Fanfic: Um professor para chamar de meu | Tema: Vondy

Xxx: Chegou bem? - ele foi logo falando assim que atendi.

Dulce: Sim. - encarei da minha janela o bonito jardim - A viagem foi longa, fiquei cansada, mas cheguei bem.

Xxx: Gostou da sua família? É grande né?

Dulce: Não é minha família Jimmy.

Jimmy: Querida é sim. Ele é seu pai e esses meninos seus irmãos.

Dulce: Não quero começar outra discussão - pedi baixinho.

Jimmy: Está bem mesmo? - mudou de assunto.

Dulce: Sim. Logo isso acaba, não é? 

Jimmy: Seu aniversário é apenas em dezembro. Vai demorar muito ainda. Mas assim que fizer dezoito anos e terminar a escola, poderá sair daí e viver sua vida conforme você quiser.

Ri.

Dulce: Minha vida? - ri.

Jimmy suspirou.

Jimmy: Dulce...

Dulce: Isso é...

Jimmy: Não termina. Olha, qualquer coisa liga pra mim e eu dou um jeito de ir pra ir, só lembra que foi a vontade de sua mãe e ela deve ser respeitada.

Dulce: Eu sei tio.. - sussurrei.

Jimmy: Se cuida! - desligou 

Guardei meu celular no bolso da calça e encarei mais uma vez o jardim. Jimmy era o melhor amigo da minha mãe e o advogado dela. Lembro dele desde que comecei a andar e falar. Ele ficou responsável por mim, até eu vir pra cá e agora está monitorando minha herança.

Minha mãe confiava nele de olhos fechados e eu também confio. Ela confiava tanto nele, que deixou pra ele administrar minha herança até eu completar dezoito anos, Jimmy esteve comigo em todos os momentos desde que ela se foi, ele cuidou de mim.

Como um tio de verdade.

Com um suspiro exausto me afastei da janela e sai do quarto. Desci as escadas pela primeira vez desde que subi para o quarto de dia, e já era sete horas, hora do jantar em "familia".

Quando entrei na sala de jantar, eles estavam rindo cada um sentado em suas cadeiras. Carlos Daniel continuou sorrindo pra mim, enquanto Marian e Camila fecharam a cara.

Os gêmeos tinham os braços cruzados na mesa e Olivia estava olhando para uma taça na mesa. 

Carlos: Consegiu descansar? - apontou para a cadeira ao lado de Olivia.

Sentei na cadeira que ele indicou.

Dulce: Sim. - forcei um sorriso.

Marian falou algo em espanhol muito rápido e eu não consegui entender. Carlos negou com cabeça e ela fechou ainda mais a cara. 

Carlos: Dulce você irá começar amanhã na escola de Marian. Ela irá apresentar a escola pra você. - avisou.

Pela cara que ela fez duvidava que minha irmãzinha faria isso. Camila tocou nas mãos da filha e falou algo no ouvido dela que assentiu sorrindo.

Olivia: Não comeu nada hoje Dulce? - me suprendi quando falou comigo. Ainda  mais que era em inglês.

Dulce: Não tive apetite.

Rael: TÔ C0M FOMEEEEEEE - gritou assustando todo mundo.

Gael: Também!! - bateu na mesa.

Carlos Daniel os olhou  sério.

As crianças ficaram quietas me olhando.

Olhando meu cabelo.

Camila: Está demorando... - olhou para trás - Tenho certeza que é a nova cozinheira. Essas serviçais de hoje em dia não sabem fazer nada na hora certa.

Marian: Típico dessa gente mamãe. Acredita que Maite colocou a Chanel no lugar errado de novo? - bufou.

Camila: É claro que acredito. Maitê não tem a mínima noção das coisas. - revirou os olhos e encarou Olivia - Amanhã eu mesma vou te levar para a escola.

Marian: O quê que ela fez mamãe? 

Camila: A professora dela quer falar comigo, só não sei sobre o assunto - lançou um olhar sério para Olivia.

Olivia: Eu não fiz nada mãe. - falou de forma baixa. Marian riu.

Marian: A nerdizinha não é tão santinha assim afinal - debochou dela.

Marian era uma cobra.

Olivia bufou.

Duas empregadas apareceram com as  bandejas e nos serviram. Os gêmeos foram os primeiros a atacar seus pratos e há se lambuzar também. Depois de servir, percebi que elas ficavam em pé atrás de Camila paradas.

Camila: Por que Maitê não veio nos servir? - perguntou para elas sem nem aos menos se virar para encara-las.

Uma tremenda falta de educação.

Xxx: Ela está estudando no quarto dela senhora Espinosa. - falou uma.

As duas tentavam não me encarar, mas dava para ver que a curiosidade delas era bem maior ao meu respeito. Pelo visto, eu não seria curiosidade apenas das pessoas da casa.

Marian riu.

Marian: Ela pode tentar, mas nunca vai conseguir ser inteligente. - levou o garfo á boca e me encarou venenosa.

Camila: Maitê ao menos compriu com suas obrigações antes de perder tempo estudando por algo inútil?  - dessa vez ela apenas inclinou a cabeça.

Xxx: Sim senhora. - respondeu a outra.

Camila: Ótimo. - murmurou.

Carlos Daniel apenas estava ouvindo enquanto comia quieto. Seu semblante era tranquilo e relaxado. Um dos gêmeos derramou molho na blusa, fazendo Camila largar os talheres com força no prato nos assustando.

Camila: Olha o que você fez Gael - brigou com o filho enquanto tentava limpar a blusa manchada.

Rael: Sou Rael mamãe. - riu.

Gael: Eu sou Gael. - riu também.

Camila: Tanto Faz. - suspirou negando com a cabeça - Está vendo Carlos Daniel? Quando digo que preciso chamar um orientador de etiqueta para essas crianças?  - bufou brava.

Olivia: Eles são crianças mamãe - falou de forma baixa. Ela parecia ter medo da própria mãe, o que é estranho.

Camila a olhou ainda mais brava.

Camila: Não te perguntei nada. Por que não termina logo o jantar e vai para o seu quarto estudar? Porque ao contrário de Maitê que é apenas uma empregada, você é uma Espinosa garota.

Olivia baixou a cabeça.

Olivia: Tá bom. - sussurrou.

Que porra é essa?

Marian me encarava. 

A encarei também.

Comi bem pouco.

Nas últimas semanas nada entrava pra mim. Não sentia fome e nem tinha vontade de comer. Devo ter emagrecido cinco quilos pelos menos. O jantar continuou com Camila falando tanta futilidade com Marian, que eu tive que me esforçar para não revirar os olhos.

Quando acabou, recusei a sobremesa, não conseguiria ficar mais um minuto naquela mesa. Camila proibiu os gêmeos e Olivia de comer a sobremesa e os obrigou a subir para seus quartos.

Carlos Daniel deu um beijo neles, antes de subirem junto comigo, ficando apenas Marian e aqueles dois na mesa. Na hora dos beijos de boa noite, foi que percebi porque ele nunca tinha me procurado desde que nasci, ele já tinha filhos demais para cuidar e amar.

Mais uma não estava nos seus planos.

Entrei no meu quarto e coloquei meu celular para carregar, em seguida, escovei os dentes e coloquei um pijama de moletom e estava arrumando a cama para dormir, quando ouvi leves batidas na minha porta. 

Dulce: Entra. - pedi.

Carlos Daniel entrou devagar.

Carlos: Quis me certificar se precisa de alguma coisa...? - colocou as mãos no bolso e esperou minha resposta.

Dulce: Não. Obrigada. 

Carlos: Amanhã Henrique irá levar você e sua irmã as sete horas da manhã, as seis e meia é o café. - avisou.

Assenti.

Dulce: Obrigada.

Ficamos em silêncio.

Não tínhamos o que conversar.

Éramos estranhos.

Carlos: Vou deixa-la dormir. - deu as costas mas virou de novo - Olha, eu..eu sinto muito pelo o que aconteceu com sua mãe, desculpe se não falei isso antes, só não queria te fazer lembrar.

Eu sei bem o que você sente.

Apenas assenti.

Dulce: É só isso? Ou irá falar mais alguma coisa..? - fui direta.

Ele negou.

Carlos: Não. Era só isso. Boa noite! - deu as costas e saiu do quarto.

Dulce: Boa Noite! - murmurei.

Deitei na enorme cama e olhei para o teto branco. Uma batalha de cada vez Dulce. Uma batalha de cada vez.

Fechei os olhos.