Meu último tempo foi filosofia, quando bateu, guardei minhas coisas e fui para a sala onde Pablo estaria. Lyle já estava na sala me esperando. Mais uma vez, estava apenas eu e ele na sala.

Para falar a verdade, eu estava achando ótimo essa privacidade. Eu podia errar a vontade e não teria ninguém para ficar rindo de mim. E Pablo me dava total atenção, assim não precisava dividir a atenção dele com ninguém.

Começamos a aula, durante a aula ele ficava sério, concentrado, mostrava ser um professional competente, me ajudava, consertava os erros. Era sem dúvidas, um ótimo professor.

Meia hora depois ele fez uma pausa.

Pablo: Creio que em um mês mais ou menos, você já esteja falando como uma verdadeira latina. - sorriu.

Dulce: Continuo não gostando desse idioma - murmurei.

Ele entendeu.

Pablo: Mas irá gostar. - organizava a pasta dele - Sua prova vai ser bem fácil, prometo não pegar pesado com você.

Dulce: Obrigada professor.

Pablo: Pablo. Me chama de Pablo.

Dulce: Mas estamos no colégio.

Pablo: Pode me chamar pelo nome quando estivermos sozinhos. - pediu.

Dulce: Tá bom. Pablo. - pronunciei seu nome devagar.

Ele riu.

Pablo: Meu nome fica bonito quando você o pronuncia com esse sotaque. 

Ri sem graça.

Isso foi uma...cantada?

Ou estou ficando louca?

A porta da sala foi aberta brultamente, chamando nossa atenção, e Christopher ficou nos encarando na porta mesmo.

Sua expressão era fria. 

O que diabos ele está fazendo aqui? De onde ele saiu?  

Christopher: Sabe muito bem Lyle que não se pôde ficar sozinho com uma aluna durante as aulas. - falou sério.

Pablo: Uckermann, estou dando aula aqui como os outros professores nas salas ao lado. - falou também sério.

Christopher: Der sua aula mas deixe a porta aberta. - mandou sério.

Pablo riu.

Pablo: Virou o diretor agora?

Christopher: São ordens dele mesmo. Na segunda, terá uma reunião e ele passará as novas regras. E a primeira delas é não ficar trancado em uma sala a sós com uma aluna. - deixou claro.

Pablo: E de quem foi essa idéia?

Christopher: Minha. É claro. - falou meio cínico. Ambos se encararam sérios.

Pablo: Já deixou o seu recardo? Agora nos der licença. Dulce e eu precisamos voltar a nossa aula - falou com uma voz estranha, como se tivesse controlando para não levantar a voz.

Christopher me encarou.

Christopher: É claro. - respondeu com ironia e saiu da porta.

Ouvimos seus passos sumirem.

O que foi isso?

Dulce: Está tudo bem? 

Pablo: Sim. Está sim. - olhou pra mim e deu um leve sorriso.

Dulce: Confesso que pensei que fossem brigar. Senti uma tensão entre vocês.

Pablo ficou calado por alguns segundos.

Pablo: Uckermann é um idiota.

Ah ele é sim.

Concordo com você.

Pablo negou com a cabeça.

Pablo: Ele sempre se mete onde não é chamado e...não é o bom moço que aparenta ser - avisou.

Dulce: Por que está falando isso?

Pablo: Porque eu o conheço. Ele não é o que diz ser. É um falso. Fingido - me encarou - Fique longe dele Dulce. Para o seu próprio bem. Fique longe dele.

Fiquei calada o olhando.

Voltamos a nossa aula, meia hora depois, nos despedimos. Henrique me esperava na entrada do colégio. Quando entrei na mansão, corri para tomar uma ducha, em seguida, apenas me joguei na cama.

Precisava dormir um pouco.

Mas quando fechei meus olhos, meu celular tocou. Atendi sem abrir os olhos.

Dulce: Oi Tio.

Jimmy: Recebeu minha mensagem?

Dulce: Sim. Obrigada.

Jimmy: Você é sua mãe. Sempre ajudando quem precisa. Não precisa agradecer, o dinheiro é seu. As instituições na qual depositei o dinheiro, estão muito agradecidas. 

Dulce: Não falou quem era, né?

Jimmy: Não. Fiz tudo anonimamente.

Dulce: Ótimo. Não quero receber crédito algum dessas doações em dinheiro. - falei baixo.

Jimmy: Já encontrou o que queria?

Dulce: Não. Ainda nem andei pela cidade, mas quando eu achar algum lugar que precise de dinheiro, vou lhe passar os dados e você deposita.

Jimmy: É claro. Eu mandei por imail como está indo suas ações na bolsa de valores, elas estão subindo muito rápido, daqui para manhã, irá ter o triplo do que investiu semana passada.

Dulce: Mais tarde eu dou uma olhada - falei desanimada.

Jimmy: Também vou mandar o balanço geral de todos os seus investimentos. Agora, o que foi? - ficou preocupado.

Dulce: Nada Jimmy. Só estou com saudades da minha mãe.

Jimmy: Também sinto. Era como uma irmã pra mim. Crescemos juntos, te vi na barriga dela, te vi nascer e crescer. Sei que não é fácil, mas ela pediu para seguirmos em frente.

Dulce: É impossível seguir em frente sem ela. Sabe que jamais vou conseguir.

Jimmy: Tente seguir Dulce. Por ela.

Suspirei.

Dulce: Está onde? - mudei de assunto.

Ele respirou fundo.

Jimmy estava cansado de me ver assim.

Jimmy: New York. Estou de olho em um investimento incrível pra você. O que acha de ser sócia de um shopping center mais moderno na cidade que nunca dorme? - perguntou um pouco alegre.

Dulce: Você gosta disso, né?

Ele riu.

Jimmy: Gosto. Por isso meu trabalho é esse, investir o dinheiro das pessoas, ainda mais sendo o seu. Sua mãe pediu para eu que cuidasse muito bem do patrimônio de vocês. E é isso que estou fazendo. - respondeu.

Dulce: Obrigada tio. Sem você, não sei o que seria de mim. 

Jimmy: Não precisa agradecer. Faço por você e sua mãe. - fez uma pausa - Está tudo bem mesmo? Sabe que só precisa me ligar, qualquer coisa me liga.

Dulce: Estou bem sim. E eu sei que é só ligar pra você. - repeti.

Jimmy: Tá bom então. Cuidado! E por favor, se cuida. - pediu.

Dulce: Você também.

Olhei o teto quando desligamos.

......

Fiquei a tarde toda no quarto, liguei a TV e coloquei em um filme. Maite ficou na cozinha, estava ajudando Fabiana e Madalena nos serviços domésticos, ela até trouxe o meu almoço. 

Não tinha pedido nada, mas Maite falou que eu precisava comer mais. Não pude não deixar de comer o que ela trouxe pra mim, ela me contou que a casa estava vazia, apenas Olivia que estava tendo aula de inglês.

Os gêmeos tinham ido fazer aulas de esportes, Camila foi até a empresa de Carlos Daniel e Marian estava fazendo compras pela cidade com as amigas.

Todo mundo tinha o que fazer.

Quando Maite saiu, consegui dormir um pouco, mas acordei com os gritos dos gêmeos no corredor. Ele estavam brincando de correr. 

Suspirei.

Olhei as horas.

Quase o jantar. 

Tomei outra ducha e desci.

A mesa estava sendo colocada.

Marian mexia no celular.

Sentei dando boa noite pra Fabiana. 

Ela sorriu.

Marian: Me sirva logo. - mandou grosseira digitando no celular.

Fabiana se retirou.

Dulce: Por que você é assim garota?

Marian me encarou.

Marian: Assim como?

Dulce: Mal educada, grosseira.

Marian: Essa gente da cozinha é inferior a mim. Não passa de serviçais que nasceram para me servir. - debochou.

Neguei.

Como alguém pode ser assim?

Marian: Ahh irmãzinha...- falou com ironia - Amanhã a noite vou dar uma festa, então, se quiser participar fique na sua e não chame tanta atenção, caso não queira, fique trancada no seu quarto.

Dulce: Estou convidada?

Marian: É claro que não. Sua presença é tão indiferente, quanto você ser filha do meu pai - sorriu abertamente.

A encarei querendo rir.

Igual a mãe.

Revirei os olhos.

Carlos: Boa noite meninas. - falou assim que entrou na sala.

Camila entrou em silêncio. Estava toda arrumada e deu ordens para Henrique levar suas malas para o carro, os gêmeos também estavam bem arrumados.

 Eles também iriam.

O jantar foi com Marian falando o quanto ia sentir a falta dos pais, pediu presentes e pediu para não demorar. Eles iam voltar na segunda mesmo.

Carlos Daniel passou o jantar falando da viagem que Olivia ia fazer daqui um mês e meio mais ou menos. Ela ia para a capital visitar os museus de lá.

Quando terminei o jantar, voltei para o meu quarto e me preparei para dormir, mas bateram na porta. Mandei entrar.

Carlos: Já estou indo. - entrou - Na segunda estamos de volta.

Dulce: Eu sei. Boa viagem.

Carlos: É..- fechou a porta - Não paro de pensar no que você disse. Você nunca foi uma caridade Dulce. E não está aqui de favor, é tão dona da casa quanto Marian, Olivia ou os gêmeos.

Dulce: Por que isso agora?

Carlos: Por que não quero que ache que..que...- gaguejou.

Dulce: Que..?

Carlos: Que eu não gosto de você. Porque eu gosto de você. Eu gosto muito de você, é minha filha.

Dulce: Não acha que está tarde para ir atrás do que já perdeu? - fui fria.

Carlos: Dulce e..

Neguei.

Dulce: Por favor. Não vamos criar uma coisa ruim agora. Deixe como está. - pedi

Ele ficou me encarando.

Dulce: Faça uma boa viagem Carlos Daniel - desejei.

Ele suspirou.

Carlos: Podemos ao menos conversar quando eu voltar? - pediu.

Dulce: Não. Não temos o quer conversar, agora por favor...- apontei para a porta - Faça uma boa viagem.

Ele assentiu.

Carlos: Tudo bem. - abriu a porta. - Boa Noite Dulce! - saiu do quarto.

Dulce: Boa noite...- murmurei para a porta fechada - Papai.

Senti meus olhos encherem de lágrimas.

Me joguei na cama.

Por que será que Pablo falou aquilo pra Dulce? E mandou ela se afastar de Christopher? Algum palpite?

Parece que Carlos Daniel quer, de alguma forma, reparar todos os anos que perdeu da vida de Dulce. Mas acho que não vai ser tão fácil assim. 

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