Dulce: Então, você quer fazer Engenharia? - fiz uma careta - Tem certeza? Os cálculos são...- não consegui terminar e ela riu de mim.

Maite: Eu adoro esse curso. Seu pai irá pagar tudo e até já viu uma boa faculdade na capital pra mim. - deu um sorriso e seus olhos brilharam.

Dulce: Irá se separar do seu pai? 

Estávamos na minha cama de bruços, olhando para a janela que dava para o jardim, passava das seis horas da noite e ainda estávamos no quarto. Tínhamos feito a tarefa de Matemática e ficamos conversando na cama, como duas amigas de infância.

Era legal isso.

Ter amiga.

Maite: Nas férias eu venho pra cá. Vou morar no dormitório da faculdade e arrumar um emprego por lá. - deu um suspiro - No começo vai ser difícil não ve-lo todos os dias, mas é necessário.

Dulce: Seu pai deve sentir um orgulho incrível de você. - sorri de lado.

Ela riu.

Maite: Por quê?

Dulce: Por estar se dedicando tanto para fazer uma faculdade e tudo para dar uma vida melhor à ele e por faze-lo ter orgulho de você. Estou errada?

Maite: Não. Não está. 

Dulce: Você é uma boa menina. 

Maite: Você também é. E você? Eddy comentou que não quer fazer faculdade.

Dulce: Eddy tem falado de mim?

Ela assentiu.

Maite: Esse tem falado de você desde que chegou no colégio...- falou de uma forma estranha meio pensativa.

Dulce: O que foi?

Maite: Você reparou como ele têm te tratado? - me encarou um pouco mais séria - A compra do lanche, os beijos na bochecha...?

Dulce: Claro que sim. Mas é o jeito dele, não é? Ele é muito gentil.

Maite: Conheço Eddy desde que nasci e nunca vi ele falar tanto de uma menina ou ficar dando beijinhos por aí. 

Ri sem graça.

Dulce: Acha que ele pôde está gostando de mim? - a encarei.

Maite: Pode ser sim. - sorriu animada.

Aiii

Ela era romântica?

Dulce: E isso pra você é bom?

Maite: Sim. Gosta dele?

Dulce: Maite eu mal conheço ele e..

Maite: Ele não é bonito pra você? 

Dulce: Ele é um gato. - confessei - Tem aquele ar de nerd e é muito gentil, coisa que eu adoro. Mas não sei se preciso de uma coisa amorosa agora.

Maite: Já namorou Dulce?

Dulce: Não. E você?

Ela negou.

Maite: Eu não diria que foi namoro no meu caso - ficou triste.

Dulce: Quer falar..?

Ela negou de novo.

Maite: Não. E o assunto é sobre você. Nunca namorou mesmo? É muito bonita, não creio que não tenha namorado.

Dulce: Mas é a verdade. Nunca namorei! Nunca mesmo! - dei de ombros. 

Maite: Nossa...

Dulce: Até me pediram - lembrei - Mas eu não aceitei. Não estava muito afim de namorar. Não sou muito chegada a relacionamentos, sabe?

Maite: Garota moderna. - sorriu.

Também ri.

Maite: Mas voltando ao meu melhor amigo, se continuar assim, ele deve mesmo gostar de você. Ele é um garoto legal Dul e não falo isso por ser meu melhor amigo, e sim porque realmente ele é muito legal. É carinhoso, gentil, romântico, companheiro e nem é mulherengo. Namorou apenas duas vezes, até agora. - piscou.

Dulce: Dar pra perceber que ele é um garoto legal sim. - sorri - Mas eu devo confessar uma coisa..- ela me encarou ansiosa - Eu meio que gosto de garotos um pouco mais velhos.

Maite: Sério?

Dulce: Sim.

Maite: É claro. Por serem experientes.

Dulce: Também. Gosto de garotos da nossa idade, mas gosto ainda mais se forem mais velhos. Não sei dizer o por que, mas eles me atraem.

Maite: E...

Ouvimos alguns gritos abafados e segundos depois, em um piscar, minha porta do quarto foi aberta brultamente e Camila entrou furiosa.

Camila: Quem te deu o direito de dizer o que Olivia faz ou deixa de fazer? - gritou furiosa comigo.

Fiquei em pé igual a Maitê.

Dulce: Primeiramente você não pode entrar no meu quarto assim. - falei baixo.

Camila: EU ENTRO AONDE EU QUISER NA MINHA CASA - deixou claro ao berros, atrás dela Olivia apareceu preocupada. Entrou no quarto correndo e assustada.

Olivia: Não foi a Dulce mãe, foi eu por favor para com isso. - pediu.

Dulce: A casa também é do meu pai e eu também sou a filha dele, goste ele, você ou não nenhum dos dois. - levantei a voz.

Camila: Você não passa de um favor, de uma caridade que EU estou fazendo deixando você ficar aqui garota. E ainda acha que tem o direito de dizer o que os meus filhos devem fazer? - me encarou com os olhos cheios de raiva.

Dulce: Seus filhos? - ri - Nós poucos dias que estou aqui, só vejo você passar a língua em Marian, enquanto na Olivia e nos gêmeos você só faz mandar e dar aulas idiotas e patéticas pra eles.

Camila: EU SEI O QUE É MELHOR PARA ELES E NÃO GOSTO QUE SE METAM NO QUE EU DIGO PRA ELES.

Dulce: EU NÃO ME METI EM NADA CAMILA. SE VOCÊ PRESTASSE ATENÇÃO NA SUA FILHA, VERIA QUE ELA ESTÁ CANSADA DE TODAS ESSAS AULAS QUE VOCÊ FAZ ELA TER - perdi a paciência com ela.

Olivia: POR FAVOR PAREM - gritou com voz embargada.

Camila: CARLOS DANIEL PAGA ESSAS AULAS PRA ELA FAZER E VOCÊ FAZ A CABEÇA DELA PARA DESOBEDECER? - deu um passo ficando cara a cara comigo - VOCÊ É UMA SONSA, EU FALEI PRA ELE QUE VOCÊ AQUI SÓ TRARIA COISA ERRADA E EU ACERTEI E..

Dulce: É MESMO? UMA PENA! PORQUE TANTO VOCÊ, QUANTO MARIAN IRÃO TER ME ENGOLIR. 

Camila: NÃO GRITA COMIGO, VOCÊ NÃO É NINGUÉM PARA GRITAR COMIGO E QUERO QUE SAIBA QUE IRÁ SE ARREPENDER DE TER VINDO PRA CÁ E SE METIDO COMIGO.

Carlos: O QUÊ VOCÊ DISSE CAMILA? - gritou entrando no quarto.

Camila piscou sonsamente.

Camila: Car..los? - murmurou.

Olívia: Pai...- correu para abraca-lo - A mamãe está louca...- estava chorando.

Camila: Eu não estou louca menina. Me respeita. Sou sua mãe - a olhou com raiva também.

Carlos: O quê você disse pra Dulce? - ele não tirava os olhos da mulher, mesmo abraçando Olivia.

Camila: Eu..eu só dis..se que..

Carlos: Eu ouvi muito bem o que você disse. - a interrompeu sério - Peça desculpas a Dulce agora - mandou olhando para a mulher extremamente sério, sua voz era sombria.

Camila: O QUÊ? - berrou.

Seus olhos estavam arregalados.

Pelo jeito, era a primeira vez que ele falava desse jeito com ela.

Carlos: Peça desculpas a Dulce agora.

Camila: Ficou louco? Ela que me deve desculpa. - bateu o pé furiosa - Não vou pedir nada. Você chegou agora e não sabe o que ela fez...- apontou pra mim.

Carlos: Com você gritando daquele jeito, a cidade inteira ouviu. - ironizou - Peça desculpas a Dulce. - mandou de novo.

Ela riu.

Camila: Não. Nunca! - me olhou com o ódio e saiu do quarto ainda mais furiosa.

Olivia: A culpa é minha. - murmurou.

Carlos: Vai para o seu quarto. - pediu e ela assentiu saindo do quarto. 

Maite saiu em seguida assustada demais para falar qualquer coisa. Ficamos apenas eu e Carlos Daniel.  Ele agora não parava de me olhar.

Dulce: Não vou pedir desculpas a ninguém - deixei claro.

Ele negou.

Carlos: Não tem porque fazer isso. Camila que deve desculpas a você. - balançou a cabeça - E..sinto muito pelo o que ouviu. Ela tem dificuldades em aceitar que você é minha filha.

Assim como você teve quando descobriu que eu estava a caminho?

Dulce: Ela não precisa me aceitar e nem me aguentar por muito tempo. Assim que fizer dezoito anos vou embora daqui pra sempre. - fui bem clara.

Carlos Daniel ficou desnorteado com o que falei. Ele achou o quê?

Bufei.

Dulce: Se não se importa, quero ficar sozinha. - pedi.

Ele assentiu.

E sem falar nada, saiu do quarto.

Voltei a sentar na cama.

Por Deus..

Agora tinha certeza que viverei no inferno depois de hoje.

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