar quatro músicas, só faltava gravar. Outras duas precisavam de alguns ajustes de tempo e um final. Dentro de pouco tempo poderemos lançar esse álbum. Tenho certeza que dessa vez tudo vai dar certo. Eu acredito.

Quando terminamos com os ensaios, alguns já foram se despedindo, dizendo que tinham compromissos e tal. Outros ficaram conversando enquanto tocava Sonata no 16 do Mozart no piano. hide estava sentado no sofá ao lado do piano, me observando sem dizer nada.  Eu me divertia mais e mais com aquele momento e já emendava uma sonata atrás da outra. O último a se despedir foi Toshi, que disse ter conhecido uma moça e a convidado para jantar.

– Porque você não leva ela no restaurante de aquário? - disse hide.

– Ela não curte frutos do mar. Ela não está acostumada, então vamos com calma. – disse Toshi.

– Mas como alguém não gosta de frutos do mar? - disse hide.

– Ei! Eu também não curto. É normal. – disse olhando para hide, mas claro que sem encará-lo nos olhos e correr o rico de tropeçar nas palavras.

– O seu problema eu já resolvi então você gosta de frutos do mar sim. – disse hide com os olhos cerrados.

Fiquei sem chão. E agora? O que eu digo? Toshi quebrou o silencio dizendo que a moça era estrangeira e que ainda estava conhecendo o nosso país. Se despediu e foi embora. Desde quando o Toshi gostava de estrangeira? Ele mal consegue falar inglês. As vezes ela fala japonês, que já facilitaria muito manter um contato direto. Resolvi me despedir também, não iria correr o risco de ficar a sós com ele. Queria evitar a todo custo e ele sempre se divertia com minhas paranoias.

– Porque você vai agora? Eu queria cantar alguma coisa. Você podia me acompanhar. O que acha? - disse hide apertando algumas teclas do piano. – prometo que não vamos demorar.

– Tudo bem, se não vamos demorar, eu posso ficar pra te ajudar  – Me sentei no piano e perguntei o que ele queria cantar.

– Você conhece Light my fire?  – perguntou ele.

– Sim, conheço. Doors não é? – Comecei a tocar e em seguida ele começou a cantar e a tocar guitarra. É impressionante a presença de palco dele, a energia, a desenvoltura e a voz então? Ele consegue mudar o timbre de voz com muita facilidade. Se fechar os olhos juraria que outras duas pessoas cantavam com ele. Estava amando esse breve momento. Não me sentia assim desde que fui ao show do Kiss quando ainda era criança. A sensação era estranha mas não era ruim, era boa.

Assim que ele terminou de cantar, pediu outra canção e eu não sabia os acordes. Confesso que Can’t stop lovin’ you do Van Halen era algo bem sugestivo para o momento. O que ele pretendia com isso? Para minha surpresa, ao invés dele falar os acordes para que o acompanhasse, largou a guitarra de lado, apoiou-se no piano e tocou as notas com familiaridade. Desde quando ele sabe tocar piano? Será que ele aprendeu na escola de música? Olhei para ele, estava tão próximo de mim como daquela vez na arvore. Meu coração já acelerado, crepitava agitadamente. Calma coração...vai com calma.

 – Entendeu como é?  – perguntou.

Eu não era capaz de responder. Ele olhou para mim, nossos olhares se cruzaram e ele sorriu. Tentei sacudir a cabeça em forma de protesto mas não conseguia.

 – Eu acho um máximo a cara que você faz quando me vê. Você se espanta e cora com muita facilidade. – disse ele.

 – Eu. Eu não sei do que você está falando...- disse surpreso com a certeza que estava ainda mais corado. Eu podia sentir isso.

Ele se aproximou ainda mais e inspirou fundo.

 – Seu cheiro é doce. Eu gosto, sabe? - disse ele.

Eu não conseguia tirar os olhos da boca dele ... os dentes todos certinhos. A boca dele tinha um tom de roxo muito bonito.

 – Desde que o vi pela primeira vez não consigo fazer outra coisa que não seja pensar nisso. Eu me sinto atraído por você de uma maneira que não sei explicar -  disse ele com um tom delicado.

Eu respirei fundo. O que está acontecendo aqui? Tentei manter a mente clara mas fracassei já que ele se aproximou ainda mais. Senti que ele iria me beijar e sem me mover, somente fechei os olhos. Ele me beijou na bochecha, bastante gentil, chegou até meu ouvido e disse perto o suficiente para que eu sentisse um arrepio percorrer todo o meu corpo. – Porque você me atrai tanto assim?

Ouvi um barulho na porta e quando abri os olhos ele já estava de pé olhando para a porta e dizendo que já estava indo embora. Eu não conseguia nem ouvir quem estava na porta...não conseguia me mover.

Ele desligou o som da caixa. O que? Ele vai embora? Levantei cabeça na sua direção. Ele acenou com a mão um bye. Colocou um cigarro na boca me olhou pela última vez antes de fechar a porta.

 – O que aconteceu aqui?— me perguntei umas mil vezes antes de criar coragem de me levantar e ir embora.