Dulce: O quê? Não! Não é isso. 

Alfonso: Aconteceu alguma coisa?

Dulce: É que..

Na verdade, não paro de pensar no flagra de Christopher entre mim e Eddy e no que ele estaria pensando. Agora não me pergunte o porquê, isso já não saberei responder.

Esse beijo não senti nada.

Foi frio, gelado, sei lá.

Eddy era lindo e beijava bem e tinha aquele ar de nerd que eu adoro em um garoto, mas não senti nada. Não senti uma única emoção, foi tudo bem automático pra mim.

Frio.

Alfonso: É que..? - incentivou.

Neguei.

Dulce: Só estou pensando na suspensão que não me deu. Por quê?

Alfonso: Seu rosto tinha uma expressão arrependida. Na verdade, fiquei com um pouco de pena de suspender vocês. Mas se isso acontecer de novo, infelizmente terei que suspende-los.

Dulce: Não irá acontecer! - garanti.

Ele assentiu.

A campa tocou.

Levantei.

Dulce: Obrigada por não nos suspender.

Alfonso: Estou de olho em vocês.

Ri e sai da sala.

Passei por Alice e ela estava no telefone, balancei a cabeça e ela retribuiu. Peguei minhas coisas no armário e fui para a aula de física. A professora passou uma atividade horrorosa, era tanto cálculo que me deu dor de cabeça.

Acabei obtendo por não fazer.

Quarenta minutos depois, fui para minha última aula do dia. Angelique estava na sala quando entrei, me deu bom dia e fui para o fundo da sala. Três minutos depois, fez a chamada e levantou da cadeira segurando o livro.

Angelique: Bom turma, vou iniciar um assunto bem legal com vocês. A cada duas aulas, vamos falar sobre artistas que são conhecidos mundialmente com suas obras, pinturas, poemas, artistas que de alguma forma, inspiram a geração de agora. - avisou.

Mordi os lábios com força.

Angelique: A primeira aula, vamos falar sobre a vida do artistas, tanto a vida pessoal, quanto a profissional, seu prêmios e obras, já na segunda aula, vocês irão trazer pra mim alguma obra do artista, ou seja, irão tentar reproduzir a obra original mas com o toque de vocês, entenderam? Vou avaliar os trabalhos com atenção e dar uma nota de acordo com o trabalho.

Xxx: Como assim professora? - uma aluna perguntou.

Angelique: Tipo uma pintura. Vocês irão pegar uma pintura de um artista e usar as mesmas cores que ele usou, o mesmo tamanho do quadro, a mesma expressão mas com um desenho diferente. Outro exemplo: um poema, irão pegar um poema de um artista e rescrever ele conforme queira, mas com a mesma melodia. Entenderam?

Zzz: Acho que sim. - falou um garoto.

Xxx: É legal. - falou a garota sorrindo.

Angelique: Que bom que gostaram. Hoje vamos falar sobre uma artista plástica incrível, ela é uma lenda no mundo das Artes, ganhou muitos prêmios, foi uma inspiração para sua própria geração, que naquela época era preconceituosa e machista, por favor, abram no livro na página 38, vamos falar da famosa e muito talentosa artista plástica francesa Charlotte Daphnée Schmitt.

Abri o livro na página e a foto em preto e branco da mulher, ainda jovem e muito bonita me trouxe lembranças. Tinha longos cabelos pretos, uma expressão séria e a postura de rainha.

Dulce: Oi vovó - murmurei para a foto.

Angelique: Charlotte Daphnée Faure Schmitt, mais conhecida como Charlotte Schmitt, nasceu na cidade de Paris, França, em 22 de Janeiro de 1960, filha de um importante e respeitado Conde russo e da Mademoiselle Joly Garnier, uma socialite muito respeitada de sua época, quando Charlotte nasceu, rapidamente ganhou o título de condessa, mas aos doze anos rejeitou o título. Dos seis até aos 15 anos estudou em um internato para meninas na Rússia, onde terminou o ensino médio e voltou para Paris

Eu apenas fitava a foto, enquanto Angelique falava da vida da minha avó.

Angelique: Quando chegou a Paris, seus pais já tinha arranjado um casamento para ela, prática comum naquela época, seu noivo era um príncipe de Mônaco, mas Charlotte era uma garota com uma mente muito avançada para sua época e não queria um casamento dessa forma, por isso, assim que soube desse casamento, ela fugiu de Paris e foi para os Estados Unidos com apenas quinze anos. É mole? - riu.

Alguns riram.

Angelique: Chegando em Miami, sem quase nenhum dinheiro, conheceu uma mulher que ajudou arrumando um emprego de garçonete em um clube muito famoso, onde apenas os mais ricos eram sócios. Lá ela conheceu Benjamin Greenever, um garoto dois anos mais velho do que ela e que era herdeiro de uma grande fortuna. Imediatamente ambos se apaixonaram, mas é claro, que isso não agradou em nada o dono do clube que a despediu. Sem emprego e com o aluguel atrasado da pensão de moças na qual se hospedava ela..

Yyy: Mas ela não era muito rica? - franziu o cenho outra garota.

Xxx: E esse Benjamin? Não era herdeiro de uma fortuna? Não ajudou ela em nada? Ele terminou com ela?

Angelique fechou o livro e sentou em cima de sua mesa cruzando as pernas.

Angelique: Sim. Ela era muito rica, mas nunca gostou de usufruir uma única moeda de seus pais, desde de pequena ela queria conquistar o dela e jamais aceitou qualquer tipo de ajuda de Benjamin, mesmo ele querendo de todas as formas ajuda-la.

Cruzei os braços e encarei Angelique.

Ela parecia tão envolvida na história de vida da minha avó.

Angelique: Então sem dinheiro, ela resolveu fazer esculturas, coisa que fazia quando estava no internato de moças na Rússia e passou a vender na rua seus objetos. Só que ainda aos quinze anos, quase aos desseis, ela se descobriu grávida o que mudou todos os seus planos...

Xxx: E os pais dela? 

Angelique: Já vou chegar nessa parte. Então, mesmo grávida ela não aceitou se casar com Benjamin mesmo o amando e com a barriga aparente continuava vendendo suas esculturas, Benjamin não poderia fazer nada, ela não o deixava ele ajudar ela em nada e para aquela época, uma moça grávida sem marido e vendendo objetos nas ruas era considerada uma prostitua, o que não agradava em nada os comerciantes de perto onde ela vendia suas esculturas.

Yyy: Nossa! 

Angelique: Até um dia, uma mulher que a odiava, pelo simples fato de que estava grávida "solteira" colocou um objeto de valor no meio de suas coisas e chamou a polícia, o que deu? Charlotte foi presa e ficou até o final de sua gestação na prisão. Na cadeia, sem conseguir provar sua inocência e com Benjamin fazendo de tudo para tira-la de lá, ela começou a pintar as paredes da cela onde estava, coisa que ela também fazia quando estava no internato.

Zzz: Ela simplesmente pintou? Do nada?

Angelique: Sim. Foi uma forma de passar o tempo. Charlotte como era um doce, acabou fazendo amizade com os cacereiros e eles vendo as pinturas linda que ela fazia com apenas dois pincéis, preto e azul, resolveram comprar tintas e isso foi a perdição dela. Suas pinturas foram ganhando forma, traços, o que chamou atenção do diretor da cadeia e ele acabou pedindo para que ela pintasse todo o presídio. 

Xxx: Todo o presídio?

Angelique: Sim. Charlotte amou o pedido e pintou todo o prédio. Em meio disso, ela pariu no presídio. Uma linda menina nasceu na cadeia, a pequena Rachel nasceu saudável e a cara de Benjamin, a pequena ficou com a mãe até ela sair da prisão, o que demorou muito, o precesso dela estava difícil e em meio disso, o diretor vendo o talento de Charlotte e acreditando em sua inocência, chamou um conhecido para olhar as pinturas do prédio.

Fez uma pausa.

Angelique: Ele era um profissional do ramo da Arte e imediatamente reconheceu o talento dela. Ambos se conheceram e ele prometeu que assim que ela saísse da cadeia, ia fazer dela uma lenda das artes. Quando Rachel tinham três meses, Charlotte recebeu a visita de uma mulher que queria conhecer a filha dela, lógico que ela negou, afinal, não sabia quem era essa mulher, mas quando ela se apresentou como mãe de Benjamin, Charlotte resolveu conhecer a mãe dele.

Fez outra pausa.

Angelique: Charlotte até aquele momento nunca tinha conhecido os pais de Benjamin, porque eles viviam em Portugal, assim que a mãe de Benjamin conheceu a neta, se emocionou e implorou por perdão. Charlotte ficou sem entender e a mulher explicou que foi ela que colocou Charlotte na cadeia, por achar que a mesma estava dando um golpe em seu filho.

Yyy: Meu Deus...

Angelique: A mãe de Benjamin desde que soube que o filho estava apaixonado por uma mulher sem ser da "classe" deles resolveu que iria separa-los, por isso, mandou a tal mulher colocar o objeto nas coisas dela, só que ela não sabia que Charlotte estava grávida, a tal mulher não comentou nada sobre gravidez com ela, quando soube disso por meio do filho, decidiu investigar sobre a vida de Charlotte e descobriu que ela era herdeira de uma grande fortuna, ou seja, ela não tinha nada de interesseira. Demorou até ela se arrepender e conhecer a neta.

Xxx: Então, ela só se arrependeu por que Charlotte era tão rica  quanto Benjamin?

Angelique: Sim.

Zzz: Que horror. Se ela fosse pobre, então, deixaria ela morrer lá?

Angelique: Provavelmente sim. Benjamin cortou qualquer tipo de relação com os pais quando soube a verdade e assim que a mãe falou a verdade para a justiça, Charlotte e Rachel foram morar com ele. O profissional da arte procurou Charlotte e fez o que prometeu, começou a fazer de Charlotte conhecida. Suas pinturas, suas esculturas, desenhos ou qualquer outra coisa foram ficando famosos. 

Fez outra pausa.

Angelique: É claro que naquela época onde tinha apenas homens artistas famosos, ela sofreu preconceitos, ouviu muito não, mas Charlotte em nenhum momento desistiu e quando estourou no mundo das Artes, o presídio onde ela passou alguns meses virou o ponto de referência de sua obra, pelas suas pinturas, seus desenhos, atualmente não é mais um presídio e sim um museu exclusivo de suas obras.

Xxx: Que chique. - sorriu - Ela é muito famosa mesmo. Minha avó amava ela, mas o que aconteceu com a sogra dela?

Angelique: Depois que Benjamin cortou qualquer laço com os pais, ele pediu mais uma vez Charlotte em casamento e ela aceitou, se casaram numa cerimônia simples, os pais dele foram proibidos de irem e de se aproximarem da filha deles, Charlotte perdoou a sogra, afinal, foi por causa dela que estava ficando reconhecida por aquilo que amava fazer mas preferiu não manter contato, então, os pais deles se afastaram e morreram anos depois, Benjamin como filho único ganhou toda a fortuna da família.

Yyy: E a família dela?

Angelique suspirou.

Angelique: Quando Rachel tinha dez anos, Charlotte e Benjamin foram a Paris junto com a filha e descobriram que a mãe dela tinha ficado doente e morrido, já o pai, ainda estava vivo mas pela vergonha que Charlotte fez ele passar negando o casamento com o príncipe de Mônaco a deserdou.

Zzz: Nossa...

Angelique: Ele se recusou ver a filha. Então, Charlotte mesmo triste voltou para Miami, algum tempo depois, o advogado de sua família a procurou e deu a notícia da morte do pai dela, ele tinha se matado. Charlotte era a única herdeira de tanta fortuna. O Conde antes de morrer, mudou o testamento e deixou tudo para a única filha, incluindo todo dinheiro, a fortuna, da mãe dela, que eram dois pais da mãe dela.

Yyy: Uau. Então as duas famílias eram podres de rica? - estava de boca aberta.

Angelique: Sim. Por acaso o sobrenome de Benjamin lembra algo pra vocês? Benjamin Greenever? - sorriu - Pesquisem na internet depois para saber mais...mas vou falar agora e..

Xxx: Aqui professora - a garota levantou uma mão enquanto a outra mexia no celular - Benjamin Greenver vêm de uma familia bilionária, com negócios voltados  para a aérea da saúde, dono da melhor rede de hospitais do mundo, universidades espalhados pelo planeta e até mesmo bancos financeiros.

Zzz: Minha família toda têm plano de saúde com esse hospital - sorriu.

Yyy: A frase certa é: Que família rica do mundo não têm? - riu - A minha também.

Angelique: Greenever e Schmitt são sobrenomes muito reconhecidos. Depois de receber sua fortuna, Charlotte abriu sua própria galeria e vendeu como água todas as suas obras e ficava quase louca com cada vez mais encomenda, quando Rachel fez treze anos, eles se mudaram para Los Angeles e lá ela encontrou o sucesso mundial, ganhou diversos prêmios na área da Artes plásticas. Charlotte e Benjamin tiveram apenas uma filha, Rachel, que também teve uma única filha.

Fez uma pausa.

Angelique: Charlotte amava sua vida privada e nunca expôs muito sua família na mídia, por isso, não sabemos muito sobre Rachel ou sua neta. Ela teve uma vida feliz, mas infelizmente no dia 18 de  Setembro de 2002, aos 42 anos, Charlotte e Benjamin,  com 44 anos, estavam no Egito em uma terceira lua de mel quando foram vítimas de um  terrível atentado.

Fechei os olhos.

Eu ainda podia ver minha mãe gritar desesperada aos plantos quando soube da pior notícia de nossas vidas. Eu tinha apenas cinco anos e já nessa idade a morte me perseguia.

Xxx: Foi muito triste. Minha avó ficou arrasada. - falou melancólica.

Angelique: E mesmo após sua morte, suas obras continuaram vendendo e hoje valem o triplo do que eram, ou seja, uma única pintura pequena dela, vale em torno de 27 a 32 milhões de dólares, fora seus quadros, pinturas, esculturas e desenhos que estão no seu museu em Miami e dizem também, que a família tem uma sala enorme apenas com suas coisas guardadas a sete chaves. 

Zzz: Que coisas?

Angelique: Quadros, pinturas, esculturas e até vasos que Charlotte fez pouco antes de sair para a viagem. A filha dela nunca quis vender essa parte para ninguém e proposta não faltou. É algo que apenas a família irá ter.

Mordi os lábios.

Yyy: Então, Rachel sendo a única filha dos dois, herdou sozinha o império do pai? O império da família do pai? O império da família da mãe? E o império da própria mãe?

Angelique: É. Isso mesmo. Mas soube por esses dias que ela também morreu faz pouco tempo - falou triste.

Pude sentir tristeza.

Toquei no meu colar.

Engoli em seco e mordi os lábios com força para não chorar.

Zzz: E toda essa grana, todo esse Império aí foram pra quem?

Angelique: Para filha de Rachel, única neta de Charlotte e Benjamin.

Xxx/Yyy/Zzz: Garota de sorte!

Os encarei com raiva.

Sorte? 

Eu tinha sorte em não ter família?

De todos morrerem?

De viver com a sensação com a morte te rondando? Eu tinha sorte?

Tinha sorte de ter tanto dinheiro, tanto dinheiro mais tanto dinheiro que nas minhas veias, ao invés de correr sangue, corria dinheiro? Isso era sorte?

Cada nervo do meu corpo era de dinheiro também. Cada espirro era dinheiro saindo de mim. Eu respirava dinheiro a todo segundo.

Isso era sorte?

De não ter mas ninguém, além de cédulas e mais cédulas e mais cédulas e mais infinitas cédulas.

Isso era sorte?

Pois pra mim não.

Era mais uma maldição.

Estão gostando?

Aqui dar para esclarecer sobre a fortuna da Dulce, de onde vem tanto dinheiro.

Estou achando que vocês não estão gostando muito, vejo poucos comentários, comentem para que eu possa melhorar.

COMENTEM!!!